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SUMÁRIO Edição, Redação e Propriedade INDUGLOBAL, UNIPESSOAL, LDA. Defensores de Chaves, 15 3º F 1000-109 Lisboa (Portugal) Telefone +351 215 935 154 E-mail: geral@interempresas.net NIF PT503623768 Gerente Aleix Torné Detentora do capital da empresa Grupo Interempresas Media, S.L. (100%) Diretora Sónia Ramalho Equipa Editorial Gabriela Costa, Sónia Ramalho, Nina Jareño Marketing e Publicidade Hélder Marques, Frederico Mascarenhas redacao_ialimentar@interempresas.net www.ialimentar.pt Preço de cada exemplar 11 € (IVA incl.) Assinatura anual 44 € (IVA incl.) Registo da Editora 219962 Registo na ERC 127558 Déposito Legal 480593/21 Distribuição total +5.200 envios. Distribuição digital a +4.500 profissionais. Tiragem +700 cópias em papel Edição Número 15 – Janeiro de 2024 Estatuto Editorial disponível em https://www.ialimentar.pt/EstatutoEditorial.asp Impressão e acabamento Lidergraf Rua do Galhano, n.º 15 4480-089 Vila do Conde, Portugal www.lidergraf.eu Media Partners: Os trabalhos assinados são da exclusiva responsabilidade dos seus autores. É proibida a reprodução total ou parcial dos conteúdos editoriais desta revista sem a prévia autorização do editor. A redação da iALIMENTAR adotou as regras do Novo Acordo Ortográfico. ATUALIDADE 8 EDITORIAL 9 Quais as previsões tecnológicas para a indústria em 2025 11 Sistemas alimentares do futuro: destaques do EFFoST 2024 12 Conhecidos os finalistas da Fruit Logistica 2025 13 “Iniciativas como a Feira Salón Gourmet são vitais para aumentar as exportações das PME da fileira agroalimentar” 16 A massa fermentada lidera o setor da panificação com um crescimento global de 40% até 2025 18 Entrevista com Louise Fresco, especialista em produção alimentar sustentável 20 GS1 Portugal desenvolve estudo sobre o desempenho do setor hortofrutícola 24 Como o processamento inteligente pode ajudar a melhorar a qualidade dos alimentos 28 Aliadas perfeitas para otimizar a rastreabilidade na restauração 32 10 grandes tendências do setor agroalimentar para 2025 35 Iniciativas que impactam a alimentação do futuro e impulsionam a inovação no setor agroalimentar 40 ‘Embalagem do futuro’ segue a bom ritmo 44 A redescoberta das bolotas para alimentação humana 46 Como o Brainr catapultou o Grupo Lusiaves para a ‘ribalta’ da digitalização 49 A indústria da carne precisa de inovação? 54 Melhor qualidade da carne graças a alimentos para animais agronomicamente biofortificados com selénio 56 Inovação e precisão no controlo de qualidade no setor cárnico 58 Gericke PulseFlow PTA é o sistema automático de adição de sal nos misturadores de molhos 60 Sistemas hidrónicos e a sua integração na alimentação 62 Baoli apresenta KBP 14-20, o novo empilhador compacto para áreas reduzidas 64 Rótulo Smart Packaging Gela permite refrescar bebidas em metade do tempo 66 Cozinha 4.0: Como a digitalização está a temperar o futuro da indústria alimentar 67
8 ATUALIDADE MAIS NOTÍCIAS DO SETOR EM: WWW.IALIMENTAR.PT • SUBSCREVA A NOSSA NEWSLETTER Global Wines recebe Referencial Nacional de Sustentabilidade O grupo vitivinícola Global Wines recebeu a mais importante certificação de sustentabilidade, ao conquistar o Referencial Nacional de Certificação de Sustentabilidade do Sector Vitivinícola. A auditoria externa, que reconhece as práticas e uma cultura organizacional assente na sustentabilidade, foi feita de forma independente em cinco empresas: Global Wines, Sociedade Agrícola de Santar, que detém a Casa de Santar e Paço de Santar; Quinta do Encontro, na Anadia e Herdade Monte da Cal, no Alentejo. A certificação nacional vem demonstrar que todas cumprem os requisitos legais relacionados com os domínios da sustentabilidade, designadamente gestão e melhoria contínua, e que contribuem ativamente para o bem-estar social, económico e ambiental das comunidades envolventes e das regiões onde atuam. O novo selo de sustentabilidade irá ser adotado nas rotulagens das marcas Casa de Santar, Paço dos Cunhas de Santar, Cabriz, Quinta do Encontro e Herdade Monte da Cal, o que representa uma garantia de que estão implementadas práticas sustentáveis. “Esta certificação vem consolidar o caminho de sustentabilidade que temos seguido e o enorme foco nas preocupações ambientais, que temos vindo a trabalhar na Global Wines, há já longos meses”, refere Manuel Pinheiro, CEO da Global Wines. Nuno Russo assume direção executiva da Portugal Nuts A Associação de Promoção de Frutos Secos – Portugal Nuts revelou que Nuno Russo é o novo diretor executivo, sucedendo a António Saraiva, que saiu no início de dezembro para assumir os comandos do InnovPlantProtect. Nuno Russo assume o cargo “para ser a face pública da Associação e o responsável pela sua liderança, para assegurar uma direção clara no desenvolvimento organizativo, estratégico e político, num ano de consolidação do plano estratégico, definido pelos atuais órgãos sociais da Portugal Nuts, assente nos pilares de branding, representação institucional, mercados, sustentabilidade, internacionalização e I&D. Aceitou o desafio com o propósito de consolidar o percurso da Associação e proporcionar novas e inovadoras oportunidades à fileira dos frutos secos”, informou a Associação em comunicado. Licenciado e mestre em Zootecnia, tem um MBA em Administração Pública e é quadro técnico superior do Ministério da Agricultura, tendo sido até final de dezembro vereador com o pelouro da agricultura da Câmara Municipal de Santarém. “Com um conhecimento da realidade agrícola nacional única, resultante da sua diversificada experiência profissional, será certamente uma mais-valia para a Associação, no seu desenvolvimento estratégico e crescimento orgânico, e na representação dos interesses dos seus associados”, informa a Portugal Nuts. Nuno Russo sucede a António Saraiva que, no início de dezembro, assumiu o cargo de Diretor Executivo do Laboratório Colaborativo – InnovPlantProtect. Aos 62 anos, o engenheiro agrónomo sucede a Pedro Fevereiro, que ocupou o cargo durante cinco anos. Nuno Russo é o novo diretor executivo da Portugal Nuts.
