BF10 - iAlimentar

Serviços de Aluguer Unidades chiller e bombas de calor DAIKIN.PT O seu parceiro na produção de água gelada ou quente! 2023/4 10 Preço:11 € | Periodicidade: Trimestral | Novembro 2023 - Nº10

PORTUGUÊS: Portugal, Brasil, Angola, Moçambique, ... ESPANHOL: Espanha, México, EUA, Argentina, Colômbia, Chile, Venezuela, Perú, ... ACEDA AO MERCADO LUSO-ESPANHOL DA INDÚSTRIA ALIMENTAR O GRUPO EDITORIAL IBÉRICO DE ÂMBITO INTERNACIONAL INTEREMPRESAS MEDIA - ESPANHA Tel. +34 936 802 027 comercial@interempresas.net www.interempresas.net/info INDUGLOBAL - PORTUGAL Tel. (+351) 215 935 154 geral@interempresas.net www.induglobal.pt

Líder mundial em máquinas de processamento de carne Parque Industrial Polingesa 28 Rua Farigola 17457 Riudellots de la selva Girona . Espanha Tel.: 972 478 766 Sebastian Azzollini (Gerente): +34 675 031 600 E-mail: info@jarvisespana.es Mais informações em www.jarvisespana.es Esfoladora de presunto Reparação de luvas em malha Modelos JHSL 215 & 315 & RHSL Temos uma nova oficina de reparação de luvas de malha localizada em Espanha. Tesouras hidráulicas de perna/chifre Serra torácica hidráulica Chave de fendas hidráulica Modelo 30CL-1 Modelo MG-1B Modelo 50G Abridor de tórax elétrico Abatedores Atordoador pneumático Modelo EBS-1 Modelo JC IIIA Modelo USSS-21

4 Edição, Redação e Propriedade INDUGLOBAL, UNIPESSOAL, LDA. Defensores de Chaves, 15 3º F 1000-109 Lisboa (Portugal) Telefone +351 215 935 154 E-mail: geral@interempresas.net NIF PT503623768 Gerente Aleix Torné Detentora do capital da empresa Nova Àgora Grup, S.L. (100%) Diretora Gabriela Costa Equipa Editorial Gabriela Costa, Alexandra Costa, Nina Jareño Marketing e Publicidade Hélder Marques, Frederico Mascarenhas redacao_ialimentar@interempresas.net www.ialimentar.pt Preço de cada exemplar 11 € (IVA incl.) Assinatura anual 44 € (IVA incl.) Registo da Editora 219962 Registo na ERC 127558 Déposito Legal 480593/21 Distribuição total +5.200 envios. Distribuição digital a +4.500 profissionais. Tiragem +700 cópias em papel Edição Número 10 – Novembro de 2023 Estatuto Editorial disponível em https://www.ialimentar.pt/EstatutoEditorial.asp Impressão e acabamento Gráficas Andalusí, S.L. Camino Nuevo de Peligros, s/n - Pol. Zárate 18210 Peligros - Granada (España) www.graficasandalusi.com Media Partners: Os trabalhos assinados são da exclusiva responsabilidade dos seus autores. É proibida a reprodução total ou parcial dos conteúdos editoriais desta revista sem a prévia autorização do editor. A redação da iALIMENTAR adotou as regras do Novo Acordo Ortográfico. SUMÁRIO Membro Ativo: EDITORIAL 5 ATUALIDADE 5 Lisbon Food Affair 2024 8 Alimentaria FoodTech apresenta soluções avançadas para melhorar a eficiência no fabrico e processamento de alimentos e bebidas 10 Economia azul em edição histórica da Conxemar 2023 12 Macau: AJAP promove Portugal na MIF 2023 14 Entrevista com José Espírito Santo, strategy, CFO e investor relations na Cell4food 18 Remodelação das fábricas de transformação de carnes para satisfazer a procura de carne de origem vegetal 22 Descodificando a canábis: enquadramento na indústria alimentar 24 O elo vital da indústria alimentar entre Portugal e Espanha 26 Produtos premium, inovação e sustentabilidade 28 Desenvolvem resinas com resíduos de tomate para revestir o interior de latas e embalagens de alimentos 30 Entrevista com Tiago Marques Pereira, executive board member da Balanças Marques 34 Os alimentos têm IVA diferente consoante são adquiridos no supermercado ou no restaurante 40 A fraude alimentar poderá ter os dias contados graças a inovadoras técnicas de sequenciação massiva 41 Soluções tecnológicas avançadas para melhorar o controlo de qualidade no setor do presunto ibérico 44 Novas técnicas de análise massiva de dados de segurança alimentar baseadas em inteligência artificial 46 OakFood, o projeto que pretende (re) valorizar a bolota portuguesa 48 Desperdício de pão torna mais barata a produção de cerveja como substituto parcial do malte de cevada 50 Monsieur Cantillon, o penúltimo mago da cerveja selvagem 52 Novo projeto europeu focado em desenvolver embalagens ativas biodegradáveis para alimentos 54 A conservação de alimentos sem embalagens de plástico, cada dia mais perto 56 Tecnologias de ponta para a manutenção na indústria alimentar 58 Um novo método de análise deteta hormonas na carne em 15 minutos 61 Que papel tem a indústria alimentar no desenvolvimento da obesidade? 64

