BF2 - iALIMENTAR

ENTREVISTA 26 Pode destacar quais considera seremos pontos funda- mentais da evolução recente do setor da suinicultura em Portugal? A evolução do setor da suinicultura em Portugal nos últi- mos anos tem sido francamente positiva, um fator que assume particular relevo quando nos lembramos que se trata de um setor estratégico para a economia nacio- nal. Em 2020, de acordo com o Instituto Nacional de Estatística (INE), o valor da produção suinícola represen- tou 8% de toda a produção agrícola nacional. Há ainda que considerar os restantes setores associados, como a indústria das rações, matadouros, produtos transformados, laboratórios farmacêuticos, empresas de equipamentos pecuários, consultoras ambientais, etc. Só em indústrias cárneas de suíno, por exemplo, falamos de 368 empre- sas, número apurado pelo Sistema de Informação do Plano de Aprovação e Controlo dos Estabelecimentos, da Direção-Geral de Alimentação de Veterinária (DGAV), que representa cerca de 800 milhões no setor da carne de porco. Continuando com mais alguns números, quando nos debruçamos sobre o rendimento da atividade, falamos de 612 milhões de euros em 2020 na produção e em 1,4 mil milhões na fileira. Um valor extraordinário quando nos lembrarmos que foi um ano de crise, mesmo compa- rando com 2019, que somou 646,93 milhões de euros na produção. É certo que o cenário Covid-19 trouxe também alguns recuos. Recentemente, o INE divulgou as Estatísticas Agrícolas 2020, e apurou que no ano passado a produção total de carne de suíno atingiu as 380 mil toneladas, um decréscimo de 2,1% em relação a 2019, que ficou a dever- -se às reduções na categoria leitões (-10,2%) e porcos de engorda (-2,5%), tendo sido o volume de reprodutores abatidos significativamente superior ao registado no ano transato (+38,4%). Estes números revelam algum impacto da pandemia, especialmente no subsetor da carne de leitão, afetado pelo encerramento da restauração, proi- bição de celebrações, festas populares, etc. O consumo de carne de porco pelas famílias portuguesas teve um pico por altura do primeiro confinamento, mas a partir do segundo trimestre verificou-se uma ligeira des- cida que se deveu aos stocks em casa efetuados antes. Em suma, e em comparação com os últimos anos, de acordo com o INE, a produção nacional de suínos em 2018 atingiu as 383.217 toneladas. Em 2019 cresceu e che- gou às 387.918 toneladas. Em 2020, os valores provisórios apontam uma ligeira queda, somando 379.832 toneladas, mas ainda assim francamente positivos. A carne de porco continua a ser a mais consumida, mas está em queda nos últimos anos. Quais as prin- cipais razões? E o que fazer para travar esta descida? É verdade que os números apontam para uma quebra no consumo de carne de porco, sobretudo no último ano, mas convém não esquecer que este decréscimo não reflete uma alteração do perfil de consumo dos consumidores portugueses, mas sim a redução do número de turistas provocada pela pandemia, o que afeta grandemente os números internos de consumo. Já numa panorâmica mais abrangente e global, gostava de distinguir duas realidades, a dos países desenvolvidos onde tem crescido nos últimos anos uma ideia de dieta saudável e até de algum fundamentalismo em relação ao consumo da carne em geral; e a realidade dos países em vias de desenvolvimento onde as populações começam a ter mais poder de compra e procuram bens alimen- tares fundamentais para a sua sobrevivência, como é a carne de porco. Não nos podemos esquecer que cerca de 72% da produção de carne das próximas décadas destina-se justamente a esses países em vias de desenvolvimento, onde a produ- ção europeia, salientando a portuguesa, tem um papel decisivo no abastecimento de alimentos a nível global. Segundo previsões da OCDE-FAO e da Comissão Europeia, o consumo da carne de porco para 2029 na União Europeia (UE27) será de 19,75 milhões de toneladas contra 19,84 de 2019. Falamos de uma diferença de apenas 90.000 toneladas em dez anos. Portugal tem um dos maiores consumos per capita de carne de porco do mundo. De acordo com o INE, são consumidos por ano 44,3 kg por habitante, sendo "Gostava de distinguir duas realidades, a dos países desenvolvidos onde tem crescido nos últimos anos uma ideia de dieta saudável e até de algum fundamentalismo em relação ao consumo da carne em geral; e a realidade dos países em vias de desenvolvimento, onde as populações começam a ter mais poder de compra e procuram bens alimentares fundamentais para a sua sobrevivência, como é a carne de porco"

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