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58 MOBILIDADE ELÉTRICA NOS TRANSPORTES DE LONGO CURSO A nível individual a mobilidade elétrica é já uma realidade, com as viaturas elétricas a ganharem destaque nas decisões de compra. Também na chamada última milha as viaturas movidas a eletricidade começam a ganhar terreno. Mas é a mobilidade elétrica uma boa solução para o transporte de mercadorias de médio/longo curso? Há hoje viaturas e infraestrutura de carregamento capazes de manter a cadeia de valor a funcionar? Sobre esta questão a Zero refere que a eficiência energética de um motor elétrico é sempre maior do que a eficiência de um motor de combustão interna. A associação acrescenta que, além disso, o uso de combustíveis sintéticos e de biocombustíveis em motores de combustão interna, além de menos eficientes, produzem inevitavelmente poluentes a nível local, com impacto na saúde humana. Os biocombustíveis, em particular, são uma solução de muito curto prazo, dadas as pressões que, direta ou indiretamente, exercem sobre os ecossistemas. Tanto o uso de baterias, que armazenam eletricidade da rede elétrica, como o uso de pilhas de combustível, que produzem eletricidade a partir da utilização de hidrogénio armazenado no veículo e de oxigénio do ar, se constituem enquanto meios de mobilidade elétrica, e pode-se dizer que ambos podem ser uma solução para o longo curso, embora os camiões elétricos a bateria sejam mais vantajosos, na maioria dos contextos. A isto Bruno Oliveira, CEO da Ford Trucks Portugal, acrescenta que os prazos definidos pela Comissão Europeia “são irrealistas”. Convém lembrar que a proposta da União Europeia aponta para 2030, 2035 e 2040, com a quota de veículos pesados com emissões zero a aumentar em cada fase. O executivo considera que “não deve ser colocado tudo no mesmo saco: transporte ligeiro de passageiros; a última milha e transporte doméstico; longo curso; e transporte de passageiros”, e apela ao poder político para não colocar a indústria e os mercados naquilo que designa de precipício da eletrificação. “Não há ninguém na indústria automóvel, neste momento, que não esteja consciente que a transição energética tem de acontecer”, afirma Bruno Oliveira. E lembra que se hoje todos os fabricantes de veículos de mercadorias tivessem solução, a baterias ou hidrogénio, para transporte a longo curso, não haveria rede de abastecimento. A Zero, por seu lado, afirma que a solução mais eficiente e de menor impacto ambiental para o transporte de mercadorias, que está em expansão a nível europeu, nomeadamente no longo curso, é a combinação entre comboio e camião elétrico, servindo este último para completar o primeiro e o último trajeto das mercadorias. A associação acredita que isto permitirá diminuir a montante as necessidades de produção de energia renovável, que não são totalmente negligenciáveis. Para desenvolver o transporte combinado é vital o desenvolvimento de plataformas logísticas adequadas que deveriam ser projetadas tanto no Plano Ferroviário Nacional, como na Estratégia Nacional para o H2. O QUE A COMISSÃO E OS FABRICANTES ESTÃO A FAZER Atualmente já vários fabricantes comunicaram estar a trabalhar nesta matéria. A Zero vai mais longe e afirma que todas as principais marcas possuem soluções de mobilidade elétrica e algumas delas têm mesmo por objetivo que 50% das suas vendas sejam elétricas até 2030. Anúncios que resultam, em grande medida, da decisão da Comissão Europeia de “apostar fortemente na eletrificação do transporte de mercadorias, nomeadamente através da proposta de regulamento relativo à criação de uma infraestrutura para combustíveis alternativos, a fim de desenvolver a infraestrutura de carregamento necessária para apoiar a transição ecológica do setor dos veículos pesados”. A associação refere que a Comissão propôs, em especial, instalar pontos de carregamento e de abastecimento a intervalos regulares nas principais autoestradas: a cada 60 km para o carregamento elétrico e a cada 150 km para o abastecimento de hidrogénio. “O investimento por parte do Estado, no apoio à eletrificação de veículos de transporte de mercadorias, é extremamente rentável em termos de redução de emissões (já que são veículos com muitas horas de utilização) e de redução das pressões inflacionárias caso existam subidas abruptas dos preços dos combustíveis”, afirma a Zero. Sendo ele próprio um utilizador de viatura elétrica, Bruno Oliveira afirma que a infraestrutura não está a acompanhar o número de viaturas que todos os dias circulam nas estradas. Quanto às mercadorias “não podem deixar de ser transportadas, não podem deixar de chegar ao supermercado e ao consumidor final”. O CEO da Ford Trucks Portugal realça ainda um outro problema: está a banca preparada para o desafio da transição energética? “Aos dados atuais as viatuA solução mais eficiente e de menor impacto ambiental para o transporte de mercadorias, nomeadamente no longo curso, é a combinação entre comboio e camião elétrico

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