BF9 - iAlimentar

AUTOMAÇÃO INDUSTRIAL Transformar processos para alcançar sucesso na produção e eficiência empresarial. ALIMENTAR COSMÉTICO FARMACÊUTICO www.logomark.pt www.logomark.es 2023/3 09 Preço:11 € | Periodicidade: Trimestral | Setembro 2023 - Nº9

4 Edição, Redação e Propriedade INDUGLOBAL, UNIPESSOAL, LDA. Defensores de Chaves, 15 3º F 1000-109 Lisboa (Portugal) Telefone +351 215 935154 E-mail: geral@interempresas.net NIF PT503623768 Gerente Aleix Torné Detentora do capital da empresa Nova Àgora Grup, S.L. (100%) Diretora Gabriela Costa Equipa Editorial Gabriela Costa, Alexandra Costa, Nina Jareño Marketing e Publicidade Hélder Marques, Frederico Mascarenhas redacao_ialimentar@interempresas.net www.ialimentar.pt Preço de cada exemplar 11 € (IVA incl.) Assinatura anual 44 € (IVA incl.) Registo da Editora 219962 Registo na ERC 127558 Déposito Legal 480593/21 Distribuição total +5.200 envios. Distribuição digital a +4.500 profissionais. Tiragem +700 cópias em papel Edição Número 9 – Setembro de 2023 Estatuto Editorial disponível em https://www.ialimentar.pt/EstatutoEditorial.asp Impressão e acabamento Gráficas Andalusí, S.L. Camino Nuevo de Peligros, s/n - Pol. Zárate 18210 Peligros - Granada (España) www.graficasandalusi.com Media Partners: Os trabalhos assinados são da exclusiva responsabilidade dos seus autores. É proibida a reprodução total ou parcial dos conteúdos editoriais desta revista sem a prévia autorização do editor. A redação da iALIMENTAR adotou as regras do Novo Acordo Ortográfico. SUMÁRIO Membro Ativo: EDITORIAL 6 ATUALIDADE 6 HPP garante segurança e prazos longos aos produtos de abacate 12 Congresso GS1 Portugal debate futuro das empresas 16 Automação e sustentabilidade fortalecem indústria do café 18 Das cápsulas compostáveis aos materiais orgânicos e resíduos com segunda vida 20 Entrevista com Cláudia Pimentel, secretária geral da AICC 24 Altas pressões e calor para preservar os nutrientes de molhos embalados em vácuo 27 Como manter a cadeia de frio nos produtos alimentares e farmacêuticos? Embalagem isotérmica: requisitos e ensaios 30 Fraudes na rotulagem de peixe congelado 34 Aumentar a qualidade do leite 36 Estudo desenvolvido na ESAC propõe substituição do sal no pão por planta halófita 38 A Luz Infravermelha da Kreyenborg como alternativa sustentável para esterilização de especiarias 40 Da estrada para o prato: a alface absorve aditivos tóxicos dos pneus 42 Técnicas de sequenciação de nova geração essenciais para o controlo de microrganismos patogénicos e deteriorantes na indústria alimentar 44 Um cultivo bioprotetor combate a contaminação por E. coli entero- hemorrágica na carne 46 Inteligência artificial para otimizar o processo de secagem dos enchidos 49 Como as proteínas alternativas tornam a nutrição sustentável e desafiam os fabricantes de maquinaria 50 Estudo sobre a aplicação de um dispositivo de dosagem de gás inerte combinado com o separador centrífugo vertical para a produção de azeite virgem extra 54 Elaborada uma bebida à base de soro de leite com propriedades antioxidantes 58 O SISTERS trabalha num sistema inovador que reduzirá o desperdício alimentar na Europa 61 Processador de carne de aves de capoeira rendido à ET Box 63 Jarvis apresenta o seu novo robot de corte de suínos JLR-900 64 Politécnico de Leiria cria salsicha e afiambrado de pescado e hambúrguer vegan 65

Seis motivos para utilizar soluções de aluguer Daikin 1. Daikin on Site, uma solução para as necessidades específicas dos clientes 2. Soluções para emergências de arrefecimento 3. Arrefecimento de apoio para aplicações e processos críticos 4. Eventos especiais 5. Soluções para variações na carga de arrefecimento 6. Arrefecimento durante os encerramentos e cortes de produção planeados Saiba mais em daikin.pt Serviços de aluguer Unidades chiller e bombas de calor A Daikin Rental está a disponibilizar chillers, bombas de calor e serviços de aluguer para satisfazer as suas necessidades de arrefecimento temporárias ou permanentes e, simultaneamente, reduzir o CAPEX e otimizar o OPEX. Vasta gama de capacidades bombas de calor chillers 50 kW 50 kW 600 kW 800 kW Soluções de 10kW a 10MW Redução dos custos de funcionamento Flexibilidade de aplicação Fiabilidade Conforto acústico Rapidez de intervenção

