ENTREVISTA 45 Esta lógica pode ser replicada noutras áreas, noutros setores, porque os recursos estão aí. Mas o engenho político e a capacidade dos agentes políticos também têm que ser óbvios. E neste momento não temos na ministra da agricultura uma intérprete que seja respeitada pelo setor - muito pelo contrário, os agricultores não a querem na Feira da Agricultura de Santarém, como não a quiseram na Ovibeja. Seguramente que isso não é bom para a agricultura em Portugal. Faceaosatuaisdesafiosdesustentabilidade, comoaseca, e aopotencial das novas tecnologias aplicadas ao setor, como se situa Portugal face às tendências europeias? Há uma questão que é muito impressionante em Portugal. E é perceber como os agricultores portugueses, particularmente os jovens, estão a operar uma grande reconversão tecnológica que lhes permite racionalizar recursos e ultrapassar dificuldades. Naturalmente que existem outras dificuldades que estão identificadas, e a seca é uma delas. No ano passado uma enorme parte do território estava em situação de seca severa ou extrema. Mas hoje a agricultura é muitíssimo mais tecnológica. Mesmo perante a escassez de água, a gestão do recurso é feita comminúcia e à distância. Tudo é conseguido potenciando ao máximo as possibilidades do território e as culturas escolhidas. E, portanto, diria que nesse propósito de eficácia, aproveitamento de recursos e preparação dos agricultores, a agricultura em Portugal em 2023 está a anos luz do que era nos anos 70 ou nos anos 80. O que não invalida tudo o resto, e que tem que ver, insisto, com a falta de interação com a tutela e criação de sinergias para aproveitar os recursos que vêm de Bruxelas. Aquilo que não pode acontecer é abdicarmos de um setor fundamental, no qual se deve investir e garantir o sucesso desta transformação geracional. Por exemplo, levando para fora alimentos de marcas nacionais. Nós podemos ter agricultura de muita qualidade disponível no mercado. Como bem se vê na iniciativa “O Melhor de Portugal” [evento que promove o setor agroalimentar português junto dos exportadores do Benelux], desde que haja a capacidade de os divulgar e colocar à disposição no mercado, os produtos portugueses são tidos como dos melhores do mundo. n
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