5 ASAE apreende cerca de 4.300 litros de óleo de bagaço de azeitona comercializado como azeite virgem extra A Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE), através da unidade regional do norte – Unidade Operacional de Mirandela -, realizou recentemente uma ação de fiscalização direcionada ao combate à fraude alimentar do azeite. Como resultado da ação foram apreendidos cerca de 4.300 litros de óleo de bagaço de azeitona que se encontrava a ser comercializado como azeite virgem extra, tendo sido instaurado o respetivo processo-crime por fraude sobre mercadorias e violação e uso ilegal de Denominação de Origem Protegida (DOP) 'Azeite de Trás-os-Montes', num valor aproximado de 18.200 euros. O óleo de bagaço era adquirido fora do território nacional, embalado em garrafões de cinco litros e rotulado como azeite virgem extra para comercialização no mercado nacional. Foi suspensa a unidade de embalamento ilegal. No seguimento da investigação, foram apreendidos mais de 1.300 litros de azeite que estavam a ser comercializados em mercados e feiras locais, provenientes do mesmo embalador. De referir que a escassez do azeite e o subsequente aumento do seu preço contribui para a existência de um alegado risco acrescido de práticas fraudulentas associadas a este produto tão apreciado pelos consumidores. Neste sentido a ASAE tem reforçado o acompanhamento e vigilância do setor, desde a verificação da origem da azeitona que entra nos lagares até ao processo de embalamento, distribuição e disponibilização do consumidor final, em prol de uma sã e leal concorrência entre operadores económicos e da defesa e segurança dos consumidores. EDITORIAL A paridade de preço entre a carne cultivada e a tradicional “pode ser atingida na próxima década”, mas a nível de impacto ambiental “só se atingem resultados com investimento em investigação e novas (bio)tecnologias do setor agroalimentar”. Quem o afirma é José Espírito Santo, strategy, CFO e investor relations na Cell4Food, a única empresa portuguesa que se dedica à agricultura celular para o setor alimentar. Em entrevista, o responsável avança que a empresa (que também é a única, a nível mundial, a produzir carne de polvo) está a desenvolver novas espécies de peixes e crustáceos para alimentação humana e para rações para animais de estimação, defendendo que “a carne cultivada só será uma alternativa quando houver capacidade industrial instalada”. A tendência é já incontornável, e tema em destaque nas principais feiras do setor. Na Alimentaria Foodtech, que em outubro apresentou, em Barcelona, as últimas inovações tecnológicas para esta indústria com recurso a automação e Inteligência Artificial, o lançamento de impressoras 3D que produzem bacon, bife e camarão à base de proteína vegetal ou de farinhas de minhoca, entre outras novidades, comprovou o interesse do mercado neste nicho em expansão. Já a Lisbon Food Affair, que em fevereiro volta a reunir na FIL produtos, equipamentos e tecnologias para a indústria da alimentação e bebidas, promete ser um marketplace para o lançamento de inovações, como os alimentos do futuro – e, entre eles, as proteínas vegetais. Também em destaque, nesta edição, uma Grande Entrevista à Balanças Marques que, apesar da conjuntura desfavorável nos últimos anos, tem mantido taxas de crescimento na ordem dos 20%. “Na vanguarda do setor da pesagem”, a empresa está a desenvolver sistemas para conciliar peso com volumetria e uma solução de reconhecimento, por IA, dos produtos que são pesados, avança Tiago Marques Pereira, executive board member da especialista em balanças comerciais e industriais. Nota ainda, na indústria conserveira, para a aposta da Pinhais em produtos premium. A empresa de conservas artesanais mantém-se fiel a um processo tradicional centenário, que adapta com inovação e sustentabilidade. Boas leituras e votos de uma excelente quadra natalícia! Regressamos em 2024 com a informação profissional para a indústria alimentar portuguesa. Vencer o presente com os olhos postos no futuro

6 ATUALIDADE MAIS NOTÍCIAS DO SETOR EM: WWW.IALIMENTAR.PT • SUBSCREVA A NOSSA NEWSLETTER Orçamento de Estado para 2024 determina fim do IVA zero A proposta de Orçamento do Estado (OE) apresentada pelo Governo não inclui a continuação da taxa de isenção de IVA sobre alguns produtos alimentares. A medida iniciada em abril deste ano, que abrange um cabaz de 46 produtos alimentares considerados básicos, continuará em vigor até dezembro, mas não será prolongada em 2024. O ministro das Finanças diz que o IVA zero será substituído por outros apoios, mas desta vez apenas aos mais vulneráveis, através do reforço das prestações sociais. Fernando Medina garantiu durante a apresentação do orçamento, no Ministério das Finanças, que serão abrangidas por este reforço cerca de um milhão e meio de pessoas. Fonte: CAP Graphicsleader integra a marca Hinojosa Packaging Group O Hinojosa Packaging Group dá um novo passo no seu processo de expansão e consolidação internacional no sul da Europa, através da integração da portuguesa Graphicsleader na sua identidade visual. A partir de agora, todas as operações serão realizadas sob o logótipo do grupo. Esta medida, passo natural da integração no Hinojosa Packaging Group, contribuirá para projetar uma imagem sólida em todos os territórios nos quais o grupo está presente e reforçar a transparência, transmitindo maior confiança aos seus clientes nacionais e internacionais. Tudo isto tem um objetivo final de garantir a nível local os mais elevados padrões de qualidade e serviço que caracterizam a marca. O referido objetivo é possível graças ao modelo de gestão descentralizada da Hinojosa, que permite responder às necessidades dos seus clientes, oferecendo uma atenção flexível, ágil e humana. Procuramos sempre a excelência na produção de soluções sustentáveis de embalagem, tendo em conta os princípios da economia circular e com a tecnologia mais avançada. A Graphicsleader faz parte da divisão de Consumer Packaging do Hinojosa Packaging Group e é especializada no fabrico de embalagens especiais e impressões de alta qualidade para o linear. A sua atividade centra-se nos setores Alimentar, Bens de Grande Consumo e Cuidados Pessoais e Têxtil, e conta com uma equipa de mais de 190 colaboradores. A experiência local da Graphiscleader e os seus valores de sustentabilidade e orientação para o cliente foram fundamentais para a consolidação da marca até à sua aquisição pelo Hinojosa Packaging Group, bem como para o sucesso desta transição.