6 Comércio agroalimentar da UE recupera para excedente de 5,2 mil milhões de euros O comércio agroalimentar da União Europeia (UE) registou, em maio, um excedente de 5,2 mil milhões de euros, mais 2% do que em abril deste ano, uma melhoria ‘puxada’ pela maior recuperação das exportações face às importações. Os dados foram divulgados no final de agosto pela Comissão Europeia, que em comunicado indica que “depois de o comércio agroalimentar da UE ter abrandado em abril, recuperou com um aumento tanto das importações como das exportações em maio”. O​ crescimento superior das exportações face às importações permitiu que o excedente agroalimentar da UE aumentasse 2% em maio, em relação ao mês anterior, atingindo 5,2 mil milhões de euros, de acordo com o mais recente relatório mensal sobre o comércio agroalimentar publicado pelo executivo comunitário. No que toca às exportações agroalimentares da UE, aumentaram 8% em maio em relação ao mês anterior, atingindo 19,4 mil milhões de euros, com destaque para as preparações de frutas e produtos hortícolas, a confeitaria e o chocolate e as preparações de cereais e produtos de moagem. Os três principais destinos das exportações agroalimentares da UE entre janeiro e maio deste ano foram o Reino Unido, os Estados Unidos e a China. No acumulado do ano, entre janeiro e maio de 2023 as exportações comunitárias totalizaram 95,7 mil milhões de euros, mais 8% do que no período correspondente de 2022. EDITORIAL O comércio agroalimentar da UE tem vindo a recuperar desde 2022 e, em maio, atingiu um excedente de 5,2 mil milhões de euros (mais 2% do que em abril de 2023), uma melhoria impelida pela recuperação das exportações de bens alimentares, que representam já 15,7% do volume de exportações nacionais. O Café é um setor em franca expansão internacional e no mercado nacional consolida o seu dinamismo em busca de reconhecimento, como demonstra o selo de denominação do expresso português “Portuguese Coffee”, dinamizado pela AICC. Em entrevista, Cláudia Pimentel, secretária geral da Associação Industrial e Comercial do Café, sublinha que, numa indústria fortemente impactada pelos desafios da sustentabilidade e da transição digital, a incorporação de materiais compostáveis e recicláveis é incontornável. O embalamento e a pesagem são dois processos estratégicos na dotação deste mercado com soluções tecnológicas eco eficientes, como explica a Logomark a propósito dos inovadores projetos de dois dos seus associados, a Comek e a Idecon. De resto, a inovação impulsiona um cenário competitivo entre produtores e empresas de embalagens de café e no segmento que marca a tendência de consumo – cápsulas – acelera o desenvolvimento de soluções compostáveis, reutilizáveis e em materiais orgânicos ou alumínio. A par das preocupações ambientais, a segurança alimentar é uma tendência da indústria agroalimentar cada vez mais tecnológica. Entre os muitos exemplos de aplicações que hoje garantem a segurança dos alimentos, e que apresentamos nesta edição, destaque para o HPP, tecnologia de preservação por alta pressão, que encontra no abacate um produto de excelência para este processamento. Nota ainda para o método de esterilização de alimentos com recurso a luz infravermelha da kreyenborg, representada em Portugal e Espanha pela Coscollola. Boas leituras. Inovação de produto impulsiona sustentabilidade da indústria alimentar

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8 ATUALIDADE MAIS NOTÍCIAS DO SETOR EM: WWW.IALIMENTAR.PT • SUBSCREVA A NOSSA NEWSLETTER Bens alimentares representam já 15,7% do volume de exportações nacionais As exportações de bens aumentaram 564 milhões de euros entre janeiro e julho, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE). Espanha destaca-se como o principal destino dos produtos portugueses. França deu o maior contributo para o crescimento global das exportações neste período. Máquinas e aparelhos foram os produtos mais vendidos. Os produtos industriais transformados cresceram 4.2%, atingindo 93,6 por cento das exportações totais. Em 2023, as exportações para a União Europeia aumentaram 1,4%, registando uma quota nas exportações totais de 70,8%. Espanha registou uma quota de 25,5% no total, seguindo-se França e Alemanha com 13,5% e 11,0%, respetivamente. Já para fora da União Europeia, os principais clientes foram os Estados Unidos da América e o Reino Unido, com quotas de 6,2% e 4,7%, respetivamente. O défice da balança comercial teve um desagravamento de 945 milhões de euros. Destacam-se os aumentos das exportações de máquinas e aparelhos (16,6%), que são a principal exportação portuguesa, e de veículos e outro material de transporte (15,4%) e de bens alimentares, que representam já 15,7%. Neste período, as importações totalizaram 62,2 mil milhões de euros. Salienta-se que, com estes resultados, o défice da balança comercial totalizou 15,5 mil milhões, correspondente a um desagravamento de 945 milhões de euros relativamente a 2022. Destaca-se ainda que, no período entre janeiro e junho, as exportações portuguesas de produtos industriais transformados representaram 93,6% das exportações totais, um crescimento de 4,2%. Os restantes produtos, 6,4% do total, diminuíram 7,3%. Fonte: AICEP. Produção de miolo de amêndoa deverá subir 20% para vinte mil toneladas A produção de miolo de amêndoa deverá subir este ano 20%, impulsionada pelo Alentejo, para 20.000 toneladas, numa campanha marcada pela seca e pelas ondas de calor, indica a Associação de Promoção de Frutos Secos - Portugal Nuts. Este ano estima-se para o país uma produção total de vinte mil toneladas de miolo de amêndoa, "um acréscimo de 20% em relação à campanha anterior”, afirmou o diretor executivo da Portugal Nuts, António Saraiva, citando uma análise realizada entre a associação e o Centro Nacional de Competências de Frutos Secos (CNCFS). A campanha foi “muito difícil” para os produtores devido à seca, tendo ficado ainda marcada por ondas de calor, prejudiciais para as condições de trabalho. No caso do regadio, conforme ressalvou António Saraiva, os efeitos “foram menores, mas não negligenciáveis”, tendo em conta que a falta de precipitação e as altas temperaturas obrigaram a regar mais, agravando os gastos. “Para os produtores que regam na barragem do Alqueva, acresce o facto de terem sido definidas dotações máximas por cultura este ano, que, no caso da amêndoa, se situam aquém das necessidades reais da cultura nas condições atuais”, precisou a Portugal Nuts. Os produtores tiveram assim que reduzir os períodos de rega, “o que se traduz em quebras de produtividade”. António Saraiva lembrou ainda que a necessidade de rega não se esgota na colheita, de modo a não comprometer a campanha seguinte.

9 ATUALIDADE MAIS NOTÍCIAS DO SETOR EM: WWW.IALIMENTAR.PT • SUBSCREVA A NOSSA NEWSLETTER Projeto europeu procura ideias tecnológicas com impacto social e de circularidade na indústria SoTecIn Factory apoia soluções para os desafios das cadeias de valor do têxtil, plástico, embalagens, alimento, água e nutrientes. O projeto europeu ‘SoTecIn Factory – Social and Technological innovation Factory for low carbon and circular industrial value chains’, liderado pelo Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Tecnologia e Ciência (INESC TEC), procura empreendedores sociais europeus com experiência em tecnologia para desenvolver soluções que contribuam para uma indústria mais circular, sustentável e resiliente. Ao todo estão disponíveis 3,3 milhões de euros e o concurso está aberto até 28 de setembro. Apoiar inovações sociais que potenciam a circularidade das cadeias de valor e a redução da pegada de carbono da indústria é o grande objetivo do projeto. Nesse sentido, o concurso quer apoiar 25 empreendedores sociais europeus (entre investigadores, PME e start-ups) que apresentem ideias inovadoras orientadas para a tecnologia como uma resposta aos desafios circulares alinhados com a missão do projeto, nomeadamente no que diz respeito a cadeias de valor do têxtil, plástico, embalagens, alimento, água e nutrientes. Numa fase inicial, cada um dos 25 selecionados irá receber 15 mil euros para apoiar o desenvolvimento de produtos e serviços inovadores e com impacto social. Deste grupo, 15 terão a oportunidade de participar numa demonstração tecnológica pré mercado, que inclui um apoio adicional de 85 mil euros. Além do financiamento, os inovadores sociais irão usufruir de acompanhamento por mentores, ações de capacitação com contribuições científicas para a implementação das suas soluções e conceção de modelos de negócio. _Automatização ao alcance de todos www.kuka.com

