ENTREVISTA 22 Baixos, sobre este assunto. Mas não creio que venham a ser integrados na cozinha europeia, pelo menos não diretamente. Não me imagino a comer uma salada temperada com minhocas como fonte de proteínas… Também acho que não, mas no México, por exemplo, é uma coisa muito normal. A dimensão cultural entra aqui em jogo, e é por isso que, na Europa, podemos incorporá-los na dieta apenas sob a forma de farinha, em pequenas percentagens em alimentos como o pão ou a massa, para que sejam mais ricos em proteínas. Onde os insetos podem ser interessantes é na alimentação do gado e dos peixes, embora se deva dizer que também geram emissões de metano, que é um dos gases com efeito de estufa. Nada é gratuito, há sempre um custo. Mas insisto que a mensagem não deve ser 'comam carne artificial ou vegetal e deixem de comer carne animal', mas antes 'comam menos carne e aumentem o vosso consumo de leguminosas e vegetais'. O ideal seria que, daqui a dez ou 20 anos, dois terços das proteínas que consumimos fossem de origem vegetal e apenas um terço de origem animal. A palavra sustentabilidade é tão utilizada atualmente que o seu significado foi distorcido. O conceito surgiu pela primeira vez em 1986-87, num relatório das Nações Unidas intitulado 'O nosso futuro comum'. Nele, a palavra 'sustentabilidade' foi utilizada pela primeira vez, tomando-a de empréstimo à ciência florestal alemã, que a utilizava para se referir ao que se colhe sem prejudicar as árvores. Nesse relatório da ONU, curiosamente, não se falava de CO2, nem de doenças zoonóticas, nem de alterações climáticas. E hoje, 40 anos depois, quando pensamos em sustentabilidade, parece um sinónimo de alterações climáticas. É, por assim dizer, uma evolução do nosso pensamento. Sabe o que é que não é muito falado, mas que é fundamental? O quê? A transformação da alimentação pela indústria agroalimentar. Inicialmente, era uma boa ideia porque havia mais controlo, qualidade e higiene na produção alimentar. Mas agora passámos para o outro lado, produzindo alimentos ultraprocessados que são prejudiciais à saúde. Temos de aceitar que cometemos erros e que esta é uma discussão aberta, tal como todos os químicos de que abusámos, mas que estamos agora a corrigir. Louise Fresco durante a sua visita a Barcelona para participar no congresso LCA Food. Foto: SINC.
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