2023/1 10 Chiller para Arrefecimento de Água • Solução Ecológica com Gás não Tóxico. • Comando com Ecrã Tátil de 7”. • Funcionamento com água até -12°C. • Temperatura exterior até 46°C. • Eficiência energética comprovada. Lisboa: 214 146 200 | Porto: 226 069 764 | comercial.pt@trane.com Fevereiro 2023 - Nº10 Preço:11 € | Periodicidade: 5 edições por ano
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6 Edição, Redação e Propriedade INDUGLOBAL, UNIPESSOAL, LDA. Avenida Barbosa du Bocage, 87 4º Piso, Gabinete nº 4 1050 - 030 Lisboa (Portugal) Telefone (+351) 217 615 724 E-mail: geral@interempresas.net NIF PT503623768 Gerente Aleix Torné Detentora do capital da empresa Nova Àgora Grup, S.L. (100%) Diretora Ana Clara Equipa Editorial Sónia Ramalho, Alexandra Costa, David Pozo, Ángel Pérez Marketing e Publicidade Frederico Mascarenhas e Hélder Marques www.agriterra.pt Preço de cada exemplar 11 € (IVA incl.) Assinatura anual 55 € (IVA incl.) Registo da Editora 219962 Registo na ERC 127451 Déposito Legal 471809/20 Distribuição total +5.300 envios Distribuição digital a +4.200 profissionais. Tiragem +1.100 cópias em papel Edição Número 10 – Fevereiro de 2023 Estatuto Editorial disponível em www.agriterra.pt/EstatutoEditorial.asp Impressão e acabamento Gráficas Andalusí, S.L. Camino Nuevo de Peligros, s/n - Pol. Zárate 18210 Peligros - Granada (España) www.graficasandalusi.com Media Partners: Membro Ativo: Os trabalhos assinados são da exclusiva responsabilidade dos seus autores. É proibida a reprodução total ou parcial dos conteúdos editoriais desta revista sem a prévia autorização do editor. A redação da Agriterra adotou as regras do Novo Acordo Ortográfico. SUMÁRIO ATUALIDADE 7 EDITORIAL 7 Profissionais do setor reunidos para debater constrangimentos e novas oportunidades de negócio 16 Entrevista com Carlos Silva, Administrador Executivo da InvestBraga 22 A “monocultura” do abacateiro e a biodiversidade 26 Abacate: uma excelente alternativa 32 BKT olha para o futuro com ambição 38 New Holland repete liderança no mercado de tratores 42 CLAAS bate recorde de faturação e espera “crescimento significativo” em 2023 44 Kubota investe na Clarifruit, fornecedor de soluções de controlo de qualidade de frutas e legumes 46 Semear, monitorizar e colher o futuro da Agricultura e da Herculano 48 Depois dos bio estimulantes, os micro-organismos 50 Biofrade: desde 1998 a defender a agricultura biológica 52 Quão longe estamos da meta? 56 Notícias do passado da produção biológica vegetal e o caminho do BPGV no seu futuro 60 Montado: as potencialidades que podem travar a desertificação no Sul de Portugal 68 Captura de carbono no solo e na matéria vegetal como instrumento para redução das emissões 70 Pegada de carbono na viticultura: o potencial das práticas agrícolas no sequestro de carbono 72 Avelã: oportunidade e alternativa rentável 76 Índices espetrais em cereais de inverno: NDVI 81
7 EDITORIAL A par da instabilidade política que se tem vivido no setor agrícola em Portugal, o início de 2023 foi marcado pela realização do XIV Congresso Nacional do Milho, onde mais de 900 profissionais do setor debateram os constrangimentos que os afetam no dia a dia, mas também as novas oportunidades de negócio. “Quando vem uma crise há dinheiro a ganhar e é aqui que devemos atuar nesta transição energética”, notou João Coimbra, diretor da ANPROMIS, que defendeu que o agricultor “não é mais do que um agente energético”. Mas a pergunta que se impõe é: como é que isso pode dar dinheiro? Para descobrir na reportagem dedicada ao evento, que assinalou ainda os 35 anos da Associação Nacional dos Produtores de Milho e Sorgo. Já a nível de emergência climática e ambiental, a União Europeia tem procurado dar respostas e quer tornar-se o primeiro continente no mundo com um impacto neutro no clima. Mas qual a situação atual e quão longe estamos dessa meta? Em Portugal, a Estratégia Nacional para a Agricultura Biológica (ENAB) passa por duplicar o modo de produção biológico, mas será que está a ser conseguido? Para descobrir nesta edição, em que recuperamos as origens e a evolução da agricultura biológica em Portugal e analisamos qual o papel do Banco Português de Germoplasma Vegetal para o seu futuro. Destaque ainda para um artigo sobre o forte crescimento, nos últimos anos, da área plantada com abacateiros em vários países. E em Portugal, será que se pode falar em “monocultura”? E os riscos para a biodiversidade? Para descobrir na primeira edição ano da Agriterra, que explicamos o que tem de tão especial este “fruto da moda” e porque atinge cada vez mais reconhecimento mundial. Destaque também para as 12 vantagens do montado e quais as suas potencialidades para travar a desertificação no sul de Portugal. Boas leituras. O futuro da agricultura biológica Projeto europeu focado na monitorização avançada da biodiversidade já começou O BioMonitor4CAP é um projeto que visa desenvolver a monitorização avançada da biodiversidade para demonstrar as práticas e políticas agrícolas que funcionammelhor na conservação da biodiversidade agrícola. Vinte e três organizações parceiras de 10 países europeus e do Peru participam neste projeto financiado pelo programa de investigação e inovação Horizonte Europa. O projeto irá testar, validar e desenvolver sistemas de monitorização da biodiversidade, acessíveis e seguros, que funcionem tanto em terrenos agrícolas, quanto em locais Natura 2000. Estes sistemas irão combinar sistemas clássicos de indicadores de biodiversidade com abordagens mais tecnológicas, como abordagens acústicas, óticas ou moleculares. O projeto irá desenvolver tambémmodelos de previsão para recomendar mudanças na gestão agrícola de forma a melhorar a biodiversidade. “Esses sistemas de monitorização da biodiversidade são necessários para implementar políticas com base em evidência científica nas paisagens agrícolas europeias”, dizem Nils Borchard, DLG (Deutsche Landwirtschafts-Gesellschaft – Sociedade Agrícola Alemã) e Christoph Scherber, LIB (Leibniz-Institut zur Analyse des Biodiversitätswandels - Instituto Leibniz para a Análise da Mudança da Biodiversidade). O projeto envolve vários grupos de stakeholders para garantir a implementação e o sucesso destes novos sistemas de monitorização de biodiversidade. O Food4Sustainability irá contribuir para o desenvolvimento de sistemas de gestão da biodiversidade e irá implementar ensaios experimentais e de demonstração para apoiar a transformação agrícola na União Europeia.