10 ATUALIDADE MAIS NOTÍCIAS DO SETOR EM: WWW.IALIMENTAR.PT • SUBSCREVA A NOSSA NEWSLETTER Universidade Católica lidera projeto deep tech que vai converter desperdício alimentar em oportunidades de negócio Acelerar a capacitação em inovação e empreendedorismo de instituições de ensino superior, nos domínios da deep tech e na valorização de subprodutos agroalimentares, é o grande objetivo do novo projeto DIP4Agri, liderado pelo Centro de Biotecnologia e Quimica Fina (CBQF) da Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica Portuguesa no Porto. Financiado pela Iniciativa IES do EIT Capacitação em Inovação para o Ensino Superior, este projeto irá integrar conhecimento nas áreas das chamadas deep techs (onde se incluem as áreas da biotecnologia, tecnologias limpas, robótica, Inteligência Artificial e machine learning), inovação e empreendedorismo com o grande objetivo de poder converter o problema do desperdício agroalimentar em oportunidades de negócio. Em paralelo, o projeto irá ainda promover uma transformação sistemática para uma mudança efetiva e duradoura junto das instituições de ensino superior onde serão aproveitadas estruturas e procedimentos já existentes de forma a alcançar melhorias impactantes no ecossistema regional de inovação. “O DIP4Agri permitirá acelerar a criação de valor na universidade, promovendo a cultura do empreendedorismo e inovação tecnológica na melhoria da circularidade dos sistemas agroalimentares”, salienta Manuela Pintado, investigadora do Centro de Biotecnologia e Química Fina (CBQF/ESB/UCP) e coordenadora do projeto. Este projeto faz parte de um consórcio que envolve também a Aahrus University da Dinamarca; Wageningen University & Research da Holanda; as portuguesas Food4Sustainability; Planicie Verde Sociedade Agricola Lda e BGI - Building Global Innovators; Cortijo Guadiana S (Espanha); Vereniging FME (Holanda) e ainda Food & Bio Cluster Denmark (Dinamarca). O projeto DIP4Agri irá decorrer até dezembro de 2023 Fruit Attraction 2023 A Fruit Attraction 2023, que se realiza na IFEMA em Madrid de 3 a 5 de outubro, voltará a ser o epicentro mundial da comercialização de produtos frescos, onde a inovação, a qualidade e a diversidade serão os fatores-chave que influenciam operadores e retalhistas de todo o mundo a planear as suas campanhas no momento certo. No seu 15º aniversário, a Fruit Attraction vai reunir mais de 90 mil potenciais clientes de 135 países que procuram as últimas tendências do setor hortofrutícola para rentabilizar e dinamizar os negócios. Áreas de atração de fruta: produtos frescos O certame acolhe uma grande variedade de produtos hortofrutícolas trazidos de diferentes partes do mundo pelas empresas expositoras. Dentro desta área encontra-se o espaço do 'Mercado Ecológico'. Produto estrela desta edição: alface A alface será o produto estrela desta edição, com atividades específicas para promover a abertura de mercados e o desenvolvimento de estratégias de promoção para as empresas. C M Y CM MY CY CMY K

11 ATUALIDADE MAIS NOTÍCIAS DO SETOR EM: WWW.IALIMENTAR.PT • SUBSCREVA A NOSSA NEWSLETTER Agrosemana afirma a importância do setor agroalimentar Mais de oitenta mil pessoas passaram pela Agrosemana – Feira Agrícola do Norte, que decorreu entre 31 de agosto e 3 de setembro no Espaço Agros, na Póvoa de Varzim. Ao longo dos quatro dias passaram pelo recinto várias personalidades e entidades ligadas ao setor agroalimentar, que puderam ver de perto o que de melhor se produz em Portugal. A Agrosemana tem como missão primordial enfatizar a relevância do setor agroalimentar para Portugal, não apenas como um motor económico vital, mas também como um pilar essencial para a coesão territorial e a sustentabilidade social. O certame contou ainda com a presença do Rio Ave, Gil Vicente e Varzim SC, assim como da campeã Olímpica, Rosa Mota, que reforçaram a importância de promover estilos de vida saudáveis, com o leite a desempenhar um papel fundamental como parte de uma alimentação equilibrada. A realização da Agrosemana, no âmbito da política de responsabilidade social, permitiu, ainda, apoiar o Banco Alimentar Contra a Fome Porto com a doação de 12 mil litros de leite, resultado dos donativos de todos os participantes nas mais diversas atividades, incluindo a Caminhada Solidária Agros. AF_anuncio_NO_20230207.pdf 1 07/02/2023 17:18 Visita nuestro stand VIGO, ESPAÑA Stand 2ME19

12 EVENTO | ABACATE HPP garante segurança e prazos longos aos produtos de abacate Os produtos de abacate têm uma importância crescente no mercado HPP pelo sucesso com que se vêm associando a esta tecnologia de preservação de alimentos e bebidas por alta pressão e a temperaturas frias. A Hiperbaric é especialista em Processamento de Alta Pressão e explica as vantagens da aplicação de HPP nos produtos de abacate. Gabriela Costa O Processamento de Alta Pressão (da sigla em inglês HPP, High Pressure Processing), é a tecnologia não térmica para a preservação de alimentos e bebidas minimamente processados que garante a segurança do produto e prolonga o seu prazo de validade. Os produtos de abacate têm uma importância crescente no mercado HPP pelo sucesso com que se vêm associando a esta tecnologia, e o guacamole, por exemplo, é hoje um dos setores pioneiros na aplicação de alta pressão, graças à ampla utilização deste processo por pequenas e grandes empresas do setor em todo o mundo. A HPP permite prolongar significativamente o prazo de validade de todos os tipos de produtos à base de abacate prontos a consumir (como guacamole e pasta de abacate), mantendo intactos a sua cor, aroma e sabor. Preservando a polpa, as metades e as porções de abacate, permite a produção de produtos como sumos, bebidas e batidos à base de abacate. No âmbito da I Conferência Técnica do Abacate, organizada pela revista Agriterra e pela Trops, na Universidade

