AUTOMÓVEL | OPINIÃO Marc Prieto, profesor de Economía e diretor do Instituto de Transporte e Mobilidade Sustentável, ESSCA School of Management A invasão russa da Ucrânia em 2022 foi muito mais do que um conflito bélico no coração da Europa. Foi um golpe sistémico para a indústria automóvel europeia, que já arrastava as feridas de duas crises consecutivas (a escassez de semicondutores e a pandemia de Covid-19). Em poucos meses, a guerra acelerou a reestruturação das cadeias de valor globais, expôs a fragilidade do modelo de produção 'just in time' e obrigou fabricantes e fornecedores a reconsiderar onde e como produzem. Este reajuste não é conjuntural, mas representa uma redefinição da estratégia industrial de um dos setores mais emblemáticos da economia europeia. A tempestade perfeita do automóvel europeu: guerra, cadeias de valor e o risco de uma globalização em rotura UMA INDÚSTRIA EXAUSTA ANTES DA GUERRA O setor automóvel europeu chegou ao início de 2022 enfraquecido. Entre 2019 e 2021, as vendas de veículos novos na União Europeia caíram cerca de 25%. As restrições sanitárias, as tensões logísticas e a escassez de chips reduziram a produção e prolongaram os prazos de entrega. A dinâmica do mercado já mostrava uma mudança para os veículos usados, refletindo consumidores mais prudentes, à mercê da inflação e da incerteza regulatória devido à transição energética. Neste contexto, o início da guerra na Ucrânia foi o golpe final que desestabilizou ainda mais um setor que mal começava a recuperar. IMPACTO IMEDIATO: MERCADOS E PRODUÇÃO EM QUEDA LIVRE A suspensão das atividades na Rússia, com a saída de grupos como RenaultNissan, Volkswagen, Hyundai-Kia ou Michelin, significou o abandono de um mercado que representava cerca de dois milhões de veículos por ano e no qual as multinacionais tinham inves20
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