2025/2 12 Preço: 11 € | Periodicidade: 4 edições por ano | Junho 2025
www.blumaq.com TEMOS A PEÇA QUE VOCÊ PRECISA Delegações na Espanha: Alicante | Almería | Asturias | Barcelona | Galicia | Madrid | Mérida | Ponferrada | Sevilla | Tenerife | Zaragoza Filiais no mundo: Chile | United States | France | Portugal | Turkey | China | Russia | Italy | Romania | South Africa | Zambia | Peru | Namibia | Kazahkstan | Indonesia CATERPILLAR®, KOMATSU®, CUMMINS®, VOLVO® E CASE® SÃO MARCAS COMERCIAIS REGISTRADAS PELOS SEUS RESPECTIVOS PROPRIETÁRIOS E SÃO UTILIZADAS APENAS COMO REFERÊNCIA DE APLICAÇÃO DOS NOSSOS COMPONENTES. Siga-nos nas redes sociais Distribuidor autorizado para Espanha, Zâmbia, Turquia, África do Sul, Namíbia, Indonésia, Cazaquistão, Uzbequistão, Turquemenistão, Tajiquistão, Quirguistão. +34 679 202 329 +34 964 697 030 PEÇAS ALTERNATIVAS BLUMAQ PARA MÁQUINAS DE OBRAS PÚBLICAS CATERPILLAR®, KOMATSU®, CUMMINS®, VOLVO® E CASE® NOSSO TRABALHO É SINÔNIMO DE GARANTIA Na Blumaq, estamos comprometidos com um trabalho bem feito. Cuidamos do desenvolvimento do produto, da sua fabricação e armazenamento, garantindo assim um funcionamento perfeito na sua máquina.
Edição, Redação e Propriedade INDUGLOBAL, UNIPESSOAL, LDA. Avenida Defensores de Chaves, 15, 3.º F 1000-109 Lisboa (Portugal) Telefone +351 215 935 154 E-mail: geral@interempresas.net NIF PT503623768 Gerente Aleix Torné Detentora do capital da empresa Grupo Interempresas Media, S.L. (100%) Diretora Luísa Santos Equipa Editorial Luísa Santos, David Múñoz redacao_engeobras@interempresas.net www.engeobras.pt Preço de cada exemplar 11 € (IVA incl.) Assinatura anual 44 € (IVA incl.) Registo da Editora 219962 Registo na ERC 127810 Déposito Legal 498357/22 Distribuição total +13.900 envios. Distribuição digital a +13.200 profissionais. Tiragem +700 cópias em papel. Edição Número 12 – Junho de 2025 Estatuto Editorial disponível em https://www.engeobras.pt/ EstatutoEditorial.asp Impressão e acabamento Lidergraf Rua do Galhano, n.º 15 4480-089 Vila do Conde, Portugal www.lidergraf.eu Os trabalhos assinados são da exclusiva responsabilidade dos seus autores. É proibida a reprodução total ou parcial dos conteúdos editoriais desta revista sem a prévia autorização do editor. A redação da Engeobras adotou as regras do Novo Acordo Ortográfico. SUMÁRIO 16 ATUALIDADE 4 EDITORIAL 5 Bauma 2025 impulsiona o setor e gera um espírito de otimismo 16 BKT chama a atenção na Bauma 2025 com uma vasta seleção de pneus 20 Blumaq reforça liderança no setor das peças sobresselentes na Bauma 2025 22 Caterpillar volta a surpreender na Bauma no ano do seu centenário 24 Develon apresenta nova geração de escavadoras inteligentes na Bauma 26 Epiroc na Bauma 2025: novas soluções para o futuro da construção e mineração 30 Produtividade 2.0 na Bauma: Husqvarna Construction inova e os profissionais ganham 34 Kobelco Construction Machinery Europe demonstra vocação inovadora na Bauma 2025 36 Manitou demonstra na Bauma 2025 um forte compromisso ambiental 39 Nuba Group: “A nossa participação na Bauma 2025 foi muito positiva e produtiva” 42 Palfinger ‘excede as expectativas’ com o lançamento da nova grua PK 880 TEC na Bauma 43 Pramac: “Mais uma vez, a Bauma foi a vitrine perfeita para o nosso negócio” 46 Tele Radio apresenta na Bauma 2025 a nova plataforma PAQ 48 TVH: “a Bauma consolida a sua posição como a feira mais representativa do setor das máquinas de construção e de exploração mineira, dos componentes e dos serviços” 50 Weir Minerals centra-se na eficiência e sustentabilidade na Bauma 2025 51 A Bauma 2025 em resumo 52 Transgrua expande a sua frota com a poderosa PK 92002 SH 56 LoxamHune coloca em serviço geradores com um total de 10 Mvas durante o apagão na Península Ibérica 58 Entrevista com Francisco Javier Báez Pérez de Tudela, gestor da Comercial Euroyen 60 Habilfix: análise à durabilidade e eficiência do asfalto frio 64 Entrevista com Laura Caldeira, presidente do LNEC 8
4 ATUALIDADE MAIS NOTÍCIAS DO SETOR EM: WWW.ENGEOBRAS.PT • SUBSCREVA A NOSSA NEWSLETTER Fabricantes de máquinas reivindicam o seu papel na descarbonização da Europa Os fabricantes de equipamentos agrícolas e de construção estão cientes do seu papel crucial no processo de descarbonização da Europa, uma vez que dependem fortemente de maquinaria especializada para construir infraestruturas. Assim, a descarbonização destes setores é crucial para atingir os objetivos climáticos, "mas requer uma abordagem política prática e tecnologicamente neutra", alertam as respetivas associações de referência, CEMA e CECE. Recordam que, ao contrário do setor automóvel, as máquinas agrícolas e de construção operam em ambientes altamente variáveis e muitas vezes remotos, onde a eletrificação nem sempre é viável. "Uma solução única para todos os casos não funcionará. A UE deve considerar uma gama mais vasta de tecnologias e avaliar as emissões numa perspetiva holística que inclua combustíveis renováveis, melhorias de eficiência e otimização operacional", afirmam em comunicado. IP destaca papel da ferrovia no futuro orçamento europeu na conferência 'Reinventing Rail' Miguel Cruz, presidente da Infraestruturas de Portugal (IP) e da Associação Europeia EIM – European Rail Infrastructure Managers, participou, como orador, num painel estratégico da conferência internacional 'Reinventing Rail' sobre o futuro do investimento ferroviário europeu no âmbito do quadro financeiro plurianual (QFP) da União Europeia para 2028-2034. Integrada na 13ª edição do International Railway Summit, esta conferência, que decorreu entre 3 e 5 de junho de 2025 na cidade de Viena, na Áustria, reuniu líderes governamentais e do transporte ferroviário para debater se este setor reúne as condições - em termos de competitividade, sustentabilidade e resiliência - para justificar um reforço do financiamento. Este debate decorreu num contexto marcado pelos recentes desafios geopolíticos, que reforçam o papel da mobilidade ferroviária, tanto para fins civis, como militares. Pavel Hajman deixa cargo de CEO do Grupo Husqvarna no final do ano Pavel Hajman decidiu, de comum acordo com o Conselho de Administração, abandonar o cargo de CEO do Grupo Husqvarna e membro do Conselho de Administração assim que for nomeado um sucessor permanente, provavelmente até ao final de 2025. Pavel Hajman entrou para o Grupo Husqvarna em 2014 e é CEO desde maio de 2023, tendo exercido o cargo de CEO interino desde dezembro de 2022. Os cargos anteriores de Pavel Hajman no Grupo incluem o de vice-presidente executivo de Serviços de Informação Global (2020-2022), vice-presidente sénior de Desenvolvimento de Operações (20182020) e presidente da divisão de Floresta e Jardim da Husqvarna (2014-2018).
