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Edição, Redação e Propriedade INDUGLOBAL, UNIPESSOAL, LDA. Avenida Barbosa du Bocage, 87 4º Piso, Gabinete nº 4 1050 - 030 Lisboa (Portugal) Telefone (+351) 217 615 724 E-mail: geral@interempresas.net NIF PT503623768 Gerente Aleix Torné Detentora do capital da empresa Nova Àgora Grup, S.L. (100%) Diretora Ana Clara Equipa Editorial Ana Clara, Alexandra Costa, Nina Jareño Marketing e Publicidade Filomena Oliveira www.ialimentar.pt Preço de cada exemplar 10 € (IVA incl.) Assinatura anual 40 € (IVA incl.) Registo da Editora 219962 Registo na ERC 127558 Déposito Legal 480593/21 Distribuição total +5.200 envios. Distribuição digital a +4.500 profissionais. Tiragem +700 cópias em papel Edição Número 3 – Março de 2022 Estatuto Editorial disponível em https://www.ialimentar.pt/EstatutoEditorial.asp Impressão e acabamento Gráficas Andalusí, S.L. Camino Nuevo de Peligros, s/n - Pol. Zárate 18210 Peligros - Granada (España) www.graficasandalusi.com Media Partners: Os trabalhos assinados são da exclusiva responsabilidade dos seus autores. É proibida a reprodução total ou parcial dos conteúdos editoriais desta revista sem a prévia autorização do editor. A redação da iALIMENTAR adotou as regras do Novo Acordo Ortográfico. SUMÁRIO Membro Ativo: ATUALIDADE 5 EDITORIAL 5 Entrevista com Luís Gonçalves, Presidente da Direção da ACIP 12 Microalgas no desenvolvimento de pães mais saudáveis 16 A história do Pão de Medronho 20 Entrevista com Paulo Amaral, Diretor da Tecnipão 22 Natfood em destaque na Tecnipão 24 RPL: o regresso às feiras presenciais 25 FUCHS apresenta auditoria LCCP para segurança alimentar na Tecnipão 2022 26 Reformulação nutricional: cooperação e autorregulação na base dos bons resultados 28 Entrevista com Filipa Melo de Vasconcelos, Subinspetora-Geral da ASAE 30 O futuro da alimentação passa pela diversidade 40 Futuros alimentos e seus substitutos 44 Proteínas alternativas: Horizon Scanning ao abrigo da normativa europeia dos novos alimentos 50 A caminho de uma embalagem 100% sustentável? 56 Alegações ambientais: menos complexidade para mais informação 60 Soluções de transmissão e acionamento na indústria da embalagem 62 Sustentabilidade: tecnologias e materiais ecológicos 64 Como o sistema digital de controlo de pragas minimiza riscos na indústria alimentar? 67 Transição digital 70 Rendimento de transferência sem preocupações 72
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6 EDITORIAL Nesta primeira edição de 2022 da revista iALIMENTAR, abordamos um dos subsetores da indústria alimentar mais importantes: a panificação. Um tema que ganha importância, numa altura em que vai acontecer, em Lisboa, no final do mês de março, a Tecnipão, feira da qual somos media partner e que damos destaque mais à frente com uma entrevista a Paulo Amaral, diretor do certame. No momento em que as economias europeias tremem devido ao conflito na Ucrânia, um dos maiores problemas que o setor da panificação atravessa (e não é de agora) é o aumento do preço dos fatores de produção, uma adversidade, salienta Luís Gonçalves, presidente da Associação do Comércio e da Indústria de Panificação, Pastelaria e Similares (ACIP), “que se está a refletir no setor da indústria e do comércio”. A juntar a isso, o aumento na energia, nos combustíveis e nas matérias-primas, aliados à falta de mão-de-obra, são os principais fatores que estão a colocar pressão nas empresas do setor e no preço do pão. Contudo, e pese embora os constrangimentos económicos (ainda decorrentes também da pandemia), as previsões para este ano são otimistas. Seguramente que as empresas não baixarão os braços e persistirão na inovação com vista a contribuir para um setor mais forte e competitivo. A Tecnipão, não temos dúvidas, será um dos palcos que ajudará nesse caminho. Um outro tema em destaque, e que está cada vez mais na ordem do dia, são os novos alimentos como substitutos da carne. Num dossier dedicado ao tema, abordamos a importância da transição do modelo de sistemas alimentares que temos atualmente para um outro que seja sustentável através da investigação, inovação e tecnologia. Falamos dos chamados ‘alimentos do futuro’, como proteínas vegetais, microbianas, marinhas e à base de insetos e substitutos de carne. No capítulo da segurança alimentar, Portugal confia a missão à Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE), parceira media partner da iALIMENTAR. Além do trabalho inspetivo, a missão da ASAE vai muito para lá do que, provavelmente, os portugueses conhecem, nomeadamente no que respeita à rotulagem, à literacia dos consumidores e à análise de riscos alimentares, entre outras valências. Leia a entrevista com a Subinspetora-Geral, Filipa Melo de Vasconcelos, e fique a par do trabalho desenvolvido pela instituição nos últimos anos. Com a pandemia a dar tréguas, marcamos encontro na FIL, emLisboa, de 27 a 29 demarço, na Tecnipão. Visite o stand da iALIMENTAR e fique a conhecer-nos melhor. Da nossa parte, cá estaremos para continuar a informar o setor sobre as tendências e as mais recentes novidades do setor agroalimentar português. Bons negócios! Panificação: setor sob pressão, mas confiante no futuro Exportações do setor agroalimentar fecham 2021 a crescer O Instituto Nacional de Estatística (INE) anunciou os dados do Comércio Internacional do Complexo Agroalimentar (CAA) relativos a dezembro de 2021. Dados indicam uma tendência de crescimento das exportações no setor agroalimentar. O ano de 2021 fechou a crescer neste indicador, com as exportações a aumentarem 11,4% (6.920 M€ para 7.709 M€) face a 2020. Das atividades que compõem o Complexo Agroalimentar regista-se um crescimento em todas as categorias, com a Agricultura e as Indústrias de Produtos Alimentares, Bebidas e Tabaco a crescer 5,5% e 12,9%, respetivamente, comparativamente com o ano anterior. Nas importações do complexo agroalimentar registou-se um aumento de 11,3% face a 2020, sendo esta uma tendência de crescimento que se verifica após o primeiro ano de pandemia (2019), ano em que as importações do setor agroalimentar diminuíram. Já o setor dos vinhos fechou o ano a crescer, com um aumento das exportações de 8% face a 2020. “Os dados agora divulgados pelo INE vêm reforçar a robustez e a relevância do setor agroalimentar para a economia e competitividade do País. Mantém-se a tendência de crescimento e confirma-se a resiliência que o setor demonstrou, mesmo nos períodos mais difíceis da pandemia”, afirma a ministra da Agricultura, Maria do Céu Antunes.
