FRUTOS SECOS | ENTREVISTA 36 • Conhecimento para a gestão eficiente da água: melhorar o uso da água de forma a tornar as empresas económica e ambientalmente sustentáveis; • Conhecimento técnico e científico: reforçar o conhecimento ao nível do material vegetal, das práticas culturais, da sanidade e meios de luta e da transformação e novos produtos; • Estrutura fundiária de parte do território; • Produção biológica: alguma legislação/inação das autoridades portuguesas colocando os agricultores portugueses numa situação difícil, face à concorrência desleal de produtores de outros países. E que grandes desafios temos pela frente? As alterações climáticas e recursos hídricos limitados, como se fez referência anteriormente. Além disso, a comercialização/forte concorrência em espécies como a amêndoa, o aumento dos problemas fitossanitários, a ausência de meios de luta para uma parte dos inimigos destas espécies de frutos secos e o possível agravamento desta situação, resultante da implementação do Pacto Ecológico Europeu e da Estratégia ‘do Prado ao Prato’, com previsível redução do número de pesticidas. Falando das pragas e doenças que tantas vezes abordamos, emque ponto estão hoje osmeios de luta e de que forma tem sido possível combater o problema? É notório o aumento da importância da fitossanidade vegetal, com o aparecimento de novos inimigos (doenças e pragas) em diferentes espécies agrícolas e o agravamento da importância de alguns inimigos. Os frutos secos não são exceção. Exemplo do referido foi o aparecimento da vespa-das- -galhas-do-castanheiro e a recente maior importância das doenças de conservação da castanha, no caso do castanheiro. Noutras espécies, de referir a chegada a território nacional da Xylella (Xylella fastidiosa) que pode causar graves problemas no amendoal, mas também os maiores problemas registados ultimamente com o cancro (Diaporthe amygdali), a antracnose (Colletotrichum acutatum) e a mancha ocre (Polystigma amygdalinum). De salientar ainda, a bacteriose (Xanthomonas arborícola) ou a vespa- -da-amendoeira (Eurytoma amygdali), problemas complicados em Espanha e que podem, a breve prazo, criar problemas em Portugal. Esta situação é ainda mais complicada, dada a ausência ou reduzida disponibilidade de meios de luta eficazes para alguns dos inimigos associados a estas espécies (químicos ou não), situação que se pode agravar muito com a da implementação do Pacto Ecológico Europeu e da Estratégia 'do Prado ao Prato', como referido. Como olha para o impacto das alterações climáticas no setor? Já se está a fazer sentir? O clima das regiões mediterrânicas é caraterizado pela escassez e irregularidade da precipitação, emque os meses de maior secura coincidem com o período de maiores necessidades hídricas das culturas. Na região mediterrânica são esperadas reduções significativas da precipitação, aumento da evapotranspiração potencial e uma maior probabilidade de ocorrência de eventos extremos. Para a sustentabilidade futura da produção dos frutos secos em geral, os produtores terão que lidar com a escassez de água e com a necessidade de implementar tecnologias de rega mais eficientes, aliadas a práticas de gestão da rega adequadas. Apesar de a generalidade das espécies produtoras de frutos secos apresentarem alguma tolerância ao défice hídrico, é claro que a rega é um fator crítico para o aumento e regularidade interanual da produção e da qualidade. Fale-me um pouco do trabalho do CNCFS e que projetos e desafios tem para o futuro a curto prazo? O CNCFS tem estado a trabalhar ativamente no combate à vespa-das-galhas-do-castanheiro na região de Trásos-Montes, sendo responsável pelo combate biológico a esta praga, bem como, pela produção do parasitoide Torymus sinensis Kamijo, usado no controlo biológico. Paralelamente estão a concluir alguns projetos (Grupos Operacionais), que abrangeram áreas sensíveis na cultura dos frutos secos, como a fitossanidade e a gestão do solo e da água. Recentemente iniciaram três novos projetos: um PRIMA, com uma parceria internacional; um FCT de âmbito nacional, e; um da Rede Rural Nacional em que somos o único beneficiário. O primeiro está como intercropping, o segundo relacionado com as doenças da amendoeiras e o terceiro com a divulgação de práticas agrícolas mais sustentáveis e o intercâmbio entre países e formas diferentes de se produzir frutos secos. Ainda este verão iremos promover uma visita técnica no âmbito deste último projeto, o #TreeNutsPlus. Os desafios para o futuro passam pela capacitação do setor produtivo, para que este setor cresça cada vez mais e possa ter um produto com uma qualidade diferenciadora e competitiva. Paralelamente, um desafio constante é a defesa dos interesses dos associados e do setor junto das entidades governamentais e a procura de financiamento que permita desenvolver experimentação/investigação em áreas fulcrais como a rega, a fitossanidade, a pós-colheita, entre outros. n
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