5 EDITORIAL A última edição da Bauma, realizada em Munique, confirmou mais uma vez por que é o ponto de encontro de referência mundial para máquinas de construção, obras públicas e mineração. Com mais de 3.000 expositores e uma grande afluência internacional, a feira não foi apenas uma plataforma de lançamento para inovações tecnológicas, mas também um barómetro de um setor em plena transformação. As tendências dominantes (digitalização, eletrificação de equipamentos, automatização e eficiência energética, entre outras) estão em linha com os desafios e oportunidades que também marcam a evolução do mercado português, onde a construção continua a ser um dos motores económicos, impulsionada por projetos estratégicos de infraestruturas, fundos europeus e um crescente interesse pela sustentabilidade nos processos construtivos. Durante a Bauma 2025 ficou claro que os fabricantes estão a responder à procura por soluções mais limpas, conectadas e seguras. Portugal, que intensificou nos últimos anos o seu compromisso com a transição ecológica, encontra nessas inovações um aliado fundamental para modernizar o seu parque de máquinas e avançar para uma construção mais responsável e eficiente. Além disso, o dinamismo que se respira no mercado luso, com investimento público em obras civis e uma progressiva profissionalização do setor mineiro, mostra uma indústria cada vez mais aberta à adoção de novas tecnologias. A presença de empresas portuguesas em Munique, tanto como expositoras como visitantes, evidencia este interesse em aprender, conectar e crescer em linha com os padrões internacionais. A Bauma não foi apenas uma feira: foi uma declaração de intenções. As máquinas reinventam-se e, com elas, as regras do jogo. O nosso país tem agora uma oportunidade única para se posicionar como referência em sustentabilidade, eficiência e adaptabilidade. A próxima década será decisiva. E, se algo ficou claro em Munique, é que o futuro do setor já começou. Bauma 2025: Tecnologia, sustentabilidade e um setor voltado para o futuro GAM recebe prémio europeu para melhor iniciativa de sustentabilidade na área de aluguer A multinacional espanhola GAM foi distinguida nos European Rental Awards 2025, organizados pela European Rental Association (ERA), com o prémio de Melhor Iniciativa de Sustentabilidade por uma empresa de aluguer. O reconhecimento foi atribuído ao Reviver, o seu inovador programa de economia circular centrado na refabricação de máquinas para prolongar a vida útil dos equipamentos. O prémio foi entregue na gala de entrega de prémios da ERA em Dublin, durante a convenção anual da associação, que reuniu mais de 350 profissionais do setor de aluguer de toda a Europa. Nesta edição, o prémio na categoria de sustentabilidade foi partilhado com a multinacional Loxam, que foi reconhecida pela sua iniciativa de redução de emissões na cobertura dos Jogos Olímpicos de Paris, segundo informaram fontes da empresa em comunicado de imprensa. O diretor comercial da GAM, Luis Turiel, aceitou o galardão e afirmou: "Este prémio é um reconhecimento dos esforços que temos vindo a fazer na GAM para transformar o nosso modelo de negócio num modelo mais responsável e sustentável. A Reviver é muito mais do que uma fábrica de remanufatura: é um verdadeiro compromisso com a economia circular, com o emprego local e com uma nova forma de entender o ciclo de vida das máquinas".