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8 ATUALIDADE MAIS NOTÍCIAS DO SETOR EM: WWW.IALIMENTAR.PT • SUBSCREVA A NOSSA NEWSLETTER UTAD investiga a enologia de precisão na produção do Vinho do Porto Um grupo de investigadores da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) está a desenvolver estudos em enologia de precisão, no âmbito do projeto de I&D denominado 'Smartgeing' - Sistema de Apoio à Decisão para o Envelhecimento de Vinho do Porto Branco. Este projeto, com um valor de cerca de 1,5 milhões de euros, é financiado pelo COMPETE2020, Portugal2020 e FEDER, sendo liderado pela empresa WineGrid, com participação da empresa Vallegre, Vinhos do Porto, S.A. Os estudos a realizar envolvem investigadores do Laboratório de Química Alimentar e do Vinho do Centro de Química – Vila Real (Fernando Nunes, Fernanda Cosme e Amadeu Borges) e do CITAB (Raúl Morais e Emanuel Peres), contando ainda com a participação do INESC-TEC polo UTAD. O principal objetivo do projeto, segundo Fernando Nunes, “é aumentar a previsibilidade do processo de envelhecimento do Vinho do Porto Branco através do desenvolvimento de ferramentas de monitorização e atuação que possibilitemmelhorar significativamente a monitorização em tempo real da evolução do processo de envelhecimento e da qualidade do vinho do Porto Branco”. Tais ferramentas irão possibilitar atuar sobre as variáveis de produção determinantes no processo de envelhecimento. OKI presente na Packaging com soluções de personalização para os setores da embalagem e alimentar A OKI Europe marca presença na Packaging, evento dedicado aos profissionais da embalagem, que se realiza em paralelo com a Tecnipão, nos próximos dias 27 a 29 de março, na FIL. No stand B24, do pavilhão 3, os visitantes vão ter a oportunidade de conhecer soluções de impressão digital da OKI para diferentes aplicações na indústria alimentar e da embalagem: - Série OKI Pro10 com tecnologia de toner seco para impressão de etiquetas e rótulos de pequenos formatos a quatro e cinco cores; - a premiada Série OKI Pro9 de impressoras de impressão ligeira e packaging a 5 cores que oferecem às empresas a flexibilidade de imprimir cores vibrantes em praticamente todo o tipo de suportes; - e as Séries C800 e C650 de impressoras compactas e versáteis A3 e A4, perfeitas para ambientes onde o espaço é reduzido que permitem às empresas lidar com todas as suas necessidades de impressão diárias, além de produzirem todos os materiais de sinalética, incluindo banners até 1,3m de comprimento, cartazes promocionais, suportes pré-cortados, papeis à prova de água, e muito mais. “Incrementar a rentabilidade dos negócios será um dos principais focos da OKI neste importante evento do setor da embalagem. Os nossos especialistas estarão à disposição dos visitantes para demonstrar como é possível alcançar uma maior rentabilidade e novos patamares de criatividade com o portfólio exclusivo de impressoras da OKI”, afirma Marta Bilro, Trade and Marcom Marketing Manager da OKI Europe para Portugal.
9 ATUALIDADE MAIS NOTÍCIAS DO SETOR EM: WWW.IALIMENTAR.PT • SUBSCREVA A NOSSA NEWSLETTER Indústria de produção de insetos cresce em Portugal com ajuda do INEGI A Entogreen, empresa do setor agroalimentar, escolheu Santarém como local para instalar a sua primeira unidade fabril de produção de insetos, e escolheu o INEGI como parceiro para apoiar a implementação de soluções de climatização e ventilação, capazes de suportar a exigência deste tipo de produção. Nesta fábrica, a empresa vai transformar desperdícios vegetais em fertilizantes para o solo e em produtos de nutrição animal. O objetivo da Entogreen é contribuir para o desenvolvimento de uma alimentação sustentável, ao reutilizar os desperdícios nutricionais que ocorrem no setor agroalimentar, reintroduzindo-os na cadeia de valor. Os processos envolvidos na criação de proteína de inseto, porém, exigem condições específicas de temperatura e humidade, que podem ser difíceis de controlar. Razão pela qual a equipa do INEGI vai assegurar a assessoria técnica necessária para o desenvolvimento de soluções à medida. Como explica Ricardo Barbosa, responsável pelo projeto no INEGI, "a unidade terá uma área de biodigestão, onde serão gerados gases, calor e humidade em taxas diferentes. Dado que estas condições têm uma influência significativa na eficiência de produção, torna-se necessário desenvolver uma solução específica de ventilação e climatização industrial que responda aos requisitos”. A produção industrial de proteínas provenientes de insetos é ainda rara na Europa, mas prevê-se que cresça rapidamente, dado que é uma alternativa mais sustentável. As peculiaridades da indústria constituem, por isso, um desafio importante para o INEGI, que aposta na inovação de base tecnológica para ir de encontro às necessidades do setor. Foto: Entogreen Empack e Logistics & Automation regressa ao Porto Certame realiza-se nos dias 26 e 27 de maio, na Exponor, após dois anos de ausência devido à pandemia. O único evento para os setores de