9 Fundão recebe primeira reunião do Projeto FoodCop O projeto FoodCop foi lançado no Fundão, nos dias 28 e 29 de novembro, e marca o início de uma iniciativa que pretende transformar os sistemas alimentares rurais em toda a Europa. A União Europeia reconheceu a crescente necessidade de crescimento sustentável nas áreas rurais, onde as soluções da bioeconomia apresentam um potencial significativo para impulsionar o crescimento económico a longo prazo e a sustentabilidade ambiental. O setor da bioeconomia já contribui com 2,2 biliões de euros para a economia europeia e apoia 17,5 milhões de empregos. As projeções indicam que este valor poderá atingir os 3 biliões de euros até 2050, com a indústria agroalimentar a desempenhar um papel essencial no futuro da Europa. Alinhado com estes objetivos, o FoodCop está a criar uma comunidade de Startup Villages em toda a Europa, que consistem em regiões dedicadas à promoção da inovação e do empreendedorismo para estimular as economias locais. Ao promover a partilha de recursos e a criação de oportunidades de aprendizagem, o projeto vai ajudar essas comunidades a adotar práticas de bioeconomia circular, com foco na eficiência de recursos e redução de desperdício. Esta abordagem colaborativa irá fortalecer a resiliência dos sistemas alimentares rurais, criando um modelo de sustentabilidade replicável em toda a Europa. Coordenado pelo Município do Fundão, o projeto tem a duração de 24 meses e conta com o apoio da União Europeia através do Programa Horizonte Europa, contando com a participação de mais 14 parceiros de nove países, nomeadamente Itália, Reino Unido, Grécia, Países Baixos, Espanha, Bélgica, Eslovénia, Portugal e Irlanda. EDITORIAL Por norma, o início de um novo ano é encarado como uma página em branco, onde quase tudo é possível. É uma fase marcada pela definição de novos objetivos para os próximos 365 dias e em que se ajusta o foco para os novos desafios que se avizinham. Conhecer as tendências que vão marcar os próximos tempos ajuda não só a perceber como é possível ajustar o negócio, como permite traçar novos objetivos. E, no caso da indústria alimentar, a realidade não é diferente. Na primeira edição do ano publicamos as 10 grandes tendências que vão marcar o setor, com destaque, como não podia deixar de ser, para o papel da inteligência artificial. Identificadas pela consultora internacional Innova Market Insights, a convite da PortugalFoods, prometem impactar o setor agroalimentar em 2025, bem como médio prazo. Destaque ainda para o ecossistema de empreendedorismo que se vive na área alimentar, em Portugal, e que tem sabido responder aos desafios da indústria com dinamismo. Além das alternativas proteicas, revelamos alguns exemplos a nível da circularidade, logística e otimização de processos industriais. O início do ano também vai ser marcado pela realização de mais uma edição da Lisbon Food Affair, que regressa à Feira Internacional de Lisboa (FIL) de 10 a 12 de fevereiro. Como media partner, a revista iAlimentar vai marcar presença e na próxima edição revelamos todas as novidades do marketplace de alimentação e bebidas, Canal Horeca, máquinas e equipamentos para a indústria e distribuição alimentar A nível internacional, já são conhecidos os finalistas dos prémios de inovação da Fruit Logistica 2025. Considerado o prémio mais prestigiado do mundo para a indústria de produtos frescos, revelamos os projetos finalistas do Fruit Logistica Innovation Award (FLIA). Ainda na senda da inovação, e como um dos dossiers desta edição é dedicado à indústria cárnica, revelamos como o Grupo Lusiaves consegui alinhar a produção em larga escala com rastreabilidade, sustentabilidade e qualidade graças ao software Brainr. Já Graça Mariano, diretora executiva da APIC (Associação Portuguesa dos Industriais de Carne), sublinha que mais do que inovação, o setor precisa é de boa comunicação para que se conheçam as boas práticas. “E porque a carne faz falta”, garante. Numa altura em que um dos grandes desafios que se colocam é a alimentação da população atual e futura de forma sustentável, convidamos o leitor a acompanhar o pensamento de Louise Fresco, especialista em produção alimentar sustentável, que defende numa entrevista de fundo como é possível alimentar um mundo em crescimento sem matar o planeta. Boas leituras. O que podemos esperar para 2025?
