BA2 - Agriterra

ENTREVISTA | ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS NA AGRICULTURA 21 No nosso país, por exemplo, temos desenvolvido muito as energias renováveis. Somos um dos poucos países da UE em que mais de metade, emmédia, da energia elétrica gerada, tem origem em fontes renováveis, sobretudo, energia eólica e hídrica, mas também fotovol- taica, em menor escala. Portanto, quando uma pessoa, em Portugal, adquire um veí- culo elétrico e está a carregar a bateria desse veículo elétrico, pode ter a certeza que mais de metade dessa energia elétrica que está a introduzir no seu veí- culo automóvel, é renovável. Não tem origem nos combustíveis fósseis. O que é muito positivo. Sabe qual é a média da UE? A média europeia é mais baixa do que 50%, cerca de 40%. Estamos melhor que a média da UE porque as ener- gias renováveis permitem a redução das emissões? Exatamente. Para além disso, Portugal tem um Roteiro para a Neutralidade Carbónica e foi dos primeiros países a estabelecer esse roteiro. No sentido de cumprir o Acordo de Paris? Sim, mas, mesmo assim, em 2050, ainda haverá algum consumo residual de combustíveis fósseis, porque não é possível acabar com tudo: petróleo, gás natural e car- vão. Dos três, aquele que emite mais dióxido de carbono para a atmosfera, é o carvão. E aí também há boas notí- cias porque Portugal vai fechar as duas centrais a carvão que tinha a funcionar. Uma delas é em Sines, vai fechar muito em breve, este ano, e a outra, no Pego, concelho de Abrantes, também daqui a pouco tempo. Mas o Roteiro define tambémmedidas de sequestro de carbono para compensar as emissões que não é possível evitar, certo? Claro, apesar de haver algumas emissões de CO 2 e de outros Gases com Efeito de Estufa (GEE), elas serão compensadas pelo sequestro do CO 2 . Por exemplo, por sequestro bio- lógico, e aí têm um papel muito importante as florestas. As florestas são fundamentais para fazer esse sequestro. No que respeita à adaptação às Alterações Climáticas, que é outro tipo resposta, aí eu diria que os avanços não têm sido tão grandes. Temos uma estratégia nacional de adaptação às AC, mas não está ainda enraizada uma cultura de planearmos, nos vários setores, tendo em conta as alterações climáticas. E estou a falar em particular da agricultura, preci- samente, e tambémdas florestas. A biodiversidade é uma das áreas que é mais afetada pelas AC e também as zonas costeiras. São muito vulneráveis devido à subida do nível médio do mar e a tem- porais mais violentos. Ou seja: estamos bastante bem no que respeita à mitificação, à redução das emissões. Mas, rela- tivamente às AC ainda há muito a fazer. Quais as áreas mais críticas? Um dos problemas que me parece mais importante em relação ao futuro é a questão da água. Porque a evidência que temos das últimas décadas, especialmente desde 1970, é que há uma diminuição da precipitação anual. Se fizermos a média da precipitação anual durante dez anos, e depois formos comparar esta média década a década, a precipitação tem vindo sempre a descer. E o número de secas a aumentar… Sim, temos secas mais frequentes e o País terá de se adaptar. Evidentemente que a situação é bastante mais grave no sul, uma vez que temos uma diferença de pre- cipitação anual muito grande entre norte e sul. Nas serras do Minho, no Gerês, por exemplo, chega a chover 1.800 milímetros. Mas, depois se vamos para Mértola a preci- pitação é da ordem dos 400 a 500 milímetros, menos de um terço. Isto vai obrigar, aliás, está já a obrigar, a que se faça uma gestão da água tendo em conta esta mudança climática e sobretudo naquele setor que consome mais água, que tem maior consumo de água, que é agricultura. Considera fundamental o papel que a agricultura de precisão pode ter nesta necessidade de uma gestão cada vez melhor da água? Exato, eu diria que é extremamente importante. É fun- damental utilizar a tecnologia para uma maior eficiência no uso da água. E isso, hoje em dia, faz-se com agricul- tura de precisão. Por isso, o que seria desejável, na minha opinião era que houvessem incentivos para os agriculto- res, que dependem de sistemas de regadio. O exemplo O que seria desejável, na minha opinião, era que houvessem incentivos para os agricultores, que dependem de sistemas de regadio. (…) Há países, como Israel, que baixam o custo da água quando o agricultor consegue, com o mesmo consumo, aumentar a produção

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