embalagem e logística, em Portugal, está de volta ao Porto. A 6ª edição da feira conta já com 65 expositores confirmados e as inscrições já abriram. Este será um espaço de negócios e networking, onde será possível voltar a reunir e conhecer grandes marcas, num ambiente seguro. A maior feira de logística no País "é uma excelente oportunidade para reativar a indústria e a economia", salienta a organização. Nesta 6ª edição da Empack e Logistics & Automation já estão confirmados 65 expositores nacionais e internacionais. "Podemos avançar que, a quatro meses da feira, 75% do espaço já está reservado e, às várias empresas participantes nas edições anteriores, juntam-se pela primeira vez grandes marcas do setor como Craemer, Provost e Gaes”, revela Oscar Barranco, Diretor do evento. A feira também será palco de palestras e conferências, onde haverá a oportunidade de conhecer outras empresas, os avanços tecnológicos e os últimos desenvolvimentos do setor. Nestas, haverão conteúdos de várias áreas para além de packaging e logística, como E-commerce, Transporte, Procurement e Embottle. O maior evento de embalagem e logística de Portugal conta com o apoio de diversas associações como a Associação Empresarial de Portugal, a Associação Portuguesa de Logística, a Associação Smart Waste Portugal, o Pacto Português para os Plásticos, entre outros. A Empack e Logistics & Automation Porto reúne todas as medidas de segurança. A feira terá um sistema de tecnologia sem contacto que garante uma experiência 100% segura, um controlo do número de pessoas presente nos pavilhões, de acordo com as normas da DGS, e ainda o Selo SGS que garante a segurança e qualidade de todos os eventos da empresa a nível internacional. A entrada na feira exige um registo que poderá ser efetuado aqui: https://registration.gesevent.com/ survey/3ang59evh9sbh?actioncode=100
10 ATUALIDADE MAIS NOTÍCIAS DO SETOR EM: WWW.IALIMENTAR.PT • SUBSCREVA A NOSSA NEWSLETTER Politécnico de Leiria cria paté de percebe com amora silvestre e aposta na economia circular O Politécnico de Leiria, através da unidade de investigação do MARE – Centro de Ciências do Mar e do Ambiente, em Peniche, criou o paté de percebe com amora silvestre, um produto inovador rico em antioxidantes naturais. O projeto PAS – Paté de Percebe com Amora Silvestre pretende contribuir para a promoção e valorização gastronómica (nutricional e sensorial) do percebe ( Pollicipes pollicipes ), em particular do recurso capturado na Reserva Natural das Berlengas. "Apesar de existir uma exploração comercial do percebe para consumo humano, os exemplares que não estão em conformidade legal ao nível do tamanho, e de acordo com os padrões de consumo na restauração, são potencialmente rejeitados e lançados ao mar por parte dos mariscadores da região", explica Rui Ganhão, docente da Escola Superior de Turismo e Tecnologia do Mar (ESTM) do Politécnico de Leiria e um dos investigadores do projeto PAS. "Tendo em conta o conceito de economia circular, em que um subproduto é um recurso para outra atividade económica, pretende-se no final criar uma cadeia de valor que justifique o não desperdício do recurso através da implementação de novos processos ou a criação de novos produtos", acrescenta. O PAS pretende impactar positivamente em termos sociais, económicos e ambientais, pela valorização da totalidade do volume apanhado pelos pescadores certificados do percebe da Reserva Natural das Berlengas e que chega à lota de Peniche. O projeto diferencia-se pela combinação do recurso marinho a um terrestre, que resulta num apelativo e inovador produto que se pretende que seja de fácil acesso com um período de vida útil extenso, comparativamente a produtos similares encontrados nas superfícies comerciais. FENALAC elege novos corpos sociais para 2022-2025 O novo Conselho de Administração é presidido por Idalino Leão, da Agros, José Marques e Nuno Cardoso, da Lacticoop, e Adalberto Póvoa e Vítor Santos, da Proleite. Idalino Leão, depois de empossado como novo Presidente da Federação Nacional das Cooperativas de Produtores de Leite (FENALAC), salientou que “será prioridade deste Conselho de Administração a sustentabilidade económica da produção de leite, a qual, atravessa um período difícil devido ao aumento muito significativo do preço dos fatores de produção”. A nova administração agradeceu o desempenho dos órgãos socias cessantes e demonstrou a intenção de contribuir para a “promoção da produção na cadeia de valor láctea e a dignificação da atividade junto da tutela, através de uma posição reivindicativa, séria e persuasiva”. A FENALAC recorda que a produção de leite em Portugal representava 711 milhões de euros em 2021, o equivalente a 23% da produção animal e a 11% da produção agrícola. A indústria do leite e laticínios apresenta um volume de vendas de 1,8 mil milhões de euros, sendo o segmento mais importante (15%) da indústria alimentar. As estimativas indicam que a criação de emprego direto e indireto do setor lácteo deverá atingir os 50 mil postos de trabalho.