7 ATUALIDADE MAIS NOTÍCIAS DO SETOR EM: WWW.IALIMENTAR.PT • SUBSCREVA A NOSSA NEWSLETTER Nestlé Portugal junta à sua frota mais 271 viaturas elétricas No terceiro ano de edição do projeto Green Fleet – transformação total da frota automóvel em veículos elétricos – a Nestlé Portugal vai juntar à sua frota mais 271 viaturas elétricas. Estas viaturas, que já estão a ser entregues a colaboradores, vão permitir ao projeto atingir 77% do objetivo de ter uma frota 100% elétrica até 2025. No total dos três anos de projeto, a Nestlé conta já com 387 viaturas elétricas na sua frota. Este projeto de transformação total da frota está a dar um forte contributo à Agenda de Sustentabilidade da companhia, cujo compromisso máximo e global é atingir a neutralidade carbónica até 2050. Nestes três anos de projeto, o Green Fleet permitiu evitar a emissão de 1570 toneladas de CO2. Para apoiar os seus colaboradores nesta transição, a empresa tem vindo a instalar postos de carregamento nos diversos edifícios que tem no país. No total, em 2025, farão parte do projeto 64 postos de carregamentos: 12 na fábrica do Porto, oito na fábrica de Avanca, quarenta na sede, em Linda-a-Velha, e quatro na delegação comercial no Funchal. A Nestlé está também a disponibilizar aos seus colaboradores a possibilidade de instalarem wall-boxes de carregamento nas suas casas, sem qualquer custo para os colaboradores, quer na instalação, quer na utilização. A empresa está a investir um total de quinhentos mil euros em toda a sua infraestrutura de postos de carregamento. Além destes postos, os condutores de veículos elétricos da frota Nestlé têm ainda à sua disposição toda a rede pública de abastecimento (Mobi-E) e as redes disponibilizadas pelas zonas comerciais de muitos dos seus parceiros retalhistas. Tetra Pak e AB Biotek apresentam novo ingrediente pós-biótico para alimentos e bebidas A Tetra Pak anunciou, no final de outubro, a colaboração com a AB Biotek Human Nutrition & Health para apresentar uma gama de soluções alimentares pós-bióticas inovadoras. Os pós-bióticos podem ser perfeitamente integrados no processo de alimentos como um pó na fase de mistura de produtos tratados a altas temperaturas (UHT - Ultra High Temperature), tais como bebidas, produtos lácteos, gelados e queijos. Esta colaboração surge num momento crucial para o mercado da saúde e do bem-estar, que se estima que cresça dos atuais 124,26 mil milhões de dólares para 232,46 mil milhões de dólares até 2030, representando uma taxa de crescimento anual de 9,33%, de acordo com a Global Research and Markets 2023. Atualmente, a Tetra Pak está a explorar uma série de conceitos alimentares pós-bióticos, como o iogurte a temperatura ambiente rico em proteínas, o chá rico em proteínas e o sumo com baixo teor de açúcar. Isto envolve um trabalho com os produtores de alimentos durante todo o processo do produto, desde a conceção até à validação industrial nos Centros de Desenvolvimento de Produtos de classe mundial da empresa. A inclusão de pós-bióticos em pó numa receita exige um investimento mínimo e não requer maquinaria especializada adicional, permitindo que os fabricantes satisfaçam rapidamente a procura dos consumidores com um esforço mínimo.

8 EVENTO A 2ª edição da LFA – Lisbon Food Affair, agendada para os dias 4 a 6 de fevereiro, na FIL – Feira Internacional de Lisboa, antecipa um dos mais relevantes espaços de debate sobre as tendências de mercado, o consumo, as novas geografias de negócio e o próprio futuro do setor. A LFA é um marketplace qualificado e inovador, destinado a um mercado em permanente evolução, que reúne empresas, start-ups, meio académico e I&D, entidades nacionais e estrangeiras dos setores da alimentação e bebidas, canal horeca, máquinas, equipamentos e tecnologias para a indústria e distribuição alimentar. É também um espaço de negócio e de partilha de conhecimentos e formação, onde as tendências de mercado, o consumo, as novas geografias de negócio e o próprio futuro do setor estarão em debate. A LFA realizou a sua primeira edição em Fevereiro de 2023, com um balanço positivo, afirmando-se como o mais importante evento do setor que se realiza em Portugal e cumprindo o seu papel de montra de excelência e dinamizador da economia nacional. A participação em 2023 das cerca de duzentas empresas, nacionais e internacionais, traduziu-se numa taxa de concretização de negócios nos 80% e numa intenção de retorno de participação para a segunda edição, acima dos 75%. (*). A LFA ocupa uma área de exposição de 20 mil m2; promove a participação de mais de quinhentas marcas de produtos e serviços; realiza, através da plataforma certificada Hosted Buyers, mais de duzentas reuniões com compradores internacionais; e organiza e promove o debate de temas do setor em conferências, acções de talks e showcooking. Na avaliação por parte dos visitantes profissionais: • 73,3% dos visitantes deslocaram-se à feira com intenção de fazer negócio; • 87,1% afirma que a LFA contribui para a projeção e crescimento económico do setor; • 92,2% tenciona repetir a visita na próxima edição em 2024; • 89,7% recomendaria a visita a outros profissionais do setor. A LFA procura definir as suas estratégias de acordo com as orientações definidas para todo o sector, colocando em evidência os fatores da inovação, sustentabilidade e internacionalização como eixos prioritários do projeto. Na internacionalização, e sendo este um dos setores estratégicos para a economia portuguesa, a Lisbon Food Affair tem como objetivo posicionar- -se como a plataforma de negócios entre os quatro continentes, razão pela qual mantém como prioritário a organização de um programa de compradores internacionais e aposta na sua privilegiada condição como marketplace natural para o comércio alimentar com os países de influência portuguesa – Brasil, Angola, Cabo Verde, Moçambique –, totalizando mais de trezentos milhões de potenciais consumidores. Através do programa de compradores internacionais realizaram-se na LFA 2023 mais de duzentas reuniões com buyers de várias geografias. Para 2024 já estão inscritos compradores internacionais de França, Brasil, Grécia, India, Chipre, EUA, Espanha, Turquia, Canadá, Países Baixos, Angola, Bahrain, Omã, Tunísia e Marrocos. Na vertente da inovação e sustentabilidade, todas as atenções concentram-se na LFA Innovation, que surge para apoiar e divulgar o esforço das empresas na conceção, desenvolvimento e lançamento no mercado de novos produtos. É a montra da inovação, que dará a conhecer as tendências de mercado em que cada produto se destaca, como saúde, conveniência, sabor ou sustentabilidade. n (*) dados apurados em inquérito de satisfação realizado após o evento. Lisbon Food Affair 2024

