BA4 - Agriterra

21 CEREAIS | SEQUEIRO VERSUS REGADIO Milho e Sorgo (Anpromis) têm vindo a apelar “à implementação imediata da ENPPC”. E a área semeada de cereais praga- nosos (trigo, centeio, aveia, cevada e triticale) de outono/inverno continua a descer, tendo sido menos de 120 mil hectares na campanha de 2019/2020, o que representa uma produção na ordem das 230 mil toneladas. Desta área, apenas uma ínfima parte tem acesso a água para rega, pelo que perguntámos ao presidente da ANPOC se a produção de cereais de sequeiro tem futuro. “A conta de cul- tura não permite grandes riscos e o sequeiro é um risco cada vez maior. Irá sempre continuar a fazer-se, mas cereais de qualidade é difícil. A opção é fazer cereais para alimentação ani- mal, como aveias e triticais, ou trigos especiais, como o baby food ”, consi- dera José Palha. “É arriscado, porque os impactos podem ser devastadores, mais ainda com os crescentes efeitos das altera- ções climáticas, que a região sul do País sente cada vez mais”. A ÁGUA PODE FAZER A DIFERENÇA ENTRE A RENTABILIDADE E O PREJUÍZO OU MESMO PERDER-SE A CULTURA Num clima mediterrânico como o nosso, a água pode fazer a diferença entre a rentabilidade e o prejuízo ou mesmo perder-se a cultura, daí que o presidente da ANPOC sublinhe que “a importância do regadio é inegável”. Mas José Palha realça que “no caso dos cereais praganosos, nem sequer se pode falar de regadio, é mais um sequeiro assistido porque commuito pouca dotação, 1.500 m 3 /ha, no máximo, podemos conseguir dupli- car a produção: passando de 1.500kgs para 3.000kgs, sem grande dificul- dade. Por isso, é fundamental que tenhamos água”. O responsável afirma que “as barragens são fundamentais e é determinante que o regadio seja gerido de forma integrada”, referindo-se às ligações do Empreendimento de Fins Múltiplos de Alqueva (EFMA) aos perímetros confinantes e lembra ainda a impor- tância das barragens privadas, “que no caso dos cereais podiam fazer toda a diferença”. Nos anos 80 e 90, foram construídas muitas barragens privadas pelos agri- cultores, mas, mais recentemente, todos os pedidos obrigam a Avaliação de Impacto Ambiental (AIA) e têm sido reprovados pelo Ministério do Ambiente. Uma situação que o pre- sidente da ANPOC diz não entender, como é que pequenos espelhos de água podem impactar negativamente o ecossistema. Voltando ao risco de produzir cereais em sequeiro, José Palha especifica que “podemos perder 50% da produ- ção numa primavera seca ou quente, uma vez que estamos muito sujeitos às condições climáticas e os custos de produção são praticamente os mes- mos, regando ou não”. Produtor de cereais no Alentejo e no Ribatejo, defende que “a únicamaneira de continuar a fazer cereais de sequeiro será apostar em cereais forrageiros, mais rústicos, como aveias ou triti- cais. Ou então para se fazer trigos de qualidade tem de ser com preços de nicho, como o baby food , que é muito difícil de fazer em regadio, devido às inúmeras exigências e restrições”. A APOSTA NA QUALIDADE É O CAMINHO E adianta: “Em parcelas que são regadas, normalmente, faz-se rota- ção com culturas de primavera e há uma infestante, a figueira-do-in- ferno, que aparece sempre no milho, no girassol etc., e se aparece alguma semente no baby food todo o lote fica comprometido”. A aposta na qualidade é o caminho que a ANPOC tem traçado nos últimos anos para valorizar os cereais nacionais. “Com a estratégia que temos seguido, apostando na qualidade e na marca ‘Cereais do Alentejo’, conseguimos uma valorização da produção – embora este ano não seja muita porque as commodities estão todas com preço alto no mercado –, mas o contrato que temos com a Sonae, por exemplo, é plurianual e tem um preço muito interessante para o agricultor, pelo que compensa fazer trigos para estes contratos”. José Palha salienta que a produção nacional de cereais tem grandes vantagens em relação aos trigos importados, “porque não temos qualquer tipo de contaminação com micotoxinas, o clima mediterrânico tem desvantagens, mas também tem vantagens”. Ao comprar cereais nacio- nais, a cadeia é muito mais curta, pelo que a pegada é muito menor, “e o consumidor está cada vez mais atento a estas questões” Alémdisso, frisa o responsável, “os nos- sos cereais têm sempre muito mais qualidade, como produzimos pouco nunca fica cereal de uma campanha para a outra, e como a grande maioria dos agricultores está no sistema de produção integrada, têm um baixo nível de resíduos”. n Com a estratégia que temos seguido, apostando na qualidade e na marca ‘Cereais do Alentejo’, conseguimos uma valorização da produção

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