11 ATUALIDADE MAIS NOTÍCIAS DO SETOR EM: WWW.IALIMENTAR.PT • SUBSCREVA A NOSSA NEWSLETTER 2022: PortugalFoods apresenta 3 megatendências para o agroalimentar Pandemia alterou comportamento dos consumidores que queremmaior controlo do que consomem, produtos alimentares que proporcionem experiências “únicas” e espaços multifuncionais. Marcas alimentares e de bebidas mais transparentes, comprometidas eticamente e que ofereçam experiências únicas. Tendências que o estudo feito pela Mintel, a pedido da PortugalFoods, revelou. O estudo 2022 'Food & Drink Trends' foi elaborado com base em inquéritos realizados aos consumidores nos diversos mercados mundiais, assim como a partir da identificação das tendências de inovação lançadas por marcas alimentares mundiais, deixando pistas para o que vem aí (what’s next), no futuro próximo. Dos dados recolhidos, destaque para 3 megatendências: • Em controlo. A incerteza associada à pandemia levou a que os consumidores procurem agora ter um maior controlo sobre o que consomem. É aqui que, segundo o estudo, entram tecnologias como a rastreabilidade, mas também a questão da personalização dos produtos. O estudo afirma mesmo que os consumidores valorizam marcas que lhes permitam ter controlo sobre os ingredientes, sobre o impacto que têm na sua saúde e bem- -estar (que permitam, de forma saudável, gerir o stress e o peso, assim como fortalecer o sistema imunitário e os níveis de energia), e ainda sobre os valores morais que professam (nomeadamente práticas de comércio justo e de sustentabilidade). Face a isto a recomendação passa por incentivar as empresas/marcas a criarem uma comunicação honesta, a promoverem maior transparência através de sistemas de medição padronizados que avaliem impacto nutricional dos produtos na saúde, a associarem o preço dos produtos à qualidade, valores e princípios éticos, e a criarem uma proposta de valor que vá ao encontro das reivindicações emergentes. • Diversão em todo o lado. Após uma pandemia que já dura há dois anos, a maioria dos quais em confinamento, é normal que os consumidores queiram agora experienciar diversão. O estudo sugere que as marcas aproveitem as vantagens das novas tecnologias e proporcionem, por exemplo, formas de gamificar a comida e bebida ou mesmo oferecer experiências reais para fugir ao Metavers. • Espaços flexíveis. O teletrabalho veio demonstrar a necessidade de ter espaços multifuncionais que consigam satisfazer mais do que uma necessidade. Da parte das marcas isso significa proporcionar espaços multifuncionais e criativos onde as pessoas se possam relacionar, comprar e comer, presencialmente ou online. A par disso, as marcas têm de começar a pensar em ter comunicação quer no mundo analógico como digital. 8.°Congresso da Indústria Agroalimentar Portuguesa a 7 de junho em Lisboa Evento organizado pela FIPA - media partner da iALIMENTAR - acontece a 7 de junho no Centro Cultural de Belém (CCB). Evento decorre das 9h00 às 18h00 e tem como tema central 'Desafios da Mudança'. Trata-se de uma iniciativa de referência que trará a debate e reflexão temas estratégicos para a criação de valor para o setor agroalimentar português, entre eles, a investigação, desenvolvimento e inovação, a transição digital, o progresso na cadeia de abastecimento nacional e a sustentabilidade ambiental. Em todas as suas edições, o Congresso da Indústria Portuguesa Agroalimentar tem vindo a ser palco para o encontro dos mais prestigiados empresários, gestores, dirigentes associativos e profissionais deste setor, bem como dos vários parceiros institucionais. Esta oitava edição acontece no ano em que a FIPA assinala o 35º aniversário.
A INDÚSTRIA DA PANIFICAÇÃO EM PORTUGAL 12 LUÍS GONÇALVES, PRESIDENTE DA DIREÇÃO DA ACIP “Previsões para 2022 são otimistas” Em entrevista à iALIMENTAR, o presidente da Associação do Comércio e da Indústria de Panificação, Pastelaria e Similares (ACIP), traça uma radiografia do setor no País, sublinhando que uma das principais dificuldades atualmente é o aumento do preço dos fatores de produção. Contudo, Luís Gonçalves assegura que, apesar de os empresários estarem preocupados com a situação, “estão a trabalhar ativamente na criação de soluções”. Deixa ainda um repto: "é tempo de repensar a gestão e criar produtos inovadores, de maior valor acrescentado, económico e alimentar". Ana Clara Como está atualmente o setor da panificação em Portugal e que perspetivas têm para 2022? O aumento do preço dos fatores de produção é uma adversidade que se está a refletir no setor da indústria e do comércio de panificação. O aumento na energia, nos combustíveis e nas matérias-primas, aliados à falta de mão-de-obra, são os principais fatores que estão a colocar pressão nas empresas do setor e no preço do pão. Contudo, as previsões são otimistas para o ano 2022. Que impacto teve - e/ou está a ter - a pandemia no setor da panificação em Portugal? Após ter sofrido as consequências da chegada da pandemia Covid-19, no início de 2020, e do recuo do País nas regras de desconfinamento, em 2021, o setor tem vindo a passar por um processo de recuperação e ajustes. No entanto, e apesar de se ter vindo a notar alguma retoma na procura, a falta de mão-de-obra e o aumento dos preços das matérias-primas e da energia, desvanecem os sinais de melhoria. Quais são atualmente os principais constrangimentos do setor e que desafios enfrenta? Atualmente, o aumento do preço dos fatores de produção e a escassez de algumas matérias-primas e de mão-de- -obra são as adversidades que mais preocupam o setor. Assim, muitas são as empresas que veem as suas margens de lucro serem esmagadas numa luta pelo equilíbrio entre a satisfação do cliente e a viabilidade do negócio. Os empresários estão preocupados com a situação que se vive mas também estão a trabalhar ativamente na criação de soluções. O pão é um dos bens mais importantes na alimentação dos portugueses. Como tem evoluído o seu consumo em Portugal e como encaram os portugueses este setor? Ignorando os últimos dois anos, em que houve alguma quebra na procura, o consumo de pão tem-se mantido mais ou menos constante ao longo do tempo, talvez por
13 se tratar de um bem de primeira necessidade e fazer parte da dieta dos portugueses. Já o tipo de pão consumido tem seguido diferentes tendências, tais como as receitas tradicionais caídas em desuso e agora recuperadas, as receitas inovadoras e as receitas para dietas específicas. Emque temas tem incidido o trabalho da ACIP nos últimos anos e quais as vossas principais estratégias para o futuro? O trabalho da ACIP - Associação do Comércio e da Indústria de Panificação, Pastelaria e Similares, para além do apoio técnico e jurídico diário aos nossos associados, tem tido principal incidência em áreas como a formação, a comunicação, eventos e legislação. Temos apostado na formação através do nosso protocolo com o Centro de Formação Profissional para o Setor Alimentar, através do qual a ACIP oferece aos seus associados a possibilidade de participar em ações de formação profissional, a preços especiais. Além disso, a nossa associação também é promotora de um Projeto Conjunto de Formação-Ação, MOVE PME. No âmbito da comunicação, a nossa revista 'A Padaria Portuguesa' é o mais importante veículo de informação do setor e lá podem ser encontradas atualizações de legislação, cobertura de eventos, as mais recentes tendências, receitas, artigos técnicos, de nutrição, médicos e jurídicos. Além disso, temos apostado cada vez mais nas redes sociais para uma maior proximidade com o associado e para que a mensagem chegue mais rapidamente. "É tempo de partilhar as nossas experiências, de trocarmos opiniões com os nossos colegas, de seguir modelos de negócio inovadores e melhor adaptados aos novos tempos", diz Luís Gonçalves.
