PERFIL 53 REPORTAGEM | APAL Dito isto, "à medida que vão aumentando a sua produção com métodos mais eficientes e com a possibilidade oferecer a esta indústria custos competitivos, as renováveis desbloqueiam uma produção mais económica, mais verde e com maior capacidade regeneradora", sublinha Duarte Ferreira. Em conclusão, “é muito importante que haja a eletrificação do processo produtivo, nas suas várias etapas”. E isso cruza-se com a necessidade de soberania energética, isto é, da energia produzida em Portugal, como sugere o jornalista Luís Ribeiro. O painel sobre sustentabilidade deixou uma certeza: o alumínio é mais do que um material versátil — é uma estratégia industrial para o futuro. A sua integração em fachadas, caixilharias, estruturas energéticas e componentes metalomecânicos confirma-o como um dos grandes protagonistas da construção verde e da economia circular europeia. O FUTURO DO ALUMÍNIO: METAL CHAVE PARA A RECONSTRUÇÃO DO MUNDO O último painel da tarde projetou o setor para o futuro — um futuro que, segundo Sofia Santos, CEO da Systemic, precisa de ser definido. Em tom provocatório, a economista e especialista em sustentabilidade questionou: “quando falamos de futuro, estamos a falar de quê? De 2026 ou de 2050? Se for de 2026, não vale a pena falar de sustentabilidade, estaremos a falar de curto prazo”. Defendendo que a indústria europeia está a perder terreno face à Ásia, em países como a China e Japão, onde a regulação ambiental está a acelerar, voltou a questionar: “Se a Europa está a recuar, não estaremos a perder competitividade para quem aposta agora na sustentabilidade?” Ao nível dos investimentos e apoios à indústria (incluindo em países em desenvolvimento), os critérios ambientais e sociais têm de fazer parte das contrapartidas que se dão, alertou. Na sua opinião, há empresas portuguesas neste setor que identificam o tema da sustentabilidade do alumínio como algo relevante para a sua competitividade nos mercados externos, mas ainda há um caminho muito grande a fazer para as empresas perceberem de que forma este tema pode trazer vantagens. “Na Europa ficamos sempre com esta negatividade face aos obstáculos e àquilo que é novo e esquecemo-nos de ser estratégicos”, criticou. Sofia Santos sublinhou ainda o papel dos instrumentos financeiros verdes: “o setor do alumínio é altamente emissor de CO2 e, portanto, é considerado de elevado risco pelos bancos. Mas isso também significa que há uma enorme oportunidade para atrair financiamento verde.” Fazendo uma nota prévia, em que lembrou que a aplicação do alumínio é expressiva não só em caixilharias e fachadas, mas também no setor dos automóveis, comboios etc., António Tadeu, presidente do Itecons, destacou as qualidades técnicas do alumínio e os desafios regulatórios: “entendo que qualquer indústria para sobreviver tem de fazer investimentos. Mas acho que o futuro do alumínio é brilhante, pelas suas características. É mais leve, mais durável, reciclável, como já foi dito”. Quanto ao muito a que a indústria tem de se preparar para breve, “temos de ver o conjunto de regulamentação europeia que está a ser imposto”, afirmou. Alertando para a entrada em vigor do novo Regulamento de Produtos da Construção (RPC), António Tadeu avisou que “vamos ter de declarar desempenhos energéticos e fazer análises de ciclo de vida”. E “isso começa já em 2026”. Sobre a reabilitação urbana, apontou: “temos cerca de 35 milhões de metros quadrados de caixilharia para substituir em Portugal. É uma oportunidade enorme” para o setor do alumínio e que permite a reabilitação de edifícios deteriorados. Também temos de considerar a tendência para “fachadas cada vez mais limpas e perfis cada vez mais minimalistas, o que se prende com o desempenho da própria caixilharia no seu todo”. Finalmente, “temos o desafio dos sensores e outros dispositivos que podemos integrar dentro das caixilharias. Já desenvolvemos portas pivotantes com cerca de seis metros de altura. A indústria tem de se adaptar a todos estes desafios”, concluiu. Neste contexto, estarão os comerciantes de materiais de construção a conseguir adaptar-se a estas novas exigências? Reforçando a importância de uma adaptação gradual ao conjunto da nova regulamentação europeia, incluindo o Passaporte Digital do Produto (DPP, na sigla em inglês), o presidente da Associação dos Comerciantes de Materiais de Construção, José de Matos, lembrou III Painel da Conferência '200 Anos do Alumínio'.
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