6 MAIS NOTÍCIAS DO SETOR EM: WWW.ENGEOBRAS.PT • SUBSCREVA A NOSSA NEWSLETTER ATUALIDADE Epiroc estabelece parceria para testar nova broca de perfuração Ao enfrentar condições de rocha abrasiva numa mina no norte do Canadá, a Machines Roger International fez uma parceria com a Epiroc para testar uma nova e poderosa broca de perfuração. Palfinger Ibérica lança a primeira pedra das suas futuras instalações A Palfinger Ibérica inaugurará em breve novas instalações no bairro de Vicálvaro, em Madrid. O novo centro de vendas e serviços, com cerca de 22.000 metros quadrados, albergará os escritórios principais da empresa, os centros de instalação e de serviços, os armazéns de peças sobresselentes e a área de logística sob o mesmo teto. Uma delegação austríaca da direção da empresa participou na cerimónia de lançamento da primeira pedra do centro, cuja abertura está prevista para dentro de um ano. A Palfinger está a investir em locais modernos e centros de vendas e serviços nos seus principais mercados em todo o mundo, incluindo Madrid. Após esta cerimónia de inauguração, o fabricante líder de gruas inovadoras e soluções de elevação está a criar uma nova base para a inovação e excelência em Espanha. Centenas de metros abaixo do solo numa remota mina de ouro no território de Nunavut, no norte do Canadá, Sylvain Desrosiers está a concluir a tarefa hercúlea de remover as hastes de perfuração de uma unidade de perfuração no furo. Sob o controlo manual de outro perfurador, a sonda começa a trazer para cima uma série de hastes de perfuração de 1,8 metros e quase 24 quilos. Desrosiers avança, levanta uma haste da estrutura da broca e transporta-a para uma área de armazenamento a cerca de três metros de distância antes de voltar para a próxima. Passam cinco minutos, depois dez, enquanto ele as descarrega todas. Desrosiers, o encarregado geral da empresa de mineração subterrânea Machines Roger International, faz com que pareça fácil, mas é um trabalho fisicamente exigente que coloca um perfurador em contacto direto com maquinaria pesada. Develon abre novo centro de distribuição de peças na Bélgica A Develon inaugurou o seu novo Centro de Distribuição de Peças (PDC) em Boom, Bélgica, marcando um passo importante na sua estratégia para melhorar o serviço ao cliente e acelerar o crescimento no mercado europeu. A cerimónia de abertura do novo PDC contou com a presença do CEO da Develon, Seung-Hyun Oh, dos principais clientes, parceiros logísticos e outros convidados ilustres. No seu discurso de abertura, o diretor executivo Seung-Hyun Oh afirmou: "A abertura do nosso PDC belga representa um primeiro passo fundamental na nossa estratégia orientada para o cliente e para o mercado. Trata-se de um investimento estratégico para fornecer serviços mais rápidos, mais estáveis e com maior capacidade de resposta aos nossos importantes clientes europeus".
7 ATUALIDADE Obras públicas superam 4 mil milhões de euros nos primeiros quatro meses do ano Segundo o Barómetro de Obras Públicas da Associação dos Industriais da Construção Civil e Obras Públicas (AICCOPN), até ao final de abril de 2025 o montante total dos contratos de empreitadas de obras públicas celebrados fixou-se em 4.310 milhões de euros, o que representa uma variação de -4% face ao mesmo período de 2024. Este resultado traduz uma recuperação significativa face à variação homóloga acumulada até março de -33%, impulsionada, em larga medida, pelo lançamento do concurso da Linha Violeta do Metropolitano de Lisboa, com um valor base de 600 milhões de euros. Nos primeiros quatro meses de 2025, o volume de contratos de empreitada de obras públicas celebrados e registados no Portal Base, no âmbito de concursos públicos, ascendeu a 1.376 milhões de euros, traduzindo um crescimento homólogo expressivo de 82%. No que respeita aos contratos celebrados por ajuste direto e consulta prévia, observa-se uma diminuição de 41% face ao montante registado no mesmo período do ano anterior. No conjunto das modalidades de contratação, foram celebrados e registados no Portal Base 3.933 contratos de empreitadas de obras públicas, num montante global de 1.781 milhões de euros, o que representa variações homólogas de +36% em número e de +68%, em valor. Tel. 979 808 036 Fax. 979 808 352 mieve@mieve.es C/ El Manzado s/n • 34410 Monzón de Campos (Palencia) ESPANHA Altura de trabalho de 4 a 25 m. FABRICANTE DE PLATAFORMAS ELEVATÓRIAS www.mieve.es
ENTREVISTA 8 LAURA CALDEIRA, PRESIDENTE DO LNEC "O forte impacto da atuação do LNEC na construção resulta da sua competência e multidisciplinaridade, bem como do seu papel enquanto promotor de inovação" Ana Ferreira Nos últimos anos, o setor da construção em Portugal tem vindo a ganhar novo fôlego, impulsionado por investimentos significativos em grandes infraestruturas e pelo aumento da atividade no mercado habitacional e comercial. Neste contexto, o papel do Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC) torna-se ainda mais relevante. Reconhecido como uma referência em investigação, inovação e desenvolvimento técnico, o LNEC desempenha um papel crucial na análise, certificação e promoção da qualidade e segurança das construções em Portugal. Em entrevista com Laura Caldeira, presidente do LNEC, procurámos compreender melhor o trabalho deste laboratório, as suas áreas de intervenção, e o seu posicionamento perante os desafios da sustentabilidade, das novas tecnologias e da adaptação às necessidades de uma sociedade em constante transformação. Laura Caldeira, presidente do Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC). O LNEC é uma instituição de referência em engenharia civil. Qual a sua principal missão e de que forma esta tem contribuído para o desenvolvimento da engenharia civil em Portugal? O LNEC tem por missão empreender, coordenar e promover a investigação científica e o desenvolvimento tecnológico,
ENTREVISTA 9 mente das suas barragens e obras subterrâneas. Também realiza, em contínuo e em permanência, a monitorização da integridade estrutural das principais obras de arte da Infraestruturas de Portugal, bem como ensaios dinâmicos de vibração ambiente e ensaios de carga e de frenagem em pontes e viadutos. Tem, igualmente, efetuado o acompanhamento das empreitadas integradas no programa Ferrovia 2020. Sendo um dos problemas que mais afetam as infraestruturas de betão a nível nacional e internacional, salientam-se, ainda, os estudos relativos à caracterização de processos expansivos no betão em pontes, viadutos e barragens, bem como o acompanhamento dos sistemas de monitorização da corrosão, concebidos e instalados pelo LNEC, em pontes. Em termos de risco, o LNEC esteve envolvido na avaliação de risco sísmico no concelho de Almada e em edifícios escolares, e na elaboração das cartas de aptidão à construção das áreas Urbanas de Génese Ilegal (AUGI) do Vale do Forno e de suscetibilidade a movimentos de terrenos na Vertente Nascente do concelho de Odivelas. O LNEC tem apoiado a renovação do parque nacional de edifícios, com vista à obtenção de um parque imobiliário descarbonizado e de elevada eficiência energética (Despacho n.º 5172/2021, de 21 de maio). Na área dos túneis releva-se a assessoria técnica aos Planos de Expansão do Metropolitano de Lisboa (Linhas Circular, Vermelha e Violeta) e do Porto (Linhas Circular e Rubi), bem como ao projeto e ao acompanhamento da execução do Plano Geral de Drenagem de Lisboa. Na área da hidráulica e ambiente destacam-se os seguintes estudos: a definição das zonas inundáveis no âmbito bem como outras atividades científicas e técnicas necessárias ao progresso e à boa prática da engenharia civil. Exerce a sua ação, fundamentalmente, nos domínios da construção e obras públicas, da habitação e urbanismo, do ambiente, da gestão dos riscos, da indústria dos materiais, componentes e outros produtos para a construção e em áreas afins, visando a sua atividade, essencialmente, a qualidade e a segurança das obras, a proteção e a reabilitação do património natural e construído, bem como a modernização e a inovação tecnológicas do setor da construção. Tem vindo a apoiar os organismos públicos no controlo de qualidade dos projetos, da construção e da exploração de empreendimentos de interesse nacional, nomeadamente em casos de concessões envolvendo a sua conceção, construção e exploração, e a acompanhar os grandes empreendimentos. Através do estudo e da observação do comportamento das diferentes obras, recolhe dados e informações muito relevantes sobre as condições de segurança e de durabilidade das mesmas, o que tem permitido o desenvolvimento e o ensaio de novos produtos e de novas tecnologias. Tem, igualmente, promovido a difusão de conhecimentos e de resultados obtidos em atividades de investigação e de desenvolvimento tecnológico. Além disso, dedica-se à recolha, classificação, publicação e difusão de bibliografia e outros elementos de informação científica e técnica. Sabemos que o LNEC realiza ensaios e estudos em grande escala. Pode dar-nos exemplos de projetos recentes em que a instituição esteve envolvida? Salienta-se, a nível nacional, o apoio do LNEC às empresas EDP e Iberdrola na construção, instrumentação e primeiro enchimento das obras do Programa Nacional de Barragens de Elevado Potencial Hidroelétrico, designadaPlano Geral de Drenagem de Lisboa, Santa Apolónia.