A INDÚSTRIA DA PANIFICAÇÃO EM PORTUGAL 14 Anualmente, organizamos os concursos ‘O Melhor Folar e Pão-de-Ló de Portugal’ e ‘O Melhor Bolo-Rei de Portugal’, que são uma mais-valia para os nossos associados, mas também para os não-associados. Estes concursos têm como objetivo valorizar o que de melhor se faz no nosso País e manter as tradições vivas. Relativamente à legislação, a ACIP tem um esforço contínuo na negociação de contratos coletivos de trabalho com as respetivas associações sindicais do setor e, além disso, procura manter os empresários atualizados sobre alterações na lei. A estratégia da ACIP para o futuro passa por continuar a defender os legítimos interesses das empresas nela associadas, bem como promover e apoiar projetos e iniciativas de caráter socioeconómico que, de uma forma inequívoca, contribuam para o desenvolvimento do Setor da Panificação, Pastelaria e Similares, tornando-a na maior e mais representativa Associação Empresarial do País desta área de negócios. Por fim, que mensagem gostaria de deixar ao setor? Caros colegas, nós, os empresários da indústria de panificação, pastelaria e similares, somos convidados a levar à mesa de todos os portugueses 'o pão nosso de cada dia'. O pão foi no passado, é no presente e será no futuro o alimento omnipresente na mesa dos portugueses. Este tempo de inquietude e extrema dificuldade é também um tempo que nos desafia e nos impele a planear melhor para agir melhor. É tempo de repensar a nossa gestão e criarmos produtos inovadores de maior valor acrescentado, económico e alimentar. É tempo de partilhar as nossas experiências, de trocarmos opiniões com os nossos colegas, de seguir modelos de negócio inovadores e melhor adaptados aos novos tempos. Emmomentos difíceis como este, o movimento associativo ganha uma importância decisiva. Pretendo que a ACIP continue a ser o local privilegiado da interajuda profissional, da partilha de ideias e, essencialmente, um espaço potenciador de negócios. Quero que este sítio funcione como espaço de partilha aberto a todas as opiniões. Tudo farei para que este setor de atividade continue a ter um forte desempenho. n “O tipo de pão consumido tem seguido diferentes tendências, tais como as receitas tradicionais caídas em desuso e agora recuperadas, as receitas inovadoras e as receitas para dietas específicas”
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A INDÚSTRIA DA PANIFICAÇÃO EM PORTUGAL 16 MICROALGAS NO DESENVOLVIMENTO DE PÃES MAIS SAUDÁVEIS Tatiana Pereira, Sandrina Costa, Sónia Barroso, Susana Mendes, Maria M. Gil MARE - Centro de Ciências do Mar e do Ambiente, Politécnico de Leiria, Cetemares, 2520-620 Peniche, Portugal Inovação e fontes alternativas RESUMO Com a consciencialização do consumidor para a sua alimentação, tem acrescido a necessidade de se inovar no setor alimentar. Neste setor, o pão assume umpapel preponderante, pois é um dos alimentos mais básicos da dieta humana, sendo ainda a base alimentar de grande parte da população mundial. Neste caso, a maior inovação pode ser atingida recorrendo a farinhas de fontes alternativas e/ ou com a adição de ingredientes de diferentes origens com caraterísticas diferenciadoras, como é o caso das microalgas. As microalgas são uma tendência no mercado agroalimentar, na nutrição animal, na cosmética e na farmacêutica. Estas têm grande potencial para o enriquecimento de produtos alimentares, sendo o pão um exemplo disso. I&D NA INOVAÇÃO ALIMENTAR - MARE-POLITÉCNICO DE LEIRIA Ao longo dos anos, os investigadores do MARE-Politécnico de Leiria têm vindo a desenvolver vários produtos enriquecidos com fontes alternativas de biomassa marinha para desenvolvimento de novos alimentos que já se encontram disponíveis no mercado. São vários os projetos que estudam o potencial de incorporação emdiversas matrizes alimentares com o intuito de enriquecer a nível do conteúdo de proteína, de ácidos gordos polinsaturados, ou mesmo de vitaminas e minerais. Exemplos disso são o 'PÃO D’ALGAS®' e o 'PÃO DO MAR®', ambos comercializados pelo grupo Calé (pão com incorporação demacroalgas e bivalves, respetivamente), os hambúrgueres de cavala e salmão (comercializados pela empresa Nigel) e o gin Nautilus aromatizado com algas (comercializado pela empresa Oficina dos Espíritos). MICROALGAS NA INOVAÇÃO ALIMENTAR Vários produtores alimentares têm vindo a desenvolver esforços para comercializarem alimentos funcionais, com recurso a microalgas e cianobactérias, como massa, pão, molhos, gelados, iogurtes e bebidas. No entanto, embora sejam várias as espécies de microalgas a serem exploradas nas suas diversas aplicações, enquanto ingrediente alimentar, as espécies aprovadas pela EFSA são ainda muito reduzidas. As microalgas são fonte de uma grande variedade de nutrientes de interesse como ácidos gordos polinsaturados (ómega-3), proteínas, vitaminas e minerais com potencial de ser utilizadas na formulação de alimentos funcionais (Batista et al., 2019). Esse potencial tem sido comprovado em vários estudos, com as microalgas a serem usadas para enriquecer nutricionalmente e conferir Figura 1. Nuvem de palavras. O tamanho de cada palavra é proporcional à importância atribuída pelos participantes no focus group.