8 ATUALIDADE MAIS NOTÍCIAS DO SETOR EM: WWW.AGRITERRA.PT • SUBSCREVA A NOSSA NEWSLETTER CYR compra a empresa Tractor Caldas nas Caldas da Rainha A estratégia da CYR a longo prazo baseia-se na consolidação da sua presença nos setores agrícola e agroindustrial, oferecendo aos industriais do setor uma oferta suportada emmarcas de qualidade reconhecidas internacionalmente, e que constituam soluções que comportem acréscimo de valor para os seus clientes. Fruto da sua dedicação nos últimos três anos a mais uma área de atividade, o fornecimento de peças e componentes para máquinas agrícolas, surgiu a oportunidade de aquisição da empresa Tractor Caldas, Lda, a qual é uma referência na região Oeste no fornecimento destas peças, o que possibilitará passar a oferecer aos clientes deste setor dois pontos de contacto, e um stock acrescido destas peças. Esta aquisição, que agora se concretiza, visa disponibilizar aos atuais clientes da CYR e da Tractor Caldas o acesso a um stock de peças de maquinas agrícolas acrescido e melhorar a capacidade de resposta às suas necessidades. A aposta da CYR na Tractor Caldas não se vai limitar à atual oferta desta empresa. A Tractor Caldas será a referência na região oeste em produtos para o apoio à agricultura e às industrias alimentares, o que significa que à atual gama existente de peças para máquinas agrícolas, serão adicionadas linhas de produtos das marcas representadas pela CYR, como os rolamentos NTN e JTEKT, mangueiras industriais CONTINENTAL, pneumática SMC, vedantes CORTECO, elétrodos FUSIONPOINT, ferramentas WERA, rótulas DURBAL e abrasivos SPARKFLEX, além de outros produtos, procurando ser um fornecedor global para os clientes destas áreas de negócio. Significa ainda uma aposta mais forte na hidráulica, seja na cravação de tubos para a agricultura e industria, onde se irá alargar a gama de tubos e acessórios para ter uma resposta mais rápida, seja na oferta de acessórios e componentes de hidráulica aplicada, e uma aposta na automação pneumática, fundamental para a industria, setor alimentar e não só. Na Tractor Caldas manter-se-á a mesma equipa, a qual será reforçada e usufruirá de um vasto programa de formação técnico e de produto, quer interno quer das marcas, para conseguir prestar um melhor serviço ao cliente, apoiada pelos recursos técnicos disponibilizados pela CYR e pelas marcas representadas. Bolonha é palco de workshop sobre segurança alimentar e a adaptação agrícola O workshop está agendado para os dias 15 e 16 de março de 2023, em Bolonha, Itália. O workshop, com organização da Rede Europeia da PAC, tem como tema ‘Melhorar a segurança alimentar sob mudanças nos padrões climáticos: adaptação agrícola’ e vai focar-se na troca de conhecimentos e na partilha de práticas e abordagens inovadoras e inspiradoras que podem ajudar os agricultores a adaptarem-se às alterações que se verificam nos padrões climáticos. O evento acontecerá numa região exposta aos desafios relacionados ao tema do workshop. A região da EmiliaRomagna é afetada por eventos climáticos extremos, com alto impacto nos rendimentos, qualidade e estabilidade das produções agrícolas. Os projetos de pesquisa e inovação, Grupos Operacionais EIP-AGRI e outros tipos de projetos inovadores na área estão a abordar esses impactos, procurando melhorar a capacidade adaptativa e apoiando as decisões dos agricultores e construindo soluções específicas na gestão da água, como sistemas de irrigação aprimorados.
Um Papel Mulch, para ajudar o Planeta
10 ATUALIDADE MAIS NOTÍCIAS DO SETOR EM: WWW.AGRITERRA.PT • SUBSCREVA A NOSSA NEWSLETTER Consórcio conquista 12 milhões de euros para desenvolver estrutura de monitorização do solo O desenvolvimento, em 24 Living Labs europeus, de uma estrutura de monitorização do solo que seja transparente, harmonizada, económica e que permita a avaliação em várias escalas e por utilizadores diferentes é o objetivo do Benchmarks, projeto em que participa o Departamento de Ciências da Vida (DCV) da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC), agora financiado com 12 milhões de euros. O projeto teve início em janeiro de 2023, e “pretende trabalhar dentro da missão europeia ‘Soil Health and Food’ (alimentação e saúde do solo) que estabeleceu a meta de ter na Europa 75% dos solos saudáveis ou significativamente melhorados até ao início da próxima década”, revela Luís Cunha, investigador responsável pelo projeto na Universidade de Coimbra. “O Benchmarks foi também desenvolvido em linha com o Pacto Ecológico Europeu (Green Deal) e a Estratégia do Prado ao Prato (Farm-to-Fork), bem como os preparativos para uma nova lei da União Europeia sobre a proteção da saúde do solo”, denota. Com um período de execução de cinco anos, o Benchmarks vai estabelecer indicadores que requerem uma metodologia multidisciplinar, desde o uso de métodos focados nas propriedades físico-químicas do solo passando também pela biologia e bioquímica. Por outro lado, o foco a várias escalas exige a inclusão de métodos desde a biologia molecular até métodos de deteção remota e sistemas de informação geográfica (SIG). Este é um projeto Horizonte 2020 que envolve países como Portugal, Áustria, República Checa, Finlândia, França, Itália, Países Baixos, Noruega, Espanha, Suíça e Alemanha, "o que reflete uma grande diversidade cultural e profundamente multidisciplinar", conclui o investigador da FCTUC. Viseu recebe V Colóquio Nacional de Horticultura Biológica Evento está agendado para 11 e 12 de maio, no Instituto Politécnico de Viseu. Segundo a organização, o objetivo do colóquio passa por promover o intercâmbio de informação entre investigadores, técnicos e agentes do setor; divulgar os avanços técnico-científicos nos temas a abordar; envolver a comunidade nas questões políticas nacionais e europeias relacionadas com a produção e consumo dos produtos e identificar linhas de trabalho e de investigação que possam contribuir para o desenvolvimento de estratégias ambiental e socialmente sustentáveis. Esta é uma iniciativa da Associação Portuguesa de Horticultura (APH), em parceria com a Escola Superior Agrária de Viseu (ESAV), a Direção Regional de Agricultura e Pescas do Centro (DRAPC), e com o apoio da Câmara Municipal de Viseu. Recorde-se que o primeiro Colóquio Nacional de Horticultura Biológica (CNHB) teve lugar em Coimbra, em 2003. Após 20 anos e com três edições pelo meio, Lisboa (2007), Braga (2011) e Faro (2016), a realização do VCNHB torna-se premente tendo em atenção que, nos últimos anos, o modo de produção biológico teve uma evolução muito acentuada, quer ao nível de área de produção, quer do número de operadores. Mais informações aqui: https://aphorticultura.pt/eventos/VCNHB/index.html.