10 ATUALIDADE MAIS NOTÍCIAS DO SETOR EM: WWW.IALIMENTAR.PT • SUBSCREVA A NOSSA NEWSLETTER Comissão Europeia cria Comité Europeu para a Alimentação e a Agricultura O Conselho de Administração é constituído por cinco anos e deverá reunir-se, em princípio, entre duas e seis vezes por ano. Lançado novo acelerador para startups na área agroalimentar O EBRD (European Bank for Reconstruction and Development) e o EIT Food, projeto do European Institute of Innovation and Technology (EIT), lançaram um novo centro de aceleração para empresas agroalimentares em fase de arranque nos mercados da União Europeia, com o apoio do InvestEU. Designado 'Future Resilient Agriculture', as startups agroalimentares em fase inicial vão receber apoio personalizado para expandir as suas soluções inovadoras, ajudando a enfrentar os desafios globais do sistema alimentar. As empresas em fase de arranque vão ser selecionadas pelas abordagens inovadoras em agricultura sustentável, de atenuação e resiliência às alterações climáticas, tendo acesso a um programa de reforço de capacidades com workshops, orientação, oportunidades de criação de redes e acesso a empresas e investidores líderes do sector. O novo Hub vai funcionar a partir de Varsóvia, na Polónia, e terá uma duração de três anos. O acelerador fará parte da rede EIT Food Accelerator, que inclui centros de inovação em Helsínquia, Munique, Paris, Bilbau, Haifa e Brasil. As candidaturas já estão abertas a empresas em fase de arranque que contribuam para a criação de um sistema alimentar mais saudável e sustentável, que podem concorrer a um financiamento até 50 mil euros. A Comissão Europeia criou oficialmente o Conselho Europeu para a Agricultura e a Alimentação (EBAF), dando assim seguimento a uma das recomendações do relatório final do Diálogo Estratégico sobre o Futuro da Agricultura. Presidido pelo Comissário para a Alimentação e a Agricultura, Christophe Hansen, tem por objetivo apoiar uma nova cultura de diálogo, confiança e envolvimento de várias partes interessadas entre os intervenientes na cadeia de abastecimento alimentar e a sociedade civil, bem como com a Comissão. Espera-se que este órgão consultivo preste aconselhamento de alto nível à Comissão sobre o seguimento do relatório do diálogo estratégico sobre o futuro da agricultura da UE e contribua para o trabalho sobre a visão para a alimentação e a agricultura, a apresentar nos primeiros 100 dias do mandato. A Comissão avaliará todas as candidaturas e tenciona finalizar a composição do Conselho de Administração no início de 2025. A primeira reunião do Conselho de Administração será convocada imediatamente a seguir.
11 PREVISÕES 2025 Previsões tecnológicas para a indústria em 2025 Segundo José Manuel Paraíso, country manager da Kyndryl em Portugal, as previsões para este ano apontam para um grande desenvolvimento das tecnologias e uma maior procura pela sua aplicação em diversos setores, como na indústria, cujo foco irá incidir na "robustez cibernética e na sua eficiência”. Entre as principais tendências, destaca a conectividade transversal e o alinhamento operacional. “A sociedade como um todo é chamada para resolver um problema que é de todos - pessoas e empresas: a proteção do nosso planeta. Atendendo a esta causa, 2025 vai caracterizar-se por um aumento da procura por energia e tecnologias limpas”, começa por destacar José Manuel Paraíso, country manager da Kyndryl em Portugal, que sublinha que o setor da indústria irá focar-se na "robustez cibernética e na sua eficiência". “A segurança e a recuperação cibernética são fundamentais para se ter vantagem competitiva no setor. Os crescentes ataques a infraestruturas críticas exigem que as empresas priorizem a segurança e a recuperação cibernética para proteger as tecnologias de informação (TI) e as tecnologias operacionais (OT). A Kyndryl lançou recentemente o Kyndryl IT Readiness Report 2024, que conclui que 90% dos executivos acreditam ter a melhor infraestrutura de TI, mas apenas 39% destes acreditam que está pronta para gerir riscos futuros. A resiliência começa de dentro para fora”, destaca. “2025 tem potencial para ser o ano de se virar a página no que diz respeito a infraestruturas fragilizadas. Para lidar com os riscos de segurança de sistemas e equipamentos antigos, as empresas concentrar-se-ão na segurança operacional e na rastreabilidade da cadeia de abastecimento”. Ainda ancorado na vantagem competitiva, “as empresas irão fazer uso das ferramentas disponíveis para se tornarem cada vez mais competitivas. Vão investir em modelos de rede 5G, Wi-Fi e híbridos para alcançar uma conectividade perfeita nos locais de fabrico, permitindo a aceleração do processamento de dados e de comunicações em tempo real entre dispositivos inteligentes”. Já a computação de ponta “será utilizada para integrar dados, melhorar a análise e descobrir novas perspetivas de negócio. A par disso, a tecnologia também será usada para colmatar o fosso entre o escritório e o chão de fábrica, abordando os silos de dados entre TI e OT e promovendo a colaboração entre líderes de TI e OT”. O PAPEL DA IA GENERATIVA Esta irá desempenhar um papel crucial na Indústria 4.0, permitindo uma maior automação, eficiência e segurança nas operações energéticas e industriais. “No setor da indústria, pode ser utilizada para melhorar a segurança operacional e a rastreabilidade de supply chain, ajudando a identificar riscos em sistemas desatualizados e otimizar a visibilidade e o controlo da cadeia”, destaca José Manuel Paraíso. CADEIAS DE ABASTECIMENTO ASSISTIDAS POR IA Estas vão tornar-se cada vez mais frequentes. “A crescente adoção de tecnologias como IA, 5G e IoT ('internet das coisas' / 'internet of things') irá permitir a conetividade em tempo real, promovendo a automação, eficiência e segurança nas operações industriais”. Por outro lado, a qualidade da informação recolhida pelas empresas é crucial para o sucesso da estratégia de transformação digital, sendo a IA uma ferramenta que depende dos dados recolhidos. “São já vários os exemplos de empresas que conseguem uma otimização de processos e uma redução de custos nas operações por utilizarem a IA para melhorar o seu negócio”. Em suma, “prevemos que estas tendências destaquem a necessidade de as empresas se adaptarem e investirem em tecnologias-chave para garantir a eficiência, segurança e resiliência num panorama industrial que se encontra em rápida evolução”. n
