ENTREVISTA 58 projetos que irão surgir para gestão do solo, uso eficiente de água, transformação de produtos, compostos orgânicos, etc.. Podermos afirmar que estes investimentos vão acontecer já é uma grande esperança, e os agricultores não devem baixar os braços. Crê que não estão suficientemente unidos? Os agricultores, neste momento, estão frustrados com o que realmente está a acontecer nos últimos anos a nível do desinvestimento na agricultura. E nota-se. Os apoios começaram a perder intensidade, deixaram de acreditar nos agricultores. Mas eu acho que, pelo contrário, temos de acreditar. Mas cada vez há mais modelos preditivos, a tecnologia nesse aspeto pode dar uma grande ajuda, ou não? Sem dúvida. Mas como disse o ministro no seminário que a AJAP realizou na Ovibeja 2025, o que precisamos é de “agricultura com menos burocracia”. E temos de pensar que nem todos os agricultores têm um curso académico. Com esta média de 64 anos, há muitas pessoas que nem sequer têm email, computador ou smartphone. A burocracia em si é um problema grave. Está-se a tentar fazer um ‘Simplex’, mas é preciso fazer mais. Acredito que o novo protagonismo dado aos vice-presidentes nas CCDR [Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional] tem ajudado. Entre as inúmeras ações que vão desenvolver nesta edição da FNA há alguma que queira destacar? Realizámoso seminário do JER - Jovem Empresário Rural, que foi extremamente útil. A ideia do JER é criar um estatuto de jovem empresário (que pode ser agricultor ou não) nas zonas rurais, desfavorecidas. Foi mais uma ação da AJAP em prol do desenvolvimento no interior, para que haja captação e fixação de jovens nessas regiões. Esta é uma mensagem fundamental: queremos muito que os jovens agricultores fiquem nas zonas do interior. A descentralização é extremamente importante. Porque temos de tratar de assuntos de agricultura em Lisboa? Não faz sentido. Já dispomos, por parte do Estado, de edifícios em localizações fora da capital onde podem funcionar, por exemplo, gabinetes do PEPAC. Portanto, esta é uma medida que tem de ser repensada. Neste contexto, é de destacar que a AJAP faz as suas candidaturas. Temos mais de 70 técnicos muito capacitados no território a apoiar os jovens agricultores, precisamos de técnicos certificados para maior acompanhamento aos projetos e a nossa área de formação tem vindo a crescer muito. Mas temos de ser apoiados a nível governamental, enquanto associação, para podermos alargar essa formação, porque sem ela, insisto, não é possível trabalhar na agricultura. A agricultura deu uma volta de 180 graus e hoje há muita nova tecnologia na rega, nos tratores, há drones… é fantástico. Concluindo, vamos pensar no rejuvenescimento do setor, vamos pensar nessa formação que é, realmente, necessária, e estas são as nossas mensagens fundamentais. E que realmente não se perca a esperança. Essa é a palavra, eu acho, principal, a esperança no setor, no ministro, e a esperança que haja mais apoio ao investimento na agricultura. n *Esta entrevista foi realizada a 9 de junho de 2025, na Feira Nacional da Agricultura, no CNEMA, em Santarém. 'Seminário JER - Jovem Empresário Rural' @ Stand AJAP - FNA 25.
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