A INDÚSTRIA DA PANIFICAÇÃO EM PORTUGAL 17 bioatividades a pães, pastas e bolachas (Batista et al., 2019; De Marco et al., 2014; Nunes et al., 2020). Neste contexto, cada vez mais projetos pretendem valorizar a sua utilização na alimentação. Um desses projetos é o 'ALGAVALOR – MicroAlGAs: produção integrada e VALORização da biomassa e das suas diversas aplicações'. Fruto de um consórcio liderado pela Allmicroalgae, este projeto tem como objetivo geral a produção integrada e aplicação de microalgas em diversos setores comerciais. O papel do Politécnico de Leiria neste projeto é o de avaliar a aplicação das microalgas em produtos de panificação e pastelaria. PÃO ENRIQUECIDO COM MICROALGAS O pão é umdos alimentos mais antigos e consumidos na alimentação humana sendo para muitos a sua maior fonte de fibras, hidratos de carbono e minerais. Na Europa, é estimado que se consuma em média 59 Kg/ano de pão, sendo a Turquia o maior consumidor, com 104 Kg/ano (Gebski et al., 2019). Em Portugal, os valores de consumo rondam em média os 100 g/dia, representando 15,1% da ingestão energética (Lopes et al., 2017). A relevância deste produto para a alimentação na população portuguesa, abre a possibilidade de se inovar para satisfazer as necessidades do novo consumidor, mais consciente e exigente nas suas escolhas alimentares. Entre várias razões, o desenvolvimento de intolerâncias ao glúten tem conduzido a um crescente número de consumidores a afastar-se do tradicional pão, reforçando a necessidade de inovar neste setor. No âmbito do projeto ALGAVALOR, têm sido investigadas estratégias de desenvolvimento de formulações de pão enriquecido commicroalgas com alto teor de proteína e baixo teor de gorduras saturadas, recorrendo à incorporação de microalgas. Neste contexto, antes de se proceder ao desenvolvimento de formulações de pão com microalgas, foram avaliadas as preferências, hábitos de Figura 2. Microalgas Chlorella vulgaris utilizadas nas formulações (Esquerda: White CHLORELLA powder; Direita: Smoth CHLORELLA; produzidas e comercializadas pela Allmicroalgae). Figura 3. Pães desenvolvidos e respetivas tabelas nutricionais. TABELA NUTRICIONAL Quantidade por 100 g Energia 221,3 Kcal Hidratos de Carbono 39,6 g Proteínas 10,9 g Gorduras 2,1 g das quais saturadas 0,8 g TABELA NUTRICIONAL Quantidade por 100 g Energia 222,5 Kcal Hidratos de Carbono 41,0 g Proteínas 9,7 g Gorduras 2,2 g das quais saturadas 0,7 g
A INDÚSTRIA DA PANIFICAÇÃO EM PORTUGAL 18 consumo e aceitação de novos produtos alimentares através de um focus group, composto por consumidores de diferentes áreas (desporto, nutrição, restauração, tecnologia alimentar, educação). Os resultados obtidos evidenciaram as caraterísticas que os participantes mais destacaram durante a sessão e, desta forma, as consideradas mais importantes para o desenvolvimento do novo pão (Figura 1). Esta metodologia permitiu também concluir que a introdução de um novo pão commicroalgas nomercado, com alegações nutricionais de baixo teor de gorduras e alto teor de proteínas, teria aceitação comercial. A ideia de que a sociedade atual procura cada vez mais produtos inovadores com alegações saudáveis foi reforçada, com os participantes a acreditarem que um correto desenvolvimento e estratégia de marketing inovadora tinham o potencial de tornar o produto num grande sucesso de mercado. Para o desenvolvimento do novo pão, foram testadas várias formulações com recurso a farinhas nutricionalmente interessantes (como farinha de tremoço) e adição da microalga Clorella vulgaris (Figura 2). Das formulações testadas, duas demonstraram ter potencial a nível sensorial e nutricional BIBLIOGRAFIA • Batista, Ana Paula et al. 2019. “Microalgae as Functional Ingredients in Savory Food Products: Application to Wheat Crackers.” Foods 8(12): 611. https://www.mdpi.com/2304-8158/8/12/611. • Gebski, Jerzy, Marzena Jezewska-Zychowicz, Julita Szlachciuk, and Malgorzata Kosicka-Gebska. 2019. “Impact of Nutritional Claims on Consumer Preferences for Bread with Varied Fiber and Salt Content.” Food Quality and Preference 76: 91–99. https://linkinghub.elsevier. com/retrieve/pii/S0950329318307420. • Lopes, Carla et al. 2017. Universidade do Porto Inquérito Alimentar Nacional e de Atividade Física, IAN-AF 2015-2016: Relatório de Resultados. https://ian-af.up.pt/. • De Marco, Estefanía Rodríguez, M. Eugenia Steffolani, Cristina S. Martínez, and Alberto E. León. 2014. “Effects of Spirulina Biomass on the Technological and Nutritional Quality of Bread Wheat Pasta.” LWT - Food Science and Technology 58(1): 102–8. http://dx.doi.org/10.1016/j. lwt.2014.02.054. • Nunes, M. Cristiana et al. 2020. “Microalgal Cell Disruption: Effect on the Bioactivity and Rheology of Wheat Bread.” Algal Research 45: 101749. https://linkinghub.elsevier.com/retrieve/pii/S2211926419305405. (Figura 3), tendo as alegações 'fonte de proteínas' e 'baixo em gorduras saturadas'. Numa prova de aceitação com 82 provadores, as formulações foram classificadas como sendo sensorialmente agradáveis, concluindo-se que teriamboa aceitação no mercado. AGRADECIMENTO Este trabalho foi f inanciado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), através do projeto estratégico UID/MAR/04292/2020, atribuído ao MARE – Centro de Ciências do Mar e do Ambiente, Politécnico de Leiria, e pelo projeto ALGAVALOR – MicroAlGAs: produção integrada e VALORização da biomassa e das suas diversas aplicações (POCI-01-0247-FEDER-035234, LISBOA-01-0247-FEDER-035234, ALG01-0247-FEDER-035234). n
