BA3 - Agriterra

53 REGADIO Foi neste contexto que a Agriterra falou, para este trabalho, com José Pedro Salema, presidente da Empresa de Desenvolvimento e Infra-estruturas do Alqueva (EDIA), que começa por dizer que “Alqueva está em pleno”, com a primeira fase de blocos de rega “concluída”. “Na primeira fase, foram construídos 119 mil hectares, sendo que a EDIA explora diretamente 108 mil hectares e estaremos, até ao final deste ano, com mais dez mil novos hectares prontos para regar (em Évora, Viana do Alentejo e Cuba/Odivelas”. Nesta medida, salienta que o projeto “ já está praticamente pronto e está agora a entrar na fase da expansão”. “Estatisticamente, a nível nacional, o regadio produz seis vezes mais riqueza que o sequeiro. Temos muitos casos identificados onde essa diferença é ainda mais gritante, e consegue ser dez, 15, 20 vezes mais rentável com água do que sem”. Nesta matéria, sublinha que tem sido feito um trabalho “enorme”, contribuindo para “uma agricultura sustentável em Alqueva”. Com 65 mil hectares de olival e 15 mil hectares de amendoeiras, Alqueva contribuiu decisivamente para os valores de produção de azeite e de amêndoas do País. E isso está a ser conseguido de forma “inequívoca”, porque estão a ser usadas no territó- rio técnicas de regadio que utilizam as mais recentes tecnologias. Neste ponto, José Pedro Salema garante que as empresas estão preparadas para o desafio e que, inclusivamente, “existe uma apetência para esta prática sustentável”. “Os números que temos observado em termos de adesão são reveladores, de pessoas que efetiva- mente usam a água, e são dados que ultrapassaram os melhores cenários. Tínhamos previsto chegar a uma taxa de adesão de 80, 85% em 2020 e no ano passado ficámos acima dos 100%”, aponta, lembrando que tal aconteceu porque, “pela primeira vez, Portugal ficou identificado no radar dos gru- pos e players mundiais da agricultura, com investimentos desde a América do Sul à África do Sul, EUA e Europa. Perceberamque emPortugal há terra, condições de segurança extraordinárias, ummercado europeu enorme, apoios ao investimento e garantia de água. Tudo isto fez e faz a diferença. Amaior parte da área continua a ser dominada por interesses portugueses, mas estes grupos aumentam o grau de exigên- cia e inflacionam a procura da terra”. EFICIÊNCIA HÍDRICA E INDEPENDÊNCIA ENERGÉTICA Sustentabilidade. Estaéapedrade toque nas palavras de José Pedro Salema. “A dois níveis, primeiro no que respeita à operação, temos a sorte de ter uma infraestrutura capacitada com as mais recentes tecnologias que existem no mundo. As soluções implementadas são asmelhores, mas temos que pensar tambémnos custos daí decorrentes e o que a operação impacta no ambiente e na economia em geral. Nesta matéria, estamos comumprojetomuito ambi- ciosodeenergia fotovoltaica sobreaágua, comcaraterísticas que não são compa- ráveis com a maior parte dos projetos que vemos nas notícias, comcontestação das populações, por exemplo”, explica. E adianta que está em marcha um projeto “muito diferente do habitual” porque é flutuante. “Temos duas uni- dades de ensaio (uma delas com potência de 1 MW). Só que Alqueva temuma caraterística conhecida: exige muita energia, e esse é o nosso prin- cipal impacto na operação”. Contudo, a meta é ambiciosa e o presidente da EDIA coloca nela todo o entusiasmo: “produzir 100% da energia que pre- cisamos e há condições para o fazer sem colocar em causa o ambiente”. José Pedro Salema reconhece que há uma questão essencial no que res- peita ao uso eficiente da água e que se prende com os custos da energia. “É essencial utilizar as melhores técni- cas para garantir que não perdemos água. Mas tambémsabemos que nesta questão, temos um maior consumo de energia. Na minha opinião, toda a expansãodo regadiodeve estar baseada na eficiência hídrica e independência energética. Temos de fazer mais barra- gens e aumentar o regadio, porque só assim conseguimos aumentar a nossa produção agrícola e trabalhar na inde- pendência alimentar em valor”, alerta. Por fim, o presidente da EDIA diz que, para isso, o regadio é fundamental, mas há que pensá-lo “de mãos dadas com a independência energética para não carregar na pegada carbónica e atingir a tal expansão que queremos verde”. Lembra também um ponto essencial deste investimento susten- tável em Alqueva: a importância de sensibilizar os agricultores para estas práticas. “Devíamos ter apoio à instala- ção de painéis fotovoltaicos (algo que o Governo agora fala), fomentar o uso eficiente da água, com a instalação de contadores, sondas de humidade do solo, de medidores, etc., ou seja, tecnologia que ajude a não desper- diçar recursos e garanta a proteção ambiental. É esse o trabalho que temos pela frente”, conclui. n “Estatisticamente, a nível nacional, o regadio produz seis vezes mais riqueza que o sequeiro. Temos muitos casos identificados onde essa diferença é ainda mais gritante, em consegue ser dez, 15, 20 vezes mais rentável com água do que sem”, afirma José Pedro Salema. Foto: EDIA.

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