www.interplast.pt 2025/4 27 Preço:11 € | Periodicidade: 4 edições por ano | Outubro, Novembro, Dezembro 2025 SOLDADURA POR ULTRASSONS PARA A INDÚSTRIA DE PLÁSTICOS Assuma o controlo total de cada fase do processo de soldadura com o Sistema de Soldadura por ultrassons Servo InfinityTM com Melt-Match®. Gerador IQ AUTO Gerador AiM Controlo preciso + indústria 4.0 Tempo, Energia e Distância Prensa Pneumática P220 Processo de soldadura multicanal www.dukane.com Alberto CORREIA Tm: (+351) 934 906 895 acorreia@dukane.com Tiago FERRAZ Tm: (+351) 915 279 601 tiago.ferraz@wondermac.pt INFINITY SERVO ™
PORTUGUÊS: Portugal, Brasil, Angola, Moçambique, ... ESPANHOL: Espanha, México, EUA, Argentina, Colômbia, Chile, Venezuela, Perú, ... ACEDA AO MERCADO LUSO-ESPANHOL DA INDÚSTRIA DE PLÁSTICOS O GRUPO EDITORIAL IBÉRICO DE ÂMBITO INTERNACIONAL INTEREMPRESAS MEDIA - ESPANHA Tel. +34 936 802 027 comercial@interempresas.net www.interempresas.net/info INDUGLOBAL - PORTUGAL Tel. (+351) 215 935 154 geral@interempresas.net www.induglobal.pt
SUMÁRIO Edição, Redação e Propriedade INDUGLOBAL, UNIPESSOAL, LDA. Avenida Defensores de Chaves, 15, 3.º F 1000-109 Lisboa (Portugal) Telefone (+351) 215 935 154 E-mail: geral@interempresas.net NIF PT503623768 Gerente Aleix Torné Detentora do capital da empresa Grupo Interempresas Media, S.L. (100%) Diretora Luísa Santos Equipa Editorial Luísa Santos, Esther Güell, Nerea Gorriti redacao_interplast@interempresas.net www.interplast.pt Preço de cada exemplar 11 € (IVA incl.) Assinatura anual 44 € (IVA incl.) Registo da Editora 219962 Registo na ERC 127297 Déposito Legal 455414/19 Distribuição total +2.000 envios. Distribuição digital a +1.300 profissionais. Tiragem +700 cópias em papel. Edição Nº 27 - Outubro, Novembro, Dezembro 2025 Estatuto Editorial disponível em https://www.interplast.pt/EstatutoEditorial.asp Impressão e acabamento Lidergraf Rua do Galhano, n.º 15 4480-089 Vila do Conde, Portugal www.lidergraf.eu Os trabalhos assinados são da exclusiva responsabilidade dos seus autores. É proibida a reprodução total ou parcial dos conteúdos editoriais desta revista sem a prévia autorização do editor. A redação da InterPLAST adotou as regras do Novo Acordo Ortográfico. ATUALIDADE 4 EDITORIAL 4 Indústria europeia de plásticos exige ação urgente de Bruxelas 10 Plastics Summit 2025: Lisboa no centro do debate global sobre o futuro dos plásticos 12 Entrevista com Rogério Henriques, diretor comercial da Moldplas 18 A tempestade perfeita do automóvel europeu: guerra, cadeias de valor e o risco de uma globalização em rotura 20 Fabricante de componentes para veículos de luxo cresce com maquinaria da KraussMaffei 22 Dukane redefine a rebitagem por ultrassons com tecnologia de 50 kHz para plásticos técnicos 24 Que plásticos dominarão o automóvel: reciclados ou de origem biológica? 26 Especialista em... indústria automóvel 28 Fabricação aditiva ao serviço do setor automóvel: o caso do Done Lab 30 Flexibilidade e inteligência na moldação por injeção: Quando o molde impresso encontra a visão 3D 36 Hibridização de processos na transformação de plásticos 38 MuCell: espuma microcelular para redução de peso e sustentabilidade 42 O futuro do corte de jitos/degating na injeção de plásticos: transição para o laser 44 Indústria nacional posiciona-se como referência europeia na aplicação do DPP 48 Novas regras, novos desafios: o que vai mudar na indústria dos materiais de construção 52 Kreyenborg e Coscollola impulsionam eficiência energética e sustentabilidade na reciclagem de plásticos 58 Nova geração de termoplásticos de base biológica com estruturas microcelulares para aplicações industriais sustentáveis 60 Da aviação à ortopedia: adesivo polimérico fabricado com redes dinâmicas de polímeros 65
4EDITORIAL Chegamos ao último trimestre de 2025 num momento particularmente desafiador para a indústria de plásticos nacional. O setor automóvel, historicamente um dos pilares da transformação de plásticos em Portugal, enfrenta a “tempestade perfeita” — como Marc Prieto bem descreve nesta edição da InterPlast. Guerras, transição energética, reconfiguração das cadeias de valor e incerteza geopolítica testam a resiliência de fabricantes e fornecedores. Num momento em que ambos precisam de ganhar agilidade, reduzir custos unitários, acelerar o ‘time-to-market’, e simultaneamente responder à descarbonização e à economia circular, as tecnologias emergentes — digitalização da produção, automação adaptativa, fabrico aditivo, materiais compósitos, soluções de rastreabilidade — deixam de ser opções, para passarem a necessidades. Mas não só. Nas tecnologias tradicionais, equipamentos que resolvem problemas antigos, máquinas com maior eficiência energética ou técnicas avançadas de injeção devem ser consideradas como forma de ganhar produtividade. Nesta revista, damos voz a algumas destas soluções e convidamo-lo a visitar o site www.interplast.pt, onde irá encontrar muitas mais. Tal como certamente acontecerá se visitar a Moldplas, de 13 a 15 de novembro. Localizada num dos principais polos industriais do país, a feira promete reunir, mais uma vez, os principais fornecedores de máquinas, equipamentos e materiais, quer para o fabrico de moldes, quer para a produção de peças plásticas. Como não podia deixar de ser, a InterPlast também vai lá estar, com uma edição repleta de temas que refletem a dinâmica que atravessa o setor. Em primeiro plano, o Plastics Summit – Global Event 2025, que colocou Lisboa no centro do debate global sobre o futuro dos plásticos, sublinhando o papel crescente de Portugal na diplomacia industrial e ambiental. Leia a reportagem na página 12. Outro marco importante que assinalamos neste número é a adoção do Passaporte Digital do Produto: Uma ferramenta de aplicabilidade obrigatória a partir de 2026, debatida a 16 de outubro no ‘Digital Product Passport Summit’, que irá requer, simultaneamente, inovação tecnológica, capacitação dos recursos humanos e uma relação direta entre a indústria e a academia. Será, certamente, um tema presente nas próximas edições da InterPlast. Neste último número de 2025, aproveitamos para agradecer a todos os nossos leitores, colaboradores e anunciantes a confiança depositada no nosso trabalho e reafirmar o compromisso de acompanhar — com rigor e independência — o caminho da indústria portuguesa de plásticos rumo a um futuro mais sustentável. Boa leitura e bons negócios! Plásticos e automóvel: inovação como resposta à tempestade perfeita Selenis cria Texnascis para acelerar a circularidade têxtil A Selenis, produtora global de poliésteres especiais, anunciou o lançamento da Texnascis, uma nova marca inteiramente dedicada à reciclagem têxtil e à promoção de um modelo circular no setor. A iniciativa visa transformar resíduos têxteis em novas matérias-primas e produtos de alto desempenho, reforçando o compromisso da empresa com a sustentabilidade e a inovação industrial. Com investimentos recentes nos EUA e em Itália, a Selenis aposta agora na Texnascis como plataforma para ligar toda a cadeia de valor têxtil, desde a recolha e valorização de resíduos até à criação de novos polímeros reciclados. A empresa quer “dar uma nova vida a cada peça de roupa”, afirmou o CEO Duarte Matos Gil, sublinhando que a verdadeira circularidade depende de inovação tecnológica e enquadramento legislativo adequado. Segundo Eduardo Santos, diretor de Estratégia Corporativa, a Texnascis pretende escalar soluções de reciclagem de poliéster do laboratório à produção industrial, garantindo qualidade e consistência nas matérias-primas recicladas.