T15-E: PRECISO E FÁCIL DE INSTALAR CONTROLADOR DE NÍVEL PARA LÍQUIDOS AO SEU LADO DESDE 1957 O controlador T15-E da Filsa é um dos instrumentos mais precisos e fáceis de instalar na indústria de controlo de nível. Com um único interrutor, o controlo de nível máximo e mínimo pode ser efectuado para processos de enchimento e esvaziamento em tanques e recipientes utilizando água limpa ou residual sem formação de crosta. A sua ligação mecânica é muito simples: é pendurado livremente pelo seu próprio cabo no teto, ou na parte lateral do tanque, ajustando o contrapeso à altura desejada, mais ou menos afastado do flutuador. Apesar da sua simplicidade, o T15-E tem algumas importantes características: interrutor de boia de alta qualidade, totalmente estanque (nenhuma humidade capilar pode entrar no micro-interrutor), esfera de comando interno e contrapeso regulador em aço inoxidável. Tel.+34 93 570 46 01 www.filsa.es filsa@filsa.es Faça já a sua encomenda através do nosso endereço eletrónico: filsa@filsa.es

10 EVENTO Alimentaria FoodTech apresenta soluções avançadas para melhorar a eficiência no fabrico e processamento de alimentos e bebidas A Alimentaria FoodTech, a feira de máquinas, equipamentos e ingredientes para a indústria agroalimentar, encerrou recentemente uma edição de sucesso, reunindo as principais empresas do setor e mais de 15.800 profissionais no centro de exposições Gran Via da Fira, em Barcelona, durante quatro dias, para promover negócios e impulsionar a inovação no setor. O evento apresentou as mais recentes soluções de automatização, digitalização e inteligência artificial para aumentar a competitividade das empresas e a sustentabilidade dos seus processos.

11 EVENTO Mais de 360 empresas expositoras de vinte países, cerca de mil marcas e sessenta start-ups participaram na Alimentaria FoodTech. Durante quatro dias, o certame apresentou o maior conjunto de soluções tecnológicas, serviços e ingredientes para os profissionais da cadeia de produção agroalimentar: desde o processamento de alimentos e bebidas, indústria 4.0, embalagem, manuseamento e armazenamento, até aos ingredientes e segurança alimentar. Nesta edição, as proteínas alternativas, as embalagens sustentáveis, a digitalização e a inteligência artificial estiveram em destaque, tanto na exposição como nas setenta sessões informativas e de pitching do espaço FoodTech Innovarena, um hub de inovação tecnológica com mais de 125 oradores. Entre as novidades apresentadas na feira estavam as impressoras 3D de alimentos da Cocuus, capazes de produzir bacon, camarão ou bife à base de proteína vegetal; a proteína de farinha de minhoca da Ynsect, que pode ser usada para fazer hambúrgueres ou massas; o NutraSal, substituto de sal com baixo teor de sódio da Disproquimia; e o assistente virtual Copilot Trazable, uma ferramenta com tecnologia de IA e blockchain especializada no setor agroalimentar. Os principais expositores foram a Handtmann, Vaessen Schoemaker, Weber, Impag Iberia, Jarvis, Dordal, Roser, Pujolàs, Frontmatec Intecal, Mimasa, Haratek, Christeyns, Hiperbaric, Bioser e Amerex. O evento foi também apoiado por organizações líderes no setor foodtech, tais como a comunidade de empresas industriais internacionalizadas amec alimentec, a Federação Espanhola das Indústrias Alimentares e de Bebidas (FIAB) e o Instituto de Investigação e Tecnologia Alimentar (IRTA), entre outros. Durante a Alimentaria FoodTech, os prémios Innova e Emprende foram entregues a quatro empresas e quatro start-ups pelas suas mais recentes inovações em matéria de sustentabilidade, segurança alimentar, saúde do consumidor e digitalização. Ricardo Márquez, diretor da Alimentaria FoodTech, considera que “nesta edição pudemos confirmar a vitalidade de um setor que oferece soluções tecnológicas inovadoras, essenciais para que os fabricantes de alimentos e bebidas ganhem em eficiência, competitividade, sustentabilidade e segurança nos seus processos e produtos. Além disso, atingimos o nosso objetivo de gerar múltiplas oportunidades de negócio entre profissionais de toda a cadeia de valor da indústria alimentar e de bebidas”, conclui. INTERNACIONALIZAÇÃO CRESCENTE Com uma edição mais internacional do que nunca, a Alimentaria FoodTech contou com 20% de expositores internacionais - principalmente de Itália, Alemanha e França. Foram recebidos visitantes profissionais de trinta países compradores de tecnologia espanhola de alimentos e bebidas. Com o objetivo de reforçar o setor alimentar, a Alimentaria FoodTech assinou este ano um acordo de colaboração com a seção iFOOD&Drinks da editora Interempresas Media. Desta forma, a revista iFOOD&Drinks, publicação líder no setor alimentar e de bebidas, foi o media partner oficial do evento, aumentando a notoriedade da feira junto de todos os seus leitores e reforçando a sua posição junto das indústrias produtoras transversais de alimentos e bebidas. A próxima edição da Alimentaria FoodTech terá lugar de seis a nove de outubro de 2026, na Gran Vía da Fira de Barcelona. n

12 EVENTO Economia azul em edição histórica da Conxemar 2023 A Conxemar 2023, feira de referência para a indústria de produtos do mar, registou uma participação recorde de 26.736 compradores e fornecedores de 110 países, e 767 expositores, mais 13,3% do que na última edição, em 2022. A 24ª Feira Internacional de Produtos do Mar Congelados Conxemar encerrou uma edição histórica que bateu recordes. Foram três dias de intensa atividade no Instituto Ferial de Vigo (IFEVI), com um total de 26.736 visitantes, mais 3% que na edição de 2022, oriundos de 110 países. Para além de Espanha, os cinco países com mais visitantes foram Portugal, Itália, França, Argentina e Marrocos. Este ano, a feira contou com a presença de 767 expositores - mais 13,3% - graças à otimização dos espaços, que acrescentou mais 1.300 metros quadrados de espaço de exposição ao total da edição anterior. O evento reuniu instituições e fornecedores de 45 países, com a Tanzânia, o Uganda, o Quénia e os Emirados Árabes Unidos como novas adesões, e a Mauritânia, a Turquia, a Grécia e os Países Baixos a participarem pela primeira vez como pavilhão nacional. TRANSFORMAÇÃO AZUL NO 11°CONGRESSO CONXEMAR O 11°Congresso Internacional Conxemar centrou-se na transformação azul, colocando o foco nos produtos do mar pela sua contribuição para uma melhor produção, nutrição e ambiente. O evento atraiu 26 736 visitantes e 767 expositores, mais 13,3% do que no ano anterior. C M Y CM MY CY CMY K

