BA16-Agriterra

FERTILIDADE DO SOLO 58 Algumas práticas culturais como a rotação de culturas, introduzindo uma leguminosa e uma crucífera nos sistemas cerealíferos, estão a ser adotadas como uma opção para melhorar o aproveitamento de nutrientes disso, a fertilização do solo com Mn2+ é bastante ineficaz devido à rápida oxidação deste elemento. Uma vez que a disponibilidade de manganês nos solos é muito influenciada pelo pH, a aplicação de microrganismos que acidificam a solução do solo melhora a sua disponibilidade. Esta ação ocorre de forma semelhante no ferro e no manganês, e os mecanismos que melhoram a aquisição de ferro têm um efeito positivo sobre a disponibilidade de manganês. O zinco é outro micronutriente que pode ser deficitário, o que prejudica o rendimento e a qualidade das culturas. A aplicação de microrganismos mobilizadores de zinco é uma ferramenta alternativa aos ineficientes fertilizantes para melhorar a aquisição de zinco pelas plantas. ESTRATÉGIAS DE GESTÃO DE SOLOS COM MICRORGANISMOS De acordo com estas ações, nos últimos anos foram selecionadas múltiplas estirpes microbianas, com base na sua capacidade de promover e melhorar o desenvolvimento vegetal, através do aumento da eficiência e da utilização de nutrientes ou da modificação do seu estado fisiológico através de atividades como a produção de fito- -hormonas. Esta estratégia produziu bons resultados numa variedade de culturas e é amplamente utilizada em leguminosas como a soja. No entanto, por vezes, a seleção de estirpes microbianas revela incapacidade de se adaptar às condições da cultura, principalmente devido a uma concorrência ineficaz com as populações autóctones, reduzindo a eficiência do tratamento. Tal deve-se à dimensão e importância que têm as populações microbianas dos sistemas edáficos, podendo chegar a determinar o sucesso do estabelecimento de uma cultura, modular a produtividade das culturas e a resposta a stresses. Esta visão surgiu nos últimos anos fruto da aplicação de técnicas de sequenciação massiva, que permitiram conhecer a composição da microbiota edáfica e a que está associada às plantas, uma vez que se estima que, na melhor das hipóteses, apenas 10% das bactérias presentes no solo são cultiváveis em laboratório. Estas técnicas permitiram determinar como varia a microbiota em função das atividades humanas e das culturas, e como as plantas são capazes de recrutar determinadas espécies através da produção de exsudados radicais, criando populações microbianas à medida (Figura 2). Este conhecimento permitiu determinar que espécies são cruciais para a produtividade agrícola e quais estão positiva ou negativamente relacionadas com a resposta a stresses bióticos ou abióticos, sendo a base para o desenvolvimento de estratégias de aplicação de microrganismos, bem como de aplicação de técnicas agronómicas. Por um lado, o conhecimento da microbiota edáfica mostrou uma nova dimensão na gestão da fertilidade das culturas. Em primeiro lugar, com base numa análise metagenómica da microbiota do solo, é possível determinar a ausência de determinados grupos microbianos com um papel na reciclagem ou no fornecimento de nutrientes à planta, o que, juntamente com os dados da análise elementar dos solos, permite criar estratégias de inoculação para melhorar o aproveitamento dos recursos minerais. Por exemplo, se tivermos um solo com uma elevada concentração de fósforo insolúvel e uma baixa abundância relativa de táxones microbianos envolvidos na solubilização de fosfato, podemos libertar este fosfato através da aplicação de microrganismos solubilizadores de fosfato, como as bactérias do género Pseudomonas. Esta estratégia permite poupar grandes quantias de dinheiro, ao reduzir o fornecimento de fatores de produção e maximizar o rendimento dos recursos edáficos. Em segundo lugar, o amplo conhecimento da microbiota vegetal permitiu definir o que se designou por microbiota nuclear ou “core”, que são aquelas comunidades comuns à maioria dos indivíduos desta espécie. Ao mesmo tempo foram também definidas as variações que estas microbiotas apresentam associadas às diferentes condições edafoclimáticas. Fruto deste trabalho, nos últimos anos iniciou-se uma nova estratégia, que consiste na aplicação de SynComs ou comunidades sintéticas, baseada na utilização de inóculos formados por múltiplas espécies com determinadas funcionalidades, como a fixação de azoto, a produção de fito-hormonas ou a captação de micronutrientes, a partir de comunidades específicas de cada cultura, que permitem melhorar a adaptação do inóculo e assegurar os efeitos positivos sobre a cultura. A estratégia de aplicação de SynComs específicas da cultura ou concebidas para atenuar um défice ou stress espe-

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