BI317 - O Instalador

28 DOSSIER AR CONDICIONADO O Instalador conversou com a ZERO a propósito de equipamentos de ar condicionado em fim de vida. A má gestão de resíduos contradiz a aposta do setor em gases mais neutros em termos climáticos. Sugerindo que “não é por acaso que existe menos informação sobre equipamentos de ar condicionado”, Rui Berkemeier, deputy director da Associação Sistema Terrestre Sustentável sublinha, em entrevista, que os dados relativos à recolha de equipamentos de regulação da temperatura - categoria que inclui também frigoríficos, congeladores, chillers, radiadores a óleo e distribuidores automáticos de produtos quentes ou frio - revelam que a esmagadora maioria de resíduos registados são de frigoríficos. Ou seja, “há uma quantidade muito grande de equipamentos de ar condicionado que não se consegue perceber onde é que foi parar”. A maior polémica dá-se a nível do gás dos equipamentos de regulação de temperatura que é recolhido, reutilizado ou se perde para a atmosfera, e que é responsável pelo principal impacto ambiental destes equipamentos. Segundo o deputy director, a quantidade de gás proveniente dos aparelhos de ar condicionado que aparece no registo de recolha “é uma fração ínfima da quantidade que é colocada no mercado. Temos dúvidas que a gestão de esse gás esteja a ser feita da melhor maneira, porque não há evidências de que ele seja recolhido”. Acresce que os fluídos refrigerantes “ têm um impacto muito superior ao do dióxido de carbono”, explica Rui Berkemeier, uma vez que “os gases que saem desses equipamentos de refrigeração para a atmosfera são muito menos do que os dos automóveis ou da indústria, mas cada “O GÁS RECOLHIDO PARA TRATAMENTO É UMA FRAÇÃO ÍNFIMA” “A maior parte dos gases recolhidos são enviados para destruição” molécula de gás pode ter efeitos mil vezes superiores a uma molécula de CO2”. Estes gases são, pois, “relevantes em termos de aumento da temperatura do planeta”, pelo que é fundamental a sua recolha e a boa gestão dos equipamentos, conclui. Mas na prática “a maior parte dos gases recolhidos são enviados para destruição, porque são misturados, e é difícil, depois, uma reutilização”. Em termos de regulamentação ambiental, há alterações tecnológicas às quais os equipamentos e as marcas têm de se adequar, defende Rui Berkemeier: novos produtos amigos do ambiente, novas exigências energéticas e, naquela que é uma das mudanças profundas mais significativas no segmento do ar condicionado, novos gases mais neutros em termos climáticos. “Já há novos gases no mercado. É fundamental que as empresas se adaptem o mais rápido possível à sua utilização”, apela o responsável. E verifica-se uma evolução positiva do mercado nesse sentido, estima. A reutilização “émuito importante”, mas sofre também de falta de dados. O que não justifica a existência de tão pouco gás recolhido para tratamento, afirma Rui Berkemeier. A grande questão, aliás, é que “o setor de ar condicionado não está com dados que sejam minimamente percetíveis”, lamenta. Neste contexto, a ZERO “trabalha com as metas da gestão de resíduos eletrónicos que existem”, mas receia que a legislação relativa à recolha de gás e de equipamentos de ar condicionado não esteja a ser cumprida. De momento, ambos “chegam ao fim de vida com um grande ponto de interrogação”, comenta o especialista na área de resíduos de equipamentos elétricos e eletrónicos.

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