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12 ATUALIDADE MAIS NOTÍCIAS DO SETOR EM: WWW.AGRITERRA.PT • SUBSCREVA A NOSSA NEWSLETTER Portugal tem projetos inovadores no regadio e na gestão de albufeiras A Direção-Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural (DGADR) tem promovido e apoiado vários projetos inovadores, que incluem o recurso a novas tecnologias na gestão do regadio e albufeiras. Destaca-se, desde logo, o projeto do Grupo Operacional Regadio de Precisão, criado no âmbito da Parceria Europeia de Inovação para a Produtividade e Sustentabilidade Agrícolas (PEI AGRI), financiado pelo PDR 2020, que desenvolveu um sistema integrado de agricultura de precisão, permitindo a recolha de dados de cada parcela, nomeadamente no que diz respeito à aplicação da água e aos fatores de produção de forma diferenciada (correções de solos, fertilização, entre outros). Este sistema, designado por Pack VRI, integra tecnologia inovadora de monitorização, com recurso a sondas de humidade do solo, estações meteorológicas, mapas de condutividade elétrica, entre outros. A aplicação desta tecnologia possibilitou uma produção mais homogénea ao longo das campanhas, potenciando o aumento da produção nas zonas mais problemáticas e uma maior eficiência na aplicação dos recursos hídricos. Assim, e no atual contexto de incerteza associada à variabilidade do regime pluviométrico em Portugal, outros projetos têm surgido com o intuito de permitir o aumento da eficiência da gestão dos recursos hídricos, em particular, durante os períodos de escassez, como, por exemplo, o OMEGA - Otimização da Gestão de Albufeiras. O OMEGA é um projeto do Grupo Operacional que consiste numa plataforma de apoio à gestão da água armazenada nas albufeiras hidroagrícolas e que disponibiliza, em tempo real, a informação gerada por modelos hidrológicos e meteorológicos de alta resolução, permitindo aumentar a capacidade de previsão dos caudais afluentes, as disponibilidades hídricas e a qualidade do recurso armazenado. Por último, destaca-se o Sistema de Apoio à Gestão de Regadio e de Informação Agrícola (SAGRIA), projeto em desenvolvimento pela DGADR que visa disponibilizar acesso à informação atualizada relativa aos aproveitamentos hidroagrícolas (por exemplo, ocupação cultural, consumos de água, informação económico-financeira, informação sobre cadastro, segurança de barragens). Ao longo do ano de 2023, o projeto disponibilizará uma ferramenta que, através da recolha e tratamento da informação das associações de regantes e beneficiários, entre outros, contribuirá para a melhoria da gestão da água e para o aumento da eficiência hídrica e energética nos aproveitamentos hidroagrícolas portugueses, incluindo os de fins múltiplos. Este sistema permitirá ainda avaliar a aptidão para as diferentes culturas agrícolas, apoiar e caracterizar o ordenamento do território nas áreas abrangidas por essas infraestruturas (perímetros de rega), efetuar a avaliação global do funcionamento das infraestruturas hidroagrícolas e identificar os pontos críticos, com vista à sua correção e melhoria. “O aumento da eficiência e gestão dos recursos hídricos disponíveis para o regadio é um dos maiores desafios do setor agrícola e cada vez mais se torna evidente a necessidade de apostar em soluções eficientes e competitivas. Ciente das dificuldades que a agricultura enfrenta atualmente, a Direção-Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural tem incentivado a utilização de métodos inovadores e da tecnologia em projetos que visam não só contribuir para o desenvolvimento do agronegócio, mas também garantir a sustentabilidade das práticas utilizadas”, explica Rogério Ferreira, Diretor-Geral da DGADR. Mais informações sobre estes e outros projetos apoiados pela DGADR em https://www.dgadr.gov.pt/ e em https:// inovacao.rederural.gov.pt/. Foto: Fenareg.