5 ATUALIDADE O mundo ENGEL Eficiente. Confiável. Inovador. Como uma das empresas líderes mundiais na área de fabricação de máquinas de injeção para plásticos, oferecemos aos nossos clientes soluções de sistemas integrados. Isto significa: tecnologia de moldação por injeção de uma única fonte. Máquina, automação, processo, formação e serviço estão perfeitamente integrados com a ENGEL. Nós olhamos sempre para o futuro. A inovação e as mais recentes tecnologias oferecem aos nossos clientes uma vantagem competitiva decisiva. Get connected – com as nossas máquinas. engelglobal.com Semana de Moldes regressa em novembro A Semana de Moldes 2025 – Moulds Event realiza-se de 24 a 28 de novembro na Marinha Grande e Oliveira de Azeméis, afirmando-se como espaço de análise, reflexão e debate sobre tendências tecnológicas e desafios de mercado que afetam o setor. O evento, co-organizado pelo Centimfe, Cefamol e Pool-net, pretende reforçar o posicionamento internacional do cluster português de moldes e plásticos. O programa inclui sessões sobre Rapid Product Development (RPD), eventos de Brokerage (B2B), o fórum ‘Tech i9’, conferências sobre projetos Robota Sudoe, PTcentroDiH, INOV.AM e Digi 3D, além do jantar de gala oficial no Castelo de Leiria. A iniciativa dirige-se a profissionais, empresários, investigadores e fornecedores de tecnologia da indústria de moldes e plásticos, constituindo uma plataforma privilegiada para networking, partilha de conhecimento e identificação de oportunidades de negócio num setor estratégico para a economia portuguesa. Informações e inscrições disponíveis em mouldsevent.com
6 ATUALIDADE MAIS NOTÍCIAS DO SETOR EM: WWW.INTERPLAST.PT • SUBSCREVA A NOSSA NEWSLETTER Espanha é país parceiro da Formnext 2025 Entre 18 e 21 de novembro de 2025, a Formnext volta a transformar o recinto de feiras de Frankfurt no epicentro da fabricação aditiva (FA). Com um variado programa de atividades paralelas focado em aplicações reais em diversos setores, a feira conta com mais de 800 expositores. Este ano, o país parceiro é Espanha, que participa com uma trintena de empresas. Espanha destaca-se por ter uma indústria de FA dinâmica e em rápido crescimento, atuando também como ponte entre Europa e América Latina. Tradicionalmente um dos países expositores mais fortes na Formnext, a indústria espanhola de FA é particularmente forte em sistemas, materiais e I&D. O programa paralelo inclui três palcos temáticos (Industry Stage, Application Stage e Technology Stage), seminários Discover3DPrinting em colaboração com a ACAM, Prémios Formnext em seis categorias, zona de start-ups e AM Jobs@Formnext para oportunidades de carreira. Destaque ainda para o simpósio BE-AM sobre impressão 3D na construção (19 de novembro) e a Cimeira de Inovação e Normas de Fabricação Aditiva da ASTM International (17 de novembro). Sonae atinge 91% de reciclabilidade nas embalagens de plástico de marca própria A Sonae anunciou ter alcançado 91% de reciclabilidade nas embalagens de plástico das suas marcas próprias, consolidando o compromisso do grupo com a sustentabilidade e a economia circular. O resultado representa um avanço expressivo face aos 72% registados em 2019, embora a empresa reconheça que atingir os 100% previstos para 2025 será impossível, devido a limitações tecnológicas, logísticas e comportamentais. Certos plásticos multimateriais ou com barreira, essenciais para garantir a segurança e conservação alimentar, continuam a representar um obstáculo à substituição por alternativas recicláveis. Também persistem desafios ao nível da triagem e do comportamento dos consumidores, cuja correta separação e devolução das embalagens é crucial para o sucesso do ciclo de reciclagem. Para superar estas barreiras, a Sonae tem colaborado com a Sociedade Ponto Verde, a Smart Waste e parceiros industriais, promovendo o Ecodesign e o desenvolvimento de novos materiais. A campanha ‘Falhar foi só o início’ pretende sensibilizar consumidores e setor para a importância da mobilização coletiva em torno da circularidade. Vangest amplia presença internacional e reforça aposta no setor médico Em julho, o Grupo Vangest concluiu a aquisição das empresas britânicas Micro Systems Ltd e Optimold Limited, reconhecidas pela sua especialização no fabrico de moldes de alta precisão e na injeção de termoplásticos para a indústria médica. Com mais de duas décadas de experiência, estas empresas trazem ao grupo português competências avançadas em engenharia e produção. Segundo Jarl Severn, CEO da Vangest, esta operação “reforça o compromisso de expandir a Divisão Médica”, permitindo acelerar o desenvolvimento de projetos, potenciar a inovação e aumentar a agilidade operacional. A aquisição marca um passo estratégico para a indústria portuguesa, ao integrar no Grupo Vangest dois líderes britânicos e consolidar a sua posição como parceiro de referência no desenvolvimento de dispositivos médicos, sistemas de administração de fármacos e tecnologias de diagnóstico de elevada complexidade.
