94 RENOVÁVEIS | BIOMASSA O papel dos biogases no futuro da matriz energética Num momento em que se vislumbrava a saída da crise pandémica Covid-19, eis que surge a guerra na Ucrânia, expondo novas incertezas e fragilidades, especialmente no que toca à dependência energética da União Europeia (UE) face ao gás natural russo. Ana Rita Gomes, Board Member dos FELPT/APE Bruno Henrique Santos, Board Member dos FELPT/APE Vasco Zeferina, Member dos FELPT/APE Paraminimizar o grau de dependência e com vista à aceleração das trajetórias rumo à neutralidade carbónica, a UE lançou em março de 2022 o plano 'REPowerEU', com o objetivo de aumentar a resiliência do sistema energético europeu, promovendo o aumento da poupança energética, a produção de energia de origem renovável e a diversificação das fontes de abastecimento. Neste contexto, mais de 500 empresas da cadeia de valor da bioenergia reagiram ao anúncio do 'REPowerEU', dirigindo uma carta à Comissão Europeia apelando por uma abordagem holística na definição da estratégia para eliminar a dependência energética do gás natural russo. Esta carta lança o desafio de incluir a bioenergia como um dos vetores energéticos que, pela disponibilidade local, poderá contribuir para minimizar no curto prazo a crise da segurança energética. No caminho para atingir o objetivo de emissões neutras até 2050, definido no European Green Deal, a bioenergia desempenhará umpapel essencial não só na diversificação do setor energético, mas também na promoção da economia circular, dos ativos e das matérias-primas utilizadas, disseminando de forma efetiva esta fonte de energia pelos sistemas existentes. Recorrendo à captura e sequestro de carbono (CCS), a biomassa será o único vetor energético com potencial para apresentar emissões negativas de carbono, sendo, no entanto, essencial o controlo e a regulação da origem das matérias-primas utilizadas para garantir a sustentabilidade do ciclo. A BP, em todos os cenários considerados no seu Energy Outlook de 2022, projeta umcrescimento significativo de bioenergia moderna, onde se incluem os biogases. Estes gases de origem biológica serão um complemento ao hidrogénio verde em setores de difícil descarbonização. No caso do biometano, considera-se uma aplicabilidade abrangendo vários setores da economia, nomeadamente transportes, indústria e edifícios. No contexto português, existem algumas particularidades que incrementam a relevância do estudo do potencial de utilização e do desenvolvimento da capacidade de produção de biogases: por um lado, adicionar valor à biomassa florestal, combatendo um outro desafio estrutural do país relacionado com estes resíduos, por outro valorizar os resíduos da agropecuária, como, por exemplo, da suinicultura, produção de azeite ou vinho. Também se revela fundamen-
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