13 Agricultura: INEGI reforça projeto ibérico de valorização da biomassa O INEGI – Instituto de Ciência e Inovação em Engenharia Mecânica e Engenharia Industrial vai juntar-se a instituições do Norte de Portugal e da Galiza pela valorização e utilização da biomassa. O consórcio transfronteiriço nasceu em 2017 para desenvolver novos biocombustíveis a partir da biomassa procedente de restos da poda florestal, arbustos, vinhas e produção de kiwi, e volta a reunir-se em 2023 para impulsionar a concretização do potencial energético e económico da biomassa. O grande objetivo passa por formar, sensibilizar e capacitar os agentes da cadeia de valor da biomassa – viticultores, vinicultores, agricultores, proprietários de terrenos, empresas relacionadas com a recolha e tratamento de biomassa, entre outros – para a utilização de biomassa não valorizada. De igual forma, o consórcio pretende fortalecer o processo de cocriação de políticas públicas, através da identificação de estratégias comuns para o desenvolvimento e aproveitamento ótimo da biomassa não valorizada no território. A par destes esforços, está a Rede Transfronteiriça Biomassa, que continua a crescer. Criada com o objetivo de estabelecer ligações entre especialistas e agentes interessados na produção e utilização de biomassa, a rede conta hoje com mais de 130 membros. Ao lado do INEGI está o Centro Tecnológico EnergyLab, que lidera o projeto, e a Fundação Empresa-Universidade Galega (FEUGA), o Grupo de Tecnologia Energética da Universidade de Vigo, o Instituto Galego de Energia (INEGA), e o Instituto Politécnico de Viana do Castelo (IPVC). O projeto 'Biomassa CAP: Capitalization of I+D capacity in the energy use of high potencial non valueed biomass' é cofinancido pelo programa Interreg V-A Espanha-Portugal 2014-2020 (POCTEP), através da União Europeia Fundo de Desenvolvimento Regional (FEDER).
14 ATUALIDADE MAIS NOTÍCIAS DO SETOR EM: WWW.AGRITERRA.PT • SUBSCREVA A NOSSA NEWSLETTER Projeto URSA: Unidades de Recirculação de Subprodutos de Alqueva A publicação das regras gerais para a compostagem, pela Agência Portuguesa do Ambiente (APA) vem clarificar e incentivar a valorização por compostagem de resíduos agrícolas, pecuários e/ou agroindustriais. A Empresa de Desenvolvimento e Infra-estruturas do Alqueva (EDIA) tem apostado na promoção de uma economia circular através do projeto URSA (Unidades de Recirculação de Subprodutos de Alqueva), realizando, de forma comunitária, a transformação de subprodutos orgânicos de origem agrícola, pecuária e agroindustrial em fertilizante orgânico para aplicação no solo das áreas de regadio, com base numa constelação de unidades onde os materiais são permutados por composto, materializando a transição para a economia circular, através de uma agricultura moderna, sustentável e produtiva. A primeira URSA, a estrela polar e guia do projeto, criada em colaboração com a Direção Regional de Agricultura do Alentejo, encontra-se em funcionamento desde 2019 na Herdade da Abobada (Polo de Inovação Terra Futura), em Serpa, e tem servido como unidade demonstrativa, com uma abordagem sinérgica e comunitária promotora de uma agricultura circular, ou seja, uma agricultura sem resíduos. O efeito demonstrativo desta unidade conduziu à assinatura de 18 protocolos de colaboração entre a EDIA e empresas agroindustriais da região, em especial lagares de azeite, para criação de uma rede de unidades particulares de valorização orgânica por compostagem. Estas vão possibilitar a valorização de bagaço de azeitona, entre outros materiais e utilização do composto na própria exploração, eliminando a pegada ecológica e social associada ao transporte dos materiais pelas estradas e o custo económico e ambiental dos adubos químicos, que o composto substitui. Para efetivar esta transição foi necessária a criação de Regras Gerais de Compostagem Agrícola, conforme estabelecido no Regulamento Geral de Gestão de Resíduos, que enquadra esta utilização e simplifica o processo de licenciamento, tendo este trabalho sido desenvolvido pela APA com o apoio da EDIA. Com a apresentação das Regras Gerais de Compostagem Agrícola pretende-se dar aos agricultores as ferramentas necessárias para optarem por um caminho circular de valorização orgânica, fundamental para a sustentabilidade da agricultura e do território rural, transformando os seus próprios subprodutos orgânicos, assumindo esta laboriosa responsabilidade, mas, em simultâneo, usufruindo das vantagens de produzir parte dos seus fertilizantes, uma decisão fundamental na independência e sustentabilidade financeira do setor agrícola. UTAD desafia especialistas a discutir o futuro do ensino agrário em Portugal No próximo dia 17 de março, realiza-se a apresentação pública e discussão das conclusões da convenção “Ensino Agrário em Portugal. Que futuro?”, promovida pela Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) e que conta com o Alto Patrocínio do Presidente da República, na sede daquela universidade. Também outras instituições de ensino universitário, politécnico e profissionalizante, associações e empresas do setor agrário, órgãos nacionais de regulação do ensino e estudantes se juntam a esta iniciativa inédita. “É a primeira vez que uma convenção deste género se realiza em Portugal, pelo que acreditamos que esta análise prospetiva será útil para o progresso do ensino agrário. Esta iniciativa será também indispensável para uma nova agenda do setor agrário, para um crescimento sustentável e para uma resposta aos desafios da segurança alimentar da população mundial, da proteção das florestas e de outros ecossistemas e da obstaculização dos efeitos das alterações climáticas”, sublinha José Luís Mourão, docente da UTAD. A procura do ensino agrário por novos estudantes, o aumento da capacitação científica e técnica dos diplomados, a interação entre o ensino e a investigação e o enquadramento dos diferentes níveis de ensino são os temas que, de modo holístico, vão ser estudados pelos grupos de trabalho até 17 de março. Aberta à comunidade, a sessão plenária decorrerá na UTAD e terá a presença de especialistas internacionais e membros do Governo.