ENTREVISTA 10 da delimitação da REN no concelho de Vila Franca de Xira, a observação sistemática das estruturas marítimas dos portos de Sines e do Algarve e da infraestrutura marítima do Aeroporto da Madeira, os ensaios em modelo reduzido do porto de S. Roque do Pico, a simulação da evolução da linha de costa e do galgamento oceânico para diferentes cenários de intervenção no trecho costeiro do Furadouro, e a avaliação do risco da produção e da utilização de água para reutilização nas ETAR. As novas tecnologias, como a inteligência artificial ou a IoT (Internet of Things), são já uma realidade no dia a dia do LNEC? Se sim, em que medida? Pode dar-nos exemplos concretos? A adoção e a utilização de tecnologias emergentes, como a Inteligência Artificial (IA) e a Internet das Coisas (IoT) permitem ao LNEC reforçar a qualidade e a segurança das obras, das pessoas e dos bens, bem como promover a economia, a proteção e a reabilitação do património natural e construído. O compromisso com a modernização e a inovação tecnológica está presente nas várias áreas de atuação do LNEC. Na área de infraestruturas e grandes obras, o LNEC utiliza diversos sensores IoT para recolher dados em tempo real sobre o comportamento estrutural de pontes, túneis, barragens, portos e edifícios, permitindo a sua monitorização e gestão. Esta informação é integrada em plataformas e analisada com recurso a algoritmos de IA capazes de detetar padrões, identificar anomalias e apoiar a implementação de estratégias de manutenção preventiva. Esta abordagem permite aumentar a segurança e reduzir custos operacionais. A aplicação da IA estende-se, também, a outras áreas de intervenção, como a conservação do património construído e a monitorização, análise e mitigação de riscos geotécnicos, como deslizamentos de terra e sismos. O LNEC tem, também, apostado na criação de gémeos digitais (Digital Twins) que, quando alimentados por dados em tempo real, permitem uma melhor monitorização e gestão, a simulação de cenários, a previsão de comportamentos e o apoio à decisão. Adicionalmente, recorre a recursos de computação avançada e de alto desempenho para processar grandes volumes de dados, essenciais para a análise, previsão e resposta a eventos extremos e acidentais, como cheias e derrames. De que forma a instituição colabora com universidades e outras entidades, nacionais ou internacionais? O LNEC desenvolve atividades de cooperação com diversas entidades, nacionais e estrangeiras, designadamente com universidades, laboratórios de estado e associados, institutos politécnicos, associações de carácter científico e técnico, concretizadas através da realização conjunta de atividades de interesse comum. No que diz respeito às instituições universitárias, a atividade de cooperação consiste na participação conjunta em projetos de investigação, na colaboração em ações de formação, no apoio e na orientação de dissertações de mestrado e de teses de doutoramento, na participação em provas públicas com vista à obtenção de graus académicos, na participação em júris de concursos das carreiras de investigação e docente universitária, e no contributo de investigadores/as do LNEC em atividades de docência universitária. A atividade de cooperação com os Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa e Timor-Leste tem sido enquadrada pelo convénio entre o LNEC e os laboratórios de engenharia civil desses países, com o título de ‘Programa de Capacitação dos Laboratórios de Engenharia da CPLP’. No âmbito desta cooperação nacional e internacional, o LNEC recebeu, em 2024, um total de 111 estagiários, oriundos dos seguintes países: Portugal, Alemanha, Angola, Bangladesh, Bélgica, Bolívia, Brasil, Emirados Árabes Unidos, Espanha, Filipinas, França, Guiné-Bissau, Itália, Marrocos, São Tomé e Príncipe, Síria e Suécia. Falando concretamente das grandes obras públicas que têm ocupado a agenda nos últimos anos – nomeadamente, o TGV e o novo aeroporto de Lisboa –, qual a intervenção do LNEC em ambas as infraestruturas? Que trabalhos/estudos realizaram para ambos os projetos e quais as principais dificuldades encontradas? Os estudos do Novo Aeroporto de Lisboa (NAL) iniciaram-se em 1999, para a NAER, na localização da Ota, tendo o LNEC desenvolvido quatro estudos nas áreas da geologia, da geotecnia e da hidráulica. A localização da Ota foi muito contestada, pelo que, em 2007, o LNEC foi mandatado (Despacho do MOPTC de 12 de junho de 2007) para coordenar a elaboração do estudo para Análise Técnica Comparada das Alternativas de Localização do novo aeroporto de Lisboa nas zonas da Ota e do Campo de Tiro de Alcochete (CTA). Este estudo permitiu concluir que a zona do CTA seria, globalmente, mais favorável do que a zona da Ota para a localização requerida. "O LNEC utiliza diversos sensores IoT para recolher dados em tempo real sobre o comportamento estrutural de pontes, túneis, barragens, portos e edifícios"
ENTREVISTA 11 O Governo, através de Resolução do Conselho de Ministros n.º 13/2008, homologou este relatório do LNEC, adotou as suas conclusões e recomendações, e aprovou, preliminarmente, a localização do NAL no CTA associada à solução rodoferroviária para a terceira travessia do Tejo Chelas-Barreiro. Por despacho do Ministro das Obras Públicas, Transportes e Comunicações, de 7 de fevereiro de 2008, o LNEC foi, ainda, mandatado para elaborar um relatório autónomo e objetivo referente a uma avaliação comparativa das alternativas existentes de travessia ferroviária do rio Tejo, na Área Metropolitana de Lisboa, pronunciando-se, em simultâneo, sobre a viabilidade e justificação para se associar uma componente rodoviária à referida travessia. Posteriormente, a NAER promoveu diversos estudos específicos para o projeto do NAL, bem como o respetivo processo de avaliação ambiental, dos quais foi contratada ao LNEC, em 2008, a elaboração dos programas de prospeção geotécnica, geofísica e hidrogeológica. Também, elaborou um relatório que suportou o processo de avaliação e a declaração ambiental desta infraestrutura. No âmbito das infraestruturas aeroportuárias, será prosseguido o processo de desenvolvimento do NAL e aumentada a capacidade do sistema aeroportuário da região de Lisboa, em particular no Aeroporto Humberto Delgado. O Relatório do Orçamento do Estado de 2025, refere que caberá ao LNEC a elaboração dos estudos de base para o desenvolvimento da referida solução aeroportuária em Lisboa. No âmbito da alta velocidade, a RAVE - Rede Ferroviária de Alta Velocidade, S. A. e o LNEC estabelecerem um protocolo de assessoria técnica especializada para o acompanhamento em todas fases deste empreendimento, a construir em Portugal, de acordo com o alcance e espírito dos despachos do Ministro das Obras Públicas, Transportes e Habitação, n.