BA3 - Agriterra
AGRICULTURA DE CONSERVAÇÃO 15 “Estamos a transformar as universidades de agricultura em universidade de biologia: estudam os fenómenos biológicos, a bactéria, o gene, mas estão afastados da questão geral do ecossistema”. Ainda sobre alguns problemas dos nossos solos nomeada- mente o elevado teor de manganês, que pode ser corrigido com aplicações de calcário dolomítico, Mário Carvalho lembra que falou desse problema na sua tese de douto- ramento em 1988, e que desde aí já deu um sem número de palestras sobre isso mas a maioria dos produtores pecuários, por exemplo, só conseguem rentabilidade com recurso a fundos, por isso não têm possibilidade de fazer grandes investimentos. Por isso, defende que “é necessário mudar o modelo para que a pecuária, por exemplo, possa ser rentável”. AGRICULTURA DE CONSERVAÇÃO NÃO É SOLUÇÃO POR SI SÓ “A agricultura de conservação não é, só por si, a solução. Ela é o instrumento agronómico para ajudar a resolver o pro- blema, que só se resolve com a conceção de ummodelo de agricultura que tem de considerar coisas muito para além da agricultura de conservação”, afirma o professor, sublinhando: “No nosso sequeiro precisamos das três com- ponentes que sustentavam o sistema agro-silvo-pastoril – a floresta, a pastageme a cultura, porque estas três atividades são complementares entre si e criam sinergias. Nenhuma delas por si só é sustentável, precisamos das três emconjunto”. E explica como: “se eu tiver animais, posso investir na corre- ção deste solo [com elevado teor de manganês] porque o aumento da produção da pastagem é paga pela pecuária. Mas ao corrigir o solo e aumentar a fertilidade, melhoro o crescimento da árvore, aumentado a produção de cor- tiça e de bolota, que por sua vez, me ajuda a sustentar o gado. E a parte agrícola produz resíduos de culturas que podem servir para alimentação do gado durante o verão, retirando uma das grandes despesas da pecuária sem agricultura”. Depois é necessário ‘alimentar’ este modelo com as melhores práticas agronómicas, frisa. A gestão eficiente da água também entra neste modelo, nomeadamente na escolha das culturas e da altura emque se fazem. “Se tiver a fazer uma silagem de milho para dar aos animais, gasto 6 mil a 8 mil m³ de água, dependendo do solo e da região. Mas se em vez de fazer a silagem com milho fizer com triticale, posso gastar entre 750 e 1.000 m³ e, em alguns aspetos a silagem de triticale até é melhor que a do milho”. Duas das razões apontadas pelo professor para muitos agricultores não optarem pela segunda opção são o baixo custo da água e a má drenagem dos solos porque impli- caria passar de uma cultura de primavera-verão para uma de outono-inverno. Mário Carvalho salienta que a conversão para um sistema de agricultura de conservação precisa de bastante apoio e de muito conhecimento, uma vez que é necessário ir fazendo diagnósticos. Nesta altura, o apoio não existe, “a não ser eu, que já estou reformado. Mesmo na Europa, a passagem para este tipo de agricultura também está atrasada, embora em França esteja a ganhar dinâmica”. No entanto, frisa que “a agricultura de conservação é o movimento commaior expansão no mundo, com desta- que para o Brasil, e será, certamente, o futuro. Mas a AC não pode ser importada porque a que estamos a ver aqui é diferente da do Brasil, mas em termos de exemplos de agricultura de conservação nos países mediterrânicos a Herdade da Parreira é o melhor que conheço. E não está parado, tem vindo sempre a evoluir e o montado está interligado com o regadio e com a criação bovina”. n UTAD ORGANIZOU CONFERÊNCIAS SOBRE GESTÃO DO SOLO E DA ÁGUA A propósito da agricultura de conservação e do solo, inte- grado no Ciclo de Conferências – ‘Desafios eOportunidades no Setor Agrário’, a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Doutro (UTAD) organizou emmarço um conjunto de quatro sessões online dedicadas à ‘Gestão do Solo e da Água’, com destaque para a II Sessão – O Papel do Solo na Sustentabilidade Ambiental, onde participou Mário Carvalho, ao apresentar um webinar sobre ‘O papel do solo no sequestro do carbono’. Os outros três webinares da sessão foram apresentados por Gottlieb Bash, tambémda Universidade de Évora, cujo tema foi ‘A agricultura de conservação’; Ronald Vargas, da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), que falou sobre ‘Status and trends of global soils’; e João Paulo Marques, do Gabinete de Planeamento e Políticas (GPP) sobre ‘Perspetivas de redução das emissões nos sistemas agrários’. Pode assistir ao vídeo desta sessão em: https://www.youtube.com/watch?app=desktop&v=B- fufFA9r3hs&feature=youtu.be “O homem temde aproveitar todas as possibilidades que a ciência lhe dá para fazer melhoramento genético, se quiser garantir o seu futuro”
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