7 UE aprova novas regras para eliminar perdas de pellets de plástico e combater poluição por microplásticos O Parlamento Europeu aprovou, a 23 de outubro, novas medidas para reduzir as perdas de pellets de plástico ao longo da cadeia de abastecimento, reforçando o compromisso da União Europeia com a meta de reduzir em 30% as emissões de microplásticos até 2030. As novas medidas obrigam todas as entidades que manuseiam mais de cinco toneladas de pellets por ano a elaborar, implementar e monitorizar planos de gestão de riscos, com procedimentos específicos para prevenir, conter e limpar derrames. Estes planos deverão ser adaptados à dimensão e natureza das operações e certificados regularmente, garantindo maior responsabilização ao longo de toda a cadeia de valor. As grandes e médias empresas estarão sujeitas a auditorias de certificação periódicas, enquanto as pequenas empresas terão de cumprir um regime de certificação única, de modo a equilibrar a carga administrativa. As transportadoras europeias e de países terceiros, incluindo operadores rodoviários, ferroviários e fluviais, passam também a estar abrangidas pelas novas regras. No transporte marítimo, os operadores deverão garantir que os pellets são embalados em contentores de elevada resistência mecânica, devidamente selados e rotulados, de forma a suportar as condições normais de navegação. As cargas deverão ser acompanhadas por documentação técnica detalhada e instruções específicas de estiva, de forma a minimizar o risco de libertações acidentais.
8 ATUALIDADE MAIS NOTÍCIAS DO SETOR EM: WWW.INTERPLAST.PT • SUBSCREVA A NOSSA NEWSLETTER UE aprova novas regras para tornar os brinquedos mais seguros O Conselho da União Europeia aprovou, a 13 de outubro, o novo regulamento sobre a segurança dos brinquedos, que reforça as regras de proteção infantil, proíbe substâncias químicas perigosas e introduz o passaporte digital do produto para melhorar o controlo e a rastreabilidade no mercado europeu. O novo regulamento proíbe ou restringe o uso em brinquedos de disruptores endócrinos, sensibilizantes cutâneos, biocidas e as controversas substâncias perfluoroalquiladas e polifluoroalquiladas (PFAS), conhecidas como ‘químicos eternos’. Prevê igualmente a implementação neste mercado do passaporte digital do produto, um documento eletrónico que deverá conter informação essencial sobre a segurança de cada brinquedo, facilitando a fiscalização pelas autoridades e o controlo nas fronteiras. O sistema digital permitirá também melhor rastreabilidade e maior transparência para consumidores e produtores, tornando mais fácil identificar brinquedos que não cumpram as normas da UE. K-Alliance agrupa todas as feiras de plásticos e borracha da Messe Düsseldorf A Messe Düsseldorf apresentou a K-Alliance, uma nova marca que agrupa as suas feiras internacionais do setor de plásticos e borracha, incluindo a feira K, que em outubro reuniu mais de 3.200 expositores na Alemanha. A mudança substitui a anterior marca Global Gate e visa reforçar a presença global da empresa nos mercados emergentes. A rede K-Alliance inclui 11 feiras internacionais, como a Plastindia, a Chinaplas ou a Plastics & Rubber Indonesia, e recentemente incorporou a Saudi Plastics & Petrochem, que se realizará em 2026, em Riade. Aimplas alarga certificação RecyClass aos setores automóvel e eletroeletrónico O centro tecnológico Aimplas ampliou o seu reconhecimento como organismo certificador da RecyClass, passando a abranger também os setores automóvel e eletroeletrónico, além do das embalagens. Com esta homologação, o centro poderá validar tecnologicamente novas soluções plásticas desenvolvidas por empresas destes setores, assegurando que são compatíveis com os fluxos de reciclagem existentes e contribuem para uma produção mais circular e sustentável. A metodologia da RecyClass, amplamente reconhecida na Europa, avalia a reciclabilidade e a compatibilidade dos materiais plásticos com os processos de reciclagem atuais, promovendo maior rastreabilidade ambiental e o cumprimento das metas europeias de sustentabilidade.
9 ATUALIDADE Com a tecnologia líder da Netstal em moldagem por injeção para aplicações de embalagens de alto desempenho. Maximizamos a sua eficiência de produção Embalagens Portugal falha metas de reciclagem, apesar do aumento do investimento Portugal não deverá cumprir as metas de reciclagem de embalagens para 2025, apesar de um reforço histórico no investimento do sistema SIGRE. No que se refere às embalagens de plástico, até ao final do terceiro trimestre foram encaminhadas 66 mil toneladas para reciclagem, apenas 3% acima do período homólogo — um crescimento considerado insuficiente pela Sociedade Ponto Verde (SPV). Entre janeiro e setembro, o sistema financiado pela SPV e outras entidades gestoras mobilizou 147,6 milhões de euros, mais 63,8 milhões do que em 2024, após a atualização dos valores de contrapartida pagos aos sistemas municipais e multimunicipais. No entanto, o aumento do financiamento não se refletiu em ganhos significativos de desempenho. Segundo Ana Trigo Morais, CEO da SPV, “Portugal está a investir mais do que nunca, mas sem modernização e eficiência no sistema de recolha seletiva, os resultados continuam aquém do necessário”. O país deveria alcançar uma taxa de 65% de reciclagem de embalagens até ao final de 2025, mas os números atuais mostram estagnação em vários materiais, incluindo o plástico, essencial para o cumprimento das metas europeias. A SPV defende que é urgente garantir que o investimento “se traduza em mais reciclagem efetiva e em dados transparentes”, reforçando a necessidade de inovação e melhor desempenho operacional em todo o sistema.