20 A INDÚSTRIA DA PANIFICAÇÃO EM PORTUGAL A história do Pão de Medronho O projeto Pão de Medronho é uma ideia inovadora com cerca de 12 anos, que nos últimos oito tomou a forma de um trabalho de investigação e de investimento. Rui Lopes Medronho & Canela Tudo começou quando, ainda jovem, apanhava medronhos com o meu pai e com o meu avô materno, fruto que muito aprecio pelo sabor e textura. Associou-se o facto de ser profissional nas áreas de restauração e gastronomia, professor no ensino profissional na época em que iniciei estudos e experiências com medronhos. Conjugados estes factos com o espírito criativo e as competências de gestão adquiridas numa primeira licenciatura em Gestão Turística e Hoteleira no Politécnico de Leiria, começou a surgir a intenção e vontade de criar um modelo de negócio com o Pão Medronho®. Registou-se a marca, pensou-se num modelo de exploração e fez-se um plano de negócios. Não obstante, havia muitos constrangimentos tecnológicos a superar para podermos escalar a comercialização do produto quando quiséssemos ir para o mercado. Em 2014, decido voltar a estudar e a fazer uma nova licenciatura em Dietética e Nutrição, também no Politécnico de Leiria e, nessa altura, inicio trabalhos de investigação com o fruto. Incentivado por alguns docentes a investigar o medronho na perspetiva da tecnologia alimentar e das vantagens nutricionais do fruto, lancei mãos a um investimento de vários anos de trabalho laboratorial e em empresas, a fim de desenvolver a tecnologia necessária para depois chegarmos à fórmula de Pão Medronho® que se encontra no mercado. Ao iniciar todo este trabalho, sabia que os medronhos são uma matéria-prima difícil de trabalhar não só tecnologicamente, mas também na sua aquisição, uma vez que a maioria dos produtores têm as suas explorações orientadas para a destilação de aguardente. Por outro lado, ainda é, infelizmente, um produto pouco valo-
21 A INDÚSTRIA DA PANIFICAÇÃO EM PORTUGAL rizado enquanto fruto para consumo em fresco, por isso, pouco conhecido pela população. Não existia, e continua por criar uma fileira organizada, que nos permita incrementar, sem receios, o desenvolvimento de produtos que incorporem matérias-primas derivadas de medronho. Se o desafio inicial era resolver constrangimentos associados à fórmula de pão, rapidamente os objetivos de I&D commedronhos se posicionaram em linha com a sustentabilidade da cadeia de valor do fruto, no desenvolvimento de soluções de aplicação do fruto em diferentes matrizes alimentares, na valorização nutricional e na preservação dos compostos bioativos do fruto e, na fase final do processo, o desenvolvimento de novos alimentos com medronhos. Sem financiamento externo, mas com grande vontade de levar o projeto a bom porto, tomo a decisão de investir os meus recursos financeiros, o tempo, o trabalho de investigação e as competências que ia adquirindo durante a licenciatura em Nutrição e no mestrado emGestão da Qualidade e Segurança Alimentar. Tive sempre o apoio do Politécnico de Leiria, tal como de alguns docentes da Escola Superior de Saúde de Leiria, mais recentemente da Escola Superior de Turismo e Mar de Peniche e do CETEMARES. Destaco nesta caminhada as professoras Susana Cardoso, Vânia Ribeiro, Cidália Pereira, Susana Silva e Ana Augusto. Durante os últimos oito anos realizaram-se dezenas de fórmulas, testes, ensaios e provas de conceito, testes e provas de consumo com painéis informais e treinados. Neste processo, fomos conhecendo melhor a matéria-prima que estávamos a utilizar, os problemas e desafios que se nos deparavam. Simultaneamente, fomos desenvolvendo as soluções para que pudéssemos trabalhar em escala. Nem sempre foi um percurso em crescente ânimo. Em alguns momentos pensei mesmo em desistir, continuando a produzir e consumir apenas em contexto familiar o pão de medronho, o que já acontece há 10 anos. No entanto, como não sou de desistir facilmente, em 2017, tomo a decisão de empreender todos os esforços necessários para sair do laboratório e trabalhar o produto na escala da indústria de panificação. Procurei um parceiro, que dominasse os conhecimentos da panificação. Encontrei a Ritus do Pão, uma padaria familiar, mas de dimensão significativa em Monte Redondo, Leiria. É nesta altura, com auxílio do Nuno Gonçalves, proprietário da empresa, que passamos à fase de testes em escala semi-industrial. Nesta etapa, que durou cerca de dois anos, novos constrangimentos se depararam, mas também novas soluções se encontraram. Mantendo a matriz inicial foram feitos os ajustes necessários para podermos arrancar com a produção e comercialização. Comestes estudos, conseguiu-se obter uma fórmula de pão que apresenta atividade antioxidante de cerca de 19%, contém20%dos VDR (Valor diário recomendado) de ingestão de fibra dietética por 100 g de pão, uma longevidade até 6 dias. Para além disso, contém todos os minerais e oligoelementos do fruto e algumas vitaminas do complexo C, E, cuja fonte é omedronho biológico que temduas alegações nutricionais: fonte de proteína, fonte de fibra. A fórmula já disponível no mercado desde 2020, é um produto clean label, a farinha de trigo utilizada no processo não contém qualquer correção ou enriquecimento, o fruto utilizado é biológico e não é utilizado qualquer auxiliar ou aditivo de síntese na fórmula. Este pão enquadra-se na categoria Novel Food, de acordo com o Regulamento (CE) nº 258/97, artº 1º, alínea f), para alimentos obtidos por processos não correntes, e caso esses processos conduzam a alterações nutricionais decorrentes da estrutura do alimento ou ingredientes incorporados. Este projeto permitiu ainda a criação de uma empresa, aMedronho & Canela – Inovação Alimentar e Nutricional, LDA, Spinn-off do Politécnico de Leiria, com sede em Proença-a-Nova, que se dedica à exploração da marca registada – Pão Medronho, e tem a decorrer seis linhas de I&D para novas aplicações de medronho. A empresa executou nos últimos oito anos, cerca de duzentos mil euros operações. A parceria é com a SONAE MC, e estará à venda nas lojas Continente. O Pão Medronho® está à venda em Leiria em alguns supermercados da rede Coviran/Ritus do Pão e, nas próximas semanas, terá a sua primeira expansão para o mercado nacional, numa parceria com uma cadeia de distribuição de retalho. As perspetivas são de chegar a uma cobertura de cerca de 50% do território nacional numa primeira fase, e, posteriormente, cobrir o território nacional em mais de 300 lojas da marca. n “Não existia, e continua por criar uma fileira organizada, que nos permita incrementar, sem receios, o desenvolvimento de produtos que incorporem matérias-primas derivadas de medronho”