15 ATUALIDADE Asfertglobal atinge novo recorde de vendas em 2022 A Asfertglobal aumenta em 35% o seu volume de negócios e em 20% o número de colaboradores, com foco principal nos mercados da América do Norte, Europa do Leste e África do Sul. A Asfertglobal, multinacional portuguesa, especializada no desenvolvimento e comercialização de biofertilizantes, Bbioestimulantes e produtos de Biocontrol, manteve o seu ritmo de crescimento, terminando o ano 2022 com o aumento de 35% no volume de negócios em relação ao ano anterior, e um aumento em 20% do número de trabalhadores, não só em Portugal, como também no México e em Espanha. Durante o ano 2022, a Asfertglobal reforçou a sua posição no panorama nacional e internacional com o aumento de vendas emmercados determinantes para a agricultura mundial, como Estados Unidos, México, Turquia, África do Sul, França, Itália e Portugal. Este crescimento foi também resultado de uma maior procura por biofertilizantes, onde se registou um aumento de 50% nas vendas dos produtos Kiplant Allgrip e Kiplant iNmass e, por soluções Biocontrol, como Kiplant Essence, Microil e Kiplant VS-04. Estas soluções têm sido a resposta aos grandes desafios da agricultura, soluções inovadoras e tecnológicas que ajudam a praticar uma agricultura mais sustentável e sem resíduo. O objetivo da Asfertglobal continuará a ser liderar o setor da nutrição sem impacto ambiental e da bioproteção, procurando estar sempre na vanguarda do desenvolvimento e inovação, para garantir não só a produtividade das culturas, mas também a preservação dos recursos naturais. AF_MEIA_PUB_ATLAS_230X148MM_20210128.pdf 1 28/01/2021 16:39
16 XIV CONGRESSO NACIONAL DO MILHO Profissionais do setor reunidos para debater constrangimentos e novas oportunidades de negócio Entre 15 e 16 de fevereiro realizou-se no CNEMA, em Santarém, mais uma edição do Congresso Nacional do Milho, que este ano reuniu cerca de 900 profissionais do setor para juntos debaterem os principais temas do setor. Para João Coimbra, diretor da ANPROMIS, “as crises são oportunidades de negócio e há dinheiro a ganhar no setor energético”. Alexandra Costa e Sónia Ramalho
17 XIV CONGRESSO NACIONAL DO MILHO Como nos podemos adaptar à crise energética? Qual o futuro da produção de milho em Portugal? E qual a produção demilho no âmbito do novo PEPAC? Estes foram apenas alguns dos temas que estiveram em debate nos dias 15 e 16 de fevereiro durante o XIV Congresso Nacional do Milho, evento organizado pela ANPROMIS – Associação Nacional de Produtores de Milho e Sogro, que decorreu no CNEMA, em Santarém. Cerca de 900 participantes responderam ao convite da ANPROMIS para debater várias temáticas relacionadas com o milho, que tem sido, ao longo dos últimos anos, a cultura arvense mais representativa da agricultura nacional de regadio. ALARMISMO CLIMÁTICO? O painel dedicado à crise energética, que contou coma intervenção deMaria João Coelho, BCSD Portugal, e com as participações de João Coimbra, diretor da ANPROMIS e Luís Mira Amaral, presidente dos Conselhos da Indústria e Energia da CIP, suscitou o interesse dos participantes devido às opiniões divergentes sobre o tema. Maria João Coelho começou por revelar dados do relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) de 2022, segundo o qual nunca houve tantas emissões de gases de efeito de estufa, e abordou algumas tendências na cadeia de fornecimento, nomeadamente a sustentabilidade, cadeias de fornecimento locais e mais curtas e transparência e restreabilidade. Coube a Luís Mira Amaral ter uma palavra contrária, ao afirmar que estamos perante um “alarmismo climático”, no sentido de considerar “utópico pensar que sozinhos conseguimos reduzir o valor do CO2 total.” E avançou ainda que “sempre houve alterações climáticas na história da humanidade. As pessoas esquecem-se que o CO2 é fundamental para a fotossíntese, para a vida.” E defendeu a existência de chamadas “tecnologias de armazenamento, que permitem acumular energia quando existe a sua falta”. CRISE ENERGÉTICA: UMA OPORTUNIDADE DE NEGÓCIO Na sua intervenção, João Coimbra, diretor da ANPROMIS, começou por lançar o desafio de falar numa linguagem “bem agrícola: quais são as receitas e custos”. Isto porque, na sua opinião, “as crises são normalmente oportunidades de negócio. Quando vem uma crise há dinheiro a ganhar e é aqui que devemos atuar nesta transição energética. O agricultor não é mais do que um agente energético, um gestor energético. Então, onde há dinheiro a ganhar? O que é preciso é ser eficiente nos processos. Comprar a energia mais barata no mercado e fazer comque o nosso solo transforme a energia de forma mais eficiente”. Antes de perceber qual a energia a utilizar, “devemos perceber como João Coimbra, diretor da ANPROMIS com Luís Mira Amaral, presidente dos Conselhos da Indústria e Energia da CIP.
18 XIV CONGRESSO NACIONAL DO MILHO usar menos energia. A energia que polui menos, e que é melhor para o ambiente, é aquela que não se gasta. Não é uma questão de ser elétrica, a gasóleo ou petróleo ou carvão. Há que atalhar o problema: não posso gastar energia, tenho é de vender energia”. “Se a energia está cara, quanto mais eficiente for, mais vou ganhar dinheiro. Essa oportunidade existe. A maioria tem espaço, tem solo e podemos fazê- -lo no local onde vamos consumir essa energia que tivemos de importar. Há muitas oportunidades e mais depressa vamos estar a ganhar dinheiro do que esperar que o planeta aqueça ou arrefeça”, defendeu João Coimbra. QUAL O FUTURO DA PRODUÇÃO DE MILHO EM PORTUGAL? Foram cinco os jovens agricultores que aceitaram o desafio para falar abertamente sobre os constrangimentos e oportunidades da produção de milho em Portugal. Além dos constrangimentos comuns a todos decorrentes de trabalhar em pequenas empresas familiares, Pedro Guiomar, agricultor na região do Alentejo, sublinhou o aumento, em 2022, do preço dos fertilizantes, o que fez com que optassem por outro tipo de matérias orgânicas, e as temperaturas elevadas dos últimos anos, “o que obrigou a uma gestão mais difícil da rega”. Ambrósio Raposo, agricultor na região do Ribatejo, concordou que a água é “uma das maiores preocupações na minha exploração. Agora temos água, mas não a estamos a usar para quando precisarmos dela”. Além disso, nota a