10 CONJUNTURA Indústria europeia de plásticos exige ação urgente de Bruxelas A produção e a competitividade da indústria europeia dos plásticos estão a afundar-se, enquanto a Ásia, liderada pela China, reforça o seu domínio global. O setor alerta para a perda acelerada de investimento e apela à União Europeia medidas imediatas para travar o declínio e proteger milhares de empregos. A indústria europeia dos plásticos atravessa uma das fases mais críticas das últimas décadas. De acordo com o relatório 'Plastics – The Fast Facts 2025', publicado pela associação Plastics Europe, o setor enfrenta uma perda acelerada de competitividade, uma quebra acentuada na faturação e um estancamento preocupante na transição para a economia circular. Apesar de uma ligeira recuperação na produção em 2024 — um aumento de 0,4%, atingindo 54,6 milhões de toneladas —, o peso europeu na produção mundial de plásticos continua a diminuir. Se, em 2006, a Europa representava 22% do total, em 2024, a quota caiu para apenas 12%. Os rendimentos do setor também registaram uma queda significativa: de 457 mil milhões de euros em 2022, para 398 mil milhões em 2024, o que representa uma descida de 13%. A ascensão asiática e o declínio europeu O contraste com a dinâmica global é evidente. A produção mundial de plásticos cresceu 4,1% no último ano, e 16,3% desde 2018, com a Ásia a assumir uma posição dominante: 57,2% da produção mundial, dos quais 34,5% são provenientes da China, o triplo do total produzido pela União Europeia. Benny Mermans, presidente da Plastics Europe, não poupa nas palavras: “A indústria europeia dos plásticos encontra-se num momento crucial. Enquanto a inovação e o investimento se aceleram noutros continentes, a Europa enfrenta uma redução da sua atividade e uma quebra na produção. É urgente agir para revitalizar a competitividade e proteger os setores estratégicos que dependem dos plásticos europeus”. Custos energéticos e impostos ambientais sobem, competitividade desce Entre os fatores que mais penalizam a indústria estão os custos energéticos elevados, as políticas fiscais ambientais e o aumento dos preços das matérias-primas, que têm levado ao encerramento de linhas e fábricas e à venda de ativos. Ainda assim, a balança comercial negativa da União Europeia em polímeros melhorou ligeiramente: de -0,8 milhões de toneladas em 2023, para -0,2 milhões em 2024, graças a um aumento de 10% nas exportações. No entanto, os regimes aduaneiros internacionais continuam a representar uma ameaça. Os Estados Unidos são, atualmente, a principal fonte de importações de polímeros para a Europa (18,9%) e o quarto destino das exportações europeias (7,7%). Circularidade em risco e liderança perdida O relatório destaca que o avanço europeu na produção de plásticos circulares — aqueles produzidos a partir de matérias-primas recicladas, biológicas ou derivadas da captura de carbono — está a perder terreno face à China e ao resto da Ásia. 2024 European plastics production 2024 World plastics production Global and European plastics production and economic indicators Plastics the Fast Facts 2025 430.9 Mt in 2024 World plastics production 2018-2024 evolution in million tonnes 0 10 20 30 40 300 400 339.4 30 1.2 ~0.1 370.6 Mt 347.7 30.8 1.2 0.1 379.8 Mt 347.3 31.6 1.5 0.2 0.2 380.6 Mt 359.8 32.5 1.7 394.2 Mt 0.2 0.1 362.3 35.5 2.3 400.4 Mt 0.3 0.1 374.2 36.2 3 413.8 Mt 0.4 0.1 387 40.8 2.6 430.9 Mt 2018 2019 2020 2021 2022 2023 2024 in 2021 9.5% 0.6% 89.8% 0.1% <0.1% Fossilbased Circular Circular PUR 5.3% Mechanically recycled (post-consumer) 9.5% PE-LD, -LLD 13.9% PE-HD, -MD 12.1% PP 19.0% PS, PS-E 5.1% PVC 12.8% PET 6.2% Other thermoplastics 7.1% Bio-based & bio-attributed 0.6% Carboncaptured <0.1% Other thermosets 8.3% Chemically recycled 0.1% 430.9 Mt in 2024 430.9 Mt in 2024 Total global plastics production Global mechanically & chemically recycled (post-consumer) plastics production3 Global bio-based and bio-attributed plastics production World plastics production by regions 16.3% 34.5% 8.3% 2.6%2.5% 20.1% 3.7% North America EU27+3 China Middle East, Africa Japan Central & South America CIS Rest of Asia 430.9 Mt in 2024 12% North America EU27+3 China Middle East, Africa Japan Central & South America CIS Rest of Asia 8.3% 19.1% 30.3% 4.9% 6.8% 4.5% 1.5% 24.6% 41.2 Mt in 2024 2.6 Mt in 2024 10.1% 23.5% 35.5% 7.1% 3.9% 0.3% 19.6% North America EU27+3* China Middle East, Africa Japan Central & South America CIS5 Rest of Asia4 *Mecanically recylcled (pre-consummer) excluded as not available for other regions of the World Fossil-based Bio-based (including bio-attributed since 2022) Mechanically recycled (post-consumer)1 Chemically recycled (post-consumer)2 Carbon-captured European plastics production 2018-2024 evolution in million tonnes 2018 2019 2020 0 2 4 6 8 40 50 60 2021 2022 2023 60.2 Mt 58.2 Mt 60.2 Mt 58.9 Mt 54.4 Mt 54.6 Mt 53.4 4.9 3.8 0.2 <0.1 51.1 5.2 3.6 0.3 <0.1 50.5 5.9 3.5 0.3 <0.1 47.2 7.7 3.2 0.7 0.1 42.9 7.5 3.1 0.8 0.1 48.9 5.5 3.5 0.3 <0.1 2024 43.3 7.7 2.9 0.6 0.1 62.3 Mt Fossil-based Bio-based (including bio-attributed since 2022) Mechanically recycled (post-consumer)1 Chemically recycled (post-consumer)6 Mechanically recycled (pre-consumer) 14.1% 5.3% 1.1 Chemically recycled 0.2% Mechanically recycled (post-consumer) 14.1% Mechanically recycled (pre-consumer) 5.3% PET 4.6% Other thermoplastics 11% Bio-based & bio-attributed 1.1% Other thermosets 7.7% 54.6 Mt
11 Em 2024, os plásticos circulares representaram 15,4% da produção da UE, mas esse número deve-se mais à queda dos plásticos fósseis (menos 18,9%) do que a um verdadeiro crescimento circular. A produção total manteve-se estável em 8,4 milhões de toneladas, com o reciclado mecânico a crescer apenas 2,7% e o reciclado químico praticamente estagnado. Enquanto isso, a produção global de plásticos circulares atingiu 43,9 milhões de toneladas, ultrapassando pela primeira vez os 10% do total mundial. A China sozinha produziu 13,4 milhões de toneladas — quase o dobro de toda a Europa. Apelo urgente a Bruxelas Virginia Janssens, diretora-geral da Plastics Europe, lança um aviso severo: “A indústria europeia dos plásticos está à beira do precipício. A falta de apoio político claro está a travar a transição para a circularidade e a descarbonização. As instituições europeias precisam de decidir se querem liderar o primeiro ecossistema circular de plásticos do mundo ou caminhar para uma desindustrialização ainda maior”. A associação apela a medidas políticas urgentes, que incluam: • A resolução da crise dos custos energéticos; • O reforço do controlo fronteiriço e da aplicação da legislação europeia; • O estímulo à produção e ao consumo de plásticos circulares, através de metas obrigatórias de conteúdo reciclado e incentivos fiscais; • A criação de um Observatório do Comércio de Produtos Químicos e Plásticos, para monitorizar os fluxos comerciais e garantir uma concorrência justa. Os líderes do setor lembram que os plásticos continuam a ser materiais essenciais para a inovação, a segurança e a resiliência industrial — desde a mobilidade elétrica à saúde, passando pelas energias renováveis. No entanto, alertam: sem uma resposta imediata, a Europa arrisca-se a perder um dos seus pilares industriais e a aumentar a sua dependência externa. “Só com uma indústria de plásticos europeia competitiva poderemos desbloquear as condições necessárias para uma economia verdadeiramente circular e neutra em carbono”, conclui Virginia Janssens. n Avda. Francesc Macià, 46-50, 5º-3ª 08208 Sabadell (Barcelona) Tel. 93 717 21 00 gravipes@gravipes.com - www.gravipes.com SISTEMAS DE DOSEAMENTO Doseamento gravimétrico Doseamento volumétrico Descarga de sacos e de Big Bags DOSEAMENTO DE PRECISÃO
12 PLASTICS SUMMIT 2025: LISBOA NO CENTRO DO DEBATE GLOBAL SOBRE O FUTURO DOS PLÁSTICOS Mais do que um encontro sobre o futuro dos plásticos, o Plastics Summit – Global Event 2025 marcou um ponto de viragem na forma como o setor encara a sustentabilidade e a inovação. Lisboa tornou-se palco de um debate global onde indústria, ciência e política se cruzaram para repensar o papel dos materiais plásticos num mundo em transição. Marta Clemente Lisboa foi, a 6 de outubro, o epicentro da discussão mundial sobre o futuro dos plásticos. O Plastics Summit – Global Event 2025 (PSGE), organizado pela Associação Portuguesa da Indústria de Plásticos (APIP), em parceria com associações congéneres de Espanha, Brasil e México, assumiu-se como um espaço de debate internacional sobre sustentabilidade, inovação e transição ecológica. Com o alto patrocínio da Presidência da República e o apoio de várias entiAmaro Reis, presidente da APIP, enfatizou a ambição de fazer deste evento “não apenas mais uma conferência, mas a conferência”.
