BJ28 - Novoperfil Portugal

PERFIL 54 REPORTAGEM | APAL que a Diretiva da Eficiência Energética “vai obrigar a que todos os produtos tenham uma declaração das emissões globais de CO2”, ainda antes do processo de criação dos DPP via RPC, o qual tem de estar concluído em finais de 2027. E ironizou: “se calhar vão ser os chineses a apresentar na Europa os primeiros DPP na construção, e em outros produtos”. Mas, ainda antes disso, a Diretiva da Eficiência energética vai influenciar a escolha dos materiais, já que “o projeto vai ter de medir não só o desempenho do edifício, mas também o CO2 incorporado nos materiais”. O que obriga a um permanente “equilíbrio entre desempenho [ambiental] e preço”. José de Matos acredita que “os comerciantes estão preparados”, desde logo porque “não têm tanto capital intensivo, têm maior flexibilidade e trabalham com muitos produtos”, ou seja, “se não venderem materiais de alumínio vendem de PVC”. E “atualmente o PVC é mais barato”, logo, “há escolhas”. Ainda assim, muitos clientes (arquitetos, donos de obra) estão preocupados em encontrar produtos sustentáveis. Em conclusão, o desafio do alumínio (com maior dimensão do alumínio no setor das janelas) é mostrar que o investimento compensa. Especialista em serviços de energia, Jorge Araújo, presidente da APESE - Associação Portuguesa das Empresas de Serviços de Energia, defendeu o papel do alumínio verde: as empresas de serviços energéticos realizam “atividades críticas para a maior competitividade das empresas”. Porque “levam os investimentos nas suas soluções para dentro de portas dos seus clientes industriais”. E Como? Analisando como podem reduzir a intensidade do consumo de energia para alcançar a eficiência energética, incluindo no custo; criando sistemas digitais na indústria de medição e monitorização desse consumo; e alterando e tornando mais barata a utilização de energia, indo buscar ao painel e não à rede, no caso das renováveis. “Estes são os três pontos críticos”, sumariza Jorge Araújo, para quem “a otimização é um ato contínuo”. Quanto à reciclagem de alumínio, face às metas que temos para 2050, por exemplo na construção, “estamos a reciclar edifícios com uma taxa péssima”. Mas o alumínio verde, produzido com fontes renováveis, “pode ser um fator de diferenciação”. E Portugal, a nível da produção de energia fotovoltaica (e até eólica), “tem uma competitividade muito maior que os países do centro da Europa, com custos muito mais baratos no investimento na produção desta energia”, lembrou. Em representação do Bastonário da Ordem dos Engenheiros, Ricardo Duarte recordou as múltiplas utilizações das ligas de alumínio, na indústria automóvel, no design e não apenas na construção, lamentando o aumento do seu custo nos últimos anos. Para o responsável, “a vantagem do alumínio é poder justificar melhor a sua sustentabilidade a longo prazo”. A título de exemplo, não é possível fazer uma janela em alumínio sustentável a 100%, mas é possível fazê-la a partir de outra janela e enviar o remanescente do material para outra utilização”. Na verdade, “tudo se resume a dinheiro e isto é válido também na reciclagem”. Segundo Ricardo Duarte temos um conjunto de normas dispersas. “Se tivéssemos um conjunto de regras eficazes e os materiais devidamente catalogados seria muito mais fácil escolher os produtos e fazer o seu controlo ecológico”. Ora, o alumínio aqui tem “um papel importantíssimo”, porque “a melhor solução não é aquela que fica mais barata a instalar. É aquela que vai custar menos tempo no ciclo de vida do produto” (desde instalar, a fazer manutenção e substituir). E “o alumínio tem soluções duradouras e sustentáveis”. Por último, o vice-presidente da ADENE - Agência da Energia, Bruno Veloso, apresentou os instrumentos da ADENE que podem ajudar as empresas do alumínio a reduzir o seu consumo energético, sem comprometer a sua competitividade, como o sistema E-Circular e o sistema energético Classe+. “A indústria do alumínio é uma das mais eletrointensivas e, portanto, das mais consumidoras de energia”, afirmou. “A ADENE quer ser catalisadora e estabelecer parcerias de confiança” com as ações de excelência na ação climática, mas para tanto, “precisamos de perceber o vosso processo produtivo”. Só conhecendo dois parâmetros – redução e intensidade do consumo específico – “é que nós podemos atuar”. Lembrando os roteiros da descarbonização para inúmeros setores, concluiu que “a vantagem é o alumínio ser uma matéria circular”. Considerando fulcral a promoção da literacia energética, Bruno Veloso considerou que “as mudanças de comportamento só existem quando nos tocam no bolso”, concluindo que a ADENE, no seu roteiro para a indústria, pratica a estratégia ‘da teoria à eficiência’. Os intervenientes fecharam com um foco em inovação tecnológica (eletrificação, hidrogénio verde, digitalização, passaportes digitais de produto) e na necessidade de políticas públicas que alinhem incentivos para manutenção da indústria do alumínio em território europeu. Da reflexão política às experiências de fábrica, a conferência da APAL mostrou um setor maduro, unido e consciente de que a sustentabilidade é tanto um dever como uma oportunidade. Em 200 anos, o alumínio passou de raridade de laboratório a material essencial para a mobilidade elétrica, a construção eficiente e a energia limpa. Como resumiu José Dias, “não há futuro sem alumínio. E o futuro começa agora”. O metal que mudou o mundo volta, dois séculos depois, a ser o símbolo da sua reconstrução. n

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