º 23184/2002 (2.ª Série), de 10 de outubro e n.º 3634/2004 (2.ª Serie), de 31 de dezembro. O LNEC participou, então, em diversas reuniões com as outras entidades consultoras da RAVE, e colaborou no estabelecimento das especificações técnicas para os projetos, bem como na elaboração do Caderno de Encargos para o concurso de conceção e construção da Terceira Travessia do Tejo em Lisboa. Quais as infraestruturas mais emblemáticas que já passaram pelos estudos e análises do LNEC? O LNEC foi fundamental para a realização dos estudos técnicos necessários para a construção das barragens. Desde o início do seu funcionamento, o estudo da resistência dos materiais a partir de modelos físicos demonstrou ser uma ferramenta que contribuiu, de forma efetiva, para o desenvolvimento do programa nacional de eletrificação e garantiu a este laboratório um reconhecimento internacional. Outra das obras emblemáticas do LNEC a nível internacional é a relativa à praia de Copacabana. As autoridades da cidade do Rio de Janeiro solicitaram um estudo para o alargamento da Avenida Atlântica, marginal à Praia de Copacabana, o qual envolvia uma praia longa em mar aberto, deste modo exposta à ação das ondas. Concluiu-se ser possível realizar esse alargamento mediante alimentação artificial e que esse alargamento se manteria estável. A intervenção contribuiu decisivamente para tornar a alimentação de praias uma técnica de proteção costeira mais divulgada internacionalmente. Na Ponte 25 de Abril sobre o rio Tejo, em Lisboa, o LNEC tem um histórico que remonta a 1959-1960, ao acompanhamento do desenvolvimento do projeto definitivo, tendo realizado estudos de investigação pioneiros, em Metro de Lisboa, estação de Santos.
ENTREVISTA 12 modelo físico e, especialmente, em modelo numérico, com recurso aos ‘modernos computadores eletrónicos’. O LNEC tem, desde então, prestado apoio à Infraestruturas de Portugal na gestão desta ponte, através do desenvolvimento contínuo de um modelo numérico, devidamente calibrado através dos resultados experimentais obtidos pelo sistema de sensores instalado, permitindo a monitorização contínua da sua integridade estrutural. Esta duas ferramentas - o modelo numérico da ponte e o sistema de monitorização - têm permitido uma intervenção de consultoria do LNEC em questões diversas, sendo de destacar o apoio prestado na recente fase de reabilitação da ponte, desde o diagnóstico das causas das anomalias que se verificavam, passando pelas fases de projeto e da realização da obra, até à fase de confirmação da efetividade das opções de reabilitação tomadas. Mais recentemente, releva a intervenção do LNEC após o acidente de junho de 2000 no túnel do Metropolitano de Lisboa durante a execução da Estação do Terreiro do Paço. No decurso da execução de furos no interior do túnel, com vista à execução da Estação do Terreiro do Paço, ocorreu um incidente, em consequência do qual se procedeu, de imediato, ao enchimento, com água, do troço do túnel entre o Poço da Marinha e o poço de ventilação, junto à Alfândega. O LNEC, após este acidente, assegurou uma consultoria permanente, que permitiu definir soluções de estabilização do troço do túnel afetado e dos solos adjacentes. Realizou, ainda, estudos de avaliação do potencial de liquefação das formações aluvionares locais, e procedeu ao acompanhamento do projeto de reforço do túnel elaborado pela empresa holandesa ‘TEC’ e da sua implementação, bem como do projeto da nova estação do Metropolitano. De que forma o LNEC garante que as suas recomendações e relatórios influenciem positivamente as decisões em projetos de construção e infraestruturas? Como referido anteriormente, o LNEC, de acordo com a alínea f) do art.º 3.º da sua lei orgânica (Decreto-Lei n.º 422/99, de 21 de outubro), tem como atribuição ‘Apoiar os organismos públicos no controlo de qualidade dos projetos, da construção e da exploração de empreendimentos de interesse nacional, nomeadamente em casos de concessões envolvendo a sua conceção, construção e exploração, e acompanhar os grandes empreendimentos em que o ministério da tutela esteja envolvido’. Por outro lado, o Regulamento de Segurança de Barragens (Decreto-Lei n.º 21/2018, de 28 de março) no ponto 2 do art.º 5º indica o LNEC como consultor da Autoridade em matéria de controlo de segurança das barragens. Deste modo, são lhe conferidas atribuições legais especiais que, neste contexto, influenciam positivamente os projetos de construção e de infraestruturas. Também a criação da marca de qualidade LNEC (MQ LNEC) para empreendimentos da construção, através do Decreto-Lei n.º 310/90, de 1 de outubro, visa integrar formalmente as recomendações do LNEC através de uma adoção generalizada de procedimentos de certificação, designadamente na área dos produtos da construção, bem como da certificação dos próprios empreendimentos de construção encarados como produtos finais de todo o processo construtivo, tendo em vista a respetiva valorização social, técnica e económica. Saliento, adicionalmente, que um forte impacto da atuação do LNEC na construção advém da sua competência e multidisciplinaridade, mobilizando saberes complementares e, também, do seu papel de avaliação e como promotor de inovação, que permite o desenvolvimento sustentável e seguro da construção, moderando iniciativas de maior risco e potenciando alterações que contribuam para a afirmação do país. Poderia explicar-nos o papel do LNEC no desenvolvimento de normas técnicas e regulamentos em Portugal? O LNEC tem participado na preparação e acompanhado a aplicação da principal regulamentação técnica da construção portuguesa. Destacam-se, a este respeito, quatro áreas de atuação: (i) a sua participação, há mais de sete décadas, nas comissões técnicas que elaboraram os principais regulamentos de construção portugueses; (ii) a emissão de pareceres e o esclarecimento de dúvidas sobre a aplicação dos regulamentos de construção; (iii) o desenvolvimento de estudos sobre a organização e a formulação da regulamentação técnica da construção Metro de Lisboa, troço 1a e 1b Av. D. Carlos I.
