75 DOSSIER ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS tantes para a fileira da construção e do imobiliário, determinando o envolvimento ativo de todos os participantes da cadeia de valor da construção, dos projetistas aos utilizadores finais dos produtos da construção, os decisores políticos, os donos de obra públicos e particulares, as empresas de construção, os fornecedores de materiais e, ainda, a academia, quer no âmbito da investigação, quer da formação. Estamos, por isso, perante uma necessidade de atuação transversal em toda a fileira, ao nível dos projetos, dos processos produtivos e construtivos, dos materiais incorporados, da organização e gestão dos estaleiros, da logística, dos modelos de negócio e ainda da qualificação dos profissionais deste setor. Assim, a necessidade de definição e implementação de estratégias de digitalização, de descarbonização e de práticas de sustentabilidade pelas empresas, é, cada vez mais premente. E o “combate às alterações climáticas” deve ser encarado como mais uma oportunidade para acelerar a implementação de “novas” práticas e investir em “princípios” como a “Economia Circular” e a “Construção 4.0”. A “Economia Circular”, porque promove a eliminação de resíduos e poluentes, a circularidade de produtos e materiais e a regeneração da natureza, determinando a implementação de sistemas regenerativos, em que a entrada de recursos, a produção de resíduos e emissões e as perdas de energia, são minimizadas pela desaceleração, redução e fecho dos ciclos de materiais e energia. Isto é, os produtos são sustentados em materiais reprocessados, reutilizando materiais e outros produtos, ao mesmo tempo que se estende o seu período de vida útil e restituindo-se os mesmos no final. A “Construção 4.0”, por sua vez, porque assenta na evolução efetiva de sistemas produtivos tradicionais, permitindo que as empresas sejammais flexíveis, dinâmicas e operacionais, com melhorias significativas nas distintas cadeias de valor, designadamente na “oferta” em grande escala de produtos personalizados e individualizados, mas produzidos como se de uma produção em série se tratasse, promovendo o desenvolvimento de dez vertentes de cariz tecnológico, nomeadamente: a pré-fabricação e construção modular; os materiais de construção avançados; a impressão 3D e manufatura aditiva; a construção autónoma; a realidade aumentada e virtualização; a Big data e análise preditiva; a monitorização wireless e equipamento conectado; a Cloud e colaboração em tempo real; a Fotogranometria e scanarização 3d; o Building Information Modeling (BIM). Estes são “princípios” que têm vindo gradualmente a ser aplicados pelas empresas Portuguesas, destacando-se em especial, o maior uso de ferramentas tecnológicas em tarefas como cálculos estruturais, a georreferenciação, a gestão integrada de projetos, a pré-fabricação, a construção modular, a utilização de novos materiais e processos construtivos e o uso regenerativo de recursos. Em suma, o tecido empresarial tem promovido o investimento na transição digital e tecnológica e na implementação de práticas, em que, a eficiência no uso de recursos e a transição para modelos de crescimento mais sustentáveis, são prioritários. Assim, considera-se que o desafio associado ao “combate às alterações climáticas” é mais uma oportunidade para que o Setor da Construção e do Imobiliário demonstre a sua resiliência e qualidade, exemplos como a cultura empresarial de inovação e sustentabilidade, a aplicação de novos produtos e processos construtivos, a formação e capacitação de “novos” profissionais, a participação e colaboração em projetos de I&D – Investigação e Desenvolvimento, a cooperação com a Academia, a otimização da gestão Manuel Joaquim Reis Campos, Presidente da AICCOPN – Associação dos Industriais da Construção Civil e Obras Públicas de recursos, entre outros, são já realidades para muitas das empresas deste setor, que demonstram assim a sua capacidade para disseminar e concretizar os desafios associados a esta nova emergência. No entanto, este esforço das empresas deve ser potenciado, pelo que é urgente uma atuação conjunta, designadamente na criação de normas e regulamentos de simples implementação, na valorização, no âmbito dos concursos públicos, das propostas com soluções ambientalmente mais eficientes, na definição de políticas de financiamento e contratação pública, na investigação e desenvolvimento, na disponibilização de plataformas e ferramentas tecnológicas, bem como na definição de novas competências e capacitação dos profissionais do setor, através dos centros de excelência do setor (o CICCOPN e o CENFIC), investindo na reorientação dos cursos de formação para as novas valências no âmbito das matérias ambientais. n
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