BO12 - EngeObras

ENTREVISTA 14 materiais/elementos de construção como resíduos e diminuir o carbono incorporado, visto que estes recursos não entram novamente na fase de produção. O LNEC tem acompanhado de perto a relevância este tema para a descarbonização do ambiente construído. Neste âmbito, o Guia Português de Auditorias Pré-Demolição, desenvolvido no âmbito do projeto CLOSER – Close to Resources Recovery promovido por este laboratório nacional, integra um inventário que abrange, além da reciclagem de RCD, a reutilização de materiais/elementos de construção. Deste modo, pretende generalizar-se a reutilização na demolição e na reabilitação de edifícios, nomeadamente pela recuperação de pavimentos, divisórias, telhas, tetos falsos, entre outros. Como principais desafios à reutilização destacam-se os seguintes aspetos: • A falta de estabelecimento de metas ambiciosas para a obrigatoriedade de utilização de materiais reciclados e da reutilização de recursos em obra; • A necessidade de realização das auditorias anteriormente referidas e da implementação de uma desconstrução bem planeada, resultante da triagem adequada de todos os recursos existentes; • A importância da criação de uma plataforma nacional única, listando e localizando os recursos a reutilizar; • A disseminação de documentação técnica sobre reutilização, uma área em que o LNEC também desenvolve atividade. Por último, é de referir que se tem assistido a diversos casos de estudo de reutilização adaptativa que priorizam o património construído e o seu valor cultural, transformando grandes edifícios abandonados e regenerando o ambiente urbano. É o caso da central termoelétrica Central Tejo, em Lisboa, convertida no Museu da Eletricidade, ou de um depósito de carvão do século XIX, o Coal Drops Yard em Londres, transformado numa área comercial. Quais as razões para as empresas de construção não estarem a apostar mais em métodos construtivos e materiais mais sustentáveis? É uma questão de falta de conhecimento por parte dos construtores? Devido a preocupações ambientais, à escassez de mão de obra qualificada e às oportunidades que advém da digitalização, designadamente, com recurso a BIM, e da industrialização do setor, atualmente algumas empresas de construção estão já a apostar em métodos construtivos mais sustentáveis com recurso a materiais alternativos e renováveis, como por exemplo a madeira, e que permitem facilmente a adaptação dos espaços e a reutilização dos materiais ou produtos. Um dos exemplos é a construção modular, que promove a industrialização, a aceleração de processos, a otimização de recursos com redução de desperdícios de matérias primas, a utilização de materiais reciclados, a diminuição dos impactes da construção, a reconversão e fixação de mão de obra especializado no local da produção, e a implementação de processos de produção mais eficientes. Neste âmbito, importa também referir os avanços na área dos pavimentos, onde têm sido apresentadas e implementadas soluções para reduzir o consumo de materiais naturais e a quantidade de resíduos gerados, através da valorização dos materiais removidos da camada de desgaste dos pavimentos, mediante o melhoramento de centrais de produção de misturas betuminosas, a funcionar a energia elétrica e com capacidade para a reutilização, numa maior taxa, dos materiais provenientes da fresagem de pavimentos em processo de reabilitação, permitindo a sua reintrodução no processo de fabrico de novas misturas betuminosas a aplicar nas novas camadas de pavimentos, ou a implementação de misturas recicladas de betume e espuma na reabilitação sustentável de infraestruturas rodoviárias. No entanto, esta reconversão do setor da construção para a circularidade e para a sustentabilidade esbarra, no meu entender, com três tipos fatores: (i) a necessidade de investimentos em termos de equipamentos e de instalações e na contratação/formação de recursos humanos especializados, (ii) as dificuldades de acesso a materiais a reutilizar em condições económicas, devido a falta de

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