dades institucionais, a conferência evidenciou o papel de Portugal na liderança da transformação global do setor. UMA CONFERÊNCIA PARA IMPULSIONAR A INOVAÇÃO Logo na sessão de abertura, o comunicador Filipe Domingues, apresentador do evento, transmitiu a dimensão do encontro: 1.500 participantes, 61 patrocinadores, 120 parceiros e tradução em seis línguas. Filipe Domingues ressaltou que vivemos “um momento decisivo para acelerar a inovação e a colaboração”, recordando que o evento foi neutro em carbono, com as emissões compensadas após avaliação da pegada ambiental. Seguiu-se a intervenção de Amaro Reis, presidente da APIP, que enfatizou a ambição de fazer deste evento “não apenas mais uma conferência, mas a conferência”. Realçou a participação de toda a cadeia de valor — empresas, universidades, decisores políticos e sociedade civil — e anunciou um marco histórico: a criação da World Union of Plastics Associations (WUPA), uma organização internacional destinada a “comunicar informação baseada em ciência, reconstruir a confiança pública e elevar o debate global com racionalidade, integridade e responsabilidade”. A abertura do PSGE incluiu ainda a intervenção do explorador espanhol Nacho Dean, que compartilhou a sua experiência de expedições pelos cinco continentes para sensibilizar para as alterações climáticas e a poluição marinha. Apresentou dados preocupantes do projeto Blue Spain e da sua réplica em Portugal: “quase 100% das amostras de água recolhidas continham microplásticos, sobretudo polietileno e polipropileno”. Ainda assim, deixou uma mensagem otimista: “atrás de cada problema há uma oportunidade, e agora temos a oportunidade de trabalhar juntos por oceanos saudáveis e livres de plásticos”. Para concluir o momento introdutório, Armindo Monteiro, presidente da Confederação Empresarial de Portugal (CIP), salientou que “não se trata de acabar com o plástico, mas de lhe dar um ciclo de vida mais responsável”. Defendeu uma transição justa, baseada em investimento, inovação e simplificação administrativa, lembrando que “Portugal está preparado para liderar uma mudança de paradigma nos plásticos”. RESILIÊNCIA E SUSTENTABILIDADE: A CHAVE DA TRANSFORMAÇÃO O primeiro painel, moderado por Natalia Ortega, editora-chefe da Plastics Technology Mexico, abordou a ‘Indústria Resiliente e Gestão Integrada’. Cristina Antunes, do Banco Santander Portugal, realçou o papel das finanças sustentáveis: “resiliência é compreender, medir e gerir a mudança”, defendendo que dados ESG (ambientais, sociais e de governança) credíveis são essenciais para atrair investimento. Duarte Cordeiro, ex-ministro do Ambiente e atual consultor, ressaltou a importância de políticas estáveis e previsíveis, lembrando que “a previsibilidade é competitividade” e que os impostos ambientais só são eficazes quando reinvestidos em inovação. Jerusalem Hernández Velasco, da KPMG Espanha, observou que a sustentabilidade deve ser encarada como “uma oportunidade estratégica e não apenas uma obrigação de compliance”, enquanto a eurodeputada Lídia Pereira observou que “ambição e flexibilidade não são opostos” e que as políticas climáticas devem apoiar a competitividade industrial. Da perspetiva da reciclagem, Margaux Barès, da Veolia, defendeu que a economia circular pode dar às empresas “vantagem competitiva ao garantir matéria-prima local e estável”, embora o preço do reciclado ainda precise de se dissociar do preço do plástico virgem. Outros oradores valorizaram o papel da ciência, da cooperação global e da inclusão. Maria Cortés Puch, da Sustainable Development Solutions Filipe Domingues, apresentador do PSGE 2025, ressaltou que vivemos “um momento decisivo para acelerar a inovação e a colaboração”, recordando que o evento foi neutro em carbono, com as emissões compensadas após avaliação da pegada ambiental. 13
14 Network (SDSN), assinalou a importância do conhecimento na liderança sustentável, e Miriam Olivi, da Women in Plastics Italy, ressaltou que “resiliência é, antes de mais, sobre pessoas”, apontando a diversidade e a inclusão como motores de inovação. Já Perc Pineda, economista da associação norte-americana Plastics, alertou para riscos globais ligados ao comércio e à energia, mas também para oportunidades na automação e na proximidade das cadeias de abastecimento. Entre visões de diferentes geografias e setores, do primeiro painel emergiu uma mensagem clara: a resiliência da indústria dependerá da convergência entre políticas estáveis, investimento em inovação, colaboração ao longo da cadeia de valor e uma integração efetiva da sustentabilidade como eixo estratégico. DA FÁBRICA AO CIDADÃO: A TRANSIÇÃO TAMBÉM É SOCIAL O segundo painel, moderado por Assunta Camilo, diretora do Instituto de Embalagens e da Futurepack, alargou o debate à dimensão social da transição, reunindo vozes da indústria, do direito, da saúde pública, da comunicação e da gestão de resíduos, todas centradas na mesma questão: como transformar consumidores e cidadãos em verdadeiros agentes de mudança. Filipe de Botton, presidente da Logoplaste, criticou a burocracia europeia que considera um entrave ao investimento, comparando os prazos excessivos para abrir fábricas na Europa com os Estados Unidos. Apelou a regras mais simples e a um verdadeiro mercado único europeu. De uma perspetiva asiática, Jianjun Li, vice-presidente da Kingfa Environmental Technology e diretor do Comité de Reciclagem da China Plastics Processing Industry Association (CPPIA), salientou o papel da rastreabilidade por blockchain e dos incentivos económicos na construção de confiança entre sociedade e indústria, promovendo a transformação dos consumidores de espetadores em protagonistas. O diretor-geral da Associação Portuguesa dos Industriais de Componentes para Calçado (APICCAPS), João Maia, enfatizou a necessidade