13 EVENTO Resultado da união da Conxemar e da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), este é um dos principais eventos para empresas de transformação e comercialização de produtos do mar de todo o mundo. Nesta edição, realizada a 2 de outubro na sede da Afundación, em Vigo, Abel Caballero, presidente da Câmara Municipal de Vigo, afirmou que “as melhorias na eficiência garantem uma melhor rastreabilidade e otimizam a relação qualidade-preço do produto final”. Já Eloy García Alvariza, presidente da Conxemar, sublinhou que “o consumo de peixe e marisco é a solução para dois grandes desafios: as alterações climáticas e a alimentação saudável e sustentável”. Durante a sua intervenção, o presidente da associação defendeu que “a redução do IVA é uma exigência justa, porque devolve em poupanças de saúde muito mais do que aquilo que se perde em receitas”. O evento, que reuniu 21 oradores de alto nível, contou ainda com Alfonso Villares, ministro regional Participaram 45 países, com a Tanzânia, o Uganda, o Quénia e os Emirados Árabes Unidos como novas adições e a Mauritânia, a Turquia, a Grécia e os Países Baixos a participarem pela primeira vez como pavilhão nacional do Mar, que sublinhou que “Vigo é a referência do sector graças a esta 11ª edição do Congresso, e também à Feira”. NOVA EDIÇÃO EM 2024 A Conxemar regressa ao Instituto Ferial de Vigo (Ifevi) nos dias 1, 2 e 3 de outubro de 2024. Mantendo o desafio de oferecer os melhores serviços a expositores e visitantes, a edição de 2024 merece destaque, já que será o 25º aniversário do evento, ponto de encontro para a indústria de transformação e comercialização de produtos do mar. n AF_anuncio_NO_20230207.pdf 1 07/02/2023 17:18

14 EVENTO A AJAP, que se fez representar por Henrique Silvestre, vice-presidente da Direção, e Firmino Cordeiro, diretor-geral, contou com um stand próprio onde, além de dar a conhecer os serviços e atividades da associação, promoveu junto do mercado asiático alguns produtos e sabores portugueses. “Para esta edição esperávamos mais novidades, mais empresas e produtos em exposição. Esta foi a primeira edição depois da Covid-19. E, tendo em conta que já participámos noutros eventos após a pandemia, sentimos sempre enorme vontade de retomar contactos, negócios. Infelizmente, não sentimos o mesmo nesta edição de 2023 da MIF/C-PLPEX”, considera Firmino Cordeiro. Todavia, garante, “estamos convencidos que algumas mudanças possam acontecer, uma vez que a AJEPC - Associação de Jovens Empresários Portugal-China, tem demonstrado essa capacidade de mobilizar, inovar e dinamizar este tipo de eventos”. Foi notório neste certame uma forte presença de expositores dos setores da Agricultura e Agroalimentar, igualmente do interesse dos visitantes profissionais que os procuravam, bem como do público em geral, que pôde adquirir e degustar muitos produtos. Neste sentido, o diretor-geral da AJAP sublinha: “se o setor primário tem sido importante para o mundo nas últimas décadas, vai seguramente ter ainda mais importância no futuro, uma vez que as alterações climáticas têm alterado bastante as condições meteorológicas de algumas geografias e diminuído aptidões agronómicas de vastas regiões do globo. Se associarmos este tema aos cenários de guerra que estamos a atravessar, com consequências no imediato (as de longo prazo podem ser bem mais pesadas), como sejam os aumentos dos custos com a energia, produtos fertilizantes, subidas enormes dos produtos alimentares à escala global, fazendo aumentar a fome e o número daqueles que não conseguem produzir para comer, o cenário não é animador”. Por isso, vinca Firmino Cordeiro, “é fundamental, e sem qualquer tipo de fundamentalismo ideológico, que neste tipo de fóruns e noutras ações, possamos sensibilizar os nossos maiores decisores para estas questões”. “Vivemos um mundo quase sem estratégia, sem rumo, e se algumas medidas são tomadas, poucas são aquelas que se preocupam com a estabilidade das pessoas e com o seu bem-estar. Assistimos a conflitos e migrações como nunca se verificaram, estamos a sobrecarregar imenso muitas regiões (por exemplo, grandes metrópoles urbanas), assistimos, impávidos e serenos, ao aumentar de áreas que A Associação dos Jovens Agricultores de Portugal (AJAP) participou na I Exposição Económica e Comercial China-Países de Língua Portuguesa (C-PLPEX) e na 28.ª MIF - Feira Internacional de Macau. O evento decorreu entre os dias 18 e 22 de outubro e a AJAP não tem dúvidas: a aposta no grande mercado chinês (e asiático) deve ser uma prioridade económica para os países lusófonos, com oportunidades ímpares para os setores agrícola e agroalimentar. Henrique Silvestre e Firmino Cordeiro, MIF 2023. Macau: AJAP promove Portugal na MIF 2023