existência de poucos jovens na agricultura, “principalmente na cultura do milho, e fazem falta”. Diana Valente, agricultora na região Centro, referiu como constrangimento “o acesso difícil à terra” e revelou que recorrem à economia circular para contrariar o aumento dos preços. Já para Marisa Costa, agricultora na região Norte, um dos maiores constrangimentos está relacionado com o preço do leite. “Temos de ter um valor que permita suportar os custos de produção”. Além disso, a burocracia também não ajuda ao negócio, especialmente quando “há sempre timings para apresentarmos os documentos solicitados, mas nunca existem timings para nos responderem”. Já Nélio Miranda, agricultor nos Açores, apontou a falta de juros bonificados para os jovens agricultores como um dos constrangimentos. A nível de expectativas para o futuro, Pedro Guiomar nota que, “se não houvesse uma parte positiva, não estaríamos aqui. A cultura do milho é relativamente fácil de fazer e vejo com bons olhos a questão do PEPAC no que se refere à ajuda direta, pode ser mais um incentivo”. IMPORTÂNCIA DO REGADIO O segundo dia do evento começou com um debate sobre a importância do regadio para os países mediterrânicos. Plácido Plaza, secretário-geral do Centro Internacional de Altos Estudos Agronómicos Mediterrâneos (CIHEAM), apontou a necessidade de se encarar a gestão da água como uma questão de segurança nacional e acrescentou que a mesma vai obrigar a repensar os fatores de produção, nomeadamente a uma maior utilização da agricultura de conservação e da diversificação das produções. O executivo deu o exemplo de Espanha e do Magreb, emque se aposta em soluções alternativa, nomeadamente as leguminosas, que requem pouca água. No debate que se seguiu foi mencionado que Portugal tem uma situação diferente, em que, por norma não há problema (ou não deveria haver) de água. A questão, para José Núncio, presidente dos Irrigants d’Europe, é que o potencial e o concretizado são coisas diferentes. “Apenas aproveitamos 20% do potencial”, afirmou, acrescentando que temos de poupar ao máximo os recursos hídricos subterrâneos. Rogério Ferreira, diretor-geral da Direção-Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural (DGADR), desmentiu a afirmação de que a Bacia do Tejo não tem nenhum aproveitamento ao nível do potencial de água. Segundo o executivo, brevemente será apresentada a versão preliminar do estudo correspondente. E lembrou que há um grande desperdício, advento das infraestruturas, algumas das quais com 50 anos de existência. Já para José Pimenta Machado, vice- -presidente da Agência Portuguesa do Ambiente (APA), a questão prende-se Da esq. para a dta: Nélio Miranda, Marisa Costa, Ambrósio Raposo, Diana Valente e Pedro Guiomar com a moderadora Custódia Correia.
20 XIV CONGRESSO NACIONAL DO MILHO com a eficiência do uso da água. E lembrou que “ainda hoje temos, em Portugal, albufeiras com menos de 20%”. A isto Joaquim Poças Martins, docente na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), apontou que, apesar de a agricultura ser o maior utilizador de água, não é o maior gastador de água. “Uma pessoa come dez vezes o seu peso em água”, afirmou, acrescentando que o país precisa de ter mais reservas de água. PRODUÇÃO DE MILHO NO ÂMBITO DO NOVO PEPAC Seguiu-se um painel sobre a produção de milho no âmbito do novo PEPAC. Do debate gerado entre os vários intervenientes houve duas conclusões: por um lado, o preço base pago aos agricultores baixou muito e, por outro, os produtores de milho vão perder dinheiro. Assunção Cristas com António Serrano, Luís Capoulas Santos e Carlos Costa Neves. Entre os vários problemas detectados destaque para os custos de contexto – que não param de aumentar – e o facto, como apontou Francisco Avillez, professor emérito do Instituto Superior de Agronomia (ISA), de que, entre 2020 e 2026, vai haver uma quebra média do apoio de 46%. Já Luís Bulhão Martins, diretor da ANPROMIS e produtor demilho, lembrou que “não temos outro meio de transporte que não o ferroviário”. Face a isto não só é “essencial simplificar”, como “é fundamental a melhoria da disponibilização e operacionalização dos apoios disponibilizados pelo PEPAC”. O produtor afirmou ainda que os agricultores não queremmais dinheiro. Querem é que “seja aplicado no sítio certo”. QUAIS OS DESAFIOS PARA AS PRÓXIMAS DÉCADAS? A terminar o evento, quatro ex-ministros da agricultura foram convidados a revelar quais os desafios que se colocam à agricultura portuguesa nas próximas décadas. Entre os desafios enumerados destaque para a falta de rejuvenescimento dos agricultores, mas, também, à necessidade de acompanhamento, técnico e no terreno, principalmente tendo em conta amudança de paradigma tecnológico. Um “problema” apontado por Luís Capoulas Santos, que acrescentou que isto “implica investimento e acompanhamento no terreno. Carlos Costa Neves, por seu lado, iniciou a sua intervenção afirmando que “gostava que qualquer um dos membros da mesa fosse o atual ministro da Agricultura”. Mas a principalmentemensagemtransmitida pelo ex-ministro foi a de que, neste momento, sozinho um agricultor não vai muito longe. António Serrano, por seu lado, chamou a atenção para a dicotomia atual em que, por um lado, existe a necessidade de alimentar uma população mundial em crescimento e, por outro, um sentimento anti produção. Já para Assunção Cristas, o principal problema da agricultura reside na sua imagem, mais precisamente na sua má imagem. “A fama da agricultura, de que é inimiga do ambiente, é um fator que está a dificultar a atração de jovens”, afirmou. n
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ENTREVISTA 22 CARLOS SILVA, ADMINISTRADOR EXECUTIVO DA INVESTBRAGA “Em 2023 queremos crescer no que respeita ao número de visitantes” Ana Clara A Feira de Agricultura, Pecuária e Alimentação do Norte de Portugal (AGRO) regressa ao Altice Forum Braga, de 30 de março a 2 de abril de 2023. Carlos Silva, Administrador Executivo InvestBraga, adianta em entrevista à Agriterra, que o público pode "contar com uma programação forte no que respeita às conferências, à área de showcookings e degustação" bem como ao nível dos concursos que "são uma marca indissociável da nossa feira". Entrevista com Carlos Silva, Administrador Executivo da InvestBraga.
