ENTREVISTA 46 Por outro lado, e ouço isso todos os dias quando falo com alguns colegas aqui de Lisboa (mas que presumo seja igual no Porto), havia empresas que eram consideradas escolas, ou seja, após os estudos académicos, a carreira profissional iniciava-se ali sob a tutela de um 'mestre'. Estas escolas praticamente desapareceram e as empresas atuais já não dispõem dessa capacidade por vicissitudes várias. Também no que diz à formação, embora a legislação exija a qualificação de alguns profissionais (como por exemplo a formação/certificação em gases fluorados), o que é certo é que há cada vez mais pessoas, por vezes até academicamente qualificadas, que não possuem os conhecimentos de base daquilo que são os fundamentos destas áreas de atividade, seja na climatização, seja na refrigeração. Por fim, apercebo-me que muito do saber prático especializado que existia (por exemplo no que concerne à conceção e dimensionamento de redes hidráulicas) foi sendo colocado em segundo plano face à crescente utilização de equipamentos e tecnologias que dele não carecem. Ao mesmo tempo, os conhecimentos de eletrónica, de programação, de automação, de redes de comunicação, etc. são cada vez mais um requisito essencial para um profissional se manter atualizado. Estamos numa década decisiva – a nível nacional e europeia – emmatéria de combate às alterações climáticas, no que se refere à descarbonização, eficiência energética, etc. Que papel decisivo tem o setor AVAC nesta caminhada? Portugal está no rumo certo? Que desafios e constrangimentos se colocam? Eu diria até que, para além de nível nacional e/ou europeia, é mesmo um esforço à escala mundial em que Portugal, direta ou indiretamente, consegue ter um papel decisivo. Tome-se o exemplo da recente assinatura de um Memorando de Entendimento entre a FAIAR – Federação de Associações Ibero-Americanas de Climatização e Refrigeração, presidida por Portugal e maioritariamente constituída por países da América Latina, e a EUROVENT – Associação Europeia para a Indústria AVAC para promover tecnologias AVAC eficientes a nível energético e ambiental. Este é apenas um exemplo de como, em cooperação, se conseguem desenvolver ferramentas de combate às alterações climáticas e de como conseguimos influenciar outros a fazer o mesmo. Obviamente que o caminho a percorrer ainda está longe de estar concluído (se é que alguma vez tal atingiremos) e que os constrangimentos são enormes, sejam em termos dos recursos financeiros exigidos, sejam em termos de mudança de mentalidades e de comportamentos, mas o setor do AVAC e da Refrigeração são dos que mais esforço têm feito nesse sentido. Que grande mensagem gostaria de deixar ao setor? A mensagem é, obviamente, de esperança. A esperança de quem atravessou uma pandemia à escala global e se manteve resiliente. A esperança que 'após a tempestade venha a bonança'. A esperança que esta pandemia tenha colocado nos nossos ombros a missão acrescida de zelarmos pelos outros, nomeadamente na qualidade do ar que todos respiramos. Acho que, à semelhança do CIAR 2022, posso resumir a minha mensagem com o lema 'Atuar Hoje pelo Amanhã'. n C M Y CM MY CY CMY K
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