de base científica: “Falamos de produtos biológicos, reciclados, éticos, mas não sabemos o que é melhor para o ambiente. Sem ciência, acabamos em religiões de consumo.” Também subtilizou a importância da rastreabilidade para calcular a pegada ambiental dos produtos. Na vertente jurídica, José Eduardo Martins, sócio da Abreu Advogados, observou que “a transição faz-se com confiança, transparência e responsabilidade partilhada entre governos, indústria e cidadãos”, sendo a lei um instrumento de capacitação. A jornalista Neivia Justa, líder em causas corporativas e membro do conselho consultivo do 30% Club Brazil, referiu o poder do consumidor: “cada consumidor empoderado influencia a sua rede. O efeito multiplicador é enorme”, enquanto Ricardo Neto, presidente da Novo Verde e da ERP Portugal, assinalou que “a transição é humana". A tecnologia não chega se não mudarmos comportamentos”, lembrando o trabalho de sensibilização com escolas e a necessidade de usar embalagens e redes sociais como veículos de educação. A visão da saúde pública foi apresentada por Susana Viegas, Professora da Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade Nova de Lisboa, que enfatizou a importância da literacia, e Yavuz Eroglu, presidente da Fundação da Indústria do Plástico da Turquia (PAGEV), advogou uma voz global do setor baseada em ciência, alertando contra “o politicamente correto que desvirtua o debate”. CIRCULARIDADE EM AÇÃO: REFORÇAR A CONFIANÇA E O MERCADO O debate prosseguiu com o painel ‘Manter o ciclo: reforçar a circularidade’, moderado por Liliam Benzi, consultora de comunicação da ABIEF e fundadora da LDB Comunicação Empresarial. Neste, a circularidade foi analisada sob diferentes ângulos — regulação, Mascote do PSGE 2025, durante o coffee-break.
mercado, inovação e financiamento —, mas com um denominador comum: a necessidade de confiança e cooperação entre todos os intervenientes. A gestão dos sistemas de responsabilidade alargada do produtor (RAP) esteve no centro das atenções. Ana Trigo Morais, CEO da Sociedade Ponto Verde, ressaltou que os recursos da RAP devem ser canalizados para a recolha e valorização de embalagens, evitando que sirvam para suprir carências orçamentais das autarquias. Uma preocupação que se ligou à ideia de Rita Nabeiro, presidente do BCSD Portugal, que observou que só com articulação entre setores será possível escalar soluções: “Sem escala e confiança não há circularidade.” O mercado de materiais reciclados foi analisado por Carolina Holland, analista sénior de plásticos da ICIS. A analista destacou uma queda na procura devido ao preço do material virgem, mas antecipou recuperação com a nova regulamentação europeia: “O desafio será garantir qualidade e diversidade de reciclados”. Também os materiais compostáveis tiveram relevância. Marco Versari, presidente do Consorzio Biorepack, recordou que cerca de 40% dos resíduos urbanos são restos alimentares e defendeu que as embalagens compostáveis contribuem para melhorar a recolha orgânica e gerar composto de qualidade. A inovação tecnológica foi abordada por Sally Beken, responsáA revista InterPlast e a congénere espanhola Plásticos Universales foram media partners do evento. 15
16 vel pela UK Circular Plastics Network na Innovate UK Business Connect, que indicou como prioridades a mudança de comportamento do consumidor, o desenvolvimento de novos materiais, infraestruturas adequadas e a escalabilidade do refill. Stefano Soro, da Comissão Europeia, assinalou o papel do Passaporte Digital de Produtos na rastreabilidade. Na vertente financeira, Alicia Rubi, sócia da EY, apresentou mecanismos como acordos de pré-compra e financiamento misto para acelerar as tecnologias de reciclagem. O CAMINHO DA COLABORAÇÃO ENTRE ECONOMIA E PLANETA Para concluir os trabalhos, o quarto painel, moderado por Jorge Cristino, sócio da Get2C e consultor em Ação Climática e Transição Sustentável, debruçou-se sobre o tema ‘Arquitetura de Ecossistemas Regenerativos’. O debate iniciou-se com Anselmo Crespo, diretor de conteúdos da CNN Portugal e TVI, que sublinhou o papel da comunicação como agente de mudança cultural, afirmando que o jornalismo deve inspirar confiança e dar visibilidade às soluções. “Temos de contar histórias que fiquem na memória”, disse. Emmanuelle Maire, da Comissão Europeia, observou que a Europa “ainda está demasiado focada em evitar o dano”, quando o futuro exige restaurar e regenerar. Maria da Graça Carvalho, encerrou o encontro com um compromisso claro: construir “uma verdadeira economia circular”. SUSTAINABLE PLASTICS Além dos quatro painéis de discussão, que tiveram lugar no palco principal, o Plastics Summit – Global Event 2025 contou também com um espaço dedicado à apresentação de 14 projetos, desenvolvidos no âmbito da Agenda Sustainable Plastics do PRR, demonstrando soluções concretas e replicáveis para promover a economia circular do setor. Este ‘palco Sustainable Plastics’ contou, ainda, com a presença e intervenção de Pedro Dominguinhos, presidente da Comissão Nacional de Acompanhamento do PRR. Para quem opera no setor — desde transformadores a recicladores, passando por fornecedores e designers de embalagens — o foco nos projetos da Agenda representa uma aposta prática: novas cadeias de valor, utilização de matérias-primas secundárias, economia de recursos e redução de emissões, tudo num cenário em que a sustentabilidade deixa de ser apenas um vetor complementar e passa a ser um critério competitivo. Nuno Aguiar, diretor técnico da APIP, apresentou os projetos desenvolvidos no âmbito da da Agenda Sustainable Plastics. Do evento resultou um Position Statement, elaborado com o contributo de 116 especialistas nacionais e internacionais da cadeia de valor dos plásticos, que será apresentado na COP30 (10 a 21 de novembro, Belém, Brasil).
