BO2 - EngeObras

ENTREVISTA 20 nacional e com saldos da balança comercial acima dos 500%. Somos um país fortemente exportador no que toca aos recursos minerais. Com foco em aspetos mais setoriais, poderia dar- -nos uma panorâmica geral do setor da indústria de recursos minerais em Portugal? Qual é o seu peso no PIB? Quantas pessoas emprega? Quantas empresas estão envolvidas neste tipo de atividade? O setor dos recursos minerais encontra-se subdividido em Minerais Metálicos, Minerais para Construção, Minerais Industriais, e Rochas Ornamentais (vulgo pedra natural). Estes setores, pela tipologia de produto apresentam comportamentos distintos e peso relativo setorial distinto. Os subsetores commaior expressão para a performance geral do setor são os minerais metálicos e a pedra natural. O setor tem mais de 2600 empresas a operar, para um total de quase 19.000 trabalhadores. O volume de negócios ascende a mais de 1700 milhões de euros, que concorre para 1,8% do PIB nacional. Importa ainda referir que o setor apresenta um VAB de 654 milhões de euros. Como já referido, é um setor fortemente exportador e com uma balança comercial bastante favorável na ordem dos 500%. Para estes valores contribuem fortemente as exportações dos minérios metálicos, com 623 milhões de euros de exportações e a pedra natural, com 435 milhões de euros. Transversal a diversas áreas de atividade, a escassez de mão de obra também se faz sentir neste setor? O nosso setor está a ser muito afetado pela falta de mão de obra, aliada à falta de atratividade para captar trabalhadores especializados. Para além destas dinâmicas, atualmente o setor extrativo depara-se com um paradigma importante ao nível dos recursos humanos e que está ligado à publicação da Portaria n.º 88/2019, que vem permitir que a idade normal de pensão de velhice fixada no regime geral de Segurança Social seja reduzida em um ano por cada dois de serviço efetivo, com o limite de 50 anos de idade para direito à pensão por velhice. Este contexto veio encurtar em muito os ciclos de exercício de funções no setor, o que, somando-se também à questão demográfica do envelhecimento geral da nossa população, está a fazer com que esta atividade atualmente atravesse momentos de alguma complexidade na procura de soluções. Acresce ainda o facto de que as nossas empresas estão localizadas, normalmente, fora dos centros urbanos, em territórios de baixa densidade populacional o que agrava ainda mais o acesso a jovens com potencial para iniciar carreira no setor. Que estratégias estão a ser implementadas paramitigar esta escassez? Este é umproblemamais lato e nãopode ser vistounicamente no universo setorial. As políticas que têm sido implementadas em Portugal, de salários mais baixos em comparação a outros países europeus, a queda demográfica dos últimos 25 anos e a falta de aposta na natalidade, bem como a diminuição de mão de obra com qualificação técnica ou experiência na área, são razões que explicam o cenário atual com que a indústria nacional se depara. Assistimos ainda a uma queda acentuada da mão de obra imigrante, pois a pandemia diminuiu os fluxos internacionais de trabalhadores vindos de outros países, que habitualmente tinham ocupações menos procuradas pelos trabalhadores portugueses. Portugal temque estar preparado para perder entre 15 a 25% da sua população ativa nos próximos 20 a 30 anos. Já não se consegue repor a quebra de natalidade dos últimos 25 anos, pelo que a procura de soluções terá que ser conjunta, estrutural e não setor a setor. Para este setor de atividade em que o tecido empresarial é, sobretudo, constituído por pequenas e médias empresas e em que às baixas qualificações dos operadores se alia um baixo número de técnicos qualificados, quadros intermédios e superiores, a resposta a estes desafios terá de passar por um trabalho setorial estruturado, com a interligação entre a educação geral e a formação para as profissões, com tempos e espaços necessários para o estudo e para o trabalho. O trabalho setorial que está a ser desenvolvido passa pela revisão e criação de novos perfis, adequados e ajustados às atuais necessidades das empresas. Passa também pelo trabalho junto das escolas e jovens na sensibilização e atração de novas gerações para um setor com apurada consciência tecnológica e ambiental, muito diferente daquele em que alguns pais e avós trabalharam. Mas acima de tudo passa pela estruturação ‘bottom up’ das várias qualificações necessárias a um setor que, tendo alargado a sua fileira, abrange cada vez mais e diferentes áreas. É importante que seja a própria indústria a influenciar diretamente aquilo que poderá ser a oferta formativa das instituições de ensino/formação. “2021 foi um ano recorde para as exportações de pedra natural, que atingiram os 435 milhões de euros, sendo expetável que, em 2022, este valor possa novamente ser ultrapassado”

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