OPINIÃO 75 No entanto, prevê-se que o hidrogénio permita, no futuro próximo, haver transportes, aquecimento e processos industriais isentos de emissões de carbono, bem como o armazenamento e abastecimento de energia em condições comparáveis funcionalmente ao armazenamento dos combustíveis fósseis. O hidrogénio representa cerca de 2% do cabaz energético da UE. Noventa e cinco por cento desse hidrogénio é cinzento, ou seja, é produzido por combustíveis fósseis, os quais libertam anualmente entre 70 a 100 milhões de toneladas de CO2 cada ano. De acordo com um estudo, as energias renováveis poderiam abastecer uma parte substancial do cabaz energético europeu em 2050, cabendo ao hidrogénio verde abastecer um quinto desse cabaz, nomeadamente 20-50% da procura energética nos transportes e 5-20% na indústria. As principais vantagens do hidrogénio são as seguintes: a) a sua utilização para fins energéticos não causa emissões de gases com efeito de estufa (a água é o único subproduto do processo) b) pode ser utilizado para produzir outros gases, bem como combustíveis líquidos c) as infraestruturas existentes (transporte de gás e armazenamento de gás) podem ser reutilizadas para hidrogénio d) tem uma densidade de energia maior do que a das baterias, podendo ser usado para o transporte de longa distância e de mercadorias pesadas. O que há de novo são as perspectivas que se abrem no plano do desenvolvimento tecnológico desta fonte de produção energética, quer geograficamente quer tecnologicamente. A Duke Energy Corp, com sede em Charlotte, Carolina do Norte, é uma empresa norte-americana fundada em 1904 como The Southern Power Company. Em 1997 transformou-se no que é hoje mediante a fusão a Duke Power Company e a PanEnergy Corporation, um negócio que na época representou 7.7 mil milhões de dólares. Hoje actua no sector energético nos ramos de eletricidade, nuclear e de gás natural, está cotada no índice de bolsa S&P 500 e incluída na lista da Fortune 150. Este gigante prevê começar a explorar, já em 2024, nas suas instalações de produção de energia solar na Florida, um sistema de produção de hidrogénio verde chamado Hidrogen First para demonstrar a aplicabilidade desta fonte energética a veículos de todos os géneros. A Hidrogen First será a primeira infra- -estrutura do género capaz de produzir, armazenar e utilizar hidrogénio 100% verde numa turbina de combustão. A produção do hidrogénio será feita usando energia solar para alimentar os electrosiladores na produção daquela forte energética. No Hidrogen First será demonstrada a utilização na prática e em veículos de produção não experimental, mas que equipados com células alimentadas a hidrogénio poderão atingir autonomias sem reabastecimento de até 500 kms. Este desenvolvimento é critico porque permite, ao mesmo tempo, aumentar a descarbonização pois diminui o consumo de combustíveis fósseis e diminui a carga sobre a grelha de fornecimento de electricidade, tanto na produção de energia como na utilização dos veículos. Para termos uma noção do potencial do negócio do hidrogénio verde basta dizer que é um mercado avaliado em 230 mil milhões de dólares só nos EUA, e que a Agência Internacional de Energia prevê que em 2030 a produção de hidrogénio com baixo teor de carbono atinja 38 milhões de toneladas métricas por ano. Ainda nos EUA, o MIT apresentou um novo tipo de reactores alimentados por energia solar, a serem usados na produção de hidrogénio, em vez das ainda habituais fontes fósseis. A diferença deste novo tipo de reactor é que é muito mais eficaz do que os já existentes porque usa 40% da energia solar enquanto que os tradicionais ficam-se pelos 7%.
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