17 Els Bruggeman, da Euroconsumers, destacou que “os consumidores não são parte do problema, são o motor da solução”, apontando a necessidade de remover barreiras de preço e simplificar sistemas de devolução e reutilização. A dimensão económica surgiu na voz de Alexandre Dangis, vice-presidente de Assuntos Corporativos Globais do grupo GreenDot, que descreveu o setor de forma realista: a reciclagem europeia enfrenta dificuldades para sobreviver num mercado instável. Defendeu previsibilidade regulatória e criação de mercados regionais para matérias-primas recicladas, alertando que, caso contrário, a economia circular se torna apenas um conceito vazio. As intervenções de Jo Ruxton, fundadora da Ocean Generation, e Richard Thompson, professor de Biologia Marinha e diretor do Instituto Marinho da Universidade de Plymouth, trouxeram o impacto direto e a urgência científica. Ruxton demonstrou como histórias visuais — da poluição à regeneração comunitária — mobilizam ação. Thompson explicou que “a poluição plástica não é um problema de fim de vida, mas de todo o ciclo”, defendendo inovação no design e legislação robusta para estimular produtos realmente sustentáveis. Rui Quadrado, da Tomra Systems, partilhou a experiência de Lisboa com sistemas de reutilização urbana e encerrou com uma mensagem prática: “Está na hora de agir — de tornar a circularidade visível e recompensadora.” Entre ciência, políticas e cidadãos, ficou a certeza: regenerar é uma nova ética de colaboração, onde economia e planeta se reconstroem em conjunto. UM APELO FINAL À COOPERAÇÃO GLOBAL Na sessão de encerramento, Marta Moreira Marques, coordenadora do Comité Científico do evento, observou a evolução face à edição anterior, realçando o foco em soluções práticas e na mudança de comportamentos, “do consumidor à indústria”. A jovem marroquina Romaissae Eddibi, em nome da associação Big Heart, trouxe a voz da nova geração, lembrando que “o problema não é o plástico, são as nossas escolhas”. Para fechar com chave de ouro, a ministra do Ambiente e da Energia, Maria da Graça Carvalho, encerrou o encontro com um compromisso claro: construir “uma verdadeira economia circular”, apoiada em medidas como o plano ‘Terra’ e o futuro Sistema Nacional de Depósito e Reembolso. “A economia circular só se concretiza com todos - é assim que construiremos o futuro”, concluiu, deixando ecoar na sala a ideia que melhor resumiu o Plastics Summit – Global Event 2025: o plástico pode ser parte da solução. n Sistemas de medição de perfil em linha info@imvolca.com +34 936 626 533 www.imvolca.com EXTRUSION CUTTING AND WINDING MACHINERY F.K.W SPIROFLUX Mangueiras aquecidas Tacos de borracha e correntes Fusos
ENTREVISTA 18 ROGÉRIO HENRIQUES, DIRETOR COMERCIAL DA MOLDPLAS "A Moldplas, como feira de referência do setor, é uma ferramenta comercial de grande valor com potencial para gerar negócios" De 13 a 15 de novembro, a Exposalão volta a ser palco da Moldplas, evento de referência para as indústrias de moldes e plásticos. Após três anos de interregno, o certame regressa com um foco claro na inovação tecnológica, eficiência energética e diversificação de mercados. Em entrevista à InterPlast, Rogério Henriques, diretor comercial do salão, sublinha o espírito empreendedor e a capacidade de reinvenção do setor, destacando o papel da feira como ferramenta estratégica para gerar negócio, contactos e novas oportunidades de negócio. Luísa Santos Tanto a indústria de moldes como a de plásticos atravessam um período difícil. Esta conjuntura refletiu-se nos resultados desta edição da Moldplas? Graças ao espírito positivo e empreendedor dos expositores, não notámos diferença significativa na fase de comercialização do evento. Notou-se inclusive uma atitude e vontade de ultrapassar algumas dificuldades que o mercado apresenta.
ENTREVISTA 19 Alguma delas se destaca pelo número de expositores? Poderia destacar a presença muito considerável do setor de injeção de plásticos, não desmerecendo todas as outras áreas da feira, que são muitas e que merecerão certamente a visita de profissionais dos mais variados quadrantes da indústria. Que setores utilizadores esperam atrair para o certame? Pela experiência registada nas últimas edições, contamos receber visitantes não só do setor dos moldes e plásticos, mas também da área da metalomecânica geral, defesa, aeronáutica e indústria transformadora geral. Esperamos um número de visitantes entre os 13.000 e 18.000, portanto, dentro dos registos das últimas edições. Além da área expositiva, estão previstas outras atividades paralelas? Haverá uma área para conferências que será utilizada por expositores e outras entidades com vista a dinamizar a feira e enriquecer a experiência do visitante. O evento passou de quatro dias, em 2022, para três dias. Porquê esta alteração? A concentração do número de dias nas feiras profissionais é uma tendência que temos vindo a acompanhar em diversos eventos internacionais. Internamente, nos últimos dois anos, realizámos outras feiras profissionais do setor industrial com redução de número de dias, e verificámos uma reação positiva por parte dos expositores, não se tendo verificado redução de número de visitantes. Acreditamos que o mesmo irá acontecer na Moldplas. n A Moldplas decorrer em simultâneo com os certames 3D Additive, I4.0 Expo e Subcontração. Como é que a Moldplas pode contribuir para ajudar as empresas portuguesas a ultrapassar desafios como a estagnação na indústria automóvel, a subida dos custos energéticos ou a falta de mão de obra? A Moldplas, como feira de referência do setor, será sempre uma ferramenta comercial de grande valor com potencial para gerar negócios, contatos, estimular e estreitar relações comerciais. O setor já demonstrou que tem e terá sempre capacidade para se reinventar e procurar novos mercados alvo, como por exemplo a área da defesa, aeronáutica, comunicações, etc. O interregno de três anos desde a última Moldplas também teve repercussões nesta edição? Que razões motivaram este interregno? A feira já teve, no passado, uma frequência de três em três anos, pelo que este intervalo não teve qualquer influência negativa nesta edição. Contudo, projetamos para o futuro voltar à cadência bienal. Quantos expositores terá a feira? Nesta edição, contamos com cerca de 180 expositores presentes. Entre eles, estão empresas internacionais? Estão sempre presentes empresas internacionais, principalmente oriundas da Europa e da Ásia. Que tecnologias vamos poder encontrar no certame? Teremos novidades na área da injeção, ferramentas, corte por CNC, fabrico aditivo em vários materiais, robótica, metrologia e softwares. Nota-se, acima de tudo, um aumento das soluções com menor consumo energético, de equipamentos que permitem processos mais rápidos, e de novos materiais. 16382_anuncio_interplast_210x68.pdf 1 28/01/22 10:25