15 EVENTO tendem a desertificar num planeta, com recursos finitos, que vamos delapidando, com consequências terríveis para todos, nomeadamente para as novas gerações", conclui. AFINAL, QUAL É A ESTRATÉGIA? Na sua opinião, "o presidente da AJEPC, Alberto Carvalho Neto, ausente desta edição, tem feito o seu melhor esforço, e tem dado passos muito certos, por exemplo, ao envolver desde há algumas edições não só empresas portuguesas a participar na C-PLPEX, e ao criar o ambiente para que a feira pudesse estar associada a uma plataforma interativa”, afirma Firmino Cordeiro. Também por esta via é cada vez maior o número de países que fala português às portas da China, obviamente com interesses económicos para ambas as partes. Este cenário é impulsionado pelo aumento de relações comerciais com a União Europeia, num ambiente quase familiar, entre países afastados fisicamente, mas próximos pela sua história, empenhados no seu desenvolvimento e na promoção de negócios internacionais. Firmino Cordeiro refere que o conjunto dos países da CPLP - Comunidade dos Países de Língua Oficial Portuguesa “tem ainda muito a dar ao mundo em várias áreas, tendo como fulcral, a par de diferentes tipos de energia e dos recursos naturais, o setor agroalimentar como bandeira, se o tornarmos mais competitivo, exportador e sustentavél”. Ainda no decurso desta edição, a AJAP participou num seminário organizado pela Confederação Empresarial da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CE-CPLP), que se centrou sobre várias áreas de negócio e com a possibilidade de se interagir com a China. “Nos últimos anos temos assistido a um aumento das exportações de produtos agrícolas destes países para o resto do mundo, contudo, somos da opinião que esta comunidade de países ainda as pode fazer crescer muito mais. O Brasil, como um dos grandes players mundiais na produção de alimentos, entende que ainda tem espaço para crescer mais, pelo que se os responsáveis destes países criarem as condições políticas necessárias para uma maior interação entre empresas e empresários, nomeadamente do Brasil e Portugal, em parceria com os agricultores de países como Angola, Moçambique, Guine Bissau, São Tomé e Cabo Verde, é possível colocar paulatinamente esta comunidade de países num lugar de ‘charneira’ na produção de alimentos a nível mundial”, antevê o diretor-geral da AJAP. Assim, insiste Firmino Cordeiro, é fundamental continuar a alertar os responsáveis destes países para assumirem mais compromissos com os seus empresários e com os seus jovens, para que possam ir desenvolvendo as suas iniciativas e as suas startups. “Queremos uma AJEPC mais robusta a apoiar o mais possível os seus associados, queremos uma CE-CPLP mais ativa para que se coloque verdadeiramente à disposição de todos os empresários. Também contra nós falamos, a AJAP deveria fazer ainda mais, mas tendo recursos limitados e apoios parcos da máquina do Estado, torna-se difícil fazer este tipo de missões a estas distâncias e com dificuldades de vária ordem”, afirma o responsável da AJAP. Contudo, lembra que, mesmo com estes condicionalismos, “devemos estar mais unidos nos grandes propósitos comuns, promover negócios, comercializar produtos e serviços de qualidade, colaborarmos ativamente com os países que falam a nossa língua, porque todos temos a ganhar, se a atitude, o arrojo e a vontade de remar para o mesmo lado for ainda maior”. A AJAP move-se por causas, não só nacionais, como internacionais, e em Macau sempre esteve ao lado da AJEPC. "Queremos colaborar para o bem de Portugal, de empresas portuguesas, e no lançamento de jovens em novos desafios. E esse é talvez o maior desafio que todas as organizações têm: apoiar e acompanhar as suas iniciativas, caso contrário todos perdemos". n

ENTREVISTA 18 JOSÉ ESPÍRITO SANTO, STRATEGY, CFO E INVESTOR RELATIONS NA CELL4FOOD “A carne cultivada só será uma verdadeira alternativa quando houver capacidade industrial instalada” Gabriela Costa O investimento em agricultura celular explodiu nos últimos anos e, atualmente, 150 empresas em todo o mundo apostam sobretudo em espécies de volume (frango, porco, vaca) e em produtos mais caros e exclusivos, como wagyu, salmão, atum rabilho, foi-gras ou caviar. Em Portugal, a Cell4Food é a única do setor que se dedica à alimentação humana, desenvolvendo aquacultura celular. Em entrevista, José Espírito Santo, strategy, CFO e investor relations na empresa, defende que o objetivo de limitar os danos e abrandar o crescimento da produção tradicional “só é alcançável através do recurso às proteínas alternativas”. Até 2050, vamos ter de produzir mais duzentos milhões de toneladas por ano (+70%) de proteína animal. Será possível fazê-lo de forma sustentada? O problema é que já não estamos a produzir as trezentas toneladas atuais de forma sustentada. A forte aceleração da produção (intensiva) de proteína animal nas últimas décadas levou ao esgotamento/extinção de muitas espécies e ao “afunilamento” do consumo num número residual de espécies (menos de vinte espécies representam mais de 90% do consumo). A Cell4Food está a investir no desenvolvimento de espécies de peixes e crustáceos para alimentação humana e rações para animais de estimação.

ENTREVISTA 19 Também o impacto ao nível da saúde pública, consumo de água, desflorestação e emissões de gases com efeito de estufa está bem documentado e já ultrapassou os limites (a segunda maior contribuição a seguir ao setor energético). Assim, nas próximas décadas, apenas podemos limitar os danos e abrandar ao máximo o ritmo de crescimento da produção tradicional nas condições atuais. Este objetivo só é alcançável através do recurso às proteínas alternativas (plantas, carne celular e fermentação de precisão). Como se pode limitar o impacto ambiental em termos de emissões de gases com efeito de estufa, consumo de água, desflorestação, e riscos para a saúde devido à utilização intensiva de hormonas, antibióticos, etc.? Há sempre espaço para “apertar a malha” em termos do controlo do impacto ambiental. A redefinição dos limites legais, a criação de “impostos verdes”, a diminuição da elevada subsidiação do setor, etc… Mas só se atingem resultados significativos com políticas positivas de incentivo e apoio ao investimento em investigação e desenvolvimento das novas (bio)tecnologias do setor agroalimentar. O mundo precisa de soluções alternativas. Em que medida os modernos produtos de proteínas vegetais são viáveis? O consumidor vai mudar os seus hábitos seculares e deixar de comer carne e peixe? Não acredito que tal seja possível ou que faça sentido. A proteína animal continua a ser a melhor proteína para a alimentação humana. No entanto, a alimentação humana não pode continuar a depender da mesma forma de uma indústria tão ineficiente e tão insustentável. Como pode a carne cultivada ser uma verdadeira alternativa? Há grandes desafios a ultrapassar até a carne cultivada chegar às prateleiras dos supermercados ou aos pratos dos restaurantes. A carne cultivada será uma verdadeira alternativa quando a sua textura e sabor forem otimizadas, quando o preço de custo se aproximar do produto tradicional (paridade), e, principalmente, quando houver capacidade industrial instalada suficiente para abastecer uma percentagem mínima significativa do grande mercado de proteína alimentar, que está avaliado em mais de três triliões de dólares por ano. Estas metas demorarão anos e décadas a serem gradualmente atingidas. Qual o status da tecnologia neste segmento da indústria alimentar no mundo e em Portugal? Já há carne cultivada no mercado? Sim, neste momento Singapura (2020) e Estados Unidos da América (2023) já aprovaram a comercialização de vários produtos de carne celular (frango), estando prevista a aprovação em muitos outros países (nomeadamente na Comunidade Europeia, Reino Unido, Japão, China, Austrália) gradualmente ao longo dos próximos anos, incluindo de novas espécies. Qual é a reação dos consumidores? Não existe ainda uma reação dos consumidores à prova, dada a escassez da oferta. No entanto, as provas cegas já realizadas têm tido resultados surpreendentes, com a maioria dos críticos gastronómicos e chefs a não conseguir distinguir a carne cultivada (cozinhada em forma granulada) da carne de produção tradicional. As dezenas de inquéritos realizados por todo o mundo revelam uma grande abertura e curiosidade na prova e no consumo regular, principalmente entre os jovens e segmentos com maior escolaridade (mais conscientes da crise ambiental). Quais são os principais desafios tecnológicos e como analisa o cenário de investimento? Há muitas empresas em atividade no mercado? Os principais desafios tecnológicos são a redução do custo (paridade), o aumento exponencial da capacidade instalada (scale-up) e a imagem do produto final (granulado versus corte/filete). Nos últimos três anos, o investimento neste setor explodiu, existindo neste momento cerca de 150 empresas em todo o mundo (a Cell4Food é a única em Portugal), que já captaram quase quatro mil milhões de dólares acumulados em capital privado. Um número crescente de Estados estão a promover linhas e fundos públicos de financiamento e apoio à investigação e desenvolvimento, nomeadamente a Holanda, Reino-Unido, Estados Unidos da América, Israel e China. No entanto, estes fundos visam essencialmente a fase inicial de investigação, até à construção de unidades industriais piloto. As construções de unidades industriais à escala alimentar vão exigir triliões de dólares de investimento ao longo de décadas para se atingir uma dimensão significativa. “Só se atingem resultados com políticas de investimento em investigação e desenvolvimento das novas (bio)tecnologias do setor agroalimentar”