ENTREVISTA 13 em Portugal e em vários países europeus; e (iv) ciente do número crescente de diplomas que constituem o quadro legal e regulamentar da construção, a publicação, desde 1970, de relações regulares das disposições legais aplicáveis ao projeto e à execução das obras. Mais recentemente, o LNEC liderou o desenvolvimento do ‘SILUC – Sistema de informação da legislação do urbanismo e da construção’, lançado em fevereiro de 2022. Em Portugal, as competências de produção da regulamentação da construção encontram-se distribuídas por diversos níveis e entidades, não existindo, desde a extinção do Conselho Superior de Obras Públicas e Transportes, em 2006, uma entidade que assegure a supervisão e coordenação geral dessa produção. O LNEC encontra-se a desenvolver estudos com vista à elaboração do Código da Construção, que virá a permitir a diminuição da extensão, da dispersão, da fragmentação e da complexidade do quadro regulamentar das normas técnicas de construção em vigor. Garantirá, igualmente, a coordenação da elaboração dos documentos nacionais de aplicação relativos aos eurocódigos estruturais. O LNEC tem, ainda, cumprindo a sua missão de reunir saber estudado, e participado ativamente no desenvolvimento deste tipo de regulamentação em Portugal e no estrangeiro, a nível europeu e internacional, e tem acompanhado e intervindo em inúmeras comissões técnicas europeias. Sabe-se que o setor da construção representa cerca de 35% das emissões de gases com efeito de estufa a nível global. Como é que a emergência das alterações climáticas impacta o setor da construção e obras públicas e de que forma é que o LNEC está a abordar esta problemática? A emergência climática está a afetar muito significativamente o setor da construção exigindo uma reconversão profunda para redução dos impactos ambientais, designadamente, em termos de: • Melhoria da eficiência energética dos edifícios, de modo a reduzir significativamente os consumos energéticos, aumentando o conforto. Estes objetivos implicam o desenvolvimento e a aplicação de sistemas passivos, nomeadamente sistemas de isolamento térmico de alto desempenho, como os ETICS, os sistemas com painéis isolantes e as janelas com elevada capacidade isolante. • Utilização de materiais com menor geração de emissões na sua produção e no seu uso. As indústrias do cimento e dos materiais cimentícios têm vindo a desenvolver cimentos com composições que garantem menores emissões e materiais cimentícios que incorporem produtos reciclados, principalmente resíduos de construção e demolição (RCD), inserindo-se, assim, numa economia circular. Estas indústrias, como outras do setor da construção, têm também procurado adotar estratégias de captura de CO2. • Construção com menor desperdício, através de uma maior prefabricação, da utilização de novas tecnologias, da aplicação de biomateriais e do uso de materiais e estruturas mais duráveis. Por outro lado, a emergência climática acresce novas necessidades, principalmente devido ao aumento dos eventos climáticos extremos e, designadamente, a conceção de edifícios mais resilientes aos incêndios, às cheias e aos ventos ciclónicos. O LNEC, no âmbito de projetos de investigação financiados, a nível nacional ou europeu, mas também de projetos autofinanciados, tem contribuído para dar resposta a todos estes problemas, em articulação com as empresas do setor e com outros parceiros de investigação, e em consonância com as solicitações da sociedade, através do desenvolvimento de investigação em todas as áreas referidas e do apoio a empresas do setor da construção, através da avaliação técnica, a nível nacional (Documentos de Homologação e de Aplicação) e europeu (Avaliações Técnicas Europeias), de sistemas de construção sustentáveis e de baixa energia incorporada, comprovando de forma objetiva, com base em guias e normas europeias, a sua adequação ao uso. Até que ponto a reutilização de materiais resultantes de demolição, já praticada noutros países, poderia contribuir para a mitigação destas emissões? Porque não reutilizamos mais resíduos de demolição nas novas construções em Portugal? Diversas abordagens visando a redução das emissões globais do ambiente construído têm sido estudadas nas fases de conceção, construção, desconstrução/demolição e fim de vida, complementadas com a avaliação da soma total das emissões e remoções de gases com efeito de estufa (GEE), tanto operacionais como incorporadas. No que respeita à abordagem de recuperação de recursos resultantes da demolição e reabilitação de edifícios e de infraestruturas, reconhece-se que esta se centrou inicialmente na reciclagem dos RCD. Contudo, a prevenção da produção de resíduos e a reutilização dos materiais/ elementos de construção, decorrente das ações preferenciais da hierarquia dos resíduos, tem vindo a ganhar um espaço cada vez mais relevante em diversos países, dado que a reutilização pode evitar a classificação dos
