BO1 - EngeObras

ENTREVISTA 26 Quanto ao problema da mão de obra, é necessário promover um alinhamento entre a procura e a oferta de trabalho, já que não faz qualquer sentido coexistirem fenómenos como o desemprego na economia e a falta de recursos humanos nas empresas. Em fevereiro passado, estavam registados, nos centros de emprego do IEFP, 29.501 desempregados oriundos do setor, de um total nacional de 312.343. Esta é uma oportunidade para desenvolver a formação nesta atividade, potenciando a captação dos jovens e oferecendo a possibilidade de reconversão dos desempregados oriundos dos setores mais afetados pela pandemia, reposicionando-os no mercado de trabalho, através da reorientação da formação profissional, tirando partido dos centros de formação de excelência do setor, o CICCOPN e o CENFIC. É, ainda, necessário atuar sobre vetores como a promoção da mobilidade transnacional da mão de obra, permitindo às empresas fazer uma gestão mais dinâmica e eficiente dos seus recursos humanos. Já no que diz respeito à anómala subida dos preços das matérias-primas, da energia, incluindo-se aqui os combustíveis e os materiais de construção, as empresas enfrentam uma subida dos custos de construção e um agravamento da incerteza sem precedentes, pelo que já apresentámos ao novo Governo um pacote de medidas extraordinárias e transitórias que permitam assegurar a continuidade da atividade, quer nos contratos em curso, quer nos que ainda irão ser celebrados. Estamos a falar de soluções imediatas e pragmáticas como, por exemplo, a definição e aplicação de orientações e recomendações dirigidas aos donos de obra, que permitam o reconhecimento da “alteração anormal e imprevisível das circunstâncias”, a aceitação de pedidos de prorrogação do prazo de execução das empreitadas sem aplicação de multas ou penalizações e o direito a compensações financeiras adequadas. Também é necessário criar, tal como se verifica noutros países europeus, um fundo público nacional que permita às entidades adjudicantes aceder a verbas destinadas a ressarcir as empresas dos montantes justamente devidos. Importa, também, recuperar o regime da Tentativa de Conciliação Obrigatória que integrou o anterior Regime Jurídico das Empreitadas de Obras Públicas, ou prever a possibilidade de se efetuarem revisões provisórias de preços considerando apenas os autos de medição, entre outras soluções que integram o documento que foi apresentado ao Governo e que podem e devem ser imediatamente aplicadas. Existe umamegatendência, a digitalização, que afeta todas as indústrias e que no campo da construção já se manifesta emaspetos como o BIM, realidade aumentada, gémeos digitais, inteligência artificial... AAICCOPN está a trabalhar estes aspetos de alguma forma? Claro que sim. São questões que já integram a nossa ação, de uma forma transversal e concreta. Por exemplo, neste momento está a decorrer um ciclo de sessões ‘Cidades Inteligentes e Construção 4.0’, em formato digital e que aborda temas como as tecnologias e as soluções digitais na construção, incluindo o BIM, as construções e edificações inteligentes ou a ciência e tecnologia da reabilitação. São temas que acompanhamos permanentemente e que são objeto de iniciativas que permitem às empresas ter contacto com estas tendências de futuro, mas que marcam já o presente do setor. Finalmente, como pensa que o setor irá evoluir a curto, médio e longo prazo, tendo em conta as incógnitas que enfrentamos atualmente? O ano de 2022 iniciou com perspetivas favoráveis, com os cenários macroeconómicos a apontar para um novo aumento da produção no setor da construção e imobiliário de 5,5%. No segmento de construção de edifícios residenciais e após o crescimento de 4,5% em 2021, prevê-se que a taxa de variação real se situe nos 5,5%, em linha com a evolução global do setor. No segmento dos edifícios não residenciais, prevê-se um crescimento que deverá situar-se em 1,7%, em resultado do andamento distinto dos seus dois subsegmentos, a construção de edifícios residenciais privados, que foi a mais penalizada pela crise pandémica e deverá crescer 0,5% e a construção de edifícios residenciais públicos, que deverá acompanhar a evolução positiva esperada para o investimento público e apresentar um crescimento de 3,5%. O segmento da engenharia civil deverá manter-se como o mais dinâmico, prevendo-se que a produção cresça 7,5% em 2022, em resultado de um incremento do investimento público. Como temos defendido, os problemas conjunturais que foram significativamente agravados pelo impacto da guerra na Ucrânia, designadamente o abrupto aumento das tensões inflacionistas, dos níveis de incerteza e a disrupção das cadeias de produção e distribuição mundiais constituem fatores externos à dinâmica da produção do setor que não podem condicionar a execução dos investimentos, sobretudo, quando temos pela frente o desafio de recuperar uma economia que ainda não ultrapassou as dificuldades resultantes do surto pandémico. Foi por isso que apresentámos medidas destinadas a salvaguardar as empresas e permitir a implementação do PRR, a execução plena de todos os fundos europeus que lhe foram destinados ao nosso País e a aceleração da sua transição energética e digital, que é imperiosa. Por isso, e tendo consciência das dificuldades que enfrentamos, sabemos que, como sempre estiveram, as empresas do setor estão preparadas para responder ao desafio de manter a nossa economia num rumo de sustentabilidade, crescimento e criação de emprego. n

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