AUTOMÓVEL | OPINIÃO Marc Prieto, profesor de Economía e diretor do Instituto de Transporte e Mobilidade Sustentável, ESSCA School of Management A invasão russa da Ucrânia em 2022 foi muito mais do que um conflito bélico no coração da Europa. Foi um golpe sistémico para a indústria automóvel europeia, que já arrastava as feridas de duas crises consecutivas (a escassez de semicondutores e a pandemia de Covid-19). Em poucos meses, a guerra acelerou a reestruturação das cadeias de valor globais, expôs a fragilidade do modelo de produção 'just in time' e obrigou fabricantes e fornecedores a reconsiderar onde e como produzem. Este reajuste não é conjuntural, mas representa uma redefinição da estratégia industrial de um dos setores mais emblemáticos da economia europeia. A tempestade perfeita do automóvel europeu: guerra, cadeias de valor e o risco de uma globalização em rotura UMA INDÚSTRIA EXAUSTA ANTES DA GUERRA O setor automóvel europeu chegou ao início de 2022 enfraquecido. Entre 2019 e 2021, as vendas de veículos novos na União Europeia caíram cerca de 25%. As restrições sanitárias, as tensões logísticas e a escassez de chips reduziram a produção e prolongaram os prazos de entrega. A dinâmica do mercado já mostrava uma mudança para os veículos usados, refletindo consumidores mais prudentes, à mercê da inflação e da incerteza regulatória devido à transição energética. Neste contexto, o início da guerra na Ucrânia foi o golpe final que desestabilizou ainda mais um setor que mal começava a recuperar. IMPACTO IMEDIATO: MERCADOS E PRODUÇÃO EM QUEDA LIVRE A suspensão das atividades na Rússia, com a saída de grupos como RenaultNissan, Volkswagen, Hyundai-Kia ou Michelin, significou o abandono de um mercado que representava cerca de dois milhões de veículos por ano e no qual as multinacionais tinham inves20
AUTOMÓVEL | OPINIÃO tido milhares de milhões em fábricas e redes de distribuição. O mercado russo despencou 85% nos primeiros meses da guerra, e o ucraniano, menor em tamanho, mas estrategicamente importante para certos fornecedores, perdeu mais de 90% das suas matrículas. A indústria enfrentou um duplo choque: de procura, devido ao colapso dos mercados, e de oferta, devido à interrupção dos fornecimentos. Fornecedores como a Leoni, que fabrica cabos na Ucrânia, foram obrigados a interromper as operações, provocando paralisações em fábricas de montagem na Alemanha e em outros países. A lógica de produção “enxuta”, projetada para minimizar estoques e custos, mostrou sua vulnerabilidade em um mundo fragmentado e exposto a eventos geopolíticos extremos. AS MATÉRIAS-PRIMAS, UMA NOVA FRENTE DE BATALHA Se a escassez de componentes eletrónicos já havia causado tensão no setor, a guerra abriu outra frente: a das matérias-primas críticas. A Rússia é um importante exportador de alumínio, níquel, paládio e outros metais essenciais para a fabricação de motores, catalisadores e baterias. Os preços desses materiais dispararam em 2021 e 2022 (até 76% no caso do paládio), alimentando a inflação e encarecendo o custo final dos veículos. A transição para o carro elétrico, apresentada como a saída para a dependência do petróleo, enfrenta assim uma nova dependência: a dos metais estratégicos, muitos deles concentrados em países com instabilidade política ou risco geopolítico. A RETIRADA DO OCIDENTE E O AVANÇO DA CHINA A saída das marcas europeias e japonesas da Rússia abriu um espaço que a China está disposta a ocupar. Fabricantes como Geely ou Haval foram os primeiros a posicionar-se para abastecer o mercado russo, apoiados nas 'novas rotas da seda' que fortalecem a cooperação logística entre Moscovo e Pequim. No entanto, a aposta chinesa não está isenta de riscos. Uma aliança demasiado estreita com a Rússia poderia expor Pequim a sanções que ameaçariam a sua posição no comércio global. A reconfiguração do mercado russo tornou-se um caso de estudo sobre como a geopolítica redefine o mapa industrial mundial. As marcas chinesas ampliaram as suas quotas de mercado não só em relação às vendas de automóveis particulares, mas também às de veículos utilitários e camiões. REPENSANDO A GLOBALIZAÇÃO: DA EFICIÊNCIA AO RISCO A principal lição desta crise é que a busca pela eficiência cedeu lugar à gestão do risco. Os fabricantes europeus tiveram de rever as suas cadeias de abastecimento, diversificando fornecedores, reforçando a integração vertical e aceitando o custo de manter inventários estratégicos. A proximidade geográfica e a fiabilidade dos parceiros passam a ser tão importantes quanto o preço. Esta mudança aponta para uma regionalização da produção, em que a Europa procura garantir o acesso a materiais críticos e reduzir a sua dependência de regiões politicamente voláteis. A TRANSIÇÃO ENERGÉTICA: SOLUÇÃO OU NOVO PROBLEMA? A mudança para os veículos elétricos, além de ser uma exigência regulatória na UE, tornou-se uma aposta estratégica. No entanto, longe de simplificar o panorama, introduz novas vulnerabilidades. A eletrificação exige mais semicondutores e minerais escassos, desde o lítio ao cobalto. As tensões em torno de Taiwan (principal produtor mundial de chips) ou no Sahel (fundamental para o fornecimento de urânio e outros recursos) podem desencadear novas crises de abastecimento. A agenda climática europeia, embora necessária, deve ser acompanhada por uma estratégia de segurança económica que evite que a transição verde se torne um calcanhar de Aquiles. PERSPETIVAS E DESAFIOS A guerra na Ucrânia demonstrou que a globalização na sua forma clássica (caracterizada por cadeias de valor altamente dispersas e uma obsessão pela eficiência) está em declínio. A indústria automóvel, símbolo dessa globalização, atravessa atualmente um profundo processo de reorganização. Os próximos anos serão decisivos para determinar se a Europa é capaz de reconstruir um ecossistema produtivo resiliente, que garanta o fornecimento de peças e matérias-primas críticas sem comprometer a competitividade. Se, nos últimos anos, a indústria automóvel pareceu enfrentar com sucesso esse desafio, foi graças a uma política industrial baseada na redução de volumes, acompanhada de um aumento sistemático na gama e nos preços, através de modelos do tipo SUV eletrificados (PHEV e BEV). Com o objetivo de alcançar a neutralidade de carbono no parque automóvel europeu até 2050, é evidente que o fornecimento de veículos pequenos, eletrificados e acessíveis para a maioria dos europeus é essencial para manter uma indústria europeia independente e competitiva. O regresso a este tipo de modelos, que em seu momento deram fama às marcas europeias, é uma das condições necessárias para preservar o emprego industrial na Europa. n 21
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