ENTREVISTA 20 No mercado há cerca de 150 empresas, principalmente nos EUA, Singapura, Reino-Unido, Holanda, Israel, China e Austrália. Entretanto, entramos numa fase de alguma estabilização e consolidação, pois já existe uma base consistente e sólida para o setor avançar de forma sustentada nos próximos anos. Quais as espécies mais produzidas e que tendências destaca? A aposta tem sido em espécies de volume (frango, porco, vaca) e em espécies/produtos de quantidade limitada e de preço elevado (wagyu, salmão, atum rabilho, foi-gras, caviar, etc.). A Cell4Food é a única empresa do mundo a desenvolver carne de polvo (entre outras espécies marinhas). O polvo (vulgaris) tem registado quedas de produção com preços crescentes, sendo um animal extremamente inteligente e quase impossível de produzir intensamente em cativeiro (aquacultura). Para além de que Portugal é o maior consumidor per-capita de polvo do mundo e a Europa do Sul o maior importador. O que se está a fazer no campo da agricultura celular na indústria alimentar nacional? Como referi, em Portugal existe apenas uma empresa de agricultura celular dedicada à alimentação, a Cell4Food, criada em 2022 por um grupo polivalente de cientistas e empreendedores com larga experiência em várias áreas. Há mais duas empresas com atividade em Portugal, uma na área da pele exótica de répteis (para a indústria da moda) e uma empresa de capital alemão dedicada à fermentação de precisão. Já em 2023, foi criada a CELLAGRI Portugal - Associação Portuguesa para o Desenvolvimento da Agricultura Celular (www.cellagri.pt) e esperamos que muitas outras empresas venham a ser criadas neste dinâmico setor. José Espírito Santo (à direita) com a equipa da Cell4Food. “O capital tem sido quase exclusivamente privado, devido à escassez de projetos de investigação com financiamento público”

ENTREVISTA 21 Como se posiciona o projeto de aquacultura celular da Cell4Food no mercado? O projeto foi apresentado ao mercado na 1° Conferência Internacional de Agricultura Celular, realizada este ano, em Braga. A reação do setor foi muito positiva e criou uma grande expectativa devido essencialmente à escolha do Polvo, uma espécie cefalópode com caraterísticas neurológicas e biológicas muito diferenciadas. Que outros projetos estão a desenvolver para o setor alimentar? Estamos a investir no desenvolvimento de outras espécies (peixes e crustáceos), quer para a alimentação humana quer para rações para animais de estimação (setor em forte crescimento, de alto valor acrescentado e com mais rápido acesso ao mercado). Qual a relevância da inovação aplicada e investigação colaborativa para incrementar a produção de proteínas cell-based no setor alimentar? É fundamental. Trata-se de um setor “deep-tech” numa fase de constante inovação em que as redes de partilha de conhecimento são fundamentais. No entanto, o capital tem sido quase exclusivamente privado (capitais de risco), devido à escassez de projetos de investigação com financiamento público que permitam um acesso mais aberto à tecnologia. A Cell4Food apostou fortemente em parcerias com várias universidades e institutos portugueses (IST/IBB, UA/CBA, UM/CBMA). Na sua perspetiva, qual será o impacto desta nova tecnologia na agricultura, pecuária e aquacultura tradicionais? Poderá levar ao encerramento de empresas tradicionais e criar desemprego? Independentemente do ponto de vista, o impacto das novas tecnologias nos setores tradicionais é sempre inevitável, e quanto mais cedo houver um trabalho de equipa e colaboração mais rapidamente se poderão adaptar. De qualquer forma, não podemos esquecer as projeções de crescimento do mercado de proteínas animal a longo prazo. Por muito forte que seja o crescimento da agricultura celular (carne cultivada e fermentação de precisão) e dos produtos de origem vegetal, não vão conseguir acompanhar o crescimento global da procura. O que significa que, muito provavelmente, haverá mais produção de proteína animal tradicional em 2050 do que hoje! A existirem encerramentos em escala, e tal só acontecerá a muito longo prazo, será uma consequência do mercado (consumidores) que optará gradualmente por produtos mais saudáveis, sustentáveis e éticos. Um exemplo mais critico é a crise crescente no setor dos laticínios, que deverá perder uma grande parte do seu mercado na próxima década para produtos alternativos ao leite (iogurte e queijos) feitos com recurso à fermentação de precisão. Como será um processo muito lento, poderão ocorrer perdas graduais de postos de trabalho na agricultura tradicional, ao mesmo tempo que serão criados novos empregos nas indústrias emergentes da biotecnologia (com mais valor acrescentado). Mas o saldo final não tem que ser negativo, seguramente terá valor acrescentado. Quanto tempo será necessário para a carne cultivada atingir preços paritários com os da carne tradicional? Acreditamos que exista uma subida de preços médios mais acelerada nos produtos de origem tradicional devido às crescentes exigências qualitativas, sanitárias e éticas, assim como eventuais “impostos verdes”. O produto tradicional genuíno, de origem certificada e de elevada qualidade tenderá a ser considerado um produto cada vez mais raro e caro no mercado (de luxo a longo prazo). Ao mesmo tempo, devido à rápida inovação tecnológica, a redução de custos de produção na carne cultivada tem sido dramática (os custos caem a um ritmo superior ao que assistimos noutras inovações tecnológicas, como nos microprocessadores, nos painéis solares ou na genética). Quando se passar para a fase de scale-up (food-grade), a escala industrial alimentar permitirá atingir ganhos de produtividade ainda maiores, podendo facilmente atingir custos muito inferiores aos produtos tradicionais de espécies mais caras ou raras. Acreditamos que a paridade possa ser genericamente atingida na próxima década. Quantos anos deverão passar até consumirmos mais carne cultivada do que tradicional? É uma pergunta muito difícil, mas apostaria que em duas ou três gerações (cinquenta a 75 anos), a produção de carne com células cultivadas ultrapasse a produção tradicional. Vários estudos recentes de consultoras internacionais apontam para um objetivo muito ambicioso de 25% a 35% de quota já em 2050. n “Acreditamos que a paridade [de preço entre a carne cultivada e a tradicional] possa ser genericamente atingida na próxima década”