12 EVENTO Sistemas alimentares do futuro: destaques do EFFoST 2024 De 12 a 14 de novembro, a cidade de Bruges (Bélgica) acolheu a Conferência EFFoST 2024, um evento de referência mundial em ciência e tecnologia alimentar. Este ano, especialistas de todo o mundo debateram os sistemas alimentares do futuro, destacando a forma como a inovação pode transformar o setor. Clara Olave, técnica de comunicação de CNTA PROTEÍNAS ALTERNATIVAS: RUMO A UMA TRANSIÇÃO ALIMENTAR SUSTENTÁVEL Morena Silvestrini, investigadora do CNTA, participou na sessão especial intitulada 'Preencher as lacunas de conhecimento sobre proteínas alternativas para acelerar a mudança alimentar'. Silvestrini apresentou o progresso do Like-A-Pro, um projeto europeu centrado na melhoria da qualidade e aceitação de produtos baseados em proteínas alternativas, destacando os objetivos e sinergias com projetos como Giant Leaps e Feasts. A colaboração entre estes projetos visa acelerar a transição proteica através de atividades conjuntas de divulgação e comunicação. Além disso, outro dos pontos principais foi a forma como a implementação de tecnologias como a bioimpressão 3D e os biorreactores de perfusão está a otimizar a produção de proteínas sem origem animal. SUSTENTABILIDADE E REVALORIZAÇÃO DE SUBPRODUTOS: O POTENCIAL DA SIMULAÇÃO DE PROCESSOS A sustentabilidade foi um dos pilares do evento, com destaque para a revalorização dos subprodutos alimentares e a melhoria da eficiência das cadeias de produção. Neste contexto, Daniel de la Puente, Rafael López e Mónica Mendiola apresentaram os progressos do projeto BBTWINS. O seu trabalho mostrou como o gémeo digital permite otimizar a cura do presunto através da programação de tarefas, da atribuição de pessoal e da gestão de materiais auxiliares, como paletes e sacos. Este sistema, que integra sensores IoT e algoritmos de inteligência artificial, ajusta parâmetros, como a temperatura e a humidade em tempo real, garantindo uma qualidade consistente e reduzindo o desperdício. Além disso, a integração de blockchain garante total rastreabilidade do produto, desde a fazenda até o consumidor final. A utilização de ferramentas de simulação de processos, como o COMSOL Multiphysics, e de técnicas avançadas, como a impressão 3D e o plasma atmosférico, está a revolucionar a produção, optimizando a eficiência e a qualidade dos produtos alimentares. FERMENTAÇÃO E EXTRUSÃO: A CHAVE PARA ALIMENTOS À BASE DE PLANTAS MAIS COMPETITIVOS A fermentação continua a posicionar- -se como uma tecnologia essencial para melhorar as propriedades sensoriais e nutricionais dos produtos à base de plantas. Durante o evento, foi destacado como a sua combinação com processos, como a extrusão em estado sólido, está a conseguir texturas e sabores mais atrativos, tornando estes produtos mais competitivos face às alternativas do mercado. SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRIÇÃO HUMANA: ALÉM DOS PRODUTOS ULTRA-TRANSFORMADOS Outro tema crucial foi a segurança alimentar, com especial destaque para os riscos decorrentes da desinformação sobre os produtos ultra-processados. Os especialistas do setor alertaram para a importância de definir corretamente estes produtos e de educar o consumidor, evitando controvérsias que possam prejudicar a indústria. n
13 Conhecidos os finalistas da Fruit Logistica 2025 Variedades atrativas, conceitos de marketing inteligentes, inteligência artificial: cinco inovações foram nomeadas para o cobiçado prémio Fruit Logistica 2025. Depois da escolha do júri cabe agora a escolha dos visitantes profissionais, lembra Kai Mangelberger, diretor da Logistica, que afirmou que “todos os finalistas estão a expor na Fruit Logistica 2025 - e cada visitante comercial pode ajudar a escolher a inovação que considera mais convincente este ano. Posso desde já revelar o seguinte: a decisão não será fácil, uma vez que todos os produtos e serviços apresentados são simplesmente excecionais.” Convém lembrar que o Fruit Logistica Innovation Award (FLIA) é o prémio mais prestigiado do mundo para a indústria de produtos frescos. Para além do prémio FLIA para produtos frescos inovadores, 2024 testemunhou a introdução do prémio FLIA Technology para inovações extraordinárias em maquinaria e tecnologia. NOMEADOS PARA O FRUIT LOGISTICA INNOVATION AWARD 2025: • Sustentável: o abacate biológico Raingrown. Vem da floresta tropical da Eosta/Nature & More, uma empresa dos Países Baixos. É o primeiro abacate biológico disponível durante todo o ano - e o primeiro a ser cultivado sem irrigação artificial, utilizando apenas a água da chuva. Num contexto de procura crescente por parte dos consumidores e de escassez de água a nível mundial, a Eosta apresenta uma solução sustentável para o cultivo do abacate. A Eosta/Nature & More apoia os pequenos agricultores, proporcionando-lhes um salário seguro. Organic Raingrown Avocado, Eosta/ Nature & More, Países Baixos, Hall 3.2, Stand B-44. • Fiável: morangos de uma cadeia de abastecimento sustentável. Sob a marca ALDINA, a cadeia de supermercados de desconto ALDI SÜD está a comercializar uma única variedade de morangos na Alemanha - e a garantir aos produtores a compra durante toda a época. O objetivo do conceito é impulsionar a produção de morangos na Alemanha. Graças à transparência dos preços e às garantias de compra de um produto altamente delicado e perecível, existem benefícios ecoForam anunciados os dez finalistas dos prémios de inovação da Fruit Logistica 2025. Uma escolha entre quase 70 candidaturas.
