69 ENERGIA Contudo, as fontes de base agrícola e também as eólicas e as ditas fotovoltaicas poderão conhecer a breve trecho um sério revês em virtude da escassez de solos e da crise alimentar. Por esse motivo, o aproveitamento energético das ondas e marés deveria ser a opção escolhida por não ter os inconvenientes das outras fontes renováveis nomeadamente no que respeita aos constrangimentos físicos e de utilização. A energia das ondas utiliza o potencial energético contido no movimento da ondulação ou nas oscilações da superfície da água. A energia das marés vem do movimento da água criado pelas marés e que é consequência do efeito combinado das forças gravitacionais da Lua e do Sol. É utilizado na forma de energia potencial - graças à subida do nível do mar - ou na forma de energia cinética - graças às correntes das marés. O Conselho Mundial de Energia estimou em 10% a percentagem da necessidade mundial anual de eletricidade que poderia ser satisfeita pela energia das ondas. O que aliás é coerente com anteriores experiências, como as de Stephen Salter, que com a sua Salter Drummer ou “Salter's Duck”, já tinha demonstrado em 1974 que era possível converter 90% da energia de uma onda em energia mecânica, número que só por si diz muitíssimo sobre a eficácia energética desta fonte de produção de energia. Já a quantidade de energia gerada pelas marés e que é desperdiçada estima-se em 22.000 TWh, ou o equivalente à combustão de menos de 2 Gtep. Este valor deve ser comparado com o consumo de energia da humanidade, da ordem de 10 Gtep. Mais recentemente, desde 2019, em Le Croisic, na zona de Loire-Atlantique (França) um consórcio liderado pela Geps Techno e os seus seis parceiros franceses, Blue Solutions, Centrale Nantes, Chantiers de l'Atlantique, Icam, Ifremer e SNEF está a testar umprotótipo de plataforma de recuperação de energia das ondas, com a vantagem adicional de conjugar um ratio de 20% produzido por fonte fotovoltaica, sendo esta conjugação entre fontes marítimas, digamos assim, e outras fontes renováveis, cada vez mais comum. Hoje há vários sistemas em desenvolvimento que indiciam um amplo potencial, seja com base na variação do nível do mar (energia potencial), seja com base nas correntes das marés (energia cinética). Alguns dos projetos mais recentes, todos com nomes pitorescos, são os seguintes “Baleia Poderosa", “LIMPET”, “DAVIS” (Energia Azul), ou “Caracol marinho”. Outro exemplo é o usado pela Hammerfest Strøm mediante turbinas subaquáticas no Estreito de Islay, na Escócia, mais uma vez apenas para estimular o desenvolvimento da tecnologia. Esta instalação é semelhante a moinhos de vento cujas pás giram graças ao fluxo e refluxo das marés e fornece 10 MW. Em comparação, a central de marés em Rance, próximo de Saint-Mallô, na Bretanha, fornece 240 megawatts, mas uma torre eólica das menos sofisticadas fornece em média 25 MW. Em Portugal, nesta como em tantas outras matérias, há uma discrepância entre o que é vertido tanto na Lei e na política energética para o sector com a realidade deste. Porquanto ao mesmo tempo que se proclama o amor pela chamada Economia do Mar, na qual se inclui o aproveita-
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