22 PROTEÍNAS ALTERNATIVAS Remodelação das fábricas de transformação de carnes para satisfazer a procura de carne de origem vegetal Segundo um novo relatório, as empresas dedicadas à produção de carne de origem vegetal deveriam reutilizar equipamentos e edifícios construídos para outros setores da indústria alimentar, a fim de rentabilizar e aumentar rapidamente a respetiva produção para satisfazer a procura futura deste produto.

23 PROTEÍNAS ALTERNATIVAS Estas são algumas das conclusões publicadas no relatório Plant-based Meat Manufacturing Capacity and Pathways for Expansion, elaborado pela organização Good Food Institute e pela Bright Green Partners. O documento tem como objetivo disponibilizar às empresas e aos governos informações importantes sobre como aumentar a produção de forma rápida e rentável para evitar a escassez. A carne de origem vegetal tem a mesma aparência e sabor da carne convencional, mas provoca até 98% menos emissões e utiliza até 93% menos terra e 99% menos água. Assim, o relatório estima que as unidades de produção em todo o mundo produziram aproximadamente 2,2 milhões de toneladas métricas de carne de origem vegetal em 2022, correspondendo 41% desta capacidade à Europa e 34% à América do Norte. Embora a capacidade atual seja bem aproveitada, o crescimento moderado da procura do mercado da carne de origem vegetal poderá implicar a falta de capacidade da indústria para manter e fazer frente à nova procura. O que poderá ser um problema no futuro, uma vez que, de acordo com os dados da NielsenIQ analisados pelo Good Food Institute Europe, as vendas a retalho de carne de origem vegetal em 13 países europeus cresceram 19%, até superar os dois mil milhões de euros entre 2020 e 2022. Perante isto, o relatório recomenda que as empresas europeias reutilizem equipamentos e edifícios existentes na indústria alimentar, a fim de ampliar a sua capacidade de produção em dias ou meses. Isto irá permitir-lhes evitar os prazos de até três anos que implica a construção de uma nova unidade de produção e, consequentemente, arcar com apenas 20% dos custos. Da mesma forma, as fábricas que atualmente são utilizadas para a produção de cereais para o pequeno-almoço e transformação de frutos secos poderão ser utilizadas como instalações para produzir as matérias-primas dos alimentos de origem vegetal. Por sua vez, as unidades de produção convencionais de processamento de carne poderiam ser utilizadas como instalações destinadas às fases posteriores de produção, dedicadas a aspetos como a mistura, cozedura ou embalamento dos alimentos. Perante a pressão do mercado e da concorrência, o relatório recomenda que as empresas da indústria alimentar considerem a possibilidade de diversificação, fabricando produtos vegetais a pedido de outras empresas. Ao fazer uso da infraestrutura existente, esta remodelação proposta poderá permitir a outras indústrias o acesso a novas oportunidades de mercado. Um exemplo disso é a empresa neerlandesa de processamento de carnes Vion, que reconverteu parte das suas instalações de processamento de carne bovina para as destinar ao fabrico de alimentos de origem vegetal. Os autores também aconselham os decisores políticos de regiões interessadas em se tornar pontos nevrálgicos no que diz respeito a proteínas sustentáveis, a incentivar a modernização das instalações existentes, a fim de impulsionar as economias regionais, fomentando assim a criação e retenção de postos de trabalho, bem como o desenvolvimento de trabalhadores qualificados no setor transformador. Carlotte Lucas, diretora de Compromisso Corporativo do Good Food Institute Europe, declarou: “A Europa é um dos maiores mercados mundiais de carne de origem vegetal, mas um pequeno aumento da procura poderá esgotar a capacidade de fabrico, pelo que este relatório oferece às empresas e governos um plano de ação face ao futuro. A reutilização de edifícios e equipamentos existentes é uma forma viável e acessível de garantir que as empresas possam crescer rapidamente, assegurando que a Europa não perde as enormes oportunidades oferecidas por este alimento sustentável”. Por seu lado, Floor Buitelaar, Managing Partner na Bright Green Partners, declara que “a capacidade limitada e a necessidade de quantias elevadas de capital dificultam o crescimento futuro da indústria de carnes de origem vegetal. O nosso estudo oferece uma orientação fundamental que permite aos responsáveis na tomada de decisões escolher com conhecimento de causa a capacidade, o capital e as estratégias que permitam limitar os investimentos”. “A capacidade de fabrico de carne de origem vegetal provavelmente será totalmente coberta até 2026, tornando a reconversão uma opção muito atraente e eficiente em termos de capital para escalar rapidamente a capacidade”, acrescenta. n As empresas podem ampliar a sua capacidade numa questão de dias, adaptando instalações pré-existentes e subutilizadas

RkJQdWJsaXNoZXIy Njg1MjYx