13 EVENTO | ABACATE do Algarve, em Faro, Rui Queirós, da equipa de Aplicações da Hiperbaric, apresentou as vantagens do Processamento de Alta Pressão para produtos de abacate. A empresa espanhola dedica-se ao desenvolvimento e fabrico de equipamentos industriais baseados em tecnologias de alta pressão, ocupando mais de 60% da quota de mercado HPP, “para o que contribuem 350 sistemas de HPP instalados em cinquenta países ao longo de mais de vinte anos, explica Rui Quirós. Com uma faturação anual a rondar os sessenta milhões de euros, a Hiperbaric centra o seu negócio em I&D, área onde investe anualmente cerca de 5% da receita obtida nesse ano. A sua gama de equipamentos inclui máquinas para diferentes tipos de produção, desde a mais pequena, ideal para pequenos produtores e para entrar no mercado HPP, com uma capacidade de produção de cerca de 250 a trezentos quilos/hora, até à maior, o modelo Hiperbaric 525, que chega a produzir mais de três mil quilos por hora de produto embalado. Como defende o especialista em Aplicações Alimentares HPP, “existem vários fatores importantes no sucesso de um processamento por HPP”. Rui Queirós destaca quatro principais, dois relacionados com o processo em si, isto é, “a pressão e o tempo que o produto está sobre pressão”, e dois relacionados com o produto, ou seja, “a atividade da água e o pH”. A nível de parâmetros de processo, na maior parte das aplicações e produtos usa-se uma pressão de 4500-6000 bar (equivalente a estar debaixo de uma coluna de água com sessenta quilómetros de profundidade, que é seis vezes a pressão que encontramos no ponto mais fundo do mar). E o tempo de supressão costuma ser até, no máximo, seis minutos, explica. No caso de produtos de abacate o padrão é 6000 bar durante três minutos, e “isto é feito a frio ou a temperatura ambiente (não se usa temperatura para preservar o alimento), e idealmente em produtos com pH abaixo de cinco (caso contrário podem ser necessárias barreiras adicionais para patógenos formadores de esporos). ABACATE DECISIVO NA EXPANSÃO DO MERCADO HPP As vantagens do processo de submeter produtos alimentares a pressões extremamente altas, a temperaturas frias, são maior segurança alimentar, uma vez que as pressões elevadas inativam microrganismos patogénicos como Listeria, Salmonella e E. Coli.; a redução da flora microbiana existente no produto, o que aumenta o prazo de validade de três a quarenta vezes, dependendo do produto e da embalagem; a proteção da marca através desta segurança alimentar extra, que evita que haja surtos e recalls; um clean label, uma vez que não é necessário adicionar conservantes e, como o produto é processado na sua embalagem final, não há risco de contaminação cruzada; uma qualidade premium porque nunca se aquece o produto, garantindo a sua qualidade nutricional e organolética; e o acesso a novos mercados, tanto por a HPP cumprir com regulamentos de segurança mais restritos (por exemplo, nos EUA), como por alcançar mercados mais longos, graças aos prazos de validade extensos. Rui Queirós, especialista em Aplicações Alimentares HPP da Hiperbaric, na I Conferência Técnica do Abacate.

14 EVENTO | ABACATE Como sublinha Rui Queirós, o mercado HPP está em contínua expansão global, e o número de máquinas em produção em todo o mundo regista, na última década, um crescimento anual de 15% a 20%. Estas máquinas estão na sua maioria instaladas na América do Norte (responsável por 46% da implementação global), principalmente no México e nos Estados Unidos. Como é sabido, o México é um forte produtor de abacate, e “todas as máquinas HPP que estão ali instaladas são para produtos resultantes do abacate”, comenta o especialista. Na Europa “também já temos uma grande base instalada”, com quase 25% por cento das máquinas instaladas, conclui. Esta tecnologia pode ser aplicada a quase todos os setores alimentares, “mas alguns são mais importantes que outros”. A distribuição de máquinas por sector revela que os produtos de abacate representam uma grande fatia de máquinas a trabalhar para este produto (18%, a segunda maior parcela depois dos produtos cárnicos, com 19%). Em Portugal, existem três máquinas instaladas: uma na Universidade de Aveiro, que tem uma planta piloto e desenvolve investigação e projetos de I&D com empresas nesta matéria, e outras duas em empresas que já fazem comercialização de produtos HPP: a GL, através da marca Sonatural (sumos de supermercado, produtos para barrar e sumos funcionais) e a ByGraciete (sopas ready-to-eat, sumos e produtos para barrar). Quanto ao processo de HPP em produtos de abacate, as vantagens do processamento por alta pressão são: • O efeito da alta pressão em microorganismos Um estudo sobre refrigeração revela que “tanto em pasta de abacate como em guacamole conseguimos ultrapassar por muito o objetivo da FDA” relativamente aos patogénicos presentes em produtos de abacate, para a sua comercialização. No dia zero registou-se uma carga da microflora presente no abacate (aeróbios totais e bactérias ácido lácticas) nos seis a sete Logs de Unidades Formadoras de colónias por grama (Log UFC/g). Essa carga foi reduzida após um processamento de 6000 bars durante três minutos, para valores perto do limite de deteção. E manteve-se durante pelo menos quarenta e cinco dias. A FDA recolheu 322 amostras de guacamole cru, ou seja, não processado e 362 amostras de guacamole HPP, processado por alta pressão, desde 2017 até 2019. Nas amostras de alta pressão não foram detetados nenhum tipo de patogénicos, ao contrário do que aconteceu com as outras amostras, normalmente conservadas com adição de conservantes. • A inativação parcial de enzimas deteriorantes As enzimas oxidativas do abacate provocam a rápida oxidação do fruto ou da pasta de abacate e do guacamole. O HPP não inativa completamente estas enzimas, mas reduz a sua atividade em 50%, o que permite adiar o acastanhamento do produto oxidado. Esta redução é suficiente para prolongar a vida útil em refrigeração do abacate durante 45 a sessenta dias, e do guacamole durante sessenta a 75 dias. Para controlar estas enzimas convém utilizar algumas estratégias complementares, como manter uma cadeia de frio restrita, baixar o pH do produto, adicionar antioxidantes, reduzir a quantidade de oxigénio, tanto no processamento como dentro da própria embalagem, e ter embalagens feitas de materiais com barreiras altas ao oxigénio. • A qualidade sensorial do produto Há vários estudos com painéis de análise sensorial que comprovam que não se notam diferenças entre a pasta de abacate processada e não processada por HPP. Nomeadamente diferenças de cor, segundo os exames de medição instrumental. Os produtos de abacate representam 18% das máquinas HPP a trabalhar, a segunda maior fatia depois dos produtos cárnicos