ENTREVISTA 14 materiais/elementos de construção como resíduos e diminuir o carbono incorporado, visto que estes recursos não entram novamente na fase de produção. O LNEC tem acompanhado de perto a relevância este tema para a descarbonização do ambiente construído. Neste âmbito, o Guia Português de Auditorias Pré-Demolição, desenvolvido no âmbito do projeto CLOSER – Close to Resources Recovery promovido por este laboratório nacional, integra um inventário que abrange, além da reciclagem de RCD, a reutilização de materiais/elementos de construção. Deste modo, pretende generalizar-se a reutilização na demolição e na reabilitação de edifícios, nomeadamente pela recuperação de pavimentos, divisórias, telhas, tetos falsos, entre outros. Como principais desafios à reutilização destacam-se os seguintes aspetos: • A falta de estabelecimento de metas ambiciosas para a obrigatoriedade de utilização de materiais reciclados e da reutilização de recursos em obra; • A necessidade de realização das auditorias anteriormente referidas e da implementação de uma desconstrução bem planeada, resultante da triagem adequada de todos os recursos existentes; • A importância da criação de uma plataforma nacional única, listando e localizando os recursos a reutilizar; • A disseminação de documentação técnica sobre reutilização, uma área em que o LNEC também desenvolve atividade. Por último, é de referir que se tem assistido a diversos casos de estudo de reutilização adaptativa que priorizam o património construído e o seu valor cultural, transformando grandes edifícios abandonados e regenerando o ambiente urbano. É o caso da central termoelétrica Central Tejo, em Lisboa, convertida no Museu da Eletricidade, ou de um depósito de carvão do século XIX, o Coal Drops Yard em Londres, transformado numa área comercial. Quais as razões para as empresas de construção não estarem a apostar mais em métodos construtivos e materiais mais sustentáveis? É uma questão de falta de conhecimento por parte dos construtores? Devido a preocupações ambientais, à escassez de mão de obra qualificada e às oportunidades que advém da digitalização, designadamente, com recurso a BIM, e da industrialização do setor, atualmente algumas empresas de construção estão já a apostar em métodos construtivos mais sustentáveis com recurso a materiais alternativos e renováveis, como por exemplo a madeira, e que permitem facilmente a adaptação dos espaços e a reutilização dos materiais ou produtos. Um dos exemplos é a construção modular, que promove a industrialização, a aceleração de processos, a otimização de recursos com redução de desperdícios de matérias primas, a utilização de materiais reciclados, a diminuição dos impactes da construção, a reconversão e fixação de mão de obra especializado no local da produção, e a implementação de processos de produção mais eficientes. Neste âmbito, importa também referir os avanços na área dos pavimentos, onde têm sido apresentadas e implementadas soluções para reduzir o consumo de materiais naturais e a quantidade de resíduos gerados, através da valorização dos materiais removidos da camada de desgaste dos pavimentos, mediante o melhoramento de centrais de produção de misturas betuminosas, a funcionar a energia elétrica e com capacidade para a reutilização, numa maior taxa, dos materiais provenientes da fresagem de pavimentos em processo de reabilitação, permitindo a sua reintrodução no processo de fabrico de novas misturas betuminosas a aplicar nas novas camadas de pavimentos, ou a implementação de misturas recicladas de betume e espuma na reabilitação sustentável de infraestruturas rodoviárias. No entanto, esta reconversão do setor da construção para a circularidade e para a sustentabilidade esbarra, no meu entender, com três tipos fatores: (i) a necessidade de investimentos em termos de equipamentos e de instalações e na contratação/formação de recursos humanos especializados, (ii) as dificuldades de acesso a materiais a reutilizar em condições económicas, devido a falta de
ENTREVISTA 15 informação e ao baixo custo dos materiais naturais, e (iii) a falta de incentivos económicos e legais para que esta alteração se possa concretizar. Deste modo, o conhecimento está, em muitos casos, disponível, mas as alterações estruturais que permitam a sua implementação em grande escala não são, ainda, acessíveis a todos. O LNEC realiza iniciativas de formação e de divulgação científica. Consideram que estas iniciativas têm sido bem recebidas pelos engenheiros e empresas do setor? O LNEC realiza, sozinho ou em colaboração com outras entidades, muito frequentemente e com regularidade, cursos de pequena duração e ações de formação técnico científica, bem como ações de divulgação dos resultados dos seus projetos de investigação, de modo a envolver toda a comunidade técnica e científica. A julgar pela frequência destas ações, em que geralmente é atingido o limite máximo estabelecido para as referidas ações, e pelo retorno dos respetivos participantes, estas são muito bem recebidas pelo setor. Quais são as tendências emergentes na engenharia civil que o LNEC acredita serem cruciais para o futuro do setor? Apresento, seguidamente, uma síntese destas tendências, algumas das quais já mencionadas: • Construção: desenvolvimento de produtos e procedimentos inovadores para responder às necessidades da sociedade em termos de qualidade e sustentabilidade no ambiente construído. • Indústria 4.0: produção, exploração e gestão de informação e desenvolvimento de sistemas de informação de apoio à decisão, que inclui a transição digital na construção, a exploração de Big Data e a análise de dados. • Economia circular: promoção da sustentabilidade na exploração e reutilização dos recursos naturais e patrimoniais, fechando ciclos e evitando o desperdício. • Alterações climáticas: exploração e redução de incertezas, gestão de riscos, aumento da resiliência técnica, social e económica, mitigação e adaptação. Quais têm sido os principais desafios enfrentados pelo LNEC na realização do seu trabalho? Um dos principais desafios do LNEC prende-se com a sua gestão financeira e os obstáculos operacionais decorrentes de um insuficiente grau de flexibilidade com que se defronta uma instituição pública de investigação, que não pode deixar de angariar receitas próprias e cuja envolvente, tanto nacional como internacional, se confirma progressivamente mais dinâmica e exigente. Outro desafio é o relativo à disponibilidade e ao rejuvenescimento