14 nómicos a longo prazo para todos os envolvidos. Para os consumidores, a concentração numa única variedade é acompanhada de uma promessa de bom sabor. ALDINA, Frutania, Alemanha, Pavilhão 27, D-32. • Flamboyant: uma laranja com um efeito “uau”. A laranja Onix é impressionantemente bonita, versátil e resistente. A cor da sua casca brilha em laranja vivo e vermelho borgonha. A polpa apresenta pigmentos naturais, é sumarenta, tem um sabor forte e é rica em antioxidantes e vitaminas. As laranjas ONIX™ são cultivadas em Espanha e têm um prazo de validade particularmente longo. Este produto inovador vem da Alemanha. É comercializado pela AMFRESH Spain Citrus como uma “maravilha de citrinos sustentável” e destina-se ao segmento de consumidores premium. ONIX™, AMFRESH Spain Citrus, Espanha, Pavilhão 8.2, A-80. • Encantadora: uma tangerina para o Halloween. Halloweena™ é uma nova variedade de tangerina com a forma de uma abóbora. É fácil de descascar, praticamente sem sementes, de sabor doce - e um snack ideal para o Halloween devido à sua forma e pele brilhante. Representa uma alternativa atrativa e saudável às guloseimas habituais. O fruto é cultivado de forma sustentável em Espanha, segundo normas rigorosas, e amadurece pouco antes do Dia das Bruxas. De acordo com a Genesis Fresh em Espanha (uma inovação do Reino Unido), os agricultores podem esperar rendimentos recorde. Halloweena™, Genesis Fresh, Espanha, Pavilhão 8.2, A-80. couve. Com a sua forma compacta, estrutura de folha firme e cor distinta, destaca-se nas prateleiras dos supermercados e pode ser preparada de muitas maneiras. Oferece uma experiência de couve totalmente nova, de sabor ligeiramente doce, rica em fibras e vitaminas, e é adequada para saladas, pratos de wok e grelhados. As opções de selagem prolongam o prazo de validade e garantem menos desperdício. Couve-repolho Samantha, Bejo Zaden, Países Baixos, Pavilhão 1.2, C13. NOMEADOS PARA O FRUIT LOGISTICA INNOVATION AWARD TECHNOLOGY 2025: • Compacto: couve-lombarda como couve pontiaguda. A Samantha é a primeira couve-lombarda do mundo com cabeça pontiaguda (uma inovação da Dinamarca). O seu peso é inferior a 500 gramas por • Precisão: Drones baseados em LiDAR. O fabricante húngaro ABZ Innovation equipa drones para utilização em pomares e vinhas com um sistema de perceção situacional baseado em LiDAR. Com a ajuda do mapeamento 3D em tempo real, os drones reconhecem até obstáculos mais pequenos, como fios finos ou perigos, e mantêm um controlo dinâmico da altura. O sistema sem GPS mantém a sua distância em relação a copas de árvores irregulares e otimiza a altura de pulverização das culturas. Isto resulta numa menor utilização de produtos químicos, o que beneficia tanto os agricultores como o ambiente. Um fator de mudança na agricultura de precisão: Mapeamento LiDAR
15 em tempo real para operações mais seguras e inteligentes com drones, ABZ Innovation, Hungria, Hall 3.1, C-21. • Económico: monitorização de gotejamento e escoamento baseada em IA. O módulo de irrigação FarmRoad da Nova Zelândia ajuda os agricultores a otimizar o seu consumo de água. Os painéis de controlo são orientados por IA e combinam dados climáticos locais com modelos sofisticados de procura de água. Utilizando cálculos automatizados de gotejamento e escoamento, os agricultores podem adaptar diariamente o seu planeamento de irrigação às necessidades das culturas e às condições locais. O sistema reconhece os primeiros sinais de stress nas culturas, o que permite uma intervenção atempada. Esta inovação vem de Marrocos. Módulo de Irrigação FarmRoad, WayBeyond, Nova Zelândia, Pavilhão 3.1, Stand C-30. quer oxidação química, não emite substâncias e não afeta a fruta. A tecnologia empregue é sempre adaptada à fruta em questão e às necessidades do cliente, garantindo um maior tempo de conservação e menos desperdício alimentar. RYPEN Case Liner, It's Fresh, Reino Unido, Pavilhão 5.2, B-24. • Controlado: análise de imagem a partir da estufa. A plataforma Croptimus™ fornece aos agricultores uma tecnologia de análise de imagem que lhes permite detetar doenças ou infestações de pragas em vegetais na estufa numa fase inicial. A Fermata, uma empresa de Chipre, comercializa o Croptimus™ como software como serviço (SaaS). O programa não necessita de hardware próprio, mas analisa imagens de câmaras e smartphones instalados (inovação de Israel). Oferece uma solução flexível que, de acordo com o fabricante, resulta numa redução de até 50 por cento do trabalho de reconhecimento, 30 por cento da perda de colheitas e uma redução de 25 por cento dos recursos operacionais para os agricultores. Croptimus™, Fermata Technology Limited, Chipre, Pavilhão 3.1, C-20. • Níveis de dosagem ótimos: análise e ajuste do teor de fungicida. O CATsystem® do fabricante espanhol Citrosol é um sistema de consumo inteligente para utilização no sector pós-colheita. O sistema de avaliação mede online e em tempo real as concentrações de fungicidas e outros componentes da solução nas instalações de produção e ajusta-as imediatamente. As vantagens são níveis de dosagem ideais, menos desperdício e poluição química, maior sustentabilidade e rastreabilidade detalhada. O sistema é compatível com outros dispositivos Citrosol e também pode ser instalado em sistemas de dosagem mais antigos. CATsystem®, Productos Citrosol, Espanha, Pavilhão 18, A-24. n • Durável: captura de etileno durante o transporte de fruta. O RYPEN Case Liner mantém a fruta em caixas de transporte fresca e estaladiça durante mais tempo. De acordo com o fabricante britânico It's Fresh grapes, os clientes observaram uma média de 85% menos defeitos no transporte de uvas. A tecnologia RYPEN capta o excesso de moléculas de etileno no interior das caixas e liga a sua estrutura. Não produz qualCabe a cada visitante da Fruit Logistica 2025 escolher a inovação que considera mais convincente este ano
