BI343 - O Instalador

70 ASSOCIAÇÕES APREN | O desafio digital como um ativo energético O aumento da procura por recursos computacionais e digitais está a transformar o sistema elétrico mundial aos poucos. A digitalização, a inteligência artificial e a economia de dados têm-se posicionado como um novo tipo de consumo de eletricidade constante e massivo, e, tendencialmente, pouco flexível, obrigando a repensar a forma como se planeia, produz e consome eletricidade – e Portugal não é exceção. Sara Freitas, da Associação Portuguesa de Energias Renováveis (APREN) Curiosamente, foi com o processamento criptográfico e a mineração de dados (vulgo, 'mineração') de Bitcoin, há cerca de uma década, que o tema do consumo energético pelos recursos digitais começou a emergir. A passagem de uma mineração distribuída de pequena-escala para operações industriais com milhares de chips causou um forte impacto, não só no volume como no perfil de consumo em larga escala, e originou todo um novo debate sobre emissões e sustentabilidade energética. Nisto, e com o reconhecimento de uma fatura de eletricidade cada vez mais avultada, começaram a surgir as primeiras experiências domésticas de mineração alimentada por energia solar e excedentes renováveis, mas também projetos de maiores dimensões nos EUA, antecipando o que hoje se observa com os data centres (DCs): a perceção de que não haverá infraestruturas digitais sem energia limpa e renovável, nem transição energética possível sem gestão inteligente da relação entre procura e fornecimento. UMA OPORTUNIDADE EM PORTUGAL Graças à sua transição para um mix cada vez mais renovável, Portugal tem alcançado e mantido preços de eletricidade comparativamente baixos, o que torna o país um destino competitivo para a instalação de DCs. Além de uma elevada quota de renováveis e condições climáticas favoráveis à refrigeração, usufrui de uma conetividade internacional privilegiada, com ligação às Américas, às principais redes europeias e asiáticas através de cabos submarinos e rotas de fibra ótica. A consultora Aurora Energy Research estima que o consumo dos DCs na Península Ibérica já ronde os 2,8 TWh por ano, ou seja, o equivalente a cerca de 1% do consumo global do setor, e que possa crescer até 12,8 TWh em 2030, traduzindo-se num aumento de mais de quatro vezes num horizonte de cinco anos. Os principais novos desenvolvimentos vão concentrar-se em Sines e Lisboa, além dos já existentes no Porto e um pouco por todo o território nacional, nomeadamente no Centro e Alentejo. O projeto em Sines, em particular, afigura-se como um dos maiores megaclusters planeados na Europa, com 1,2 GW de capacidade de computação previstos. Tal crescimento traz, porém, novos desafios relacionados com a necessidade de reforçar as redes de distribuição e transporte, de gerir a estabilidade local da tensão e frequência, e de assegurar que a eletricidade utilizada é comprovativamente renovável. Fonte: 'A Shift in Iberian Demand: From Machinery to Data Centres', 2024, Aurora Energy Research.

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