de recursos humanos diretamente envolvidos na prossecução de atividades de ciência e tecnologia. Estas preocupações decorrem da constatação de uma progressiva escassez de pessoas com o perfil científico e técnico indispensável para a satisfação do vasto leque de solicitações que são dirigidas ao LNEC no âmbito da missão que lhe está atribuída. Essa escassez, não apenas implicará uma sensível falta de capacidade de resposta com sustentação da qualidade que lhe é exigida, como também poderá determinar a impossibilidade de exercer alguns tipos de atividades. Poderá, também, conduzir à incapacidade de transferir para as novas gerações todo um capital de experiência acumulado e à perda de valências profissionais indispensáveis às suas funções. Para ultrapassar estes problemas urge agilizar a resposta atempada às necessidades decorrentes da sua missão, aumentar a sua autonomia, flexibilizar a gestão dos recursos humanos, utilizar eficazmente os meios patrimoniais e implementar dispositivos que contribuam para a sua sustentabilidade financeira. Há, deste modo, que preparar o LNEC para novos desafios, promovendo uma cultura de abertura e diversidade, e encontrar o melhor caminho para continuar a ser um centro de excelência e uma instituição de referência no domínio da engenharia civil. Existem planos para expandir a atuação do LNEC para áreas ou tecnologias que ainda não são exploradas pela instituição? Numa instituição de investigação a expansão para áreas ou tecnologias ainda não existentes é uma consequência natural da evolução científica e técnica e está associada à necessidade de dar uma melhor resposta à sociedade. Esta evolução é, em geral, contínua, progressiva e, muitas vezes, decorrente de desafios que os investigadores identificam, ou o Estado, os parceiros e os clientes colocam. Apesar de não ser facilmente visível, o LNEC presentemente integra um total de 22 domínios de investigação de diversas áreas da engenharia (civil, química, mecânica, eletrotécnica, informática, de materiais, geográfica, ambiental, geológica), da arquitetura e urbanismo, das ciências sociais e da matemática, entre outras. Serão bem-vindos outros profissionais, se necessários e complementares. n
16 BAUMA 2025 IMPULSIONA O SETOR E GERA UM ESPÍRITO DE OTIMISMO Nem todas as feiras comerciais servem como indicador do setor a que se destinam, mas a Bauma 2025 conseguiu sê-lo, mais uma vez. A principal feira mundial de máquinas de construção, obras públicas e mineração decorreu com grande sucesso de 7 a 13 de abril, em Munique. Numa época de grandes desafios a nível global, a Bauma continua a ser não só um palco imbatível para a apresentação de inovações pioneiras e novas colaborações, como também uma importante fonte de inspiração e uma demonstração do potencial do setor. Com cerca de 600 mil visitantes de mais de 200 países e 3.601 expositores de 57 nações, a Bauma 2025 provou ser um encontro sólido do setor e uma plataforma com visão de futuro em tempos turbulentos. Stefan Rummel, diretor executivo da Messe München, está encantado com o resultado desta edição: "A Bauma é o motor do setor e demonstrou mais uma vez a importância do intercâmbio e do encontro pessoal para o progresso e comércio global. O recinto de feiras de Munique voltou a transmitir um forte sinal de confiança a todo o setor". UM MOTOR FUNDAMENTAL PARA A INDÚSTRIA E UMA REFERÊNCIA NO SETOR Muitos expositores confirmaram que a Bauma marca o ritmo da indústria, tanto A Bauma 2025 contou com 614.000 metros quadrados de área de exposição.
17 em conteúdo como em emoção, especialmente no que diz respeito à sustentabilidade e outras tendências do mercado. Erich Sennebogen, proprietário da Sennebogen, faz um balanço muito positivo desta edição: "A Bauma 2025 representa um forte impulso para a indústria, com a Sennebogen a representar o seu ‘coração verde’. Estamos muito satisfeitos com o ambiente positivo que se viveu, algo que não esperávamos desta forma. Consideramos que a Bauma pode ser um impulso positivo para a reativação do setor da construção, bem como de manuseamento de materiais, tanto na Alemanha como a nível internacional". Por seu lado, Holger Schulz, diretor- -geral da Zeppelin (CAT), também destaca a importância da Bauma como feira líder e plataforma de inovação: "O que há de mais importante na indústria da construção e da mineração alemã, europeia e internacional reúne-se na Bauma. Mais uma vez, a feira demonstrou o seu estatuto de líder e tornou-se o motor do setor. Os sete dias de feira são uma verdadeira descarga de adrenalina. Para nós, a Bauma é a melhor plataforma de vendas do mundo. A sustentabilidade — o funcionamento sustentável das máquinas e das obras de construção com os sistemas de acionamento e as soluções de armazenamento de energia mais avançados — continua a ser um tema importante. Além disso, também está incluída toda a oferta de obras e máquinas de construção interligadas". FOCO NAS TENDÊNCIAS FUTURAS Wolfgang Sochor, CEO da Hawe Hydraulik, também vê confirmadas as tendências tecnológicas: "A Bauma 2025 demonstrou de forma impressionante que tendências como a redução de CO2 e os acionamentos alternativos se consolidaram no setor". Steffen Günther, membro do Conselho de Administração da Liebherr-International AG, acrescenta: "Na Bauma, apresentamos vários temas importantes para o futuro, como a tecnologia de acionamento e a autonomia. Para nós, a Bauma é muito mais do que uma simples feira: é a plataforma onde o futuro do setor se torna tangível. O meu ponto alto pessoal foi o nosso lema da Bauma: 'Mãos à obra com o futuro'. Para nós, não é apenas uma frase, mas uma atitude, que também foi muito bem recebida pelos nossos clientes". PLATAFORMA EMPRESARIAL COM IMPACTO GLOBAL Durante o evento, ficou claro que a Bauma não é apenas um ponto de encontro, mas, acima de tudo, um motor de negócios. Robert Hauser, diretor-geral da Doka, resume: "A parti3.601 expositores de 57 países puderam apresentar as suas últimas inovações tecnológicas na Bauma.
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