16 EVENTO "Iniciativas como a Feira Salón Gourmet são vitais para aumentar as exportações das PME da fileira agroalimentar" Christelle Domingos, diretora executiva do InovCluster, revela o que está a ser planeado para a Feira Salón Gourmet 2025, a decorrer de 7 a 10 de abril em Madrid, evento que na edição anterior contou com mais de 106 mil visitantes, 1980 expositores e mais de 15 mil compradores internacionais de 90 países. A InovCluster (Associação do Cluster Agroindustrial do Centro), através do export.i9, está a promover a participação portuguesa na 38ª edição do Salón Gourmets 2025 - International Fine Food and Beverages Fair, considerada uma feira de referência no panorama internacional. As empresas portuguesas interessadas em participar na feira e elegíveis podem obter um financiamento de até 50%, apoio inserido na candidatura ao projeto conjunto de internacionalização 2023/2025, e inscrever-se no site InovCluster. "É um evento que se destaca pela sua orientação comercial e é um dos pontos de encontro mais visitado por profissionais nacionais e internacionais da área gastronómica, incluindo Christelle Domingos, diretora executiva do InovCluster
17 EVENTO em que potencia a visibilidade e o reconhecimento de marcas e produtos em mercados internacionais. As pequenas e médias empresas têm, muitas vezes, dificuldades em alcançar visibilidade fora do mercado nacional e iniciativas como estas ajudam a superar essas limitações". Também é uma oportunidade para as PME "conhecerem melhor as tendências e preferências de consumo nos mercados internacionais, ajustando as suas ofertas para responder a essa procura de mercado. Também não posso deixar de referir nas vantagens de uma participação conjunta, sob o chapéu Portugal, que não só ajuda a fortalecer a imagem do país como um produtor de produtos agroalimentares de alta qualidade e inovação, como potencia uma maior visibilidade e impacto para as empresas participantes do que se as mesmas participassem de forma isolada". Christelle Domingos acredita que 2025 vai ser um ano de crescimento. "Com um mercado internacional cada vez mais atento à qualidade dos produtos e à inovação, esperamos que a edição deste ano feira atraia ainda mais expositores e visitantes de diversas partes do mundo e esperamos que as PME participantes aproveitem ao máximo as potencialidades desta feira diferenciadora para criar novas oportunidades de negócio". n restaurantes, hotéis, distribuidores, serviços de catering e lojas especializadas", destaca Christelle Domingos, diretora executiva do InovCluster. "A organização está a trabalhar na preparação de uma ampla gama de atividades, que inclui exposições de produtos, zonas temáticas e apresentações de novas tendências do mercado. Além de apresentar uma vasta gama de produtos gourmet, a feira terá um foco especial em promover a sustentabilidade e a inovação dentro da indústria, com novos pavilhões dedicados aos produtos orgânicos e alternativas alimentares". Na sua opinião, a participação na Feira Salón Gourmet é "de extrema importância para as empresas nacionais do setor agroalimentar, pois oferece uma plataforma internacional para promover produtos de excelência, fortalecer a imagem da marca e conquistar novos mercados. Madrid é um ponto estratégico para empresas que procuram expandir para o mercado espanhol e, por conseguinte, para outros mercados da União Europeia e além". Para Christelle Domingos, este tipo de iniciativas "são fundamentais para aumentar as exportações das PME da fileira agroalimentar na medida O evento é uma oportunidade para as PME "conhecerem melhor as tendências e preferências de consumo nos mercados internacionais, ajustando as suas ofertas"
18 ESTUDO A massa fermentada lidera o setor da panificação com um crescimento global de 40% até 2025 De acordo com os últimos dados do estudo Taste Tomorrow, realizado pela Puratos com o objetivo de conhecer as últimas tendências do setor junto dos utilizadores, o consumo de massa fermentada crescerá 40% em 2025. O estudo, que reúne dados de mais de 18 mil inquiridos de um total de 44 países, tornando-se o maior relatório mundial sobre os comportamentos, atitudes e decisões dos consumidores globais, conclui que esta tendência para a expansão global da massa fermentada no setor da panificação responde a diferentes fatores, muitos deles para além da produção de pão tradicional. Assim, em Espanha, a massa lêveda está a ser incorporada em produtos como croissants, bagels e donuts, entre outros. Nos países francófonos, a massa fermentada é apreciada pelo seu carácter artesanal e pelos seus benefícios para a saúde intestinal, enquanto noutras partes do mundo é mais um produto novo associado à cultura alimentar ocidental. Como explica Anabel Sotodosos, diretora de Marketing da Puratos Espanha, “com mais de uma década de dados, a Taste Tomorrow tornou-se uma fonte de informação de confiança para os setores da padaria, pastelaria e chocolate. Manter-se atualizado com estes dados é crucial para que os profissionais da indústria se mantenham competitivos e inovadores. Na Puratos, dedicamo-nos a ajudar os nossos clientes a aproveitar este conhecimento para impulsionar a inovação contínua e satisfazer a evolução das exigências dos consumidores". SABORES E TEXTURAS EM 2025 Outra das conclusões do inquérito aponta para o crescimento da fusão culinária. Assim, a combinação de sabores e texturas registará um aumento de 10% e ganhará terreno na pastelaria e na confeitaria. Com combinações de novas técnicas provenientes de várias culturas, estão a ser criadas sobremesas inovadoras e híbridas para estimular os sentidos dos consumidores. INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E COMBINAÇÕES CRIATIVAS Por outro lado, de acordo com o relatório, a tecnologia de IA está a inspirar cada vez mais os pasteleiros a inventar novas combinações, uma reviravolta chamada “reviravolta picante” que mistura doce e picante com doce e azedo. Estes desenvolvimentos estendem- -se às texturas e formatos, com novas criações que combinam o fofo com De acordo com o Taste Tomorrow, um inquérito realizado pela Puratos para compreender as tendências na panificação, pastelaria e chocolate, a massa fermentada irá crescer devido à sua utilização para além do pão tradicional ou devido a fatores como a saúde intestinal.
