55 SUSTENTABILIDADE e o uso eficiente de recursos. Porém, é essencial garantir que as novas exigências não criem barreiras ou afetem a competitividade da indústria”. E, no que aos materiais plásticos diz respeito, acrescenta ainda: Estes “desempenham um papel fundamental na inovação do setor da construção, nomeadamente em termos de eficiência energética, isolamento térmico e durabilidade dos edifícios, sendo essencial que estes instrumentos regulatórios reconheçam as suas propriedades e mais-valias na sua utilização”. Para José de Matos, secretário- -geral da Associação Portuguesa dos Comerciantes de Materiais de Construção (APCMC), as duas legislações em análise têm em comum “a ideia de normalização de procedimentos, que, espera-se, venha a permitir uma maior eficiência ao longo da cadeia de valor da construção e contribuir para os objetivos da sustentabilidade ambiental, quer dos produtos, quer das obras”. Todavia, avisa que os impactos concretos dependerão “da definição final do muito que ainda está em aberto e, finalmente, da forma como irão ser implementadas pelos variados agentes do setor”. Na visão da Associação Nacional dos Fabricantes de Janelas Eficientes (ANFAJE), estas medidas vão reforçar a necessidade de modernização do setor das janelas eficientes, impondo padrões mais rigorosos de eficiência energética e rastreabilidade, o que pode impulsionar a competitividade das empresas que se adaptarem mais rapidamente. “Os fabricantes terão de utilizar materiais ainda mais sustentáveis, além de assegurar maior durabilidade e reciclabilidade”, refere João Ferreira Gomes, presidente da ANFAJE. INCORPORAÇÃO DE MATERIAIS RECICLADOS Segundo a APIP, a incorporação de plásticos reciclados na construção representa uma oportunidade para impulsionar a economia circular e reduzir a pegada ambiental, alinhando-se com os objetivos de descarbonização do setor. Não obstante, persistem desafios, como a disponibilidade de matéria-prima reciclada de qualidade, o cumprimento de requisitos técnicos exigentes e a necessidade de harmonização normativa para evitar restrições desnecessárias ao uso desses materiais. “Um dos principais obstáculos técnicos e regulatórios envolve a utilização de PVC reciclado, especialmente devido à derrogação em vigor para materiais que, no passado, continham estabilizantes com chumbo e cádmio. Atualmente, essa exceção permite o uso de PVC reciclado com vestígios de chumbo, desde que dentro dos limites estabelecidos, possibilitando a reciclagem de materiais antigos e evitando desperdícios”, conforme explica Nuno Aguiar. Contudo, o diretor técnico da APIP alerta que o fim dessa derrogação poderá comprometer a disponibilidade de matéria-prima reciclada compatível, impactando a reciclagem de PVC ao proibir a reutilização de materiais com esses metais. Isso pode reduzir a oferta de PVC reciclado, aumentar a dependência de resina virgem e, diante de restrições mais rígidas na UE, afetar a competitividade das empresas. Sem alternativas viáveis, há o risco de mais PVC pós-consumo ser enviado para aterro, contrariando os princípios da economia circular. A ANFAJE reconhece a importância da circularidade e da reciclagem de materiais na construção e vê a incorporação de materiais reciclados nas janelas como uma oportunidade. “O uso de perfis de PVC e alumínio reciclado ou de vidro reciclado já é uma realidade no setor, mantendo- -se os elevados padrões de eficiência energética e durabilidade”, afirma o presidente da associação. E, devido à aposta constante do setor em I&D, “existe uma enorme preparação das empresas”. Para a APCMC, esta exigência não é disruptiva nem complexa. E justifica: a utilização de materiais reciclados nas obras públicas já é uma prática consolidada, impulsionada por fatores ambientais, económicos e legais. O verdadeiro desafio surgirá quando os produtos forem avaliados por critérios normalizados, como o impacto no aquecimento global, exigindo uma nova abordagem dos fabricantes. A exigência de material reciclado nos produtos de construção levanta, porém, preocupações da parte das empresas quanto à disponibilidade de matérias-primas e ao impacto nos custos. A Fersil, fabricante de tubos, realça que o maior desafio reside na garantia de um fornecimento estável e de qualidade de matérias-primas recicladas. “Frequentemente, não há disponibilidade de materiais reciclados que atendam aos rigorosos requisitos técnicos e normativos necessários para os nossos produtos”. Além disso, a rastreabilidade e certificação desses materiais continuam a ser um obstáculo, exigindo investimentos significativos em pesquisa e desenvolvimento. “Estamos a realizar testes com diferentes tipos de materiais reciclados para garantir que mantemos os padrões de qualidade e durabilidade”, acrescenta a Fersil, deixando nota da necessidade de colaboração com fornecedores para ampliar a oferta de materiais recicláveis de alto desempenho. Implementou também medidas de eficiência energética e redução de desperdício na produção, modernizando equipamentos e formando a equipa. A Caixiplás sublinha que já pratica a reciclagem de cortes de PVC (reciclável a 100%) e que está alinhada com as diretrizes da ANFAJE para continuar a adaptar os processos de produção aos novos requisitos ambientais: “Os perfis Veka, com que trabalhamos, usam
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