15 EVENTO | ABACATE De referir que basicamente o aparecimento de off-flavors e oxidação é normalmente o fator limitante neste tipo de produtos, e não tanto o ponto de vista microbiológico. UM PRODUTO PARA TODOS OS GOSTOS COM VALIDADE ALARGADA O guacamole foi o produto comercial “que abriu o caminho para a entrada em força da HPP nos Estados Unidos”. E hoje “existem várias receitas e uma grande variedade de formatos” (taças, bisnagas) deste produto que atinge longos prazos de validade, detalha Rui Queirós. Outro produto “bastante importante em HPP” é a pasta de abacate, que também é comercializada em diversos formatos, maioritariamente no canal HORECA, para a elaboração de outros pratos e produtos. E que garante também um prazo de validade alargado, como referido. E um terceiro produto disponível neste mercado são as metades de abacate. “É mais difícil de se conseguir”, segundo o especialista em Aplicações Alimentares HPP, porque requer um manuseamento cuidadoso e a seleção do fruto, “que tem de estar num ponto de maturação ideal” (suficientemente verde para que não haja um efeito significativo na textura do produto, mas suficientemente maduro para que o sabor seja agradável). Normalmente conseguem-se prazos de validade até trinta dias em refrigeração neste produto. O abacate é ainda usado como ingrediente principal em vários produtos HPP, como molhos, sumos, sopas frias e comida para bebé. A Hiperbaric tem contribuído para a divulgação da tecnologia HPP através de diversos recursos no seu site (como whitepapers, vídeos e casos de estudo) e iniciativas que dinamiza nesta matéria, como a Innovation Week, conferência online sobre o estado da tecnologia HPP. A sua participação na I Conferência Técnica do Abacate contribuiu para revelar como Portugal - o segundo maior produtor da UE - inova no setor. O País assumiu um forte compromisso com o cultivo do abacate e entre 2013 e 2019 o número de hectares de abacateiros plantados aumentou seis vezes. Em 2021 dispunha de 2.600 hectares cultivados, mais de 90% no Algarve. E por isso esta foi a região eleita para acolher o evento dedicado ao mercado do abacate, que reuniu especialistas de alto nível ligados à produção e investigação. Os quais debateram, perante uma plateia de empresas, produtores, gestores técnicos, agrónomos, gestores de cooperativas e investigadores os desafios futuros e questões chave a nível agronómico deste produto, como as características específicas do seu cultivo na região, as tecnologias aplicadas à sua produção e processamento ou as premissas de sustentabilidade inerentes à sua projeção internacional. n O guacamole é um dos setores pioneiros na aplicação de alta pressão

16 EVENTO | GS1 Congresso GS1 Portugal debate futuro das empresas O 8°Congresso GS1 Portugal está de volta, no dia 18 de outubro, ao auditório do Museu do Oriente, em Lisboa. Num cenário de incerteza, sustentabilidade, inovação e transição digital serão os temas em destaque. Num novo formato, a organização reúne líderes de opinião, profissionais, especialistas e personalidades incontornáveis para tentar responder a questões inquietantes sobre o futuro das empresas. A associação de produtores e distribuidores leva a debate as temáticas da sustentabilidade, da inovação e da transição digital, sob a premissa de que têm em comum o fato de serem “poderosas ferramentas para garantir o futuro das pessoas, empresas e planeta”. Num cenário onde a incerteza se tornou a parte certa do nosso dia- -a-dia, a GS1 Portugal lança o mote para uma conversa sobre temas que estão a marcar uma década: • Sustentabilidade: estarão as empresas comprometidas com o futuro do planeta? Poderá o aumento de custos atrasar práticas mais sustentáveis? Como estão a ser utilizados os critérios ESG? • Inovação: a Inteligência Artificial está na agenda do dia. Mas será esta a inovação que procuramos? Quais os impactos do uso automático e inteligente dos dados? Será uma esperança ou uma ameaça do futuro? • Transição Digital: será mesmo uma realidade transversal? Depois da rápida digitalização provocada pela pandemia, quais serão os próximos passos? E quais as reais intenções desta transição? Do programa fazem parte painéis como “Política e Economia Global”, a cargo do antigo vice primeiro ministro XIX Governo Constitucional, Paulo Portas; e “O Futuro da Inteligência Artificial”, por Daniela Braga, PhD, Fundador e CEO da Defined.ai e perito do Fórum Económico Mundial. No painel de debate “Sustentabilidade, Inovação (IA) e Transição Digital no futuro das empresas”, vários CEO das empresas-membro dos órgãos sociais da GS1 Portugal (representantes dos principais fabricantes e retalhistas nacionais) irão debater o futuro dos negócios, numa sessão moderada por Miguel Poiares Maduro, antigo ministro do Desenvolvimento Regional do XIX Governo Constitucional. Lugar ainda para mais um “À Conversa Com” uma personalidade de referência, na área de política, de comunicação e do mundo empresarial sobre temas inquietantes da inteligência artificial, este ano com Nuno Pinto Magalhães, presidente da mesa da Assembleia Geral da GS1 Portugal. As inscrições no Congresso GS1 Portugal beneficiam de 15% de desconto, válido até ao dia 30 de Setembro. 