23 Que expectativas tem a organização para a edição de 2023 da AGRO? Em 2022, tivemos uma agradável surpresa ao atingirmos o número de visitantes do período pré-pandemia, pelo que queremos, em 2023, crescer no que respeita ao número de visitantes, mas também no que concerne ao número de expositores presentes na feira. Temos áreas com ocupações de 90% e estamos confiantes de fechar o período de confirmação de expositores com valores nessa ordem. Que novidades estão na calha ao nível da programação? A edição 54ª ficou marcada pela estreia da TV AGRO, um canal dedicado à AGRO que, em 2023, terá uma grande aposta ao conjugar, não só, a transmissão através da aplicação da TV AGRO, como também a transmissão em streaming para o Youtube do canal. Voltaremos também a contar com uma programação forte no que respeita às conferências, à área de showcookings e degustação e, claro está, ao nível dos concursos que são uma marca indissociável da nossa feira. No que respeita aos produtos, e como é pratica neste tipo de feiras, as novidades são apresentadas pelos próprios expositores e estes reservam segredo até à data da feira para as divulgar. A nível de expositores, quemeta têmestabelecida, comparativamente com a última edição, ainda marcada pela pandemia? (Se puder dar números atualizados, seria o ideal). Além do público, contamos crescer em número de expositores, bem como nas áreas dos setores representados na feira. O período de inscrição de expositores termina a 16 de março, pelo que não consigo indicar o número exato de marcas e espaços de exposição que teremos presentes. No entanto, partimos para esta edição com o desejo de ultrapassar os números de 2022, desejando chegar à centena e meia de expositores, provenientes das áreas tradicionais neste tipo de feiras: rações, químicos e fertilizantes, sementes, genética e nutrição animal, energia, ambiente e tecnologia entre outros. Quanto a temas e conferências, que esperar da edição deste ano? Estamos a ultimar os detalhes com os nossos parceiros de organização de atividades paralelas. Este ano vamos contar novamente com o apoio dos nossos parceiros como a CONFAGRI. Os temas serão centrados no futuro, em particular na inovação e tecnologia do setor, bem como refletiremos sobre a nova PAC.
ENTREVISTA 24 AAGRO é uma feiramuito importante para o Norte do País e também para a Galiza, local de onde chegam muitos visitantes. A nível económico, que impacto tem tido a feira, não só para o setor agrícola como também para o desenvolvimento local? Esta é uma feira que congrega áreas e setores bastante diversificados, sendo também atrativa de públicos provenientes da Galiza, o que contribui significativamente para a afirmação desta feira como uma das mais importantes. Conseguimos, nesta feira, dar visibilidade aos produtores que, todos os dias, estão envolvidos com alimentos que comemos. No fundo, trazemos até ao Altice Forum Braga o mundo rural, dando espaço para que o público descubra as particularidades de cada raça ou produto representado. Quais são, neste momento, os principais desafios do setor agrícola e que dificuldades mais relevantes estão a colocar-se aos agricultores? Como está a sentir-se esta crise atual no tecido (empresarial e agrícola) a Norte? Todos sabemos que a guerra na Ucrânia tem tido um impacto direto e indireto no nosso dia-a-dia, sendo os setores agrícola e da alimentação dos mais afetados. As consequências e os desafios que os setores têm enfrentado chegam-nos através do que os clientes nos transmitem, tendo estas consequências impactos significativos nas suas atividades produtivas. Um setor que tradicionalmente está na AGRO é o leiteiro, e aqui segundo nos transmitem clientes e produtores, as dificuldades são enormes com o preço do leite a não cobrir as despesas. Daí a importância de uma AGRO, não só para chamar a atenção para estes problemas, como também contribuindo para a resolução dos mesmos. Por fim, que mensagem deixa ao setor agrícola e agroalimentar e que irá estar na AGRO, seja como expositor, seja como visitante? A normalidade que consolidamos em 2022, traz-nos perspetivas de um 2023 em pleno para estes setores, podendo a AGRO ser o ponto de partida para uma nova dinâmica e resposta aos desafios que têm surgido. n "Esta é uma feira que congrega áreas e setores bastante diversificados, sendo também atrativa de públicos provenientes da Galiza, o que contribui significativamente para a afirmação desta feira como uma das mais importantes"
ABACATE 26 Abacate A “MONOCULTURA” DO ABACATEIRO E A BIODIVERSIDADE Amílcar Duarte MED-Instituto Mediterrâneo para a Agricultura, Ambiente e Desenvolvimento Universidade do Algarve, Faculdade de Ciências e Tecnologia Campus de Gambelas | 8005-139 Faro CONCEITO DE MONOCULTURA Podemos considerar que há umregime de monocultura em duas situações. Nas culturas anuais, a monocultura consiste em semear (ou plantar) a mesma cultura em anos sucessivos na mesma parcela de terreno, em vez de fazer uma rotação de culturas. Nestes casos, a monocultura leva à diminuição da produtividade das culturas e ao aumento dos problemas fitossanitários, com o consequente aumento da aplicação de produtos fitofarmacêuticos. Considera-se, portanto, que a monocultura tem um impacto ambiental negativo, comparado comum sistema de rotação de culturas. Nas culturas permanentes, como é o caso do abacateiro, a mesma cultura permanece naturalmente na mesma parcela durante toda a vida do pomar. Dentro da mesma visão agroecológica, o que não devemos é plantar um pomar com plantas da mesma espécie (ou da mesma família) das plantas que antes ocupavam a parcela. Não é, por isso, recomendável plantar abacateiros onde antes havia plantas damesma espécie ou damesma família. No caso do Algarve e da cultura do abacateiro, isso não está a acontecer. Há casos em que se está a plantar abacateiros onde antes havia citrinos, o que é mais sustentável que repetir citrinos na mesma parcela. A segunda situação que podemos considerar como monocultura é o cultivo de plantas da mesma espécie ou da mesma família emgrandes extensões. Tivemos como exemplo de monocultura o cultivo de cereais no Alentejo em grande parte do séc. XX. Isso deixa toda uma região dependente da venda de um único produto, o que tem consequências negativas na economia e no emprego, conduzindo frequentemente as populações mais pobres ao agravamento da pobreza. O emprego passa a ter um elevado grau de sazonalidade, em função das necessidades de mão-de-obra da única cultura da região. A economia fica dependente da venda de um único produto. Usando o conceito fora da atividade agrícola, fala-se de monocultura do turismo no Algarve. Por isso, o desenvolvimento da agricultura é importante para que a região não dependa exclusivamente de uma atividade económica. MONOCULTURA E CULTURA ESTREME Há quem confunda o conceito de monocultura com o de cultura estreme, chamando monocultura a um campo que tem apenas uma cultura. A maioria das áreas agrícolas estão ocupadas com culturas estremes. O cultivo de várias espécies no mesmo espaço (consociações) tem algumas vantagens do ponto de vista Nos últimos anos tem havido um forte crescimento da área plantada com abacateiros em vários países. Em Portugal, esse aumento tem ocorrido sobretudo no Algarve, em zonas do litoral, próximo de centros urbanos. Isso faz com que a perceção de aumento da área seja superior aos números reais desse aumento. Perante esta situação, alguns movimentos têm vindo a fazer uma forte campanha contra a cultura do abacateiro, falando permanentemente da sua “monocultura”, com efeitos muito nefastos sobre a biodiversidade. Importa, por isso, clarificar o que é uma monocultura e se o abacateiro pode, ou não, constituir uma monocultura em Portugal, assim como, se constitui um risco para a biodiversidade.
