BM17 - InterMETAL

26 AUTOMÓVEL dimensão média não pesa menos de 1200 quilos, quando na década de 60/70 pesava cerca de 600 quilos. Isto representa um grande desafio para a indústria de moldes, que tem de ser capaz de apresentar soluções que permitam diminuir o peso dos componentes utilizados no fabrico dos veículos. Aumentar autonomia, reduzir peso do conjunto e melhorar a segurança são os objetivos que devem orientar a indústria no curto e médio prazo. Além desta transformação das baterias, será necessário criar tambémuma “rede de recargas rápidas e comgrande capacidade”. Os postos atuais não chegampara o carregamento das baterias do futuro. E, acrescenta o especialista, “criar uma rede em que o condutor não tenha que esperar mais do que cinco minutos de recarga, que acho ser o limite admissível para se comparar com ummotor térmico. Vai ser um desafio. Aliás, autonomia, tempo de recarga e segurança serão alguns dos desafios do futuro”, sintetiza. Outra tendência no futuro da indústria automóvel vai ser a utilização de materiais reciclados e recicláveis, bem como a eliminação dematérias-primas de origem animal nos componentes automóveis. Como destaca o orador, “a criação das redes de recolha de reciclagem e reuso dos materiais vão ser fundamentais (…) o que, obviamente, terá um enorme impacto na indústria de moldes”, uma vez que grande parte dos materiais de plástico têm a limitação de não poderem ser reciclados muitas vezes. No que diz respeito aos veículos autónomos, o orador temmais dúvidas. Na verdade, sendo perfeitamente possível, hoje em dia, conduzir um veículo dentro de um ambiente controlado, “pensar num carro que substitua um condutor na sua integralidade, com a capacidade do cérebro humano de atuar, ainda está um pouco longe”, até porque “a capacidade computacional que é necessário ter dentro de um veículo para gerir toda essa informação ainda não existe”, referindo-se aos gastos energéticos que este tipo de solução exige e à sua incompatibilidade com a tendência atual de poupança de energia. Nesta medida, discorda do estudo da McKinzey que refere a condução autónoma como um dos vetores de crescimento da indústria automóvel até ao final da década, sentenciando que “vai acontecer, mas vai demorar bastante”. Apontando as previsões para umcrescimento, em termos globais, domercado automóvel nos próximos anos, na opinião de António Melo Pires este será “um crescimento assimétrico”, já que será difícil para os mercados europeu e sul-americano “crescer de forma sustentada”. E exemplifica com a subida dos preços dos automóveis em quase 50% no mercado sul-americano, nos últimos três anos. Fator que reduziu substancialmente o número de pessoas com rendimento suficiente para adquirir um carro. A mesma tendência verifica-se na Europa, devido ao aumento dos preços das matérias-primas, à subida dos custos de fabrico e ao aumento da procura face à oferta, sendo hoje “difícil encontrar um carro por menos de 20 mil euros”. Uma tendência que vai continuar, uma vez que os fabricantes automóveis têm feito avultados investimentos para a transição de mobilidade, que vão ser, inevitavelmente, repercutidos na estrutura de custos do fabrico automóvel. Por outro lado, António Melo Pires salienta a gradual alteração do paradigma de posse de umautomóvel. Mais do que ter um carro, que é cada vez mais questionado, as novas gerações preferem, crescentemente, modelos de usufruto automóvel que não impliquem a sua propriedade, aliado aos investimentos que têm sido feitos em redes de transportes públicos e à insustentabilidade dos tempos de deslocação excessivamenteelevados dos automóveis nas grandes cidades. Adicionalmente, “as políticas de proteção ambiental são outro fator de retenção” do crescimento do mercado automóvel. Todas estas alterações se traduzirão num novo paradigma de mobilidade futura caraterizada pela “conexão de vários tipos de transportes, sobretudo nas grandes cidades”. Diversa, conectada, elétrica e dotada de inteligência artificial, a mobilidade será “adaptada à necessidade momentânea”, prevê o consultor. Nesta perspetiva, a indústria de moldes encontra-se numa “encruzilhada bastante complicada”, motivada por vários fatores, como o reshoring, isto é, com a saída de várias indústrias da Ásia, para fugiremaos custos da cadeia logística. O problema é que os compradores de moldes não querem pagar mais do que têm pago na Ásia. É um outro desafio. Por outro lado, é convicção de António Melo Pires que “os volumes de grandes séries de carros vão ser mais reduzidos”, com a mobilidade dispersa por umamaior tipologia de veículos. Por isso, o consultor não espera que o mercado dos moldes cresça na Europa, nem na América do Sul, com a exceção possível do México, para onde se estão a deslocalizar grande parte das empresas que estão a sair da China. Na verdade, António Melo Pires, CEO da consultora MeloPires. Foto: Cefamol.

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