19 ESTUDO o estaladiço e sabores do Oriente e do Ocidente. Prevê-se que esta tendência cresça entre os consumidores chineses (+13%), espanhóis (+11%) e germanófonos (+7%) até 2025. CHOCOLATE NUTRITIVO E SAUDÁVEL Por último, o equilíbrio nutricional é outra das conclusões do estudo. A tendência do chocolate deverá aumentar 30% no próximo ano, impulsionando a procura de opções saudáveis. De acordo com a Taste Tomorrow, os consumidores procuram chocolates com benefícios para a saúde, como açafrão-da-terra, nozes, sementes e proteínas, que proporcionam benefícios funcionais como a melhoria do Barra de Dubai. Crookie. sono e do sistema imunitário. Estes chocolates, reduzidos em açúcar e ricos em nutrientes, são ideais para quem procura uma indulgência saudável e preocupada com a saúde numa alimentação mais saudável. n
ENTREVISTA 20 LOUISE FRESCO, ESPECIALISTA EM PRODUÇÃO ALIMENTAR SUSTENTÁVEL “O mais destrutivo é a agricultura em áreas que não são muito férteis” Cristina Sáez, SINC Quando perguntou aos seus alunos se devia aceitar um convite para dar uma palestra TED em Los Angeles, eles convenceram-na a meter-se num avião e a falar durante 18 minutos sobre como alimentar um mundo em crescimento sem acabar com o planeta. A palestra, na qual fala sobre a produção agrícola enquanto coze um pão ao vivo, tem 1,2 milhões de visualizações e está legendada em várias línguas. “Tive dificuldade em amassar o pão sem perder o fio à meada do que estava a explicar”, ri-se a engenheira agrícola Louise Fresco (Holanda, 1952), hoje uma referência mundial na produção alimentar sustentável. “Podemos alimentar a população atual e futura de uma forma sustentável, mas temos de mudar muitas coisas”, afirma Louise Fresco. A especialista em sustentabilidade explica que temos de aceitar que cometemos erros e que se trata de uma discussão aberta, tal como todos os produtos químicos que foram utilizados de forma abusiva, mas que estão agora a ser corrigidos. Foto: SINC.
ENTREVISTA 21 Professora e antiga reitora da Universidade de Wageningen, nos Países Baixos, um prestigiado centro especializado em agricultura, e ex-diretora-geral adjunta da FAO, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, Fresco combina a sua prolífica atividade como cientista com a orientação de jovens mulheres, além de presidir à Academia Nacional Holandesa de Ópera e Dança e escrever romances e livros populares. Recentemente chegada da China, participou no congresso internacional LCA Food sobre análise do ciclo de vida dos alimentos, um fórum global sobre a sustentabilidade dos sistemas alimentares com base na ciência, organizado pelo Instituto de Investigação e Tecnologia Agro-Alimentar (IRTA), onde proferiu uma conferência. A sua agenda dá vertigens... É verdade, e para não naufragar é preciso escolher bem. E esta é uma mensagem especialmente para as mulheres: não podemos fazer tudo. É fundamental escolher as coisas que nos apaixonam, que muitas vezes não são as que os outros nos dizem para fazer. Porque se seguirmos o nosso coração, isso dá-nos energia, dá-nos ideias e põe- -nos em contacto com pessoas que pensam da mesma maneira, o que nos permite fertilizar-nos. Foi algo que aprendi quando era muito jovem. Em que sentido? A minha família era muito intelectual. O meu pai era professor de filosofia e ética, e lembro-me de me aconselhar, em criança, a estudar história da arte. Mas sentia que queria fazer algo útil. Em criança e em adolescente, fiquei chocada ao saber dos efeitos da fome em África. Além disso, embora tenha nascido depois da Segunda Guerra Mundial, cresci numa sociedade que tinha passado por enormes dificuldades e fome, e sabia o que era viver situações terríveis. Estive sempre muito consciente do privilégio que tinha de pertencer a uma família sem problemas fundamentais, com acesso a alimentos, num país pacífico. Por isso, sempre senti que tinha de contribuir de alguma forma para o mundo e estudei engenharia agrícola. Defende que é possível alimentar um mundo em crescimento sem matar o planeta. Podemos alimentar a população atual e futura de uma forma sustentável, mas temos de mudar muitas coisas. Para começar, em muitas partes do mundo a produtividade é muito baixa, são utilizadas enormes quantidades de terra e muitos recursos são dedicados a uma produção muito reduzida. Temos de concentrar a produção agrícola nas zonas que têm potencial e abandonar as zonas que não têm potencial, deixando-as à mercê da biodiversidade. A coisa mais destrutiva a fazer é cultivar em áreas onde não há muito potencial, como em solos muito pobres. Nestes casos, não faz sentido cortar a vegetação, trabalhar a terra e utilizar muita energia e recursos para quase nenhuma produção. Devemos pensar em sistemas de reciclagem em que o que não é consumido pelas pessoas possa ser utilizado para os animais. Será que isso significa que alguns países têm de importar tudo o que comem? Todos os territórios têm zonas férteis e zonas que não devem ser utilizadas para a agricultura. Tomemos como exemplo a República Democrática do Congo, que tem uma enorme quantidade de floresta; de facto, uma grande percentagem do país está coberta de floresta. Mesmo que seja abatido, este solo não permite uma agricultura de grande rendimento. Por outro lado, tem uma enorme riqueza em minerais. O país poderia utilizar este recurso natural para importar alimentos. O problema é a corrupção envolvida no negócio dos minerais. De qualquer forma, o país deveria conservar essas florestas. Temos de chegar a um acordo global para compensar economicamente aqueles que têm recursos naturais importantes (como a selva, as florestas e a savana) para os manter, porque são a base da biodiversidade e o património da humanidade. E isso é algo que irá acontecer nos próximos dez a 15 anos. No Norte, deitamos fora até um terço dos alimentos que produzimos e compramos. Compramos muito e deitamos muito fora. É claro que algumas coisas não podem ser utilizadas, como partes de vegetais, mas devemos pensar em sistemas de reciclagem em que o que não é comido pelas pessoas possa ser utilizado para os animais. Devemos limitar o consumo de proteínas animais? Essa é a questão mais importante. Não precisamos de comer carne todos os dias, mas isso não implica, como defendem alguns discursos, a eliminação total dos animais. Nalgumas fases da vida, como a velhice, a gravidez ou a infância, precisamos de proteínas de muito boa qualidade, como as que existem na carne e no leite. Também nos ovos, que, embora tendamos a esquecer, são importantes e, nos países em desenvolvimento, podem fazer a diferença entre o atraso cognitivo e o desenvolvimento normal das crianças. Será que vamos acabar por comer insetos ou carnes sintéticas? Já comi insetos. Na verdade, temos um programa de investigação na Universidade de Wageningen, nos Países
