BA4 - Agriterra

ENTREVISTA 13 Faz sentido apostar em cereais de sequeiro? Como podem ser rentabilizadas essas áreas? A área de sequeiro é incomparavelmente maior do que a área de regadio. Damos muita atenção ao regadio, por- que conseguimos ter produtividades mais interessantes, tendo em conta as nossas condições climáticas e por- que temos outras opções culturais, mas a nossa área de sequeiro é claramente maioritária e importante em ter- mos de coesão territorial. Os cereais são uma cultura indispensável no sequeiro. Se olharmos para o Alentejo, por exemplo, que tem cerca de dois milhões de hectares de Superfície Agrícola Útil (SAU), o regadio é uma percentagem muito pequena. No sequeiro predominam os sistemas agro-silvo-pastoris e os cereais são uma componente fundamental desses sistemas para complementar a alimentação dos animais que, em muitas explorações, é necessário durante cerca de seis meses. Não só pelo subproduto palhas, mas tam- bém pela sua integração em consociações forrageiras, sendo uma base da pecuária extensiva. Até porque muitas explorações passaram a produzir em Modo de Produção Biológico (MPB) e têm de produzir a maior parte dos alimentos para os seus animais, uma vez que é difícil encontrar alimentos de produção biológica fora destas explorações. Para além disso, os cereais têm também importância em termos produtivos, na utilização do grão para a indús- tria alimentar. E o interesse da indústria das moagens por cereais de sequeiro tem vindo a crescer nos últimos tempos para alguns nichos de mercado, nomeadamente, para o baby food , aquilo que hoje é vulgarmente conhe- cido como cereais com Baixo Teor de Pesticidas (BTP). Porque nas zonas de sequeiro utilizam-se poucos pesti- cidas, não se usando mesmo fungicidas nem inseticidas. São produções mais baixas, mas onde há menos inputs de fatores de produção e tem vindo a crescer a procura por este produto, sendo valorizado por ter este modo de produção mais amigo do ambiente e commenos resíduos. Há, por isso, uma janela de oportunidade para as áreas de sequeiro, com os cereais BTP. Mas as produtividades são muito menores do que no regadio, embora haja menos inputs, a valoriza- ção compensa? Em termos de custos, a conta de cultura do sequeiro rondará os 600€/ha enquanto no regadio, com maior variabili- dade, pode situar-se entre 900-1.000€/ha, dependendo da aplicação de mais ou menos produtos fitofarmacêuti- cos. Porque o preço da água não é muito significativo, já que conseguimos duplicar ou mesmo triplicar a produ- tividade usando pouca água. A eficiência do uso da água de rega neste tipo de culturas é muito elevada. Apenas com regas de auxílio, podemos passar de uma produtividade de 2.500 kgs para os 5.000 ou até para os 7.000 kgs por hectare e isso, em termos de receita da cultura, claramente suplanta o aumento dos custos. E os sistemas de rega são cada vez mais eficientes. Claramente, tem-se evoluído muito nessa área. O rega- dio, genericamente, é uma prática sustentável. É evidente que há culturas que necessitam de mais água do que outras e os cereais, sendo culturas de outono-inverno, dependendo muito da precipitação na primavera, pode ser necessário regar mais um pouco mas, em termos médios, usam 1.000 m³/ha e, como disse, podem dupli- car ou triplicar a produção. Claro que há culturas que precisam de muito mais água, o milho produz-se exclusivamente com água de rega e nas culturas como o olival e o amendoal, por exemplo, também se rega apenas quando é necessário, mas são sistemas de rega localizada, gota-a-gota, onde há uma eficiência muito grande da dotação. Para além disso, os sistemas de monitorização são muito eficientes, todos os produtores têm caudalímetros, sondas de humidade e com as tecnologias que existem de agricultura de pre- cisão faz-se a divisão das folhas em setores, regam-se de uma forma os solos com texturas mais argilosas e de outra os solos mais arenosos, ou seja, a eficiência do uso da água na agricultura é grande. Com as alterações climáticas, as temperaturas deve- rão aumentar e a precipitação diminuir, será possível continuar a produzir da mesma forma nas áreas de sequeiro? Já se tem vindo a notar uma diminuição do período cul- tural. Há períodos mais longos sem precipitação, pelo que há menos tempo disponível para o desenvolvimento do ciclo cultural, daí que, no que diz respeito ao melhora- Com regas de auxílio, podemos passar de uma produtividade de 2.500 kgs para os 5.000 ou até para os 7.000 kgs por hectare e isso, em termos de receita da cultura, claramente suplanta o aumento dos custos

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