18 CAFÉ Automação e sustentabilidade fortalecem indústria do café O embalamento e o controlo de peso são elementos fundamentais no panorama industrial, em particular no setor do café que, cada vez mais dedicado à sustentabilidade, inova com soluções tecnológicas eco eficientes. EMBALAMENTO E CONTROLO DE PESO NA INDÚSTRIA ALIMENTAR No contexto dinâmico da indústria, o embalamento e o controlo de peso assumem um papel crucial na garantia de qualidade, eficiência e satisfação dos consumidores. O embalamento é um processo essencial em qualquer indústria, desempenhando um papel central na preservação da qualidade dos produtos e na otimização dos processos de produção. Além de garantir a segurança e a integridade dos produtos durante o transporte e o armazenamento, também detém uma função importante na criação da imagem de marca e na satisfação do cliente. A evolução tecnológica gerou novas abordagens e métodos para o embalamento, visando aumentar a eficiência, reduzir o desperdício e dar resposta às necessidades em constante mudança dos consumidores. Desde a adoção de materiais mais sustentáveis até à implementação de máquinas automatizadas, a indústria está em constante progresso, visando aprimorar este processo. EMBALAMENTO ESTRATÉGICO PARA O CAFÉ: PRESERVANDO A QUALIDADE E A IMAGEM DE MARCA A relação entre o embalamento e a indústria do café assume uma relevância significativa, desempenhando um papel crucial na preservação e qualidade dos grãos e do café moído - quer em embalagem flexível quer em cápsulas, atualmente mais utilizadas. Sendo o café uma das bebidas mais apreciadas globalmente, requer um processo de embalamento meticuloso, de modo a manter o sabor original. Neste contexto, destaca-se a representada da Logomark, Comek, que se dedica ao embalamento e processamento de diversos produtos. A Comek oferece soluções inovadoras para embalamento de café em embalagem flexível. Assim, empenha-se na otimização dos processos e na garantia de qualidade. As suas máquinas de embalamento são meticulosamente projetadas para preservar a frescura, aroma e sabor do café. Além disso, a indústria do café está cada vez mais dedicada à sustentabilidade, e as soluções de embalamento “As soluções de embalamento da Comek minimizam o desperdício e o impacto ambiental”

19 CAFÉ da Comek estão a responder a esta procura. Com abordagens inovadoras, disponibilizam soluções eco eficientes que minimizam o desperdício e o impacto ambiental. CONTROLO DE PESO PRECISO: GARANTINDO A EXCELÊNCIA DO CAFÉ Outra parte fundamental deste processo é o controlo de peso, imprescindível para garantir a conformidade, e contribuir para uma abordagem mais eficiente e económica na indústria do café. As controladoras de peso garantem conformidade adequada com várias regulamentações e, geralmente, são usadas em linhas de produção industrial para aumentar a autonomia e eficiência. O aumento da utilização destes equipamentos no mercado global é influenciado pela crescente adoção da automatização em vários setores, apoiada por uma maior consciencialização dos fabricantes sobre os benefícios da utilização de soluções de automação industrial. “A precisão no controlo de peso da Idecon contribui para otimizar todo o processo produtivo” A Idecon é especialista no desenvolvimento de sistemas de controlo de peso em linhas completas de processamento de embalagens. As controladoras de peso série WP permitem a verificação de peso numa ampla variedade de produtos, embalados ou avulso. Concebidas especialmente para as indústrias alimentar e farmacêutica, apresentam superfícies curvas, materiais em conformidade com as diretrizes FDA e certificação MID. Esta série possui dispositivos para garantir a remoção dos tapetes transportadores para fácil higienização sem necessidade de recorrer a ferramentas. A Série WPM combina sistemas de controlo de peso com deteção de metais, proporcionando uma redução de custos e otimização de espaços. No universo da produção de café, a precisão no controlo de peso desempenha um papel relevante para assegurar a qualidade dos produtos finais. Através destes equipamentos é possível garantir que cada embalagem de café contém a quantidade exata, alinhando-se com a procura pela excelência. Além disso, esta precisão contribui para evitar desperdícios e otimizar todo o processo produtivo, elementos essenciais para um mercado tão dinâmico. O embalamento e controlo de peso são elementos fundamentais no panorama industrial, sendo ativos importantes para a qualidade, eficiência e satisfação do cliente. A indústria do café destaca-se como um exemplo da importância da ligação entre estes equipamentos. A constante evolução tecnológica e a procura por soluções mais sustentáveis fortalecem a indústria alimentar e garantem um futuro mais eficiente e ecologicamente responsável. 

Gabriela Costa 20 CAFÉ Das cápsulas compostáveis aos materiais orgânicos e resíduos com segunda vida A inovação e a sustentabilidade deverão impulsionar um cenário competitivo na indústria do café, onde produtores e empresas de embalagens se aliam para criar novos produtos desenvolvidos a pensar em soluções compostáveis e biodegradáveis, materiais orgânicos e alumínio ou admiráveis aplicações para reutilizar cápsulas de café. A venda de café no mercado interno cresceu progressivamente desde 2017 até 2019 - ano em que atingiu um valor superior a 700 milhões de euros, equivalente a quase 33 milhões de quilos -, sofrendo uma quebra significativa com a pandemia, em 2020 (menos de 610 milhões de euros e 26,4 milhões de quilos). Dados da Nielsen revelam ainda que a recuperação é lenta, com 2021 a registar valores semelhantes (pouco mais de 610 milhões de euros e 25,6 quilos). Já de acordo com dados mais recentes da Euromonitor, as vendas em valor no retalho caíram 6% em termos atuais em 2022, para 630 milhões de euros. A nível de exportações, e segundo dados do INE, o café revela um comportamento negativo em 2022: menos 15,2% de quilos exportados (mas apenas menos 2,72% em valor) do que em 2021. No mesmo período, as importações registaram uma variação de 14,34% e 12,84%, respetivamente. A nível de produção mundial os desafios são muitos: o avanço crescente das alterações climáticas está a ter um impacto negativo nalguns dos maiores países produtores de café, como o Brasil e a Colômbia, “com condições climáticas desfavoráveis que afetam as colheitas de grãos de café”, conclui a Euromonitor. Por outro lado, os fabricantes também foram atingidos por problemas relacionados com transporte e logística, que culminaram “em um aumento considerável no preço do café verde em 2022”. As “atuais inconsistências observadas nos mercados financeiros, juntamente com a expectativa de mais inflação no preço das matérias- -primas e energia”, também justificam os aumentos de preços. A Euromonitor alerta ainda que, com o custo de vida “a subir em espiral”, o consumo de café poderá ser impactado negativamente, com os consumidores locais a serem cada vez mais forçados a reduzir o seu consumo ou a mudar para produtos e marcas mais acessíveis. Numa conjuntura onde prevalece, ainda assim, a procura por experiências de café premium e o desenvolvimento de novos produtos de nicho (opções orgânicas e veganas), “a inovação e a sustentabilidade provavelmente

