BA2 - Agriterra

19 POLÍTICA AGRÍCOLA estufa, é preciso aumentar o seques- tro de carbono, pois a agricultura tem a fábrica que permite fixar o CO 2 da atmosfera e convertê-lo em carbono orgânico. A fábrica é a planta e o pro- cesso é a fotossíntese! O aumento de 1% (um ponto per- centual) de matéria orgânica no solo corresponde a cerca de 30 toneladas de carbono orgânico por cada hec- tare, o que para uma SAU nacional já superior a 3.600.000 ha, corresponde a mais de 100milhões de toneladas de carbono retirado da atmosfera (CO 2 ) e colocado no solo. Por outro lado, se ao contrário de aumentar a matéria orgânica do solo ela for reduzida, então, em vez de sequestro, temos emissões. Uma das formas mais ecológicas de produzir matéria orgânica é fazer cul- tura para revestimento do solo, em particular nas culturas permanentes como a vinha (fig. 2). 3. PROTEGER O AMBIENTE E PRESERVAR A BIODIVERSIDADE O primeiro ambiente a proteger com a sua múltipla biodiversidade é o ecos- sistema solo. Para além dos aspetos já referidos, para aumentar a maté- ria orgânica, há que evitar a erosão e a contaminação química provocada por adubos e pesticidas. O segundo ambiente a proteger é o aquático. Ao nível dos aquíferos, que são as reservas de água mais estáveis e as de último recurso, é inaceitável que Portugal tenha, há mais de 20 anos, 9 zonas vulneráveis de nitratos, com a água imprópria para consumo. Outro aspeto da biodiversidade muito afetada pelas más práticas agrícola é a dos insetos e outros organismos auxi- liares na limitação natural das pragas e na polinização das culturas. Estes organismos são afetados principal- mente pelos pesticidas não seletivos, que começaram a ser retirados de toda a agricultura europeia. Outra biodiversidade a preservar é a genética, no que diz respeito às variedades tradicionais (caso do trigo Barbela, um trigo de palha alta que dispensa herbicidas, e com baixo teor de glúten), ou às raças autóctones. 4. ASSEGURAR UM RETORNO ECONÓMICO JUSTO NA CADEIA ALIMENTAR É preciso encurtar a distância entre produtor e consumidor (circuitos de comercialização mais curtos) e reduzir as margens comerciais da distribuição. O consumidor em Portugal já paga o suficiente pelos alimentos. O agri- cultor é que recebe pouco, ficando com a menor parte e isto precisa ser alterado com urgência. Oaumento demodos de produção que apostemna qualidade, como as deno- minações de origem protegidas (DOP, IGP e ETG) e a agricultura biológica, é também uma forma de valorizar a produção agrícola no produtor. 5. AUMENTAR A AGRICULTURA BIOLÓGICA O aumento da área agrícola de agri- cultura biológica na UE para 25% até 2030 parece ser o objetivo mais polé- mico em Portugal. Mas a Comissão Europeia não tem grandes dúvidas de que é urgente este substancial aumento, quer para responder aos desafios ambientais e climáticos, quer para responder à procura que cresce na UE mais de 10% ao ano. OBJETIVOS QUANTIFICADOS DA ESTRATÉGIA EUROPEIA: • Reduzir em 50% o uso e o risco de pesticidasquímicos (desíntese) até2030; • Reduzir em50%o uso dos pesticidas mais tóxicos até 2030; • Reduzir a lixiviação (perdas) dosnutrien- tes dos adubos empelomenos 50%, assegurando tambémamanutenção da fertilidade do solo; • Reduzir ousode adubos químicos em pelomenos 20% até 2030; • Reduzir as vendas de antibióticos para a produção animal e para a produção aquícola; • Aumentaraáreadeagriculturabiológica para25%de todaaáreaagrícoladaUE. Uma agricultura que trabalhe com a Natureza e não contra ela, é indis- pensável para resolver a emergência climática e paramelhor prevenir e resis- tir às doenças. É o momento de colocar a ecologia ao mesmo nível da economia, pois sustentabilidade económica sem sus- tentabilidade ambiental (e social), não é uma verdadeira sustentabilidade. n Figura 2. Adubação verde na vinha, com enrelvamento biodiverso (1º plano) e mistura de plantas melíferas (2º plano), para fixar carbono e azoto na parcela, aumentar as populações de insetos auxiliares no combate às pragas da vinha, e de abelhas para a produção de mel. Herdade do Esporão, Reguengos de Monsaraz, 2018.

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