ENTREVISTA 22 Baixos, sobre este assunto. Mas não creio que venham a ser integrados na cozinha europeia, pelo menos não diretamente. Não me imagino a comer uma salada temperada com minhocas como fonte de proteínas… Também acho que não, mas no México, por exemplo, é uma coisa muito normal. A dimensão cultural entra aqui em jogo, e é por isso que, na Europa, podemos incorporá-los na dieta apenas sob a forma de farinha, em pequenas percentagens em alimentos como o pão ou a massa, para que sejam mais ricos em proteínas. Onde os insetos podem ser interessantes é na alimentação do gado e dos peixes, embora se deva dizer que também geram emissões de metano, que é um dos gases com efeito de estufa. Nada é gratuito, há sempre um custo. Mas insisto que a mensagem não deve ser 'comam carne artificial ou vegetal e deixem de comer carne animal', mas antes 'comam menos carne e aumentem o vosso consumo de leguminosas e vegetais'. O ideal seria que, daqui a dez ou 20 anos, dois terços das proteínas que consumimos fossem de origem vegetal e apenas um terço de origem animal. A palavra sustentabilidade é tão utilizada atualmente que o seu significado foi distorcido. O conceito surgiu pela primeira vez em 1986-87, num relatório das Nações Unidas intitulado 'O nosso futuro comum'. Nele, a palavra 'sustentabilidade' foi utilizada pela primeira vez, tomando-a de empréstimo à ciência florestal alemã, que a utilizava para se referir ao que se colhe sem prejudicar as árvores. Nesse relatório da ONU, curiosamente, não se falava de CO2, nem de doenças zoonóticas, nem de alterações climáticas. E hoje, 40 anos depois, quando pensamos em sustentabilidade, parece um sinónimo de alterações climáticas. É, por assim dizer, uma evolução do nosso pensamento. Sabe o que é que não é muito falado, mas que é fundamental? O quê? A transformação da alimentação pela indústria agroalimentar. Inicialmente, era uma boa ideia porque havia mais controlo, qualidade e higiene na produção alimentar. Mas agora passámos para o outro lado, produzindo alimentos ultraprocessados que são prejudiciais à saúde. Temos de aceitar que cometemos erros e que esta é uma discussão aberta, tal como todos os químicos de que abusámos, mas que estamos agora a corrigir. Louise Fresco durante a sua visita a Barcelona para participar no congresso LCA Food. Foto: SINC.
ENTREVISTA 23 Motivos para o pessimismo? Não, de todo. Os progressos realizados pela humanidade no século XX são enormes. Só nos últimos 50 anos conseguimos muito: a população triplicou e há mais 30% de alimentos por pessoa. Quando entrei para a universidade, o mundo tinha um problema de fome que parecia irresolúvel e a ideia de que não havia comida para todos era generalizada. Hoje, quando há fome, é quase sempre o resultado de tensões políticas ou de guerras, como no Iémen ou no Sudão. Os sistemas de produção intensivos, muitas vezes rotulados de insustentáveis, são frequentemente contrapostos a sistemas de produção locais, mais pequenos, que estão associados a um maior respeito pelo ambiente. Trata-se de uma dicotomia demasiado simples e existem muitas opções intermédias. É evidente que toda a cidade de Barcelona, por exemplo, não pode ser alimentada pela produção dos pequenos agricultores. Temos de pensar em como deverão ser os sistemas do futuro, com apoio robótico, com monitorização para identificar a fertilidade do solo, com inteligência artificial. A tecnologia tem de entrar tanto nos sistemas de agricultura intensiva como nos sistemas de agricultura local de pequena escala. E isso vai acontecer nos próximos 20 anos. Temos também de repensar o preço que pagamos pelos alimentos, porque agora é muito pouco e isso é um fator importante. Há 50 anos, quase metade do salário de uma família era gasto em alimentação, ao passo que atualmente é menos de 20%. Não é esta a perceção social maioritária? Há uma consciência crescente do que significa comer bem, mas também a moda dispendiosa de que é preciso comer três abacates por dia ou um batido de não sei quantos frutos tropicais para ser saudável. Paradoxalmente, de um modo geral, estamos a comer mal: as pessoas têm pouco tempo, muitas preocupações, sobretudo as famílias monoparentais ou aquelas em que os pais têm muitas horas de trabalho ou dois empregos, e quando chegam a casa é mais fácil dar uma fatia de pizza aos filhos e pô-los em frente à televisão. E não ajuda nada dizer às mães e aos pais que têm de preparar diariamente pratos de legumes. Porque não podem. Por isso, o que há a fazer é ajudar. Como? Através das escolas, para que as crianças possam comer bem e de forma saudável pelo menos uma vez por dia. Há muitas crianças subnutridas cujas famílias não têm dinheiro para ir ao mercado. Por isso, uma refeição boa e saudável por dia é essencial. E ensiná-las sobre a produção, sobre a cadeia alimentar. Porque sem produtores, sem a cadeia agrícola, não temos um ambiente saudável e não temos uma população saudável. Porque a agricultura produz paisagem e a paisagem produz uma parte da saúde, a parte preventiva, que é a parte mais importante. E se me permitem acrescentar uma última coisa que digo sempre: têm de se certificar de que o vosso frigorífico está à temperatura ideal. Parece um disparate, mas a temperatura errada pode fazer com que os alimentos se estraguem e tenham de ser deitados fora. n
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