21 CAFÉ impulsionarão o cenário competitivo”, conclui a consultora internacional de análise de dados. E a verdade é que a inovação de produto é um fator de diferenciação que, na indústria do café, tende a ser cada vez mais ecológico. Não só no que respeita à qualidade do produto, mas especialmente no que toca à embalagem. As marcas apostam cada vez mais na inovação, garante a Euromonitor, concluindo que em 2022 surgiram no mercado sistemas inovadores para cápsulas de café como o Vertuo e o RISE (Reverse Injection System), e mais marcas passaram a oferecer ao consumidor cápsulas em alumínio, material extremamente reciclável e facilmente reutilizado em novos objetos. MARCAS UNIDAS PELA RECICLAGEM DE CÁPSULAS Todos os anos cerca de sessenta mil milhões de cápsulas de café são colocadas no mercado, das quais menos de 25% são recicladas. As restantes são enviadas para aterros sanitários. Para inverter esta má prática, doze marcas de café - Bellissimo, Bogani, Buondi Caffè, Delta Q, Nescafé Dolce Gusto, Nespresso, Nicola, Segafredo, Sical, Starbucks, Torrié e UCC -, sob a égide da AICC - Associação Industrial e Comercial do Café, juntaram esforços para desenvolver um projeto inédito de reciclagem de cápsulas de café com várias câmaras municipais. Apostando na sustentabilidade e “com vista a um bem social comum”, esta iniciativa pioneira de economia circular suportada pelas marcas pertencentes a seis empresas associadas da AICC, juntamente com os municípios, coloca à disposição do consumidor pontos de recolha de proximidade para reciclagem de cápsulas de café usadas. Em novembro de 2022 a Cascais Ambiente e a Tratolixo foram as primeiras entidades a lançarem este sistema de reciclagem, que está já implementado em Cascais, Lisboa e Guimarães, prevendo-se “o seu alargamento a diversos concelhos do país em breve”, avança a AICC. Novas câmaras municipais “revelaram já interesse em aderir ao projeto”. As cápsulas de alumínio ou de plástico depositadas nos pontos de recolha são entregues e armazenadas no Ecocentro e posteriormente seguem para o reciclador onde são tratadas, permitindo separar os distintos materiais e terem uma segunda vida: as borras de café convertem-se em composto orgânico para uso agrícola; o alumínio coletado funde-se de novo, uma vez que é infinitamente reciclável e pode ser transformado em novos objetos do quotidiano (esferográficas, lapiseiras, outros); e do plástico produz-se um material resíduo que se usará para fabricar mobiliário urbano, entre outros objetos. CÁPSULAS COMPOSTÁVEIS CUMPREM REGULAMENTO DAS EMBALAGENS Do lado das empresas de embalagens de café, vários são também os exemplos de novos produtos desenvolvidos a pensar em soluções compostáveis, biodegradáveis ou que privilegiam o alumínio e materiais orgânicos. A Alpla lançou no primeiro semestre de 2023 uma nova geração de cápsulas de café compostáveis em casa. “Recicláveis, seguras, As cápsulas de café de alumínio são as mais recicláveis, embora não o sejam a 100%. As cápsulas de café Blue Circle biodegradáveis são especialmente inodoras e insípidas. Foto: Alpla.

22 CAFÉ insípidas e inodoras”, estas cápsulas de café biodegradáveis para a marca Blue Circle são produzidas com um material orgânico, oferecem propriedades barreira e estão certificadas para compostagem doméstica. Moldadas por injeção nas próprias instalações da empresa e produzidas com o design Blue Circle para obter os melhores resultados em termos de compatibilidade e manuseamento, estas cápsulas aliam material orgânico, design e processo de produção, o que é “fundamental para a estabilidade, estanqueidade e barreira das cápsulas”, de acordo com a especialista em soluções de embalagem de plástico. Nicolas Lehner, CCO da Alpla, defende que, com as novas cápsulas Blue Circle, a Alpla oferece aos fornecedores de café, grossistas e embaladores uma alternativa para que atinjam os seus objetivos de sustentabilidade, ao mesmo tempo que age em conformidade com o novo Regulamento das Embalagens da UE, “que no futuro exigirá soluções compostáveis para embalagens de café de dose única”. A TÜV Áustria atribuiu as marcas de certificação ‘OK compost Home’ e ‘OK compost Industrial’ a toda a embalagem, incluindo a película de selagem e o conteúdo. LINHA DE PRODUTOS PARA CAFÉ BIOBASED Já as empresas Turtle Petals e Speedturtle desenvolveram uma linha de produtos para café compostáveis em ambiente doméstico. A gama GreenPetals inclui cápsulas de café, copos e palhetas produzidos a partir de materiais com certificação OK Compost Home, ou seja, que se degradam entre seis a doze meses quando expostos aos microrganismos existentes no solo ou em um compostor doméstico. Feita a partir de uma matéria-prima 100% proveniente de recursos naturais ( Biobased), esta é uma linha de produtos biodegradáveis no solo que, depois de utilizados, podem ser colocados num compostor doméstico, no jardim ou no lixo orgânico, sem necessidade de envio para estações de compostagem industriais. Este projeto já premiado nasceu da vontade das duas empresas em contribuir para resolver o problema ambiental causado pelo envio de milhões de cápsulas de café e de outros artigos de uso único utilizados para servir bebidas quentes, como os copos de café, para aterros sanitários. O objetivo é “contribuir significativamente para uma Europa neutra em carbono”. Como defende Sandra Ruivo, responsável pela Turtle Petals, “os plásticos de base biológica feitos a partir de recursos renováveis desempenham um papel crucial no fecho do ciclo do carbono. Ao mesmo tempo, ajudam a aumentar a fertilidade do solo, uma vez que podem ser usados como fertilizante, com nutrientes dos resíduos biológicos na forma de composto de alto valor”. Num mercado em crescimento, “existem poucas cápsulas certificadas como compostáveis em ambiente doméstico, o que dificulta a vida às marcas que procuram diferenciar o seu produto através de uma alternativa verdadeiramente sustentável”. Com design e fabrico otimizados, os produtos da linha GreenPetals (incluindo a cápsula PetalsPod) foram desenvolvidos de maneira a garantir a resistência mecânica adequada à sua utilização. A linha GreenPetals foi desenvolvida ao longo dos últimos dois anos, tem protótipos testados e patente submetida. A Turtle Petals aguarda a conclusão do processo de certificação Ok Compost Home pela TÜV Áustria, para iniciar, ainda em 2023, a produção em larga escala. A gama GreenPetals inclui cápsulas de café, copos e palhetas produzidos a partir de materiais com certificação OK Compost Home.

