42 DOSSIER QUALIDADE DO AR INTERIOR Estados Unidos, tenha vindo a classificar os problemas de QAI entre os principais riscos para a saúdepública e, desde 1988, considerar o formaldeído como umdos principais poluentes do ar interior. O formaldeído é classificado, desde 2006, como cancerígeno pela Internacional Agency of Research on Cancer. O efeito mais evidente para a saúde apresentado é a ação irritante sobre os olhos e o aparelho respiratório superior. As concentrações de formaldeído em ambientes interiores são fortemente influenciadas pelas características dos edifícios, designadamente, pela ventilação, pelo revestimento e acabamentos usados e pela decoração; a estacão do ano (considerando que o aumento da temperatura e a humidade fomentam a volatilização do formaldeído) e, também, as fontes de ar exterior. No início da pandemia COVID- 19, aquando do confinamento obrigatório, a qualidade do ar exterior das cidades melhorou, mas a exposição da população aos poluentes internos foi geralmente mais aguda e prolongada. Devido principalmente à preocupação com a economia de energia doméstica, a falta de ventilação adequada e o uso mais intensivo de produtos de limpeza e desinfetantes durante a pandemia COVID-19, os níveis de poluentes internos eramnormalmente mais altos do que os compatíveis com ambientes saudáveis. Portugal tem esta área de qualidade do ar interior acautelada em termos legislativos, no entanto, parece-me que o governo terá de investir mais nesta área. Por exemplo, determinados edifícios como estabelecimentos escolares, creches e estruturas residenciais para pessoas idosas estão sujeitos a uma avaliação simplificada anual de requisitos relacionados com a qualidade do ar interior, a realizar por Técnicos de Saúde Ambiental. A questão preocupante e que leva a que muito poucos estabelecimentos até o momento tenham sido alvo de avaliação prende-se com duas questões essenciais: a primeira é que são os proprietários/responsáveis, que solicitam às entidades competentes pela fiscalização, a verificação da conformidade, com vista à deteção de eventuais desconformidades no âmbito dos limiares de proteção e condições de referência. E a segunda é que muito poucos Técnicos de Saúde Ambiental (integrados em equipas commédicos de saúde pública e com outros profissionais de saúde) têm nas Administrações Regionais de Saúde (ARS) à sua disposição equipamentos de avaliação da QAI. ATUAR DE FORMA PREVENTIVA Sobre isto, dizer que do ponto de vista de saúde pública, e dada a carga nociva dos vários poluentes, a principal preocupação deve ser o controlo das fontes de emissão, que têm origem no interior dos edifícios. De facto, se atuássemos preventivamente, fazendo abordagens específicas, fazendo estudos epidemiológicos, poupar-se-iam muitos recursos financeiros, o absentismo poderia diminuir, a produtividade aumentar, e claro melhoraria a saúde e qualidade de vida das pessoas. É fundamental que, nos mais diversos edifícios, nomeadamente nas habitações e nos locais de trabalho, se procedam a melhorias estruturais e funcionais e se realizem monitorizações regulares para não expor os trabalhadores e os restantes ocupantes dos edifícios a situações de risco. É importante, também, melhorar os sistemas de renovação de ar, de modo a tornar esta renovação mais eficiente e eficaz. Deverá existir uma preocupação com uma adequada exposição solar, no sentido de evitar o aparecimento de bolores e de humidade, bem como com a realização de ações de sensibilização, informação e formação a todos os trabalhadores para que estes alterem os seus comportamentos para outros mais saudáveis, nomeadamente, ventilando e arejando constantemente todos os espaços dos edifícios. Existe a necessidade de um crescimento substancial da investigação nesta área de conhecimento, dado o relevante aumento de prevalência e gravidade de doenças que podem estar relacionadas comos agentes que influenciam a qualidade do ar interior. A QAI deverá ser uma preocupação prioritária para o governo e para todos os profissionais que trabalhamna área da Saúde Pública, Saúde Ambiental e da Segurança e Saúde do Trabalho. Tendo em consideração que o teletrabalho, muito provavelmente veio para ficar na vida de muitos profissionais, nomeadamente daqueles em que as funções o permitam, é necessário intensificar esforços no desenvolvimento de metodologias dos agentes condicionantes dos poluentes do ar que interferemna saúde humana, de forma a criar ferramentas eficazes no âmbito da saúde pública, saúde ambiental e segurança e saúde no trabalho, permitindo a elaboração de políticas na área da qualidade do ar interior. É fundamental umplaneamento estratégico em termos de ordenamento do território por forma a optar corretamente pelo local de implantação de um novo edifício, permitindo assim, serem estabelecidos programas de controlo e prevenção das consequências para a saúde dos ocupantes destes ambientes. n *Vice-Presidente do IPC Professora Coordenadora na área de Saúde Ambiental da Escola Superior de Tecnologia da Saúde do Politécnico de Coimbra Investigadora na área de qualidade do ar interior
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