BA3 - Agriterra
AGRICULTURA DE CONSERVAÇÃO 14 resistentes à seca, com maior teor de vitamina A ou de proteína, beneficiando o público em geral e o ambiente”. O professor considera que estamos a recuar ao nível da investigação agrária em Portugal: “Fazemos muitas publi- cações científicas mas nenhuma delas tem a ver com os problemas de base da nossa agricultura”. Uma das questões que refere é o facto de, nas nossas instituições, o financiamento ser quase exclusivamente externo, de projetos a três anos, por exemplo e em áreas de investigação aplicada, o que impede as entidades de faze- rem planos de longo prazo de investigação fundamental. A área dos micróbios do solo, por exemplo é fundamen- tal, afirma. Por exemplo, um projeto sobre micróbios do solo que confiram às plantas tolerância à acidez (tendo em conta que 87% dos nossos solos são ácidos), como os avaliadores destes projetos são internacionais e os problemas são muito diferentes de país para país, sairá, certamente, prejudicado, refere. Um investigador se não publicar não progride e tambémnão ganha novos projetos se se candidatar, por isso, os investiga- dores levam o campo para dentro do laboratório e a folha de cultura para dentro da placa de petri, e aí o problema agrícola desapareceu, bem com a visão do ecossistema. HERDADE DE PARREIRA: SEM MOBILIZAÇÃO HÁ CERCA DE 20 ANOS NunoMarques, agricultor da Herdade da Parreira, no Ciborro (Montemor- o-Novo), explica que a maioria dos terrenos da herdade não são mobilizados há cerca de 20 anos e que a exploração funciona de forma integrada entre montado, produção agrícola e de gado bovino. Como exemplo da importância do tipo de culturas e da época em que se fazem, Mário de Carvalho refere que “o Nuno Marques fazia milho, tem quatro barragens, e fazia 70ha de milho porque não tinha água para mais. Neste momento, faz 220ha com a mesma água que tinha, mas só culturas de outono-inverno. Multiplicou a produtivi- dade da água várias vezes em forragens e cereais, como o trigo. Por isso, todo o resto da exploração (que tem um total de 800ha), que é sequeiro, está defendido com estes 220ha de regadio. Porque se houver uma seca tem forragem ou trigo, que se for preciso pode ir para fazer silagem, para alimentar o gado”. Nuno Marques explica que a herdade tem 250 vacas reprodutoras puras Limousine e Angus, “comercializamos reprodutores em linha pura Limousine para outras explorações e os cruzados de Angus vendemos à Sonae e Pingo Doce”. O efetivo reprodutor pasta nos 450ha de montado que tem a Herdade da Parreira, sendo que “o objetivo é este efetivo alimentar-se 100% da pastagem, não ser necessário suplemento”, afirma o agricultor. “Por isso é que precisamos que o regadio seja utilizado nesta ótica de integração com o sequeiro”, refere Mário Carvalho, "e consideramos que o Alqueva não está a defender o território contra as alterações climáticas. Apenas umas centenas de pessoas estão a beneficiar deste que foi o maior investimento público nacional do século”. Mário Carvalho lembra que o produtor desta herdade fazia o milho de primavera-verão “para fugir ao risco do solo encharcar de inverno. Este ano tivemos um dos invernos mais húmidos dos últimos 20 anos e aquela seara de trigo está muito bem, vai produzir certamente mais de seis toneladas. Porque há muitos anos que este agricultor fez um aposta na agricultura de conservação, que aumentou consideravelmente a drenagem do solo, além do aumento de matéria orgânica”. Esta exploração tem uma economia circular perfeita, salienta o professor “porque faz-se a engorda dos ani- mais, mas tudo o que comem vem da exploração e o estrume dos animais volta para o campo”. Além disso, Nuno Marques instalou painéis solares que produzem energia para a rega. A propósito disso, o agricultor lamenta que a burocracia impeça o avanço rápido dos processos: “um dos obje- tivos definidos no Green Deal é que as explorações tenham, pelo menos 30%, de energia de fontes renováveis. Eu produzo 130% das minhas necessidades, ou seja injeto na rede 30% que não consumo e estou desde julho de 2020 à espera do certificado de exploração para poder fazer um contrato com uma comercializadora e vender essa energia, que agora estou a injetar à borla”.
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