ABACATE 27 agroecológico e usa-se sobretudo na horticultura intensiva em modo de produção biológico. Na agricultura tradicional havia vários exemplos de consociações muito comuns, como eram a consociação de milho com feijão ou o pomar misto tradicional de sequeiro do Algarve. Atualmente, na agricultura convencional é muito difícil fazer o cultivo em consociações porque os tratamentos fitossanitários feitos a uma das culturas da consociação acabam por atingir a(s) outra(s) cultura(s) que partilha(m) o mesmo espaço. Isso levaria a que os produtos dessas culturas tivessem maiores teores de resíduos de produtos fitossanitários porque teriam resíduos de tratamentos dirigidos a outras culturas. Além disso, a mecanização é muito mais difícil. Mesmo assim há experiências de consociações que seria interessante desenvolver. Não conhecemos consociações de abacateiros com outras culturas, usadas em larga escala, mas sequer tem sido considerada de forma autónoma namaioria dos levantamentos estatísticos. Em 2021, a área de abacateiro já era de 2230 ha, ou seja, tinha tido um aumento de cerca de 400 ha, passando a constituir cerca de 4,36% das culturas permanentes. Desta forma, no Algarve, a cultura do abacateiro não pode ser considerada umamonocultura. Antes pelo contrário, esta cultura vemdiversificar aindamais uma agriculturaque já ébastantediversificada. Poderemos questionar-nos sobre se o abacateiro, com a sua expansão, poderá tornar-se uma monocultura. A resposta é claramente que o abacateiro nunca poderá ser umamonocultura em Portugal, nemmesmo no Algarve, uma vez que a planta é suscetível à geada, só podendo ser cultivado em zonas limitadas, onde a probabilidade de geada é relativamente baixa. O ABACATEIRO E A (PERDA DE) BIODIVERSIDADE A ideia de que a instalação de pomares de abacateiro contribui para a perda de há casos isolados e seria bom explorar essa possibilidade, sobretudo em agricultura biológica. O ABACATEIRO PODERÁ CONSTITUIR UMA MONOCULTURA NO ALGARVE? Será que faz sentido falar de “monocultura do abacateiro” e afirmar que é a novamonocultura do Algarve? Numa região com4960 km2 (496 000 ha), em 2019 a cultura do abacateiro ocupava 1833 ha (0,37% da superfície total da região), segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE, 2022). A área total das culturas permanentes do Algarve era de 56 754 ha e, portanto, a área de abacateiro correspondia a 3,23% do total de culturas permanentes. Entre as culturas permanentes do Algarve comáreas superiores tínhamos os citrinos (13 951 ha), a alfarrobeira (13 584 ha), a oliveira (9409 ha), e a amendoeira (5004 ha). O abacateiro é assim uma cultura com uma área muito limitada, que nem
ABACATE 28 biodiversidade a nível local, pela eliminação de todas as árvores pré-existentes, poderá ser verdadeira emalguns casos, mas é falsa na maioria das situações. É frequente ver pomares de abacateiros onde permanecem as árvores pré-existentes, sejam elas sobreiros (Figura 1) ou alfarrobeiras (Figura 2), por exemplo. Além disso, nas entrelinhas dos pomares jovens é frequente ver grande diversidade de vegetação espontânea (Figura 3). Nos pomares em socalcos, essa vegetação espontânea permanece durante toda a vida do pomar, nos taludes. Nos pomares de terreno plano, os abacateiros adultos acabam por dominar naturalmente a vegetação espontânea, podendo contribuir para uma efetiva perda de biodiversidade vegetal. Por outro lado, a queda de folhas alimenta a manta morta, bastante rica em nutrientes, propícia para o desenvolvimento de macro e microrganismos do solo, contribuindo para a biodiversidade a esse nível. O ABACATEIRO E A FAUNA A frondosa vegetação dos abacateiros e o facto de, nesta cultura, se usarem poucos pesticidas proporciona também abrigo a mamíferos herbívoros selvagens (Figura 4) e aves (Figura 5, 6 e 7). A disponibilidade de alimento e abrigo é também aproveitada por carnívoros. Num estudo realizado na Califórnia foramdetetadas mais espécies de carnívoros em pomares de abacateiros do que em áreas selvagens (Nogeire et al., 2013). Um estudo recentemente publicado revela que a conversão de bosque nativo em pomares de abacateiros tem um efeito positivo sobre a hepterofauna (conjunto dos répteis e anfíbios de uma determinada região) generalista, embora tenha um efeito negativo sobre as espécies especialistas do bosque nativo substituído (Vega-Agavo et al., 2021). Figura 1 – Pomar de abacateiros em que os sobreiros foram preservados. Figura 2 – Pomar de abacateiros em que as alfarrobeiras foram preservadas. Figura 3 – Pomar de abacateiros onde a vegetação espontânea não foi controlada durante o inverno e a primavera. Posteriormente, esta vegetação foi eliminada com roçadora.
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