TECNIPÃO 22 PAULO AMARAL, DIRETOR DA TECNIPÃO “A vinda para Lisboa vem trazer um bom número de expositores de qualidade” Ana Clara A FIL em Lisboa é o palco da sétima edição da feira que mostra, entre 27 a 29 de março, os verdadeiros ex-líbris da pastelaria, padaria, gelataria e chocolataria. Paulo Amaral, Diretor da Feira, refere que a Tecnipão se assume como um certame cada vez mais importante, visto que se trata de um "setor que contribui, decisivamente, para a internacionalização da economia portuguesa, representando 4,1% do PIB, 12% do emprego e 8,4% das exportações". Quais as suas expectativas paraestaediçãodaTecnipão? As expectativas para esta edição da Tecnipão e Packaging - setor alimentar - ficaram valorizadas a partir do momento que as marcas de referência nacional se inscreveram na feira. A vinda para Lisboa vem trazer um bom número de expositores de qualidade e certamente de visitantes. Os nossos expositores irão, durante três dias, apresentar uma grande diversidade de propostas e soluções, o que de melhor existe no setor da pastelaria, panificação, gelataria e chocolataria e no setor da embalagem alimentar. Com quantos expositores irá contar a feira? A nível de números, temos já confirmado mais de 300 marcas e cerca de 150 a 170 expositores. “As feiras são uma alavanca para a recuperação do País e das empresas que sustentam as famílias”, refere Paulo Amaral. Como foi a adesão do setor da panificação, pastelaria, gelataria e chocolataria para a edição de 2022? Acrescentando também o setor das embalagens, o que temos confirmado é uma percentagem de cerca de 80% a 90% dos expositores de todos os setores que estavam na última edição. Na sua opinião, como tem este setor lidado com a pandemia e que impactos teve? É possível fazer essa análise? O setor conseguiu criar um ponto de viragem para as empresas retomarem a atividade e para assim exporem produtos, criar negócios e principalmente voltar ao contacto interpessoal. O objetivo passa por manter um olhar
TECNIPÃO 23 positivo porque os profissionais continuam cá e a qualidade dos serviços mantém-se ativa e este certame serve para alavancar isso mesmo. Dentro do agroalimentar, falamos de empresas extremamente importantes para manter uma solidez e robustez económicas. Que importância tem esta indústria no quadro nacional? Trata-se de um setor que contribui, decisivamente, para a internacionalização da economia portuguesa, representando 4,1% do PIB, 12% do emprego e 8,4% das exportações. Tem, por isso, muita importância e uma feira como a Tecnipão/Packaging é importante para todos os profissionais do setor. Tendo como base a última edição da feira, que retrato pode ser feito a nível de tecnologias, novos produtos e inovação? Devido à conjuntura do País, as empresas foram obrigadas a se reinventar e criar novos produtos, por consequência, focaram-se então nas tecnologias e na inovação, e isso será visível nesta 7ª edição da Tecnipão/Packaging. Que atividades paralelas a Tecnipão 2022 irá oferecer aos seus profissionais e público e que temas estarão em destaque? A feira irá ter várias atividades, ainda é cedo para divulgar o programa, mas será enriquecido por vários debates, concursos e seminários. Por fim, que mensagem gostava de deixar ao mercado e às empresas expositoras da Tecnipão 2022? As feiras são uma alavanca para a recuperação do País e das empresas que sustentam as famílias, desta forma estamos em plenas condições para ter uma feira promissora em Lisboa e voltar a ter um papel de destaque nesta edição de 2022, este certame serve para alavancar isso mesmo. Vamos em frente! n DIVERSIDADE É A PALAVRA DE ORDEM Destinada a profissionais do setor, a Tecnipão deixa a Batalha e apresenta-se, pela primeira vez, em Lisboa com a premissa de atrair mais expositores e novos visitantes. Ao longo de três dias, as empresas ligadas aos processos de fabricação e equipamentos vão ter a possibilidade de apresentar as suas soluções e propostas ao mercado. Num só espaço – na FIL em Lisboa – vai proporcionar-se um encontro ímpar para concretização de negócios e parcerias de sucesso. Diversidade é a palavra de ordem e haverá de tudo um pouco. No campo da pasteleira e padaria, os visitantes vão ter ao seu dispor soluções diversificadas de matérias-primas, desde farinhas, leveduras, pastas de açúcar, chocolate, produtos semiacabados para pastelaria, padaria e geladaria, produtos de confeitaria como cake design, geladaria e padaria. Os equipamentos vão estar em igual destaque com bastante oferta. Desde amassadeiras, batedeiras, divisoras, linhas de moldagem e mesas de corte, equipamentos hoteleiros (refrigeração, queima, ventilação, lavagem, preparação e neutros), cozinhas industriais e centrais de lavagem, viaturas transformadas, isotérmicas e frigoríficas e máquinas para gelados. Recorde-se que a PACKAGING - Feira Profissional de Embalagemdecorrerá emsimultâneo coma Tecnipão. Devido à conjuntura do País, as empresas foram obrigadas a se reinventar e criar novos produtos, por consequência, focaram-se então nas tecnologias e na inovação, e isso será visível nesta 7ª edição da Tecnipão/Packaging
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