23 CAFÉ ECONOMIA CIRCULAR TRANSFORMA RESÍDUOS DE CAFÉ EM RECURSOS São diversas as aplicações a dar às embalagens de café usadas, nomeadamente cápsulas, e a investigação científica em muito contribui para o desenvolvimento de novos produtos, inovadores e sustentáveis. Investigadores da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e da Universidade de Campinas (Unicamp), no Brasil, e da Manchester Metropolitan University (MMU), no Reino Unido, descobriram que cápsulas de café usadas podem ser reutilizadas para produzir filamentos de impressão 3D, e testaram com sucesso esta alternativa, que é um exemplo de economia circular. Um artigo publicado na revista ACS Sustainable Chemistry & Engineering explica como as cápsulas de plástico descartadas podem ser usadas como matéria-prima para a fabricação de filamentos para impressão 3D, entre outras opções. São produzidos novos filamentos condutores e não condutores utilizando o polímero ácido poliláctico [PLA] proveniente das cápsulas de café. Esses filamentos “podem ser usados em diversas aplicações, incluindo peças condutoras para máquinas e sensores”, refere Bruno Campos Janegitz, coautor do trabalho. Para encontrar novas utilizações para estes resíduos, os investigadores produziram células eletroquímicas com filamentos de PLA não condutores e sensores eletroquímicos com os filamentos condutores, que foram preparados através da adição de negro de fumo ao PLA. O negro de fumo é uma forma de carbono paracristalino resultante da combustão incompleta de hidrocarbonetos. De acordo com os investigadores do projeto, a produção dos filamentos é relativamente simples, facilitando um processo que é um bom exemplo da chamada economia circular, na qual os resíduos gerados numa atividade económica são transformados num recurso para a implementação de outra atividade, em vez de serem tratados como um problema com impacto no ambiente. O Instituto de Investigação Tecnológica (IPT) demonstrou que “beber café de uma cápsula pode ser até 14 vezes mais prejudicial para o ambiente do que prepará-lo com um filtro de papel”. Embora fabricantes e consumidores optem cada vez mais por cápsulas reutilizáveis e a reciclagem das versões de alumínio, “predomina a eliminação pura e simples, sobretudo no caso das cápsulas de plástico”, conclui o artigo académico. No promissor mercado do café, que projeta um aumento nas vendas no retalho num valor atual CAGR (taxa de crescimento anual composto) de 2% entre 2022 e 2027, para 677 milhões de euros - sendo o valor constante CAGR -1% em 2022 -, a economia circular é a chave para um crescimento sustentado. E deve predominar não só na produção deste exclusivo produto, mas sobretudo nos vários desenvolvimentos de futuro a nível de embalagens de café. n As cápsulas de plástico descartadas podem ser usadas como matéria-prima para a fabricação de filamentos para impressão 3D. Foto de KouS9 Studio, Unsplash.

ENTREVISTA 24 CLÁUDIA PIMENTEL, SECRETÁRIA GERAL DA AICC “As inovações em embalagens serão cada vez mais voltadas para a sustentabilidade e materiais compostáveis” A inovação de produto é “um fator de diferenciação” na sustentabilidade do café, tanto em termos de qualidade quanto de embalagem. Neste último caso, “as empresas têm estado atentas” à necessidade crescente de embalagens eco eficientes e apostam em cápsulas compostáveis e recolha e reciclagem de cápsulas usadas, sublinha em entrevista a secretária geral da AICC. Gabriela Costa Que balanço faz da indústria de cafés em Portugal, a nível de produção, e comparativamente aos últimos anos? Face ao atual contexto de inflação e crise económica, como é que a redução do consumo se reflete nos números da produção? Após as restrições do Covid, e no início de 2022, o consumo de café voltou para o comércio local. Assim, o canal on-trade (fora do lar) recupera e o canal off-trade (retalho/ lar) regista quedas no volume de retalho. No entanto, com a Cláudia Pimentel, secretária geral da AICC – Associação Industrial e Comercial do Café. inflação e a crise económica espera-se que neste segundo semestre do ano o consumo fora do lar cresça a um ritmo lento, com o consumidor residente provavelmente a voltar ao consumo em casa, por razões económicas. Mas o volume final de consumo interno não deverá baixar face ao novo aumento de turismo, que tem influência direta no consumo final de café. Na sua opinião quais são as grandes tendências desta indústria? Como estão a responder os produtores de café em Portugal aos reptos da sustentabilidade, economia circular e inovação tecnológica? É de destacar a crescente variedade de oferta, com mais opções de diferentes tipos de café, desde orgânicos a vegans ou a cafés com aditivos de colagénio, zinco, etc. E também o crescimento dos cafés premium. No canal off-trade, a tendência de “Slow Coffee” provavelmente continuará a ganhar força nos próximos anos. No canal on-trade, tem crescido o número crescente de lojas especializadas em café (coffee shops) que oferecem produtos e experiências premium. A deterioração da economia poderá ter uma influência negativa e levar os consumidores a controlar os seus gastos, o que provavelmente levará

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